Aquário do Museu Goeldi. Foto: Divulgação
A exposição do aquário tem curadoria compartilhada entre os pesquisadores Patricia Charvet, Maria Ivaneide Assunção e Horácio Higuchi e Suzana Primo Karipuna, os três últimos do Museu Goeldi, no Pará. De acordo com os curadores, devido ao tamanho do peixe-serra (um adulto pode chegar a sete metros), que demandaria um aquário gigante, e ao contrassenso de tirar o animal da natureza para mantê-lo em cativeiro, optou-se por uma exposição ilustrada pelo artista brasileiro Alexandre Huber, conhecido por trabalhar com educação ambiental.
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A mostra também conta com quatro réplicas, sendo uma a imitação de um animal jovem, e outras de materiais recicláveis, de Jackson Alves, de Fortaleza-CE, e também uma obra imagética de Yermollay Caripune. A parte da narrativa da exposição que faz alusão à importância da espécie para o povo karipuna foi construída a partir de informações da curadora Suzana Primo Karipuna, servidora da instituição e uma das responsáveis técnicas pela coleção de Etnografia do Museu Goeldi. Também há menção à confusão que se tem no Brasil em relação ao nome regional “espadarte”, que, em outras partes do país, é atribuído a outras espécies, como o agulhão.
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Ainda para a concepção da exposição, a curadoria considerou que a espécie tem uma importância cultural muito grande para vários grupos indígenas, no Brasil e pelo mundo, pois está associada à proteção, à boa sorte, ao cuidado, sendo um sinal de boa sorte quando a pessoa encontra um peixe-serra na natureza. Mais uma curiosidade sobre o peixe.
“O peixe-serra é, na realidade, uma raia com um focinho prolongado e com dentes nesse focinho, que é um prolongamento do crânio. Por ser uma espécie magnífica e tão icônica, vários artistas gostam de trabalhar com ela”, destaca a curadora Patrícia Charvet.
Aspectos ambientais
A bióloga Patricia Charvet (integrante externa da curadoria) é coordenadora de dois projetos envolvendo a espécie de peixe-serra da costa amazônica.
“Os projetos levantam dados históricos e mais recentes sobre as espécies, para ajudar na fiscalização, para que elas não sofram o tráfico ilegal, e também para sensibilizar a população em relação às espécies. O peixe-serra era uma espécie muito comum na região e, devido à pesca, às perdas de habitats, ao tráfico de partes dela, tornou-se uma espécie criticamente ameaçada de extinção. Todas as espécies de peixe-serra ou espadarte, que é o nome regional, são criticamente ameaçadas. Está nas listas vermelhas do Brasil, do Pará e de outros Estados; é uma espécie totalmente protegida a nível global, na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza (ICN)”, afirma.

A pesquisadora explica que, na costa amazônica, há duas espécies de peixe-serra, uma mais comum, com dentes maiores, chamada de peixe-serra-de-dentes-grandes, e outra que tem os dentes um pouco menores e é um pouco menor também, que é o peixe-serra-de-dentes-pequenos.
“A primeira espécie também pode ser achada na Austrália, elas estão geograficamente separadas e é uma das últimas populações que sobrou no mundo dessa espécie. É uma espécie que ainda é protegida por manguezais, por bancos de areia e de lama e tem um refúgio nessa região. O nosso trabalho é uma forma de sensibilizar as pessoas e aumentar o conhecimento sobre as espécies e sobre todos os desafios que nós temos em relação à conservação do peixe-serra”.
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A entidade Ahetxiê
De acordo com o pesquisador, Horácio Higuchi, parte da importância do peixe-serra para os karipuna é representada por meio”é representada por meio das narrativas orais ligadas à figura do Ahetxiê.
Ele conta um pouco da história desse encantado: “Após a cabanagem (guerra civil ocorrida por volta de 1835, na província do Grão-Pará formada por Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia), um grupo de karipuna, que estava sendo perseguido, fugiu em busca de refúgio. Eles saíram de barco e a Ahetxiê, que é o peixe-serra, indicou o caminho até o Rio Oiapoque, na fronteira do Amapá com a Guiana. À noite, os karipuna se guiavam pela estrela Dalva, o planeta Vênus; durante o dia, o peixe-serra os guiava até o lugar onde estão hoje”.
O coordenador da Museologia do Museu Goeldi, Emanoel Fernandes de Oliveira Júnior, destaca a importância da exposição enquanto instrumento de divulgação científica, histórica e cultural. “Sabemos que o desaparecimento de uma espécie gera impactos em toda a cadeia ecológica, podendo causar um desequilíbrio e afetar o meio ambiente.
A exposição fala disso, mas também da interseção entre o conhecimento científico e as percepções culturais que alguns grupos, como no caso dos karipuna, têm sobre a espécie. Para eles, o peixe-serra não é só um peixe, mas uma entidade karuãna ligada às narrativas de origem desse grupo indígen origem desse grupo indígena, da história de sua migração em direção ao Oiapoque”, reafirma.
O aquário

O Aquário Jacques Huber foi fundado em 1911, pelo botânico e então diretor do Museu Goeldi que, posteriormente, deu nome ao espaço, Jacques Huber (1867-1914), com o apoio do desenhista Ernst Lohse (1873-1930). O objetivo foi que o aquário integrasse o complexo de pesquisa do Parque Zoobotânico.
O aquário possui cerca de 50 peixes de várias espécies, como tambaqui, tucunaré e piramboia. Além disso, com o tempo, foi anexado ao espaço o serpentário, que tem cobras como sucuri, jiboia e periquitamboia. Assim, os visitantes podem ver indivíduos vivos representantes da fauna amazônica.
