Caruanas. Foto de capa: Gerada por inteligência artificial.
A cosmologia ocupa um papel central na cultura dos povos indígenas, organizando não apenas a relação com o mundo espiritual, mas também com o território, os ciclos da natureza e a vida em comunidade. A cosmologia indígena é basicamente a forma como os povos indígenas enxergam a natureza e o mundo em geral.
Nesse sentido , os elementos da floresta, dos rios e do céu não são apenas recursos ou paisagens, mas entidades vivas com as quais é preciso manter o equilíbrio. Dentro desse universo simbólico, surgem as caruanas — seres espirituais ligados às águas e presentes em diversas tradições do Baixo Amazonas.
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Caruanas, o que são?
As caruanas são entidades espirituais presentes na cosmologia de diversos povos indígenas da região amazônica, especialmente entre os povos ribeirinhos e comunidades influenciadas pela cultura indígena do Baixo Amazonas, como os Borari, Tupinambá e Tapajó.
Porém, também estão presentes em tradições do catolicismo popular e na religiosidade afro-indígena, especialmente no Pará.
De acordo com a mitologia indígena, as caruanas habitam o fundo dos rios, igarapés e lagos. São descritas como espíritos ou seres encantados que protegem as águas e a natureza. Em algumas tradições, são consideradas mensageiras entre o mundo material e o mundo espiritual.
Aparecem geralmente associadas a festas religiosas, rituais de cura e manifestações culturais como o Çairé, celebração tradicional em Alter do Chão (PA).
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Na festa do Çairé, as caruanas são evocadas por meio de danças, cantos e encenações simbólicas. Nesse contexto, elas são representadas como figuras míticas que regulam a relação entre humanos e natureza. Algumas lendas afirmam que elas podem se manifestar em forma humana ou animal, e que apenas pajés ou pessoas iniciadas podem vê-las.
Além do simbolismo espiritual, as caruanas têm papel importante na transmissão oral de valores e passa de geração para geração.
O estudo das caruanas contribui para ampliar o entendimento sobre a diversidade cultural da Amazônia e os modos de vida que valorizam a conexão com o ambiente. A presença dessas entidades em rituais e narrativas também reforça a resistência de saberes tradicionais frente às mudanças sociais e ambientais na região.
No Pará, a pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Joana d’Arc Vasconcelos Neves publicou um artigo intitulado “Pedagogia Caruana e decolonialidade do saber na Amazônia marajoara“, que aborda os saberes ancestrais na pedagogia.

Coletivo as Karuanas
No contexto da preservação ambiental, surge os Coletivo as Karuana, que consiste num coletivo de mulheres indígenas formado por diferentes etnias da região do Baixo Tapajós no Oeste do Pará, Borari, Tapajó, Kumaruara e Tupinambá. São mulheres que atuam em suas comunidades na preservação da cultura e na proteção do meio ambiente em defesa de seus territórios.
Desde de 2019, As Karuana levam a voz e representatividade das mulheres indígenas da região ocupando diferentes espaços e públicos. Realizam e participam de projetos socioculturais e ambientais.
Confira a reportagem realizada no programa Galeria, exibido semanalmente aos sábados no Amazonsat, às 13h30 (horário de Brasília).