Museu Goeldi recupera obra rara furtada há mais de 15 anos

Obra do século 17 teve seu desaparecimento identificado em 2008 e, após cooperação internacional, foi devolvida pela Polícia Federal no dia 17 de outubro.

Esquerda para direita: Sônia Dias, Nilson Gabas Jr., Cledson Silva e Berenice Bacelar exibem a obra devolvida. Foto: Janine Valente

A terceira obra rara mais antiga do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) retornou à Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, em Belém (PA), no dia 17 de outubro. Após o furto identificado pela instituição em 2008, iniciou-se uma cooperação internacional e interinstitucional que permitiu recuperar “De India utriusque re naturali et medica”, em 2024, na cidade de Londres (Reino Unido).

De autoria do médico e naturalista holandês Guilherme Piso e com publicação em Amsterdã, em 1658, o livro foi entregue em cerimônia presidida pelo diretor da instituição, Nilson Gabas Júnior, e pelo delegado da Polícia Federal, Cledson Silva.

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O ato ocorreu no Salão de Leitura da biblioteca do Museu Goeldi, localizada no Campus de Pesquisa, no bairro da Terra Firme, e contou com a presença de servidores da unidade de pesquisa pioneira na Amazônia.

Nilson Gabas Júnior destaca a importância da obra: “É uma obra monumental, construída a partir de observações do autor durante sua atuação na colônia holandesa. Essa obra descreve a flora, a fauna e algumas práticas médicas indígenas no território brasileiro. É uma das primeiras e mais relevantes obras sobre a história natural e medicina tropical do Brasil. O retorno dessa obra à nossa coleção é fundamental. É símbolo de um patrimônio que transcende séculos de história e conhecimento”.

A quinta das 60 obras desaparecidas foi localizada em Londres (Reino Unido) e reúne pesquisas científicas realizadas na região nordeste do Brasil, então colônia holandesa administrada por Maurício de Nassau. Foto: Foto: Janine Valente

O delegado Cledson Silva ressalta que “a Polícia Federal fica orgulhosa em realizar esta entrega. Por meio da cooperação interinstitucional e internacional, a gente consegue viabilizar a entrega desta obra e trazer ao Museu Goeldi”.

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Obras recuperadas

Escrita em latim, a publicação reúne pesquisas científicas sobre história natural, geografia, meteorologia e etnologia. Ela foi impressa pelo editor holandês Louis Elsevier, fato que confere ainda mais raridade ao exemplar. As duas primeiras obras mais antigas do acervo são datadas de 1554 e outra de 1628.

A obra entregue nesta manhã faz parte de um conjunto de 60 publicações furtadas do Museu Goeldi. Quatro delas foram entregues à instituição pela Polícia Federal, em 2024 (veja lista abaixo).

A Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna possui 350 mil exemplares, entre eles, 4 mil obras raras. Referência nas áreas de Antropologia, Arqueologia, Botânica, Ciências da Terra, Ecologia, Linguística e Zoologia, a Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna atende o público especializado, de caráter acadêmico e científico. O acervo é composto por livros, periódicos, folhetos, separatas, mapas, CDs, fotografias, filmes, fitas e microfilmes.

Berenice Bacelar, curadora de obras raras e recém-aposentada, se sente gratificada com o momento. Foto: Janine Valente

Participaram da solenidade, a coordenadora substituta do Serviço de Biblioteca do Museu Goeldi, Sônia Dias, e as bibliotecárias Berenice Bacelar e Geisa Dias, curadora de obras raras recém-aposentada e a nova curadora, respectivamente.

“É gratificante. Estou saindo e estou recebendo uma das mais importantes obras. Obra raríssima, sobre um pedaço do Brasil que não era Brasil, era Holanda. Um pedaço do Brasil que teve desenvolvimento muito grande através de pesquisadores que foram trazidos por Maurício de Nassau. Os autores são médicos, mas, não são só médicos. São antropólogos, arqueólogos, botânicos, zoólogos. Um com 26 anos, o outro com 28”, descreve Berenice.

Segurança reforçada

Nilson Gabas Júnior ressalta que, com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), logo após a identificação do furto, “foram realizados investimentos estruturais robustos em segurança e conservação do acervo da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, hoje considerada uma das mais seguras do país”.

Entre as principais medidas adotadas, ela destaca a construção de uma sala-cofre, com acesso restrito à curadoria e à direção da biblioteca; a adoção de sistema eletrônico de controle de acesso e monitoramento contínuo, registrando todas as atividades no interior e entorno da sala; a implantação de um sistema de climatização e refrigeração para garantir temperatura e umidade estáveis, essenciais à preservação de materiais sensíveis; e o uso de monitoramento ambiental 24 horas e sistema de combate a incêndio, assegurando proteção integral ao acervo.

“Essas ações garantem que as obras raras do Museu Goeldi sejam preservadas com eficiência, segurança e durabilidade, assegurando às futuras gerações o acesso a um patrimônio bibliográfico de valor incalculável, testemunho vivo da história científica e cultural do Brasil e da Amazônia”, assegura o diretor.

Obras raras devolvidas ao Museu Goeldi

  • Título: Rerum medicarum nove hispanieae thesaurus, seu plantarum, simalium, mineralium
  • Ano de publicação: 1628
  • Autor: Francisco Hernandez
  • Resgate: 2014, em Nova York, Reino Unido
  • Título: Reise in Chile, Peru und auf dem Amazonenstrome
  • Ano de publicação: 1836
  • Autor: Eduard Poeppig
  • Resgate: 2023 em Buenos Aires, Argentina
  • Título: Delectus florae et faunae brasiliensis jussu et auspiciis
  • Ano de publicação: 1820
  • Autor: Johann Christian Mikan
  • Resgate: 2024 em São Paulo, Brasil
  • Título: Simiarum et vespertilionum Brasiliensium species novae
  • Ano de publicação: 1823
  • Autor: Johann Baptist von Spix
  • Resgate: 2024 em Londres, Reino Unido
  • Título: De Indiae utriusque re naturali et medica
  • Ano de publicação: 1658
  • Autor: Guilherme Piso
  • Resgate: 2024 em Londres, Reino Unido

*Com informações do Museu Goeldi

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