‘COP30 da Bicharada’: conheça a manifestação cultural paraense que marcou presença na conferência mundial

Saiba mais sobre o 'Cordão da Bicharada', criado em 1975 e até hoje considerado uma das expressões culturais mais tradicionais do Pará.

Cordão da Bicharada em apresentação no primeiro dia de programação da COP30. Foto: Reprodução/Ministério do Turismo

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontece em Belém, no Pará, foi palco de uma manifestação que destaca a força da cultura amazônica e a importância da preservação ambiental.

No primeiro dia do evento que reúne lideranças mundiais (10), uma apresentação do Cordão da Bicharada, tradicional desfile de foliões fantasiados de animais que acontece há mais de 50 anos no município paraense de Cametá, foi realizada.

A participação da Bicharada na maior conferência anual do planeta foi considerada um marco para a história da tradição carnavalesca, porém, parte do público no local recebeu com estranheza e até sarcasmo o desfile das representações animais.

Leia também: ‘Cordão da Bicharada’: tradição une carnaval, crianças e meio ambiente no Pará

“Animais” percorreram o trajeto até o Green Zone, espaço reservado para sociedade civil, instituições e líderes globais. Foto: Reprodução/Ministério do Turismo

O Cordão da Bicharada começou lá na década de 1970 e hoje é uma das principais manifestações culturais do Pará que acende o alerta à preservação da fauna amazônica.

O que é o Cordão da Bicharada?

O Cordão da Bicharada é uma expressão cultural que surgiu em 1975, no distrito de Juaba, localizado na região do Baixo-Tocantins, no município de Cametá, interior do Pará. O idealizador foi o mestre Zenóbio Ferreira, ex-morador da cidade, que decidiu criar o bloco carnavalesco para conscientizar a população sobre a preservação do meio ambiente.

Segundo historiadores, a brincadeira saiu do imaginário de Zenóbio através das histórias que seu pai contava sobre os animais amazônicos. A partir daí, o tema virou uma preocupação sobre os prejuízos ao meio ambiente causados por queimadas e desmatamentos, surgindo em Zenóbio a ideia de dar voz aos animais.

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Mestre Zenóbio Ferreira foi o grande idealizador do Cordão da Bicharada. Foto: Reprodução/Instagram-Museu Juabense

Durante o carnaval de 1976, um grupo de moradores fantasiados de animais foram às ruas de Cametá para soltar o “grito” dos bichanos. Nascia ali o Cordão da Bicharada.

Araras, jacarés, cobras, macacos, jabutis, tucanos, botos e outros animais típicos da Amazônia eram representados através de danças e marchinhas, no propósito claro de unir a diversão do carnaval com a urgência de preservar o meio ambiente.

O primeiro Cordão da Bicharada deu origem a 22 bichos feitos de materiais como lona, juta e demais materiais recicláveis.

Tradição de gerações

Os historiadores contam que o Cordão da Bicharada, no início, só permitia que adultos pudessem se fantasiar. As crianças apenas admiravam seus pais e vizinhos imitando as espécies durante a manifestação cultural, algumas até ficavam assustadas com tanto realismo dos brincantes.

Mas, desde 1993, Zenóbio decidiu incluir meninos e meninas no Cordão da Bicharada, passando a tradição de geração em geração. De acordo com o mestre, as crianças começaram a pedir para brincar com as fantasias dos animais feitas para os próprios pais, o que acabou se transformando numa grande brincadeira para todos, sem distinção de idade.

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Há 30 anos, tradição do Cordão da Bicharada é passada de geração em geração na cidade de Cametá, no Pará. Foto: Raimundo Paccó

Porque o nome Cordão?

De acordo com registros históricos, o termo Cordão diferencia a brincadeira dos blocos de carnaval, porque os “animais” costumavam entrar na casa das pessoas, num trajeto que imitava o formato de um cordão.

Hoje, os “cordões” pouco entram nas casas dos ribeirinhos, mas são levados de barco para o Carnaval oficial da cidade de Cametá, o chamado Carnaval das Águas, quando se apresentam para o grande público.

Cordão da Bicharada, em Cametá, no Pará, chegando para se apresentar em comunidades ribeirinhas. Foto: Acervo Zenóbio Ferreira

COP30

No primeiro dia de programação da COP30, o tradicional Cordão da Bicharada se apresentou no espaço Green Zone, espaço reservado para a participação da sociedade civil, instituições públicas e privadas e líderes globais, em conjunto com o mascote da cúpula, o Curupira.

A apresentação contou com a presença do ministro do Turismo, Celso Sabino, que prestigiou de perto a manifestação cultural criada nos anos 1970.

“A Amazônia é símbolo da força do nosso povo e do compromisso do Brasil com a preservação ambiental. Queremos que cada visitante da COP30 sinta a energia desse bioma e entenda que o turismo sustentável é um caminho eficaz para garantir desenvolvimento e proteção da floresta”, afirmou o ministro.

Cordão da Bicharada na COP30
Ministro do Turismo, Celso Sabino (de azul, no centro) acompanhou o desfile do Cordão da Bicharada. Foto: Reprodução/Ministério do Turismo

Desconhecimento

Apesar de ser um dos grandes patrimônios culturais do Pará, sede da COP30, a apresentação do Cordão da Bicharada foi alvo de críticas. Num exemplo de desconhecimento da história dessa expressão cultural, parte do público que prestigiou a apresentação demonstrou estranhamento.

Alguns veículos de imprensa também descreveram a manifestação cultural como constrangedora e denominou os brincantes como “pessoas trajadas de animais rastejando no pavilhão”, num grande exemplo de desconhecimento de uma das maiores expressões culturais e artísticas do estado paraense.

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