Luminárias são criadas a partir de pedaços de árvores encontrados em trilhas na Serra do Tepequém

Luminárias são produzidas com troncos e raízes de árvores encontrados caídos em trilhas na Serra do Tepequém, localizada no município de Amajari, ao Norte de Roraima.

Luminária feita com raiz de uma árvore queimada. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

Unir a paixão pela natureza com a arte. Esse tem sido o trabalho da guia de turismo e artista plástica Ana Karla Vieira Bastos, de 42 anos, que transforma partes de árvores recolhidas em trilhas em luminárias sustentáveis. As peças são feitas na Serra do Tepequém, a principal região turística de Roraima.

“É o que eu vivo, é a minha realidade, minha vida, minha fonte de renda, a única porque eu trabalho exclusivamente com o turismo e a arte atualmente. Hoje representa tudo na minha vida, é com amor que eu faço tudo isso”, afirmou a artista.

Localizada no município de Amajari, ao Norte do estado, a Serra do Tepequém é um dos lugares mais visitados por apresentar atrações como cachoeiras, um platô que chega a quase 1.022 m de altura e pelo clima ameno durante a noite, proporcionado pelas serras.

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A inspiração para transformar os pedaços de madeira em obras de arte surgiu depois que a guia turística começou a recolher os fragmentos de trilhas onde realiza excursões. A ideia, no início, era apenas manter os caminhos mais “limpos” e evitar que turistas se machucassem durante o percurso.

Enquanto usava uma plataforma de descoberta visual, Karla encontrou imagens de luminárias rústicas feitas em madeira. Os modelos despertaram na guia o desejo de produzir as próprias peças com o que era encontrado nas trilhas.

“Eu observei que tinham troncos que se desprendiam das árvores, caiam e poderiam machucar meus turistas. E aí eu fui tirando, fui fazendo várias coletas desses troncos e depois eu passando o Pinterest, eu fui olhando as luminárias rústicas e disse: ‘eu vou fazer então a luminária do Tepequém’ […] foi uma inspiração divina mesmo”, contou a artista em entrevista ao Grupo Rede Amazônica.

Ana Karla é guia de turismo e produz luminárias com pedaços de árvores encontrados em trilhas, em Roraima. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

As luminárias do Tepequém, como são chamadas, são feitas com o âmago da árvore — parte central do tronco — que se desprende da planta e cai no entorno dela, e até com raízes queimadas por incêndios florestais. As árvores não são cortadas, tudo é feito com o que a “natureza não quer mais”.

A confecção das peças é totalmente manual e dura, em média, 45 dias. Elas começaram a ser produzidas no início de 2024, com o apoio do arqueólogo Ednelson Pereira, na Casa dos Artistas em Tepequém.

A produção não envolve nenhuma alteração no formato original da madeira. Após serem recolhidos, os pedaços de madeira são higienizados e passam por um tratamento para prevenir o aparecimento de fungos e cupins.

Depois, as peças são pintadas com um verniz natural para manter a cor original da madeira. O último passo é a instalação da lâmpada amarela, também conhecida como luz quente. A ideia é aproximar a pessoa da floresta.

“Se você coloca [a luminária] num cantinho, assim, de um ambiente, o formato da árvore te remete à floresta. Então, é uma conexão, você fica zen mesmo, você relaxa com aquela luz, com aquele ambiente mais calmo. É essa sensação de relaxamento que ela causa, sabe?”, explicou Ana Karla.

Luminárias sustentáveis são feitas na Serra do Tepequém, ao Norte de Roraima. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

A comercialização das luminária também começou no ano passado e, desde então, mais de dez peças já foram vendidas. Os valores variam entre R$ 180 e R$ 1,5 mil, dependendo do tamanho e do tempo para a finalização da peça. “É uma peça única, exclusiva, ninguém vai ter outra peça igual a essa no mundo”, garantiu Ana Karla.

Recomeço

Natural de Fortaleza (CE), Ana Karla mora em Roraima há cerca de 20 anos. Em 2020, após enfrentar complicações da Covid-19, ela decidiu se mudar da capital Boa Vista para a Serra do Tepequém, buscando melhores condições de saúde com o contato com a natureza. Lá, ela iniciou a atuação como guia de turismo.

“Eu me mudei logo depois de um Covid grave, decidi morar na Serra e fazer meus exercícios respiratórios por lá, porque nós temos um oxigênio 100%. E aí veio a ideia de um amigo: ‘Karla, por que você não conduz? Nós temos poucas mulheres nessa área aqui no Tepequém’. E eu fui querer saber como que funcionava isso”, explicou a guia e artista plástica.

Com o incentivo do amigo, Karla começou a estudar a história da região e se formou como guia de turismo em 2024, por meio de um curso do Instituto Federal de Roraima (IFRR) que capacita moradores da Serra do Tepequém.

Luminárias e terrarios produzidos na Serra do Tepequém estão em exibição em Boa Vista. Foto: Yara Ramalho/Rede Amazônica RR

“Eu falo com paixão do Tepequém. Eu falo que o Tepequém é como um recomeço para mim. Eu me apaixonei pela fauna, pela flora, o barulho [do lugar]”, afirmou ela.

Hoje, Ana Karla se dedica exclusivamente a orientação turística e a produção de luminárias sustentáveis. De acordo com ela, o objetivo do trabalho é conscientizar as pessoas sobre a preservação da floresta.

Exposição

As obras estão em exposição no shopping do bairro Caçari, em Boa Vista, e podem ser vistas até o dia 31 de julho. Promovida por um grupo de artistas da Serra do Tepequém, a exposição busca valorizar as produções locais.

Além das luminárias, entre as obras expostas estão terrários, recipientes de vidro que abrigam diversos tipos de plantas. As peças também contém musgos e pedras encontradas na própria Serra do Tepequém, incluindo cristais.

*Por Yara Ramalho, da Rede Amazônica RR

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