Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Walace SO* – Colunista do Portal Amazônia
Queridas e queridos das beiras e beiradas dos nossos rios, do açaí com mandi, do dominó de fim de tarde e do tacacá ao anoitecer. Somos notícia no planeta terra, infelizmente a verdade é que não sabemos ou damos o devido valor a Amazônia. Depois de a floresta queimar e sua fumaça cobrir e sujar até as chuvas, agora nossos rios secam. Isolamento, angústia e descaso na maior parte de nossa região. O ribeirinho não tem mais o som da voadeira, não tem mais o canto dos pássaros, o miar da onça ou do barulho dos motores dos barcos ao longe.
Essa realidade é uma triste combinação do descaso do bicho homem, das elites que do país e da própria região que não tomam uma atitude digna da nossa terra e cultura e dos políticos daqui e dos outros estados que se juntam nessa equação devastadora. E proponho que recordemos a nossa história que, desde a colonização, império, república e todas as ditaduras relegaram a Amazônia ao esquecimento e a ser tratada somente como o inferno verde que não podiam explorar. Tendo nas imaginárias riquezas de ouro e minérios, as famosas lendas do El Dorado mais importância que a floresta com sua fauna e flora. Que até já foi contada aqui como podemos ler no link abaixo:
Paititi: ‘A cidade do ouro dos Incas’ no meio da Amazônia Peruana
Nossa importância para esse pequeno planeta azul, que chamamos de Terra, mas na verdade é feito de água, é muito maior que as elites e os políticos imaginam. Não foi por acaso que Iuri Gagarin ao ver a terra do espaço cunhou a famosa frase que ficou no imaginário popular: “A terra é azul”.
O Brasil não conhece a Amazônia, se conhecesse ela seria respeitada. Nosso bioma amazônico ocupa quase 50% do território nacional. Ele é a mistura da floresta com as águas em perfeita harmonia quando preservado. Não existimos sem os rios e a floresta, somos um só. Vejam abaixo o tamanho de nossa terra e sua importância:
Assim, as ditaduras de Vargas e a ditadura militar, em sua expansão ao oeste brasileiro avançaram soberbas. Porém, sem jamais compreenderem a floresta, seus rios e o ribeirinho. E em sua sede de construção por símbolos nacionais ufanistas e megalomaníacos tivemos um misto de corrupção, descaso, degradação do meio-ambiente e genocídio dos povos originários. Porém a floresta lutou e venceu implacavelmente todas as ditaduras. E apesar da censura e de se impedir investigações, temos amplas bibliografias e notícias sobre os temas. Deixo alguns links abaixo para ilustrar:
Transamazônica: 50 anos entre ufanismo e desastre ambiental
Exposição na USP mostra os impactos de construções realizadas na ditadura militar
E o século XXI chegou, e com ele novas ambições, mas agora aproveitando o discurso anterior de uma época trágica, tivemos alianças que ainda estão obscuras. E nessa mesma toada vimos o negacionismo da ciência; desmanche da fiscalização ambiental da região (IBAMA, ICMBio e INPE); incentivo a invasão de Terras Indígenas, Unidades de Conservação e Reservas da Amazônia com a certeza de que a porteira estaria aberta para “passar a boiada”.
O resultado foi o crescimento das queimadas, dos conflitos de terras, do garimpo ilegal, da floresta sangrando com o mercúrio. E a triste imagem é das vísceras da terra expostas pelas dragas, o avanço da soja onde havia a castanheira, o cupuaçu, o babaçu, o açaí e os rios que são nossas estradas. Abaixo temos dois pequenos gráficos para mostrar nossa argumentação, o primeiro por estados e o segundo o acumulado da região no período de 2007 a 2022:
A temperatura aumenta a cada ano, os rios estão secando em todos os verões, os barcos encalhando nos bancos de areia e os botos e peixes morrendo porque a floresta está deixando de existir para alimentar as chuvas. A Amazônia não é o pulmão do mundo como da ditadura acreditava, ela é a maior bacia hidrográfica que regula o clima do planeta levando as chuvas para todos.
Devemos ser duro com aqueles que estão colocando fogo no país. Todos devem ser investigados pela justiça, comprovada sua culpa deve cumprir a pena. Não há perdão para tal crime, chegou a hora do basta à barbárie e agirmos para que nossa Amazônia não se torne uma grande terra arrasada.
Bora refletir e agir!
Sobre o autor
Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).
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