A maior afirmação de quem participa ou conhece o Festival Folclórico de Parintins é que não há meio termo: um dos bois-bumbás – Caprichoso ou Garantido – vai escolher você. Não, não é você que escolhe para qual torcer. Mas e quando há uma “indecisão”?
O impasse é possível, mas isso não impede ninguém de conhecer e descobrir quão mágica é a cultura popular parintinense, município do Amazonas que faz jus ao título de “Ilha da Magia” ano após ano. E quem melhor que uma parintinense para explicar o quão forte é o amor pela cultura local?
O Portal Amazônia conversou com a gerente de operações logísticas Fabiana Rodrigues Nascimento, parintinense que brinca de boi-bumbá todos os anos de uma forma que pode ser estranha para os mais fervorosos pela concorrência entre azul e vermelho: nas duas galeras.
“Sou de Parintins e na escola que estudei o boizinho da instituição era o ‘Garanchoso’. Ele é meio preto e meio branco então era para agradar as duas torcidas. Era costume todos participarem do festival da escola e sair nas apresentações. Acredito que isso tenha uma influência na minha vontade de estar dos dois lados dos bois”, revela.
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Ela confessa que a maior parte da família torce para o Caprichoso e o azul é uma de suas cores favoritas. Mas isso nunca a impediu de se fazer presente em ambos para prestigiar a maior festa de boi-bumbá da região.
“Sempre é muito divertido e emocionante estar na galera. Os dois bois e seus itens sempre vão trazer o que de melhor conseguem, levando lendas e rituais dignos de apreciação por todos. Quando estamos na galera, você é um item e faz parte dessa festa pra contribuir com a pontuação pro boi, então sempre é importante estarmos cientes que temos que ir dispostos a dar o nosso melhor para contribuir com a beleza do Festival”, afirma.
Para ela, fazer-se presente em ambas torcidas é um papel fundamental de reconhecimento da importância do Festival para toda uma região que ainda sofre com o desconhecimento.
“Sempre amei muito as canções de figuras típicas, rituais e lendas de ambos os bois, pois contam nossas histórias e coisas que ouvia e via na infância. A parte de percussão, embora marujada e batucada usem os mesmos instrumentos em sua maioria, o ritmo que tocam tem sua própria personalidade dando uma leve diferença nas canções para quem presta atenção e sempre me fascinaram muito. Então sempre vou torcer para aquele que eu acreditar de fato ter sido o mais impecável nas três noites”, argumenta.
Já teve algum problema com isso?
É claro que essa pergunta não poderia faltar. Segundo Fabiana, as galeras possuem uma força inquestionável e contagiante, por isso alimentam a competição com tanto fervor. No entanto, é o respeito à tudo que envolve o Festival que deve prevalecer.
“Você respeitando as vestimentas e tradição de cada boi não tem como dar errado. Eu sempre fui sem nenhum problema para as duas galeras e sempre foram momentos muito divertidos, sem nenhum problema ligado ao fato de eu frequentar os dois lados. Em Manaus nos ensaios também vou para os ensaios de ambos e nunca tive imprevistos”, assegura.
😂 “Tenho um pezinho mais no boi azul, mas tenho mais foto no Garantido”, confidencia a parintinense.
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Curiosidade sempre atenta
Com essa forma de curtir o Festival, Fabiana conta que muitas perguntas são comuns de receber. “Muitos perguntam dessa essência do Festival, que é um pouco ligada a religião, já que o Festival começou para arrecadação de valores para a Construção da catedral da cidade, e os próprios bois sempre contribuem com os andaimes da santa para a Romaria das águas, que vem em sequência ao festival em homenagem a padroeira de Parintins. Perguntam também sobre essa regionalização com a presença das figuras indígenas e como é a dinamica do evento”, cita.
A maior dúvida de quem ainda não conhece o Festival de Parintins é sobre a veracidade da cidade ser literalmente dividida nas cores dos bois. “Muitos perguntam também se de fato a cidade se divide em azul e vermelho, já que aqui é um dos pouquissimos locais que as marcas mudam de cor pra aderir aos dois lados das nações”, destaca.
Saiba quais marcas já adaptaram suas cores por conta do Festival Folclórico de Parintins
Representatividade e fortalecimento
O Festival Folclórico de Parintins já se consolidou como uma das maiores ações culturais brasileiras e, com isso, leva representatividade e fortalecimento regional para todo o mundo. Para a parintinense, essa é a maior conquista.
“Ela representa garra, paixão e arte. Toda essa veia artística que o povo parintinense possui, a criatividade nas alegorias e cenários criados, além de ser uma fonte de renda fortíssima para a cidade nesse período, é também um meio de dar visibilidade para assuntos importantes como o desmatamento, a realidade do povo caboclo, valorização dos povos originários, além da valorização das nossas lendas e histórias regionais, que são tão ricas”, finaliza.