Foto: Reprodução/Instagram @juarezlima_am
O Festival de Quadrilhas, Danças e Bois Mirins, realizado em Parintins (AM) nos dias 14 e 15 de junho, foi palco de uma das homenagens mais tocantes do circuito cultural amazonense. Durante o evento, os bois mirins prestaram tributo ao artista Juarez Lima, figura histórica da cultura popular do Amazonas.
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A homenagem se deu em diferentes momentos da programação, emocionando familiares, amigos e o público presente. O Boi Estrelinha, com uma apresentação repleta de simbolismos, fez questão de citar o nome de Juarez Lima, reverenciando sua importância como artista, criador e incentivador do movimento dos bois-bumbás.
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Outro momento marcante foi protagonizado pelo Boi Mineirinho, que levou uma alegoria dedicada a Juarez. Com um cartaz estampando sua imagem e elementos visuais que relembravam suas contribuições ao folclore local, a agremiação reforçou a permanência do artista na memória afetiva daqueles que acompanham a cultura do Festival Folclórico de Parintins.
Juarez Lima é lembrado por sua ampla atuação nas artes populares, especialmente como um dos grandes nomes ligados aos bois-bumbás mirins. Ao longo de décadas, participou da criação de roteiros, composições, figurinos e coreografias que marcaram a história das apresentações juninas no Amazonas. Seu trabalho era pautado pela valorização da identidade regional, pelo incentivo ao protagonismo das crianças e pelo fortalecimento das tradições culturais nas comunidades.
A família de Juarez Lima, presente no festival, agradeceu publicamente as manifestações de carinho. Em nota, expressaram “gratidão profunda ao Boi Estrelinha, que citou com carinho o nome de Juarez Lima e ainda conquistou a vitória da noite”, além de reconhecerem “o gesto comovente do Boi Mineirinho, pela linda alegoria e o cartaz com sua imagem”. Para os familiares, o reconhecimento vindo das novas gerações demonstra que a história do homenageado continua viva, emocionando e inspirando quem hoje pisa nas arenas e palcos dos festivais.
O artista Juarez Lima
Reconhecido como um dos maiores artistas plásticos ligados ao Festival de Parintins, Juarez transformou madeira, isopor e tinta em narrativas amazônicas grandiosas, carregadas de simbologia, emoção e identidade.
Discípulo do artista italiano Miguel de Pascale e de Jair Mendes, Juarez Lima começou sua jornada ainda jovem, pintando a cerca do curral Zeca Xibelão, sede do Boi Caprichoso. Nos anos 1990, ascendeu como principal artista de alegorias do boi azul, conquistando respeito pelo gigantismo e movimento de suas esculturas. Em 1995, foi peça-chave no bicampeonato do Caprichoso, assinando rituais como Kananciuê e Templo de Monan, em parceria com nomes como Simão Assayag, Arlindo Júnior e Ronaldo Barbosa.
Apesar de ter uma trajetória fortemente ligada ao Caprichoso, Juarez também teve passagem marcante pelo Garantido, com quem assinou trabalhos entre 1997 e 1999. O retorno ao boi azul em 2000 marcou uma nova fase de experimentações. Entre os destaques de sua produção estão o ritual Pássaro da Tocaia (2000), Ulaykimpia – O Pássaro Bicéfalo (2003), a lenda Aymá Sunhé (2010), e Boitatá (2018), que consolidaram seu nome como referência no Festival de Parintins.

Mas o legado de Juarez Lima vai além das festas juninas. Sua fé o levou a criar a Romaria das Águas, evento que levava, de barco, a imagem de Nossa Senhora do Carmo até Parintins, unindo arte, religiosidade e tradição em um só movimento. Essa fusão entre o sagrado e o popular foi uma constante em sua vida e obra, marcada sempre pela exaltação da Amazônia — sua natureza, seus mitos e seu povo.
O reconhecimento póstumo que vem das ruas, dos bois mirins, das famílias parintinenses e dos artistas contemporâneos é a prova de que a história de Juarez Lima não termina com sua partida física. Seu nome permanece nas arquibancadas, nos palcos, nos ateliês e, sobretudo, nos corações de quem compreende a importância da arte como força de resistência cultural e construção de identidade.
Juarez Lima faleceu no dia 22 de novembro de 2024 , aos 58 anos, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) na cidade de Sankt Pölten.
Por Hector Muniz, do Portal Amazônia