A simbologia do manto foi materializada em uma peça de cetim de seda pura italiana, branco, ornamentada com renda francesa, vidrilhos, cristais, pérolas e outros materiais.
“Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de 12 estrelas”.
A apresentação do manto é um dos momentos mais aguardados da festividade em homenagem à padroeira. A Basílica Santuário de Nazaré – que tradicionalmente estaria lotada para o evento – nesta noite ficou com as portas fechadas, apenas com a participação restrita de membros da Diretoria da Festa, vigários episcopais e profissionais de imprensa, responsáveis pela transmissão por internet e televisão.
Após a missa celebrada pelo arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira, as luzes se apagaram e a imagem com o novo manto foi erguida. “Tenho certeza que o manto de Nossa Senhora de Nazaré nos cobriu com seu amor. Os nossos sofrimentos não foram tão grandes como poderiam ser porque o povo daqui se dirigiu a Ela com muita confiança”, afirmou Dom Alberto Taveira, se referindo à curva descendente de casos de Covid-19 no Pará.
Brilho do sol
A simbologia do manto foi materializada em uma peça de cetim de seda pura italiana, branco, ornamentada com renda francesa, vidrilhos, cristais, pérolas e outros materiais. O dourado e o azul remetem ao céu e ao brilho do sol. A coroa rodeada de 12 estrelas está na parte de trás, sobre dois anjos e a lua. As pontas do manto se conectam a um broche em formato de cruz, em prata e ouro branco cravejado. Como ocorre todos os anos, o manto foi doado por um casal voluntário.
O arquiteto Sandoval Ferreira recebeu um texto base para orientar o projeto de criação. “As minhas mãos apenas representaram algumas figuras, e a Kátia Novelino, com o seu talento, fez suas adequações para que coubessem todas as nossas ideias dentro do manto. A minha vida se transformou quando fui convidado a integrar a Diretoria do Círio, e depois para ajudar na criação do manto. Estou há oito meses tentando encontrar uma palavra que descreva o que sinto. Em todo o dicionário e todas as línguas não consigo descrever a emoção”, admitiu o arquiteto.
Para a estilista Kátia Novelino não há coincidências. “É a coroação de Nossa Senhora. Coroa é também o significado de corona. Apesar de não ter sido algo pensado, lá em janeiro, quando a pandemia ainda não estava aqui, parece que foi feito para o momento. Não teve relação, mas parece que Nossa Senhora enviou uma mensagem”, disse Kátia, que utilizou materiais que já dispunha em casa, devido ao fechamento do comércio durante vários meses.
Corda
Durante a cerimônia de apresentação do manto, a tradicional corda dos promesseiros foi entregue a cada um dos oito vigários episcopais, que representam as 95 paróquias da Região Metropolitana de Belém.
“Não tínhamos condições de fazer o uso da corda, este grande e bonito ícone do Círio, como costumamos todos os anos. Dividimos, para que cada um receba uma parte e circunde uma imagem da Santa, no domingo. Assim, vamos construir um grande rosário formado por essas contas que se unem em oração”, explicou Dom Alberto Taveira.
Segurança
Mesmo de portas fechadas, a Basílica Santuário atraiu várias pessoas, que ficaram na área externa. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar garantiram a tranquilidade no local com agentes de segurança e viaturas.
O coordenador do Círio 2020, Albano Martins, pediu moderação aos fiéis. “Seria uma ingenuidade acreditar que todos ficariam em casa, e deixariam de cumprir o trajeto. A fé é uma coisa pessoal. São promessas e obrigações que cada um sente em gratidão a Nossa Senhora. Mas acreditamos que conseguimos, junto com a Arquidiocese e os órgãos de segurança, criar uma ambiência positiva e segura. Pedimos ao romeiro que decidir por esse trajeto que o faça de maneira tranquila, sem aglomeração, compreendendo que alguns limites estão colocados. Pedimos que o espírito seja de cuidado, introspecção e atenção com a saúde de cada um”, enfatizou o coordenador.
Fé Sem Distâncias
O Círio 2020, uma realização do Governo do Pará, Arquidiocese de Belém e Prefeitura de Belém.
Com as mudanças impostas pela pandemia, a Diretoria promove o Círio Virtual, com transmissão dos principais eventos da festividade. A programação está sendo retransmitida pela web TV Círio, Fundação Nazaré e Funtelpa, tendo o Banco do Estado do Pará (Banpará) como um dos apoiadores. “Agradecemos a sensibilidade da presidência do Banpará. Num ano difícil, no qual chegamos a antever uma situação delicada nas finanças do Círio, mesmo assim nossos patrocinadores não nos faltaram”, ressaltou o coordenador.
Descritivo do Manto Oficial do Círio 2020
Tradicionalmente o Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa produz o descritivo do manto que adorna a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré durante as procissões oficiais que acontecem durante o período da festividade.
Confira, na integra, o descritivo da peça deste ano:
Rezamos com a Igreja e com a grande devoção do Povo de Deus: “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.
Clamamos com alegria e confiança, dirigindo-nos àquela que é toda bela, a Mãe do Belo Amor (Cf. Eclo 24,24): “Toda sois formosa, ó Maria, e mácula original não há em vós. Vós sois a glória de Jerusalém, vós a alegria de Israel, vós a honra do nosso povo, vós a Advogada dos pecadores. Ó Maria, Virgem prudentíssima, Mãe clementíssima, rogai por nós, intercedei por nós a Nosso Senhor Jesus Cristo. Vós fostes, ó Virgem, Imaculada em vossa Conceição. Rogai por nós ao Pai, cujo Filho destes à luz”.
Deus é todo-poderoso e preparou desde toda a eternidade Mãe que fosse digna de seu Filho, o Verbo Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele a pensou Imaculada, habitação adequada para aquele que é o Salvador do mundo. A ela, Mãe e Modelo da Igreja, aplicam-se também as palavras do Apocalipse: “Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1).
Nós desejamos revesti-la de novo, com um manto da cor do sol, sem nenhuma sombra. Uma coroa de doze estrelas, sustentada pelos Anjos, sinal da Igreja em suas colunas que são os doze apóstolos do Cordeiro, quer aproximar-nos dela. Tem a lua debaixo dos pés, porque já chegou, assunta ao Céu pelos méritos de seu Filho amado.
Nós percorremos o caminho do Manto de Nossa Senhora de Nazaré do Círio 2020, saudando-a com a “Ave Maria”!.
– Passamos pelas promessas do Livro do Gênesis: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15), e dizemos Ave Maria!
– Participamos da antiga profecia: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14) e aprendemos a olhar o presente e o futuro. Por isso, brota do coração a “Ave Maria”.
– Com São José escutamos as palavras de um sonho que afasta todo medo: “José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,20-21). Por isso fazemos coro para repetir “Ave Maria”.
– Com delicadeza, entramos na Casa de Nazaré, para dizer, com o Anjo Gabriel: “Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo” (Lc 1,28). São palavras que só a ela foram dirigidas! E rezamos do nosso jeito: “Ave Maria, cheia de graça”!
– De Nazaré, pressurosos como os pastores, “Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou. Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura (Lc 2,15-16). Diante da cena de tamanha delicadeza, outra palavra não pode brotar, senão “Ave Maria”.
– Ouvimos com Maria um outro anúncio: Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: “Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição – uma espada traspassará a tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc 2,34-35). Aí já descobrimos o que une as duas partes do manto, a Cruz! Nela está a nossa salvação, nossa vida, nossa esperança de ressurreição! Por isso é a Cruz gloriosa que acompanha Nossa Senhora de Nazaré. E proclamamos “Ave Maria” diante da “bendita entre as mulheres” para chegar ao bendito fruto de seu ventre e proclamar o coração da “Ave Maria”, o nome de Jesus!
– Se o manto nos conduziu à Cruz, queremos ir além, para a alegria da Ressurreição, e entrar no Cenáculo do Círio de Nazaré e encontrá-la rezando conosco, para que o Espírito Santo, derramado pelo Pai e por seu Filho Jesus, nos conduza pelos caminhos da Igreja e da vida. E no Cenáculo especial do Círio de 2020, nós clamamos “Ave Maria, cheia de graça… Rogai por nós!
– E a Nossa Senhora de Nazaré, de estrelas coroada, traz em seus braços o Menino Jesus, Menino Rei do Mundo, Senhor do Universo, aquele que é a graça suficiente e salvadora para a humanidade, ao qual entregamos, junto com Maria, todas as dores, as alegrias e as esperanças do tempo em que vivemos, pedindo que a ele entregue tudo o que somos e temos: “Ave Maria, cheia de graça!”
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará.