Grupo de vigilância indígena é criado por mulheres para aumentar proteção em TI no Tocantins

A vigilância indígena feminina Krahô partiu de uma demanda das ‘Cahãj’ (mulheres Krahô), de participarem das ações de proteção territorial.

As mulheres da Terra Indígena (TI) Kraolândia, no estado do Tocantins, mobilizaram-se para criar o grupo de Guerreiras Krahô. O objetivo foi implantar a vigilância indígena feminina no território. A estruturação do grupo foi feita durante o I Encontro de Mulheres para a Defesa Territorial e ‘Andada das Cahãj’, entre 16 a 27 de setembro, com apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

O encontro contou ainda com o intercâmbio de indígenas do povo Guajajara das TIs Caru e Arariboia, do estado do Maranhão, para a troca de experiências. As convidadas Guajajara e as anfitriãs Krahô participaram da primeira ‘Andada das Cahãj‘, expedição de vigilância de mulheres pelo território Krahô. Com a expedição, foi possível identificar desafios, os quais foram posteriormente discutidos com as lideranças indígenas e com a Funai para atuação conjunta em defesa do território para as atuais e futuras gerações Krahô.

A Funai participou da mobilização, do planejamento e da realização das atividades, por meio das Coordenações Técnicas Locais (CTLs) Itacajá e Carolina; do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial (Segat) da Coordenação Regional Araguaia-Tocantins (CR-ATO); e da Coordenação-Geral de Monitoramento Territorial (CGMT) da Diretoria de Proteção Territorial (DPT). Houve também parceria com o Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e Awana Digital.

Guerreiras Krahô

A vigilância indígena feminina Krahô partiu de uma demanda das ‘Cahãj’ (mulheres Krahô), de participarem das ações de proteção territorial assim como os homens, que já se organizavam em grupos de vigilância indígena. Com apoio da Funai, elas se mobilizaram e reuniram 13 indígenas que passaram a compor o grupo Guerreiras Krahô.

Foto: Ruth Ihprep Krahô

Para a coordenadora de Prevenção de Ilícitos substituta, da CGMT, Clara Ferrari, o trabalho demonstra a importância e o potencial das iniciativas indígenas em defesa dos territórios.

A chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da CR-ATO, Clarisse Raposo, avalia que reconhecer a perspectiva feminina em relação ao território é importante para que as ações de vigilância sejam planejadas e executadas considerando dimensões fundamentais para o modo de vida dos povos indígenas. 

Segundo Clarisse, proteger o território é também proteger a aldeia e cuidar das relações que nela se estruturam. “Nesse sentido, o trabalho que começou a se estruturar nesse encontro precisa continuar sendo incentivado, apoiado e fortalecido”, estimula.  

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Foto: Luzia Cruwakwyj Krahô

Com o reconhecimento das comunidades e lideranças Krahô para atuar na proteção territorial, o grupo de mulheres continuará fazendo expedições de vigilância pelo território. O próximo encontro será no Curso de Capacitação em Vigilância Indígena, a ser realizado pela Funai, por meio da CGMT, CR-ATO e parceiros, ainda este ano.

Vigilância indígena

A vigilância indígena reúne uma diversidade de ações, adaptadas a cada contexto, protagonizadas pelos povos indígenas na prevenção de ilícitos nas terras indígenas. Ações como caminhadas pelo território permitem conhecer melhor os limites, ocupar áreas estratégicas e monitorar ocorrências e, assim, colaborar para a tomada de decisão e estratégias de gestão territorial e ambiental por parte dos próprios indígenas, além de subsidiar outras ações de proteção territorial, como a fiscalização.

As iniciativas de vigilância indígena realizadas na TI Kraolândia, promovidas pelos Mentuwajê (Guardiões da Cultura) e Me Hoprê Catejê (Guerreiros), já possuem um histórico, dinâmica própria, motivação e iniciativa que parte do próprio povo Krahô e de suas lideranças comunitárias, agora fortalecidas também com a presença das Guerreiras Krahô.

Ao longo de mais de uma década, os Mehî (indígenas Krahô) vêm se esforçando para estabelecer parcerias que permitam estruturar, criar rotinas mais estáveis e consolidar essas iniciativas próprias de gestão e proteção da Terra Indígena e seus recursos baseadas nas ‘andadas’ (mêpa môr xà) pelo território (pjê).

De acordo com as próprias lideranças, guardiões e guerreiros Mehî, apesar das dificuldades e descontinuidades enfrentadas no apoio às ações de vigilância indígena, a Funai tem sido um pilar essencial no desenvolvimento dessa iniciativa. 

*Com informações da Funai

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