Uma reunião foi realizada na superintendência do Iphan no Amazonas com o objetivo de escutar as detentoras e pensar estratégias de pesquisa e acompanhamento na análise do ofício.
O modo de fazer, servir e vender tacacá que caracteriza o trabalho das tacacazeiras pode se tornar Patrimônio Cultural do Brasil. No dia 24 de fevereiro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Amazonas, em parceria com o Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Sociedades Amazônicas, Cultura e Ambiente da Universidade Federal do Oeste do Pará (Sacaca/Ufopa), reuniu-se com tacacazeiras e tacacazeiros amazonenses. O encontro faz parte da pesquisa sobre o tema, que será realizada também nos estados do Acre, Amapá, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins para orientar o processo de registro do Ofício de Tacacazeira pelo Iphan.
A reunião na superintendência do Iphan-AM teve o objetivo de escutar as detentoras e pensar estratégias de pesquisa e acompanhamento na análise do ofício.
“Quando um bem, seja ele material ou imaterial, é registrado, ele oficialmente passa a ser protegido. Um esforço é direcionado para que ele possa continuar a ser passado de geração a geração, com uma política voltada para aquela atividade”,
explicou a superintendente do Iphan-AM, Beatriz Calheiro.
De acordo com o Inventário do Ofício de Tacacazeira na Região Norte, o registro tem o sentido de trazer à luz e valorizar um ofício e um saber especiais que dizem da riqueza cultural do país. Envolve a complexidade dos sistemas culinários amazônicos, de um paladar bem específico, amplamente disseminado em vários estados e cidades e imerso em um universo simbólico denso, e uma prática tradicional que é também meio de vida para muitas famílias.
“Eu vou tomar um tacacá”
Após a viralização por todo Brasil da música ‘Voando Pro Pará’ da cantora Joelma, o tacacá ganhou mais repercussão nacional do que já tinha e surgiram dúvidas sobre o que era o alimento que a artista colocou em seu verso e na boca de milhões de brasileiros. O tacacá é um prato produzido e consumido em diversas regiões da Amazônia brasileira com subprodutos da mandioca, entre os quais o tucupi e a goma, além de camarão seco, jambu e diversos temperos.
Por outro lado, quem escuta a música não imagina o que os detentores enfrentam para manter por gerações o modo de fazer, servir e vender. O preço dos ingredientes, as mudanças climáticas e a falta de garantia de direitos trabalhistas e previdenciários para as tacacazeiras foram algumas das ameaças levantadas no encontro em Manaus. Também foi sugerido incluir o tacacá na merenda escolar, criar políticas públicas para fomentar a atividade no estado e fortalecer a agricultura familiar.
“Minha mãe fazia tacacá pra mim desde que eu era criança e isso se tornou uma profissão por acaso, depois de um curso de empreendedorismo. É importante discutir as dificuldades e o que fazer para que nossa atividade não acabe”, disse a tacacazeira Aline Damasceno.
O alimento ocupa lugar central dentro de sistemas de relações sociais, comerciais e de significados coletivamente compartilhados. Embora seja feita em datas comemorativas, o tacacá é uma comida de rua, consumida no final da tarde, após as chuvas, nos inúmeros pontos de vendas espalhados pelas cidades do Norte do Brasil.