Foto: Beatriz Maia
O documentário “Mestre Dikinho e Tambores do Pacoval – Carimbó de Encantaria” foi lançado no dia 19 de outubro na sede da Associação de Moradores do bairro do Pacoval (AMPAC), em Soure – na Ilha do Marajó. O evento ocorreu no barracão onde há 15 anos são realizadas rodas de carimbó que contaram com a presença assídua e determinante de Mestre Dikinho, artista paraense que formou gerações de tocadoras e tocadores da ilha, além de ser uma referência para todo o Pará.
Dikinho faleceu na madrugada do dia 17 de julho deste ano, aos 83 anos, causando grande comoção no cenário cultural regional, pela relevância de sua trajetória não somente no Carimbó, quanto em outras expressões da Cultura Popular paraense, como o Boi, o Carnaval e o Bolero.
O documentário apresenta uma natureza atemporal, lançando um olhar íntimo sobre a vida e obra do mestre, possibilitando a eternização do seu legado em imagem e som, e registra os costumes, a biodiversidade e a cultura da Amazônia, possibilitando um olhar do mundo para esse lugar; da vida de um Mestre e o repasse de seus saberes; muitos episódios inusitados em mais de 80 anos de história; o Carimbó; a vida no Marajó, tradição e modernidade; búfalos e motos; do Tambores do Pacoval e seu protagonismo na transformação da realidade de um bairro pela cultura e organização comunitária; mulheres no tambor e na liderança, gerações em convívio e permanente aprendizado.
“Finalizar esse trabalho audiovisual que iniciamos em julho de 2019 é um sonho antigo da comunidade que se encontrou com o sonho de produtores independentes e começou a se tornar realidade. Antes do conteúdo em si, é importantíssimo dizer que houve uma intensa vivência de cada pessoa que compôs o documentário com o Mestre, desde a equipe técnica, passando por cada entrevistado. Ter convivido e feito carimbó com ele, vivido de perto toda sua vasta produção no âmbito da Cultura Popular, foi de uma dimensão indescritível. Ele era gigante em sua delicadeza e poesia sensível à densidade humana, imaginária e natural da Ilha do Marajó. Fico extremamente feliz por estarmos entregando este documentário à memória coletiva de nossa região. Perco inclusive as palavras para conseguir descrever tudo que representa esse material, idealizado coletivamente, que consegui produzir e agora entregaremos ao mundo. Nele, nosso querido Mestre se manterá eternizado, podendo ser visto, ouvido e sentido por todas as gerações que vierem após ele e cada um de nós”, afirma Luciane Bessa, produtora executiva da obra.
Mestre Dikinho foi compositor, violonista, cantor e artesão marajoara. Cresceu entre campos e rios trabalhando como vaqueiro e pescador, imerso na poesia e encantaria da região. Da sua vivência surgiram canções em vários ritmos: do carimbó ao samba, do bolero ao xote e ao boi, que foram tocadas magistralmente pelo mestre em diversos grupos, desde os anos 60.
Passou mais de década junto ao “Tambores do Pacoval”. Também fez parte do grupo “Os Mansos” nos últimos anos de sua vida, junto ao seu grande parceiro de estrada, Mestre César do Regatão, além de amigo fiel, Yuri Guimarães.
O documentário é uma coprodução da Associação de moradores do Pacoval e a produtora Cris Salgado Films com a Universidade Federal do Pará através do Programa Coroatá. O filme traz entrevistas com o Mestre, seus amigos e parceiros de carimbó, além de clipes e animações sobre a encantaria do Marajó e registro de momentos marcantes da cultura na ilha.
*Com informações da UFPA