Fatos curiosos e peculiares sobre os cemitérios na Amazônia

Lápides vazias no Acre? Assombrações no cemitério do Pará? Enterro coletivo em Roraima? Sim, a Amazônia é recheada de histórias peculiares sobre os seus cemitérios.

A origem da palavra cemitério vem do latim ‘coemeterium’, que, por sua vez, deriva de ‘cinisterium’ (cinos: doce e renor: mansão), como do grego kouméterion, que significa “eu durmo”. Em sentido estrito, cemitério é o local em que é dada a sepultura, pelo ato de enterrar diretamente no solo. Esse é um costume antigo da humanidade, que encontra no cemitério um lugar de descanso para os mortos.

Devido ao crescimento das cidades, a maioria dos cemitérios antigos foram se perdendo, enquanto boa parte se tornou patrimônio público. Na Amazônia,  por exemplo, existem centenas de tipos de cemitérios, alguns, inclusive, são destinados apenas para indígenas. Porém, todos carregam consigo histórias inusitadas, trágicas e até mesmo curiosas.

A equipe do Portal Amazônia encontrou alguns deles que se destacam por algum motivo. Confira:

Lápides vazias

Vamos começar com uma história bem inusitada? Pois bem. No Acre, a fotógrafa Hannah Lydia estava registrando alguns cliques do cemitério São Francisco Xavier, em Senador Guiomard. De repente, ela se deparou com uma lápide que continha o seguinte aviso: “está vazio, o dono está vivo”.

Através das redes sociais, a profissional informou que mais de 300 túmulos do cemitério estão vazios e esperam por seus donos. “Mais de 300 pessoas vivas que já têm um túmulo construído. Acho que nunca vi nada tão explícito sobre a brevidade da vida”, escreveu.

O número assusta, não é? Porém, a venda de túmulos é comum no município que possui mais de 20 mil habitantes. 

Foto: Reprodução/Hannah Lydia

Cemitério clandestino 

Não é segredo para ninguém a existência de cemitérios clandestinos. No Amapá, um relatório da Comissão da Verdade, apontou que o governo do extinto Território Federal do Amapá teria ajudado na ocultação de mortos durante a repressão. 

Algumas testemunhas indicaram que em Oiapoque havia um lugar onde eram enterradas as vítimas de execuções durante a Guerilha do Araguaia.

Parte do cartaz em homenagem aos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. Foto: Reprodução

Cemitério proibido 

Com uma população que passa de 20 mil pessoas, o município de Pacaraima, em Roraimanão possui cemitério. Isso mesmo, a cidade não conta com um lugar para as pessoas se despedirem dos entes queridos.

De acordo com os pesquisadores, o solo da cidade possui uma substância chamada Caulim, um tipo de minério composto por silicatos hidratados de alumínio. O minério impede que os corpos se desintegrem. Por esse motivo, enterrar os cadáveres fica inviável.

O Caulim possui coloração branca e apresenta poder de cobertura quando usado como pigmento ou como extensor em aplicações de cobertura e carga. É macio e pouco abrasivo, possui baixas condutividades de calor e eletricidade e seu custo é mais baixo que a maioria dos materiais concorrentes.

Solo não permite que os corpos se decompanham. Foto: Reprodução/Instituto de Pesquisas Tecnológicas (SP)

Cemitério e sítio arqueológico 

O cemitério de pedras conhecido como Campo Santo, localizado na Comunidade Quilombola Rio Preto, no município de Lagoa do Tocantins, no Tocantins, pode se tornar um sítio arqueológico. O local, construído por descendentes de escravos há mais de 100 anos, recebeu a visita de equipes do governo do Estado e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para estudos e avaliação.

Símbolo quilombola, o cemitério é formado por lápides construídas pela própria comunidade na época. Atualmente está sob os cuidados da comunidade, mas a proteção desses locais é garantida pela lei federal n.º 3.924 de 1961.

Foto: Manoel Junior/Governo do Tocantins

Assombração no Pará 

Imagine o seguinte cenário: você é taxista e está em mais um dia de trabalho pelas ruas de Belém, quando passa na frente do cemitério de Santa Izabel, no Guamá, e uma moça faz uma parada pedindo para que o motorista a leve para a casa do pai. Quando chegam ao local indicado, a garota pede que o dinheiro seja cobrado do pai. Ao bater à porta, o taxista se surpreende ao descobrir que a moça em questão morreu.

Esse é o contexto de uma das mais populares lendas, do século 19, conhecidas na capital paraense. A “garota do táxi” se mantém viva no imaginário dos paraenses, principalmente dos taxistas, que são assombrados pela história. Mas porque os motoristas são os principais alvos da garota?

Josephina Conte morreu aos 16 anos, em 16 de agosto de 1931. De acordo com a lenda urbana, a jovem sempre era presenteada em seu aniversário com uma viagem de táxi pela cidade de Belém, no dia 19 de abril.

O jazigo de Josephina está no cemitério de Santa Izabel, localizado na Avenida José Bonifácio, s/n – Guamá, em Belém. O local se tornou uma espécie de santuário que é visitado por diversos fiéis. Inclusive, a sepultura ganhou um tom mais escuro devido a quantidade de velas deixadas pelos promesseiros. 

Josephina Conte. Foto: Reprodução/Youtube/Conhecendo O Sobrenatural

Cemitério ou atrativo turístico? 

Em Poção de Pedras (distante a 350 quilômetros de São Luís), no Maranhão, um dos principais atrativos túristicos é o cemitério público. Com quase 20 mil habitantes, a cidade é cheia de fatos curiosos. 

No cemitério, os jazigos podem ser confundidos com casas de pequeno porte. Alguns possuem jardins, calçadas e, até mesmo, pátios. Outros contam com telhados, lajotas e grades. O investimento é pesado e trouxe a fama de atrativo turístico para o cemitério local.

Foto: Reprodução/Google Maps

Enterro coletivo em Boa Vista 

O dia 14 de novembro de 1976 marcou a vida dos moradores de Boa Vista. Foi nessa época que 39 pessoas morreram em um acidente na rodovia AM-010, que liga o Amazonas a Roraima. 

“O funeral se espalhou pela cidade. Era tanta gente que morta, que nos 12 bairros que a cidade tinha na época, todos tiveram funeral, e isso foi muito chocante. Eu era pequeno, mas me recordo da comoção da família de um vizinho que faleceu no acidente, e estava sendo velado. Até hoje esse fato é lembrado pelos moradores, pela fatalidade que ocorreu atingindo muitas pessoas”, conta o historiador Frank Chaves.

Ao todo, 39 vítimas fatais no acidente do Rio Urubu. Segundo os jornais da época, a empresa Soltur, responsável pelo ônibus, encomendou todos os caixões e mandou levar às famílias. Desses, oito corpos foram velados e enterrados em Manaus. Enquanto o restante encontrou como última morada o cemitério ‘Divino Espírito Santo’. Até hoje, suas lápides recebem visitas e homenagens da população. 

Foto: Elísio Júnior/Acervo

Primeiro cemitério indígena urbano 

‘Yane Ambiratá Rendáwa Bara Upé’, a “Casa de Retorno“, é o primeiro cemitério indígena urbano do Brasil. Ele foi inaugurado no dia 19 de abril de 2022 no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus. O espaço é dedicado a rituais e cerimônias de passagem aos mais de 20 mil indígenas que vivem na cidade e seus arredores.

O cemitério indígena foi criado em estrutura vertical e conta com 216 gavetas em cada um dos cinco módulos, totalizando 1.080 espaços no campo-santo, além de um portal de entrada e da oca ritualística para velório e dança de acordo com o costume de cada etnia. 

Foto: Nathalie Brasil/Divulgação

Parte da história de Cuiabá 

Em Cuiabá, no Mato Grosso, a população pode encontrar um pouco de sua história através de seus históricos Cemitérios. O mais famoso e antigo, o Cemitério da Piedade surgiu junto à cidade Bom Jesus de Cuiabá – antigo nome da capital mato-grossense. Com seus mais de três mil túmulos, o cemitério Nossa Senhora da Piedade foi fundado no século XIX, entre os anos de 1817 e 1819.

Neste lugar de repouso eterno estão sepultados monarquistas, republicanos heróis, escravos, anônimos e imigrantes que, cada um a seu modo, contribuíram para construir a história da nossa Capital.

Um dos mais famosos túmulos no cemitério da Piedade é o de Augusto Manuel Leverger, mais conhecido como Barão de Melgaço. Francês, o Barão chegou a Cuiabá navegando pelo rio Paraguai. Aqui casou-se com uma cuiabana e constitui raízes na terra calorosa. Além de militar, era engenheiro e foi de sua autoria o primeiro mapa de Mato Grosso. Também construiu a oficina de barcas e o arsenal da marinha, que hoje é a Praça Albuquerque – no local eram feitos grandes barcos de guerras. 

Leverger foi uma das figuras literárias mais influentes de sua época e foi nomeado cônsul-geral em 1839, com o objetivo de estabelecer boas relações com o Paraguai. Nasceu em 1802 e morreu em 1880. Em sua lápide está desenhada a carta geográfica do estado de Mato de Grosso. 

Foto: Reprodução/Iphan
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