Marujadas de São Benedito no Pará são reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil

As Marujadas de São Benedito no Pará são celebrações religiosas que promovem a devoção, principalmente a São Benedito, na região bragantina e em Ananindeua, no Pará.

Foto: Karina Martins/Iphan

As Marujadas de São Benedito no Pará foram reconhecidas como Patrimônio Cultural do Brasil nesta quarta-feira (4), durante a 105ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. O órgão colegiado de decisão máxima do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), aprovou, por unanimidade, a inscrição do bem no Livro de Registro de Celebrações.

As Marujadas de São Benedito no Pará são celebrações religiosas que promovem a devoção, principalmente a São Benedito, na região bragantina (Augusto Corrêa, Bragança, Capanema, Primavera, Quatipuru e Tracuateua) e em Ananindeua, no Pará. A marujada é tanto o corpo de associados (irmandade, associação ou grupo cultural) e o conjunto das pessoas que participam, devidamente caracterizadas, dos eventos religiosos e não-religiosos das festividades (chamados de marujos e marujas), quanto o nome usado para se referir à prática cultural formada por eventos religiosos, folguedos, comensalidades, vestimentas e danças típicas.  

O pedido de registro foi apresentado em 2011 pela Irmandade da Marujada de São Benedito de Bragança, organização de caráter educativo e cultural, fundada em 1798 por iniciativa de negros escravizados e libertos na então Vila de Bragança. As pesquisas que subsidiam o pedido de registro foram realizadas entre 2018 e 2022. Em 2020, foram incluídas no processo de registro as marujadas de Capanema, Quatipuru, Augusto Corrêa, Tracuateua e Primavera – na chamada região bragantina – e de Ananindeua, localizada na região metropolitana de Belém. Em Capanema e Tracuateua, as marujadas promovem, também, o culto a São Sebastião. 

A “relevância nacional dessas celebrações, que emergem de processos constitutivos da própria sociedade brasileira, com sua imensa diversidade” é reconhecida pela conselheira e relatora do processo de registro, Luciana Gonçalves de Carvalho, antropóloga da Universidade Federal do Pará.  

Em seu parecer, a conselheira propõe que seja avaliada a possibilidade de se aprofundar “pesquisas sobre as questões de raça, gênero e classe nas marujadas a fim de identificar possíveis conflitos internos, entender significados potencialmente diferentes atribuídos a essas celebrações por diferentes grupos sociais”. Além disso, sugere analisar “possíveis impactos dos problemas socioambientais vivenciados atualmente no nordeste paraense sobre a celebração”. 

A celebração para São Benedito e/ou São Sebastião no Pará compreende um conjunto de rituais, cujo ápice ocorre entre dezembro e janeiro, e que busca homenagear os santos e possibilitar agradecimentos às graças recebidas. Os rituais envolvem, de maneira individual e coletiva, pequenas atividades que caracterizam a celebração, como procissões, missas, levantamento e derrubada de mastros, almoços coletivos, leilões, danças – como roda, retumbão, chorado, mazurca, valsa, contradança, xote, arrasta-pé e bagre – e personagens que compõem a festa como capitoa, capitão, juiz, juíza, marujos e marujas.  

Outro ponto importante das marujadas é a presença forte das mulheres, tanto nos rituais quanto na organização das festividades, cabendo aos homens o papel de esmoladores, tocadores ou acompanhantes. 

A origem da marujada é do final do século XVIII e início do XIX, associada à criação da Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança em 1798, por iniciativa de povos negros escravizados naquela localidade. Para celebrar São Benedito, eram realizadas rezas, tambores, danças, missas, ladainhas e folias que vieram a se caracterizar com o que se entende hoje por Marujada do Pará. 

Acesse o Parecer Técnico e o Dossiê de Registro das Marujadas de São Benedito no Pará. 

*Com informações do IPHAN

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