Círio Fluvial de Santo Antônio em Oriximiná: das ruas para o rio

O Círio de Santo Antônio, padroeiro de Oriximiná, é mais do que uma celebração religiosa: é um marco cultural do Pará.

Foto: Vitor Bemerguy/ SECOM-PMO

Todos os anos, no mês de agosto, Oriximiná, cidade banhada pelo Rio Trombetas, no oeste do Pará, é transformada em um cenário de , devoção e cores. O Círio de Santo Antônio, padroeiro do município, é mais do que uma celebração religiosa: é um marco cultural que atravessa gerações e resiste ao tempo, reunindo milhares de fiéis em uma das mais belas manifestações de religiosidade fluvial da Amazônia.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

A origem da devoção coincide com a própria fundação da cidade. Em 13 de junho de 1877, ao celebrar a primeira missa na margem esquerda do Trombetas, o padre José Nicolino de Souza consagrou o local a Santo Antônio, batizando-o como Santo Antônio de Uruá-Tapera. Desde então, o santo passou a ser o protetor da comunidade.

Leia também: Vigia de Nazaré, a cidade que sedia o Círio de Nazaré mais antigo do Pará

Círio fluvial em Oriximiná. Foto: Vitor Bemerguy SECOM PMO
Foto: Vitor Bemerguy/ SECOM-PMO

As primeiras edições do Círio datam de pelo menos 1936 e eram realizadas em terra. A imagem do santo era conduzida em procissão do dia 1º ao dia 15 de agosto, visitando casas de fiéis e retornando à Igreja Matriz, onde ocorriam as tradicionais trezenas e ladainhas. Era um momento de união comunitária, marcado por gestos simples, mas profundamente carregados de simbolismo.

Círio das ruas para o rio

Em 1946, no entanto, uma grande mudança redefiniu a festa. Por meio de um acordo com a Cúria Prelatícia de Santarém, o Círio passou a ser fluvial, uma adaptação que harmonizou a religiosidade com a geografia ribeirinha da região. As datas também foram reorganizadas: a procissão passou a ocorrer no primeiro domingo de agosto, e as festividades encerram-se no terceiro domingo do mês. A nova forma de celebração incorporou uma programação oficial, reforçando ainda mais o caráter festivo e religioso do evento.

Para os mais antigos, remar as canoas que levavam a imagem do santo pelas águas era um ato de sacrifício e devoção. Era como oferecer o próprio esforço físico em agradecimento ou súplica. O círio diurno daquela época terminava com um grande almoço coletivo, reforçando os laços de solidariedade entre os moradores.

Leia também: O almoço do Círio e a sacralização da mandioca

Atualmente, o Círio de Santo Antônio mantém viva essa tradição, mesmo com as modernizações. A imagem do padroeiro é conduzida em uma balsa motorizada, escoltada por dezenas de embarcações decoradas e iluminadas, formando um cortejo fluvial de rara beleza.

Foto: Vitor Bemerguy/ SECOM-PMO

O trajeto pelas águas do Trombetas é emoldurado por velas flutuantes, orações e cânticos entoados pelos romeiros. Ao chegar ao porto da cidade, a imagem é recebida com uma vibrante queima de fogos e, em seguida, é levada em procissão terrestre até a Igreja Matriz, onde é celebrada uma missa campal com grande participação popular.

Além da cerimônia principal, os dias que antecedem o Círio também ganharam força. O chamado “Pré-Círio” abre a programação oficial com apresentações culturais, peças teatrais e danças que exaltam as tradições amazônicas e o sincretismo presente na fé popular.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Comissão de Direitos Humanos aprova criação da Política Nacional de Segurança dos Povos Indígenas

A proposta reafirma competências de vários órgãos de Estado relacionadas ao combate à violência contra os povos indígenas.

Leia também

Publicidade