Foto: Reprodução/YouTube-ReginaVolpatoOficial
Na vastidão da floresta amazônica, entre galhos altos e a sombra das copas, pende o cipó-ambé (Philodendron spp.), uma planta enigmática, multifuncional e reverenciada por povos indígenas e comunidades tradicionais. Conhecido popularmente como ‘cigarro de índio‘, esse cipó guarda saberes ancestrais, utilidades práticas e até um tipo de “água da vida”.
📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp
O cipó-ambé é uma espécie de trepadeira que cresce em touceiras e se estende do alto das árvores até o solo. Quando cortado ainda jovem, com o talo macio, libera um líquido claro e fresco – conhecido como “água de cipó”. Os moradores da floresta posicionam recipientes para captar essas gotas lentamente. Acredita-se que essa água é pura e cristalina, perfeita para hidratar quem está em meio à selva.

“Se você se perder na mata, procure um cipó-ambé”, aconselham os mais antigos. A planta se tornou, assim, um símbolo de sobrevivência, mas também de sabedoria tradicional.
‘Cigarro de Índio‘
Além da hidratação, o cipó também é usado como um cigarro natural, sem aditivos. Popularmente chamado de “cigarro de índio”, ele é preparado de forma simples, mas precisa. Corta um pedaço do cipó, deixa secar ao sol por cerca de dois dias, e então retira-se a casca externa. O miolo, já endurecido, está pronto para ser fumado.

A jornalista Regina Volpato foi uma das pessoas que experimentou essa tradição. Em uma visita a Alter do Chão, no Pará, ela registrou a experiência em seu canal no YouTube.
Leia também: 9 fatos curiosos sobre o “Caribe amazônico”: Alter do Chão
Auxiliada por um morador local, ela segurou o “cigarro de madeira”, acendeu com um isqueiro e deu algumas tragadas.
A cena é curiosa e autêntica. “Pode puxar, igual a um cigarro… Se quiser tragar, fique à vontade, quando traga é a melhor coisa que tem pra acalmar”, comenta o guia.
Ricardo e Tami, que viajam pelo mundo e contam suas experiências do canal Nossas Histórias, também passaram pela região e mostraram como foi fumar o “cigarro de índio”:
A cozinheira do restaurante Casa Igá (Belém/PA), Oriana Bitar, mostrou em suas redes que ficou surpresa com o cipó-ambé e deixou um registro sobre a experiência:
Tradição fitoterápica e outros usos
O uso do cipó-ambé vai além. Nas comunidades amazônicas, ele é também utilizado como fitoterápico. Receitas aprendidas com os povos indígenas são passadas de geração em geração e ainda hoje compõem os tratamentos de muitas famílias que vivem da floresta e com a floresta.
De acordo com a definição de George Duarte Ribeiro, no livro ‘Algumas espécies de plantas reunidas por famílias e suas propriedades‘, é uma planta também “muito utilizada na confecção de artesanato e utensílios domésticos, sendo também medicinal, com indicações até para minimizar problemas de picadas de cobra”.
E, em 2009, Marília J. S. Sousa (então mestranda de Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas-UFAM/ Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – Programa de Artesanato), detalhou o uso da planta no estudo ‘Etnografia da produção de artefatos e artesanatos em comunidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã – Médio Solimões‘.
Assim, a sabedoria popular e o conhecimento empírico fazem do cipó-ambé uma espécie de farmácia viva. E cada vez mais, pesquisadores e estudiosos voltam seus olhares para essas espécies vegetais, buscando nelas princípios ativos para a medicina moderna.
