Conheça o Campineiro, o terceiro boi-bumbá de Parintins

Ao lado do Garantido e do Caprichoso, o Campineiro chegou a participar do Festival de Parintins nas décadas de 70 e 80.

Popular na Região Norte, o Festival Folclórico de Parintins traz como base a clássica disputa entre os bois-bumbás Garantido e Caprichoso. Porém, nos primórdios do festival havia um terceiro bumbá que integrava o evento, o Campineiro, que chegou a disputar no Festival de Parintins. Mas existem divergências sobre a criação desse bumbá e sua história por conta dos poucos registros.

O presidente da agremiação à época, Eduardo Paixão, afirmava que o seu pai, Emídio Souza, criou o Campineiro em 1890. Na conta de Eduardo, o Campineiro teria em 2023, seus 133 anos. Já para o historiador Tonzinho Saunier, o boi Campineiro ‘surgiu’ como uma brincadeira em 1977, no bairro de Palmares. O que segundo o ex-apresentador do boi Garantido, Paulinho Faria, não é verdade.

A outra versão sobre sua origem seria a do seu Carlos Leocádio, o ‘Camoca’, que creditava a fundação em alternância entre os anos 1913 a 1915. Inclusive, foi Camoca quem comandou o Campineiro a partir do ano de 1980. Por fim, um registro feito em cartório no ano de 2003, declarou Camoca como guardião do uso do nome Campineiro e suas cores tradicionais, o verde e o amarelo.

Ex-presidente do Bumbá Campineiro, Eduardo Paixão. Foto: Jonas Santos

Primórdios

O Boi Campineiro é cinza, tem um sol na testa, e suas cores tradicionais são verde e amarelo, adotando também o branco para realçar as apresentações. Na década de 80, o quartel-general do bumbá era na casa de Camoca, situada na rua Fortaleza, bairro de Palmares. Já o local dos ensaios era a antiga quadra de esportes do Projeto Rondon, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Ao lado do Garantido e do Caprichoso, o Campineiro chegou a participar do Festival de Parintins nas décadas de 70 e 80. Mas a participação da torcida não tinha expressão como as dos concorrentes.

Foto: Reprodução/Ufam

Os momentos de destaque do Campineiro aconteceram em duas ocasiões causadas pela desistência do bumbá Caprichoso no Festival Folclórico de Parintins.

Em 1978, o Caprichoso entrou para brincar o festival no reduto do Garantido, quando os brincantes foram recebidos com vaias e alguns objetos foram jogados. Houve uma briga generalizada e o Caprichoso não voltou para a disputa, ou seja, apenas o Garantido e Campineiro continuaram no festival.

Já em 1983, o prefeito da cidade à época, Glaucio Gonçalves, havia nomeado para presidir a comissão julgadora e organizadora do festival, o então vice-prefeito Edu Costa, que era torcedor declarado do Garantido. Dessa maneira, o Caprichoso se opôs à decisão e não participou do festival daquele ano, deixando, mais uma vez, a disputa para o Garantido e o Campineiro.

Essa foi a última vez que o Campineiro participou de uma edição oficial do Festival de Parintins.

O fim de uma era

Essas e outras histórias sobre o polêmico terceiro boi de Parintins estão no livro-reportagem ‘Boi Campineiro: a história do Festival de Parintins que não foi contada’, escrito pelo jornalista Jonas Santos com organização de Renan Albuquerque.

 
Ao Portal Amazônia, Jonas Santos, contou que a decisão de retirar o Campineiro do Festival de Parintins partiu das diretorias do Garantido e do Caprichoso. “Eles não queriam que outro boi estragasse a festa deles, principalmente, com a ajuda oferecida pelo Governo para a produção do festival”, afirmou.Outro fator que levou o Campineiro a deixar o Festival foi a própria torcida.

“O detalhe é que o Campineiro disputava o Festival, mas não tinha torcida. As pessoas que organizavam o Campineiro eram um misto de torcedores do Garantido e Caprichoso”,

contou Santos.

À época da publicação do livro, em 2013, o ex-secretário de Cultura, Robério Braga, escreveu a apresentação da publicação, na qual declarou: “O Festival Folclórico de Parintins atravessa gerações e se tornou símbolo, paixão e orgulho de todos os amazonenses. Sua história é dinâmica, complexa, rica. E como tal, ainda reserva lugar para as vozes de personagens importantes, que merecem ser ouvidas. Ainda guarda momentos que nunca foram registrados, senão na saudade de quem estava lá. Ainda possui retratos que o tempo se encarregou de dispersar e que devemos, em respeito aos seus protagonistas e à nossa própria história, reunir. O Boi Campineiro é um desses tesouros pouco conhecidos da Ilha do Folclore: sua evolução foi marcada pela ousadia, criatividade, garra e alegria que até hoje são lembrados e que em muito o aproximam de Garantido e Caprichoso, a quem o boi verde e amarelo do Aninga deu passagem. A obra de Jonas Santos revisita episódios, interliga relatos e desvela cenários pouco vislumbrados, que nos ajudam a compreender e absorver mais da gênese do Festival e da essência da arte parintinense”.

O livro reúne diversos documentos e depoimentos coletados pelo jornalista com o intuito de registrar a história do que teria sido o terceiro boi do maior festival folclórico do Amazonas. Para saber mais, confira a edição completa.

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