Há uma lenda portuguesa que conta a história de uma mulher muito pobre, não tinha recursos para alimentar a si e a seus filhos. A única coisa que lhe restou foi um pão velho, dormido, um pouco de leite e ovos. Ela então, embebeu fatias de pão em leite, passou nos ovos batidos e os fritou. Ao comer, começou a dar leite com tanta abundância, que conseguiu amamentar seus filhos e também outras crianças necessitadas.
Assim, nasce a história das fatias de mulher parida ou fatias paridas, como as rabanadas são conhecidas em Portugal (ou também fatias douradas), tornando-se um símbolo de fartura e prosperidade.
Contudo, receitas semelhantes à que conhecemos atualmente, remetem à obra de Marcus Gavius Apicius, um gastrônomo da Roma Antiga. Apicius, em sua receita, apenas mergulha o pão no leite, sem mencionar o ovo e lhe dá o nome comum de altier dulcia (outro prato doce).
O pão molhado em leite adoçado era conhecido na Europa Medieval. Na França, era conhecido como pain perdu (pão perdido, ou seja, um pão velho, que estaria perdido). Na Inglaterra, como pão eggy, em que a fatia de pão é mergulhada em ovo batido com um pouco de leite e frita na manteiga até ficar crocante.
A receita mais próxima da atual surge no século XV no livro Le viander, escrito Guillaume Tirel, chef de cozinha do rei Carlos VI da França. Tirel era conhecido como Taillevent (ou “Corta-vento’, por causa do grande nariz) e apresentou no livro a receita das tostadas douradas: pão embebido em leite e passado na gema de ovo batida. Depois, frita e polvilhada com açúcar.
O fato é que este prato possui variações infinitas em diversas culturas: na Índia, ele é consumido como comida de rua por vendedores ambulantes e é chamado de pão Bombain ou pães franceses doces. Na Noruega, chama-se pobres cavaleiros (“poor knights”) e é consumido no café da manhã ou em um lanche e é temperado com cardamomo. Na Espanha, ao invés do Natal, as torrijas são consumidas durante a Quaresma e a Semana Santa. Usa-se pão velho embebido em ovo ou mesmo vinho com mel e frito em azeite, sendo polvilhado com canela no final.
Para pessoas que não podem consumir açúcar, a solução pode ser colocar um pouco de adoçante no leite e não polvilhar com açúcar. Para quem não consome frituras, a rabanada pode ser feita no forno. Há ainda uma variante recheada: a fatia de pão é cortada um pouco mais grossa, depois novamente cortada até o meio da fatia e recheada com doce de leite ou geleia, de sua preferência.
O fato é que as rabanadas, simples e saborosas são parte integrante de qualquer ceia natalina e fazem parte da memória afetiva de muitas pessoas.