“Oba, teremos insetos pro jantar!”

A frase pode soar estranha, ao imaginarmos crianças comemorando uma torta de grilos num jantar em família. Mas, quem sabe até 2050, quando, segundo estimativas da ONU, teremos 9 bilhões de bocas para alimentar no planeta Terra, esta alternativa alimentar já esteja reincorporada em nossas hábitos cotidianos.

Dito isto, fica mais fácil ouvir um termo tão estranho: entomofagia. A expressão vem do grego e significa, em tradução livre, “comer insetos”, uma prática cultural mais próxima do que parece à primeira vista. O primeiro grande exemplo vem dos países asiáticos, sempre mostrados em todo seu exotismo, com pessoas saboreando na rua espetinhos com grilos, baratas, larvas, escorpiões, etc.
 

Foto: Reprodução
Nós, mesmos amazônidas, temos uma relação antiga com o consumo de insetos na alimentação. Relato dos chamados viajantes (pesquisadores europeus que percorreram a Amazônia entre os sécs. XVI a XVIII) descrevem o consumo de insetos como saúvas, içás, formiga-limão entre tribos na Amazônia. Ainda hoje é possível encontrar a farofa feita com tanajura, muito comum em cidades do interior. Eu mesmo tive a oportunidade de cozinhar ao lado da lendária D. Brazi, uma índia baré de São Gabriel da Cachoeira (AM) em que utilizamos no cardápio de um grande jantar formigas do Alto Rio Negro, trazidas por ela para o evento.

Convivemos no dia-a-dia com insetos mais do que imaginamos. É sempre bom lembrar que, em se tratando de alimentação, nunca é demais termos sempre maiores informações ao levamos à boca. Não se trata de causar alarme, medo ou resistência nas pessoas, mas de informá-las, orientá-las e acima de tudo conscientizá-las.

Isso porque existe, no âmbito das regulamentações governamentais sobre alimentos, uma resolução publicada pela ANVISA em 2014, a RDC nº 14, que estabelece limites toleráveis para matérias estranhas, sejam macroscópicas ou microscópicas, em alimentos e bebidas. O que isso significa? Que a legislação brasileira permite a presença, por exemplo, de pedaços de insetos em alimentos como chás, achocolatados, produtos atomatados, etc. Vale esclarecer que esta resolução estabelece parâmetros aceitáveis, que não afetam a saúde e são estritamente relacionados ao processo produtivo. Difere radicalmente da chamada contaminação biológica, que é justamente a presença de elementos prejudiciais nos alimentos.

Outro dado interessante: produtos como iogurte, balas de goma, gelatinas, entre outros, são coloridos com um aditivo alimentar chamado Corante Carmim. Este elemento é obtido a partir do processamento industrial de um inseto hemíptero, parente dos pulgões e cigarras, chamado Cochonilha (Dactylopius coccus). O mercado de tintas e cosméticos também utiliza este produto para o mesmo fim.

Finalmente, cabe ressaltar um estudo da FAO (Agência da ONU para Alimentação e Agricultura) que em 2015 afirmava: “O uso de insetos como alimento, tanto para humanos quanto para nutrição animal confere muitos benefícios ao meio ambiente, à saúde, à sociedade e como meio de subsistência”. Sabendo que o mercado de insetos comestíveis (quer dizer, destinados exclusivamente para este objetivo) movimentará 1 bilhão de dólares até 2022, talvez fique mais fácil aceitar um brigadeiro de larva ou uma salada de formigas com mais boa vontade do que antes, não?

Para saber mais, conheça a RDC nº 14/2014, disponível no Portal ANVISA: www.anvisa.gov.br.
 

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