Larvas são muito consumidas em comunidades indígenas, mas fazem parte de uma gastronomia ainda considerada por muitas pessoas como, no mínimo, peculiar.
A larva do besouro broca-do-olho-do-coqueiro (Rhynchophorus palmarum), conhecida como mojojoy nas comunidades indígenas do Amazonas colombiano, no extremo sul do país, faz parte de uma gastronomia ainda considerada por muitas pessoas como, no mínimo, peculiar.
O gênero Rhynchophorus, segundo dados da Embrapa, é relatado como causador de danos em palmeiras em quase toda a região tropical do Planeta. Três espécies ocorrem nas Américas: R. cruentatus na Florida, costa sudeste dos Estados Unidos e Bahamas; R. palmarum no México, Américas Central e do Sul, e sul das Antilhas; e R. ritcheri no Peru (GIBLIN-DAVIS et al., 2013).
Mas em compensação a larva do R. palmarum faz parte da alimentação humana e possui outras denominações na Amazônia sul-americana. No Peru, por exemplo, é conhecida como suri; no Equador, como chontacuro, mukint ou mukindi; na Colômbia também a chamam de chiza; e na Venezuela recebe o nome de verme-de-palmeira.
É comum ver nas redes sociais imagens e vídeos de quem se arrisca a provar esse bichinho quando visitam as regiões interioranas da Colômbia, ou comunidades que o consomem por toda a Amazônia, tanto em comunidades indígenas, barraquinhas de venda de comida de rua como até mesmo em restaurantes especializados.
Os insetos em desenvolvimento são utilizados por essas comunidades como parte da gastronomia e estudos mostram que a larva é rica em proteínas e gorduras, além de suas qualidades medicinais.
Os indígenas coletam estas larvas de palmeiras como a patauá e buriti, principalmente, e comem elas cruas, fervidas ou assadas. As duas espécies de palmeiras produzem frutos comestíveis ricos em óleo de alta qualidade e muito saborosos. Por isso, supostamente, o mojojoy tem o mesmo sabor que eles. Mas o patauá e o buriti não são as únicas palmeiras em que se pode coletá-las. Há mais de 500 espécies de palmeiras que podem render o mojojoy.
A inclusão de insetos na alimentação humana é chamada de entomofagia. Na Colômbia essas larvas são consumidas pelos grupos indígenas ticuna, yaguá e miranha. Os benefícios que geram para a saúde dependem do conteúdo nutricional dos insetos segundo sua etapa de vida, habitat e dieta, mas as proteínas e os nutrientes são considerados de alta qualidade, comparados com os da carne e do pescado.
De acordo com dados da publicação ‘Sistemas alimentares dos povos indígenas: os muitos dimensões da cultura, diversidade e meio ambiente para nutrição e saúde‘, publicada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, em inglês), as características nutricionais do mojojoy são (em porção comestível de 100g, defumada (Dufour, 1987)): Energia 661g, Proteína 24,3g e gordura 55,0g. “Sua gordura ajuda a prevenir problemas pulmonares. Tem proteínas, vitaminas e minerais”, informa a publicação.
Por conta de tudo isso, o sabor dessa iguaria possui diversas descrições, como gosto similar ao do coco (como é conhecido no Brasil), de avelã ou até manteiga, dependendo de onde é coletado.
A FAO inclusive propõe que a criação de insetos para consumo humano é uma das muitas vias para garantir a segurança alimentar. Assim como as comunidades indígenas nas Américas fazem o manejo para consumo, os chineses e tailandeses, na Ásia, já possuem o costume de criá-los por sua rápida reprodução.
O colombiano Juan Sebastian Rangel descreve em sua tese de pós-graduação, de 2019, a caracterização nutricional de outro tipo de mojojoy (Ancognatha scarabaeoides) no departamento de Santander, para sua implementação em preparações gastronômicas. No estudo ele mostra que a larva em questão tem 34,69% de proteína; 4,85% de fibra; 17,3% de gordura; 0,11 mg de magnésio, 0,8 mg potássio e 0,94 mg de fósforo.
Versão brasileira
É claro que as comunidades indígenas brasileiras também possuem o costume de consumir algumas dessas larvas. O mais conhecido é o bicho-do-coco (Pachymerus nucleorum), uma larva de besouro da família dos bruquídeos. Desenvolvem-se no interior do fruto de várias palmáceas, como o babaçu, o coqueiro e a carnaúba. Por sua ampla distribuição, também é conhecido por outros nomes: gongo, coró, morotó e tapuru.
Seu consumo também faz parte de treinamentos de sobrevivência na selva. De acordo com o Exército Brasileiro, por seu alto teor de proteína, é comumente consumido pelos guerreiros de selva nas situações de sobrevivência.
No interior do Maranhão, por exemplo, costuma-se fritá-los e fazer farofas ou acrescentá-los, depois de fritos, ao arroz.