Foto: Divulgação/Expedição Pipilintu
Um grupo de franceses que partiu da Bolívia em uma balsa artesanal pretende chegar a Macapá (AP) até o fim de setembro. A travessia faz parte da Expedição Pipilintu, criada para homenagear os 200 anos da independência boliviana com uma jornada dos Andes ao Atlântico.
A embarcação é feita de totora — planta típica da região andina — e foi construída entre maio e junho de 2025 pela família Esteban, especialista em balsas tradicionais. O barco tem dois cascos, formando um catamarã de 6 metros de comprimento por 2,5 metros de largura e 6 metros de altura.
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O barco é movido a remo e vela, com baixo impacto ambiental. Em caso de emergência, há um motor de 6,5 cavalos.
A equipe é formada por quatro franceses:
- Fabien Gallier, engenheiro e capitão da expedição;
- Erwan Rolland (apelidado de Santiago), especialista em navegação;
- Benjamin Vaysse, engenheiro e responsável pela alimentação;
- Télio Nouraud, fotógrafo e videomaker.
Eles se conheceram em Cabo Verde durante uma travessia pelo Atlântico e trabalham juntos desde maio.
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Recepção aos franceses nas comunidades ribeirinhas
Na Bolívia, a expedição foi acompanhada de perto pela Armada Boliviana e recebeu apoio técnico e logístico. Já no Brasil, o início foi mais solitário, mas logo moradores do Rio Madeira se aproximaram.
Muitos ajudaram com acampamentos, alimentação e apoio logístico. A expedição virou atração local, com visitas diárias de curiosos e moradores.
“Cada dia chega alguém de barco para conversar, tirar foto, oferecer ajuda. A recepção no Rio Madeira tem sido incrível”, contou Fabien.
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Documentário e legado cultural
A jornada será registrada em um documentário previsto para 2026. O filme vai mostrar a travessia, o contato com comunidades ribeirinhas e destacar a importância ecológica e cultural da expedição. As atualizações estão disponíveis no site pipilintu.com.
Além da aventura esportiva, o projeto busca promover o uso de embarcações sustentáveis e valorizar o patrimônio marítimo boliviano. “Esse tipo de barco está desaparecendo. Poucas famílias ainda sabem construir com totora”, explicou Fabien.

Desafios e logística
Os primeiros dias foram os mais difíceis, com correntezas fortes e ondas perigosas. Outro trecho crítico foi a passagem da fronteira entre Bolívia e Brasil, onde há corredeiras, narcotráfico e usinas que impedem a navegação.
A solução foi transportar a balsa por caminhão até Porto Velho, com apoio da Marinha brasileira. O maior desafio técnico agora é concluir o trajeto dentro do tempo de vida útil da balsa, que é de cerca de quatro meses. A equipe precisa avançar cerca de 50 km por dia para cumprir o cronograma.
Construção da embarcação
A construção começou com a coleta de mais de 200 pacotes de totora no lago Titicaca. A planta foi trançada manualmente por dois meses, com ajuda da família Esteban, do Altiplano Boliviano.
O barco foi lançado em 21 de junho, durante o Ano Novo Aimará, com cerimônia tradicional e participação da comunidade.

*Por Rafael Aleixo, da Rede Amazônica AP
