Portal Amazônia responde: quais as diferenças entre o Boi Bumbá e o Bumba Meu Boi?

As apresentações de ambos são marcadas por uma combinação de danças, músicas, teatro e cores vibrantes, porém, existem diversas diferenças.

A cultura da Amazônia é rica e cheia de nuances. Inclusive, algumas manifestações culturais podem ser confundidas pelas pessoas. Entre elas estão o ‘Boi Bumbá’ e o ‘Bumbá Meu Boi’, que acontecem nos Estados do Amazonas e Maranhão, respectivamente. Apesar dos dois eventos usarem a figura do boi como personagem principal, elas possuem características, apresentações e origens distintas.

A história do Boi Bumbá remete ao início do século XX, ainda que os bois Garantido e Caprichoso, na época, fossem grupos muito menores e menos estruturados, além de não possuírem qualquer registro formal. Antes da existência do Festival Folclórico de Parintins, os bois já alimentavam certa rivalidade entre si.

A primeira edição do festival aconteceu em 1965 e foi criada por um grupo de amigos ligados à Juventude Alegre Católica (JAC). A festa mostra a rivalidade dos bumbás Garantido (vermelho) e o Caprichoso (azul). Cada boi tem sua própria equipe de artistas, cantores, dançarinos e músicos que se apresentam no festival que tem a duração de três dias.

As apresentações são marcadas por uma combinação de danças, músicas, teatro, cores vibrantes, grandes alegorias e pirotecnia, contando histórias e lendas regionais. Os bois competem pela preferência do público e dos jurados, que escolhe o vencedor do festival.

Confira algumas fotos do Festival Folclórico de Parintins:

Foto: Reprodução/Amazonastur

Foto: Divulgação/Governo do Amazonas

Foto: Divulgação/Governo do Amazonas

Foto: Divulgação/Governo do Amazonas

Foto: Divulgação/Governo do Amazonas

Bumba Meu Boi 

O Bumba Meu Boi é uma manifestação cultural conhecida no Estado do Maranhão e surgiu na região Nordeste no século XVIII. Ele se tornou popular durante as festividades juninas. Nessa tradição, o boi é construído em forma de um grande boneco, revestido com tecidos coloridos e decorado com fitas, espelhos e outros adornos.

O boi é conduzido por um mestre e sua equipe, que dançam ao redor do boneco ao som de tambores, pandeiros e outros instrumentos musicais. A festa é acompanhada de danças, cantigas e representações teatrais que contam a história do boi, que é sacrificado e posteriormente ressuscitado.

Segundo o historiador e professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Diego Omar, o formato do Bumba Meu Boi, da brincadeira de boi, além de ser mais antigo do que o Festival de Parintins, é conhecida em várias partes do país.

“Ele é bem mais antigo do que o boi-bumbá amazônico. Essa brincadeira é algo mais ou menos endêmico no Brasil, na verdade. Uma tradição lusitana que se espalha pelo litoral, mas a gente encontra a brincadeira dele do Rio Grande do Sul até o Norte do país, ou Nordeste, como no Maranhão”, disse o historiador.

Confira algumas fotos do ‘Bumba Meu Boi’:

Foto: Divulgação/Edgar Rocha

Foto: Reprodução/Governo do Maranhão

Foto: Divulgação/Governo do Maranhão

Foto: Reprodução/Agência Brasil

Diferença 

Apesar de usarem o boi como personagem principal, as manifestações culturais possuem uma grande diferença. Enquanto o Boi bumbá é uma competição entre duas agremiações que realizam performances elaboradas com uma grande produção artística. Já o Bumbá Meu Boi é uma celebração popular com foco na música, representações teatrais e dança.

O professor relata que quando surgiu o Bumba Meu Boi era uma brincadeira entre vizinhos. “Essa brincadeira não comportava uma disputa, era mais uma celebração junina associada à presença de vários grupos. Quase sempre comunidades familiares de bairros que vinham se apresentar e que não competiam entre si. No Maranhão continua não havendo disputa”, esclareceu Omar.

Auto do Boi 

Pai Francisco e Mãe Catirina também são personagens recorrentes das duas manifestações culturais. Ambos eram escravizados e viviam em uma fazenda. Grávida, Catirina sentiu o desejo de comer a língua do boi mais bonito do dono da fazenda. Para satisfazer o desejo de sua mulher, Pai Francisco roubou o boi preferido do dono da fazenda, matou o animal e retirou a língua para que sua esposa pudesse comê-la.

Um vaqueiro ficou sabendo do roubo e da morte do boi e avisou seu patrão. Enfurecido, o dono das terras jurou vingança e partiu em busca do casal. No fim do auto, os personagens conseguem ressuscitar o boi, e, como agradecimento, o dono da fazenda promove uma festa. 

O professor universitário afirma que auto do boi é a única semelhança entre as duas manifestações culturais, com uma ressalva no ato da ressureição do boi que em Parintins tem envolvido uma figura amazônica de grande representação regional: o Pajé.

“Se a gente tivesse que ressaltar o que é comum em ambos, eu te diria que é o auto, que durante muito tempo foi peça central também nas apresentações dos bois de Parintins. Então o que a gente chama de auto do boi é a narrativa mitológica da morte e ressurreição do boi, que está associada aos personagens desse auto, pai Francisco, Catirina, Gazumbá, a vontade ou desejo dela de comer a língua do boi e em torno do que transcorre essa cena mística. No Amazonas isso depois só oferece acréscimos, porque a figura do indígena começa a ter uma proeminência e aí é o pajé quem ressuscita o boi e põe todo mundo em festa”, finaliza o historiador.

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