Mais de 3 mil pessoas prestigiaram a peça que homenageia a trajetória da rainha do rock brasileiro na Sala Roraimeira. Foto: Giovani Oliveira/PMBV
O Mormaço Cultural 2025 se despediu neste domingo (14), do espetáculo “Rita Lee: Uma Autobiografia Musical”, que lotou o Teatro Municipal durante três noites consecutivas. Mais de 3 mil pessoas prestigiaram a peça que homenageia a trajetória da rainha do rock brasileiro na Sala Roraimeira.
Nos três dias, os ingressos esgotaram em poucos minutos após a abertura da bilheteria. Um sucesso que confirma a força do espetáculo que tem atraído multidões por onde passa e foi promovido de forma gratuita pela prefeitura.
Para o presidente da Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura de Boa Vista (FETEC), Dyego Monnzaho, o Teatro Municipal já se consolidou como um importante equipamento cultural e agora é parte essencial da programação do Mormaço.
“Lotar o teatro todas as noites e os ingressos esgotarem em 10, 15 minutos, representa e diz muito que a cidade quer consumir esse tipo de cultura. Estamos muito felizes com o resultado. A programação continua lindamente com artistas da cidade nos presenteando com espetáculos maravilhosos”, declarou o presidente da Fetec.
Espetáculo trouxe à memória os clássicos de Rita Lee, interpretados por Mel Lisboa . Foto: Giovani Oliveira/PMBV
Festival reúne gerações em momentos de arte e cultura
Público de todas as idades prestigiaram o Espetáculo. Um grupo de primas da mesma família conferiu de perto a programação. Fernanda Rios veio ao Mormaço pela primeira vez. Ela destacou a importância de um evento desse porte na capital. “Estou encantada. Agora, não falto mais nenhuma edição”, contou.
Família reunida prestigia o festival de arte e cultura. Foto: Giovani Oliveira/PMBV
Outra integrante da família, Lene Rios, participou de todas as edições do festival e convidou as primas para curtirem esse momento.
“Estou muito feliz de estar mais uma vez aqui. A prefeitura está de parabéns por abrir esses espaços de forma gratuita, democratizando a cultura para todos. Muitas pessoas não têm a oportunidade de assistir uma apresentação de nível nacional, mas no Mormaço todos têm acesso gratuitamente”, disse.
Diversidade musical marca apresentações na área externa do Teatro Municipal
A programação também trouxe apresentações de artistas locais na área externa do Teatro Municipal. O público pôde acompanhar o set do DJ Felipe Fizon, marcado por uma performance intimista, cheia de identidade e interpretações singulares. Na sequência, Eliakin Rufino — integrante do Trio Roraimeira, autor do Hino de Boa Vista e referência cultural no estado, encantou a plateia com uma apresentação que uniu música e poesia em uma verdadeira interpretação cantada.
DJ Felipe Fizon, Eliakin Rufino e a Banda Kruviana animaram o público na área externa do Teatro Municipal. Foto: Divulgação/PMBV
O domingo foi marcado pela estreia da Banda Kruviana no festival, celebrando 12 anos de trajetória. O grupo levou ao palco mensagens de luta e resistência, reafirmando a força da cultura indígena local. O vocalista Dam Kuy A’ki ressaltou a relevância do momento:
“Para nós é uma satisfação enorme levar o nosso som a um evento como o Mormaço Cultural. É o resultado de muito ensaio e dedicação. Estamos extremamente felizes com o show!”, destacou. “Vem mais por aí!”.
Uma pesquisa realizada nos municípios de Manacapuru, Rio Preto da Eva e Itacoatiara, avaliou e quantificou as perdas pós–colheita que produtores de banana, mamão e abacaxi enfrentam, nesses respectivos municípios.
O estudo também monitorou o uso e o descarte de agrotóxicos, identificando práticas que precisam ser ajustadas para reduzir riscos ambientais e de saúde.
Intitulada ‘Ação estratégica de avaliação e quantificação de perdas pós-colheita e de uso de agrotóxicos em fruteiras, como base para o consumo e produção responsável no Amazonas’, a pesquisa procurou contribuir para o alcance das metas da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) relacionadas ao consumo e à produção sustentável.
Foto: Angela Maria da Silva Mendes/Acervo pessoal
De acordo com a coordenadora do projeto, o estudo proporcionou um diagnóstico inédito sobre os desafios da fruticultura amazonense. Entre os achados mais importantes, está a constatação de que o manuseio inadequado das frutas, aliado à incidência de doenças fitopatológicas, é uma das principais causas de perdas pós-colheita.
“O estudo buscou identificar os fatores de perda pós-colheita, como o manuseio inadequado, o que pode causar danos mecânicos nas frutas, e a incidência de doenças (fitopatológicas). Os problemas fitossanitários são a principal causa de grandes perdas pós-colheita”, pontuou Angela.
As etapas de colheita, casa de embalagem, transporte, comercialização e até mesmo consumo foram analisadas, revelando que em cada uma delas há pontos críticos que resultam em desperdício de alimentos e aumento de custos para o produtor.
Consumo e produção responsável
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cerca de 30% da produção agrícola mundial é perdida ou desperdiçada após a colheita, o que corresponde a 1,3 bilhão de toneladas de alimentos descartados todos os anos.
Foto: Angela Maria da Silva Mendes/Acervo pessoal
A pesquisa está alinhada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 12, que tem como objetivo garantir padrões de consumo e produção responsáveis, promovendo a redução do desperdício de alimentos e o manejo adequado de produtos químicos.
“A ideia do projeto surgiu por se tratar de uma abordagem multidisciplinar que envolveu pesquisadores das áreas da fitotecnia e fitopatologia e da necessidade de entender e abordar os desafios da cadeia produtiva de frutas no estado do Amazonas. A pesquisa buscou investigar as limitações que levam a perdas significativas e fornecer informações que ajudem o estado a se alinhar com os ODS da ONU”, explicou a professora.
Metodologia
A pesquisa foi conduzida a partir de entrevistas com técnicos e produtores rurais, além de observações diretas nas propriedades. Foram feitas análises a respeito das condições ambientais durante a colheita, transporte e armazenamento, bem como registros de danos físicos e doenças. O estudo também investigou o uso e descarte de agrotóxicos nos municípios pesquisados.
Foto: Arquivo/Angela Maria da Silva Mendes
“Buscamos identificar os produtos utilizados, o destino final das embalagens, os locais de armazenamento e preparo das caldas. O monitoramento desses fatores é essencial para reduzir impactos ambientais e propor medidas mais seguras”, ressaltou a coordenadora.
Todas as informações levantadas pela pesquisa foram registradas em diários de campo e acompanhadas de fotografias. A partir desse diagnóstico, a equipe da pesquisa organizou reuniões de validação em cada município, reunindo produtores e técnicos de órgãos oficiais para apresentar os resultados, ouvir sugestões e construir coletivamente estratégias de prevenção e redução de perdas.
Impactos da pesquisa
De acordo com a pesquisadora, a iniciativa tem beneficiado produtores e consumidores. Para os agricultores, as informações levantadas apoiaram a tomada de decisões, reduziram desperdícios e otimizaram custos de produção.
Já para os consumidores, a expectativa alcançada foi de maior disponibilidade de frutas no mercado e preços mais acessíveis, aliados a práticas agrícolas mais sustentáveis. Os resultados da pesquisa foram compartilhados diretamente com os produtores, por meio de reuniões de validação em cada município.
Apoio da Fapeam
Para a coordenadora, o apoio da Fundação é decisivo nas atividades de pesquisa voltadas ao setor agropecuário no estado.
“As atividades de pesquisas no setor agropecuário do estado do Amazonas só são possíveis de se realizar com o fomento de agências financiadoras. A Fapeam é a segunda Fundação de Apoio à Pesquisa no Brasil, que mais deu apoio e incentivo por meio de editais voltados para essa área. Sem o apoio de campo e insumos para os laboratórios multidisciplinares, não seria possível realizar esta pesquisa”, pontuou a pesquisadora.
A iniciativa foi apoiada pelo Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), no âmbito do Programa Amazônidas – Mulheres e Meninas na Ciência, via edital n° 002/2021, coordenado pela pesquisadora, professora e doutora em Agronomia Tropical, Angela Maria da Silva Mendes, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Programa Amazônidas – Mulheres e Meninas na Ciência
O Programa é uma iniciativa do Governo do Amazonas, desenvolvida pela Fapeam, e integra o Movimento Mulheres e Meninas na Ciência. Seu objetivo é ampliar a representatividade feminina no campo da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) local, por meio da concessão de auxílio-pesquisa para despesas de capital, custeio e bolsas. A proposta é incentivar projetos de pesquisa, tecnologia e inovação como ação afirmativa, fortalecendo a liderança feminina nessas áreas.
Por Julio Sampaio de Andrade – juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
Jack Welch fez uma carreira de 21 anos na General Eletric (GE) antes de assumir o cargo de CEO. O grupo enfrentava uma grave crise financeira, apesar de seu enorme tamanho em diferentes setores, em centenas de países. Sua gestão marcou uma verdadeira revolução no grupo, fazendo com que a GE crescesse exponencialmente e se tornasse uma das empresas mais valiosas do mundo. Mais do que isso, seu estilo de liderança impactou a própria teoria de gestão, fazendo Jack tornar-se um ícone como líder, um guru para muitos executivos em vários continentes. Ele esteve à frente da GE por 20 anos, totalizando 41 anos de carreira na mesma empresa. Ao encerrar o ciclo, tornou-se um autor de sucesso, escrevendo sobre liderança e gestão, além de consultor de várias empresas entre as 500 maiores da Fortune.
Diz a lenda que, já na condição de um dos mais respeitados executivos do mundo, Jack teve interrompida uma reunião com um banqueiro alemão, um senhor mais velho, muito conceituado na área. O tal banqueiro disse que precisava interromper o encontro pois tinha um compromisso com o seu mentor. Jack surpreendeu-se. Alguém tão sênior e já tão realizado tinha um mentor? Quis saber quem era ele. A explicação era que o tal mentor era um jovem de 28 anos, o que surpreendeu ainda mais Jack. Era um mentor de tecnologia. Welch saiu impressionado e, diz a lenda, que quando desembarcou nos EUA, determinou que os seus principais diretores contratassem mentores jovens de tecnologia. Era o início dos anos 90 e, nesta área, a distância entre as gerações era muito maior do que hoje. Tal iniciativa ajudou a competitividade da GE, uma empresa tradicional, em um setor que se tornou o terreno das startups.
Jack Welch era curioso por natureza e conhecido por tirar aprendizados do cotidiano aplicando-os em diversas situações. Qual teria sido a principal lição que ele teve no episódio com o tal banqueiro alemão, aplicável a vida e aos negócios? Que lição você tiraria da situação?
Para mim, o aprendizado seria o que hoje serve como uma das premissas em nosso trabalho no MCI: “todos têm o que ensinar, assim como todos têm o que aprender, desde que desejem isso”. Aprender com mais jovens é algo que faço todos os dias.
Cada pessoa carrega algo a compartilhar, como no caso de um jovem de 28 anos mentorando um bem-sucedido empresário, talvez, próximo dos 70. Uma pessoa que viveu mais, naturalmente, teve a chance de acumular mais conhecimentos e experiências. Como ela aproveitou estas oportunidades dependerá de muitos fatores e ainda mais se ela, além do conhecimento, foi capaz de desenvolver sabedoria, que é algo diferente, mas este é um outro assunto. Aqui importa destacar que todos têm o que compartilhar e isto é uma das coisas que mais gratificação proporciona ao ser humano. Todos nós podemos ser mentores de algo a alguém e nos realizarmos com isso.
Mas como exercer uma mentoria efetiva, capaz de fazer com que o conhecimento e experiência de alguém possam ser úteis a outra pessoa ou mesmo a uma organização?
É aí que entra a formação técnica e as competências que diferenciam um mentor profissional de uma pessoa qualquer. Não é apenas o conhecimento, mas também a maneira de compartilhar com o outro, aproveitando a experiência do outro, a capacidade do outro, o potencial do outro. Tudo isto requer do bom mentor ainda algo além, que ele seja continuamente uma melhor pessoa e que esteja genuinamente interessado no desenvolvimento do outro, sendo capaz de criar com ele uma verdadeira parceria inspiradora, baseada na confiança mútua. O chamado mentoring avançado, que, além do conhecimento do mentor, faz uso de importantes competências do coaching profissional, se propõe a isso. No MCI apelidamos este tipo de mentoring de mento-coaching.
Mas, retornando à questão, qual teria sido a principal lição de Welch no episódio com o tal banqueiro alemão, aplicável à vida e aos negócios? E que lição você tiraria da situação?
Sobre o autor
Julio Sampaio (PCC,ICF) é idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute, diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching e autor do livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Texto publicado no Portal Amazônia e no https://mcinstitute.com.br/blog/.
A guia do Parque Estadual Monte Alegre (Pema), Luana Wanessa Assunção, mostra as pinturas rupestres aos visitantes da reserva. Foto: Peter Speetjens
Localizado na margem norte do Rio Amazonas, próximo a Santarém, o município paraense de Monte Alegre abriga uma das joias antropológicas mais bem preservadas em território brasileiro.
Elas estão guardadas no Parque Estadual Monte Alegre (Pema), fundado como área de conservação ambiental em 2001. Nesse local de “relevante beleza cênica e peculiar ecossistema”, conforme descrevem portais oficiais do estado, é possível explorar um vasto complexo florestal com cânions, vales e cavernas.
É também no coração do parque onde estão situadas cerca de 600 pinturas rupestres — algumas com mais de 11 mil anos de idade.
Com mais de 3,6 mil hectares, o Pema foi escolhido em 2022 pela World Monuments Watch, cujo monitoramento incentiva a preservação histórica, como um dos 25 patrimônios de maior importância em todo o mundo.
Por seu valor cultural e a exuberância de suas paisagens, a reserva teria tudo para se tornar uma atração de destaque em qualquer lugar do planeta. No entanto, o parque enfrenta dificuldades para atrair visitantes.
“Esse é um dos nossos maiores desafios. Recebemos cerca de 4 mil visitantes por ano. Não é muita gente”, disse o gerente do Pema, Jorge Braga.
Em entrevista à Mongabay, o gestor disse que o problema soma dois fatores: a baixa popularidade e o difícil acesso. Segundo as estimativas do gerente, apenas uma em cada dez pessoas da região reconhece a importância do parque. A proporção, ele diz, é “ainda menor” quando brasileiros de outras partes do país e estrangeiros são levados em conta.
Há, porém, um outro dilema. Embora o Pema esteja amparado por leis nacionais de proteção ambiental, seus arredores têm sido cada vez mais afetados pelo avanço do desmatamento.
Por muito tempo, o estado do Pará se destacou negativamente por suas altas taxas de perda florestal. Esse cenário mudaria em anos recentes, diante de reduções significativas nos números de desmatamento.
Agora, novos alertas ambientais indicam que o problema pode estar voltando de forma silenciosa — até mesmo na porção norte do estado, em áreas que sempre estiveram “blindadas” de maiores danos pela proteção natural do Rio Amazonas, que funciona como barreira.
Estrutura rochosa conhecida como Pedra do Pilão, uma das mais emblemáticas do Parque Estadual Monte Alegre. Foto: Peter Speetjens
Para qualquer visitante atento, as mudanças visuais são perceptíveis. Ao longo da rota fluvial de 50 quilômetros que liga Santarém a Monte Alegre, já é possível observar a multiplicação de pastos para a pecuária, além de outras áreas desmatadas em meio à paisagem de florestas.
De acordo com um ativista local, que preferiu não se identificar, uma única família originária do Mato Grosso — estado que lidera o agronegócio no Brasil — seria a responsável por comprar boa parte dessas terras. Esses mesmos proprietários, segundo ele, já possuem cerca de 3 mil hectares, usados de forma frequente para o plantio de soja.
Braga, do Pema, disse à reportagem que a soja chegou de vez à região de Monte Alegre há cerca de dois anos. Para o gerente, além de “trazer desmatamento”, o setor também responde por uma atividade que representa diversos riscos sanitários a comunidades locais, uma vez que utiliza grandes quantidades de agrotóxicos para o cultivo do grão.
“Nós iniciamos um movimento para conscientizar as pessoas [sobre os riscos trazidos pela soja]. No entanto, isso é muito perigoso. Os produtores tentaram entrar na região pela primeira vez em 2001. Eu fui uma das pessoas a fazer oposição a eles. Como consequência, recebi ameaças de morte e vivi sob proteção policial por dois anos”, disse.
Segundo um levantamento da Global Forest Watch (GFW), entre 2001 e 2024, o Pará registrou a maior taxa de desmatamento estadual do país, perdendo 18,6 milhões de hectares no período; o estado é seguido pelo Mato Grosso (14,2 milhões) e pelo Maranhão (6,6 milhões). Grande parte da derrubada se deve à criação de terras para a pecuária e o cultivo de milho, cana-de-açúcar e soja.
De acordo com dados da GFW, o município de Monte Alegre, onde fica o Pema, perdeu pouco mais de 66 mil hectares de floresta primária úmida entre 2002 e 2024. Acompanhando a tendência de aumento recente do desmatamento no resto do estado, os números ali também vêm crescendo — o município perdeu 11 mil hectares de floresta nativa apenas no último ano.
Nos mapas da GFW, em áreas próximas ao Rio Amazonas, Monte Alegre aparece com frequência cada vez maior entre marcações em rosa — a cor que indica os locais desmatados. Faixas verdes só são mais dominantes ao norte, graças à proteção garantida por um mosaico de áreas protegidas que soma 22,3 milhões de hectares, entre os quais os 4,2 milhões de hectares da Estação Ecológica Grão-Pará, maior unidade de conservação de proteção integral de florestas tropicais no mundo.
Muito além da degradação da natureza, os riscos impostos às pinturas rupestres em Monte Alegre não são eventos isolados.
Em maio, um relatório do MapBiomas revelou um aumento da intervenção humana em áreas próximas a sítios arqueológicos no Brasil entre 1985 e 2023. No último ano analisado pela pesquisa, mais da metade desses locais históricos já se encontrava em pontos alterados pelo ser humano, considerando todos os biomas brasileiros.
A agricultura, segundo o estudo, representa a maior parte (43,1%) do uso da terra ao redor de sítios arqueológicos, o que aumenta os desafios para a conservação.
Quando Alfred Wallace visitou Monte Alegre
Apesar de não atrair grandes multidões nos dias de hoje, Monte Alegre já havia despertado a curiosidade do naturalista britânico Alfred Russel Wallace há mais de um século. O pesquisador esteve na região em 1849, como parte de uma expedição de quatro anos pela Amazônia. Um dos principais objetivos de Wallace era ver as “escritas indígenas” com seus próprios olhos.
Reconhecido como o “outro pai” da Teoria da Evolução ao lado de Charles Darwin, Wallace viajou pela região amazônica de barco e a cavalo. Ao caminhar ao redor da Pedra do Pilão, uma rocha em formato de canoa vista no topo de outra grande formação natural (onde hoje está o Pema), avistou inúmeras pinturas em vermelho, com traços que se uniam para formar animais, figuras humanoides e padrões geométricos.
O círculo vermelho preenchido de amarelo e a figura suspensa com cabeça radiante, conforme a descrição de Wallace, estão entre os achados de maior destaque entre as centenas de pinturas ancestrais que podem ser vistas no Pema.
Hoje, no entanto, tudo é mais simples de se observar: à diferença do cientista britânico, os visitantes atuais podem contemplar os desenhos subindo uma escada esculpida na rocha.
Luana Wanessa Assunção, uma das guias do parque, disse à Mongabay que os círculos coloridos “podem representar um eclipse, enquanto os raios podem ser o sol ou um relâmpago”.
“Para mim, olhar esses desenhos antigos é como colocar os olhos em arte contemporânea. Há um jogo de interpretação: onde uma pessoa vê um peixe, outra pode ver um pássaro”.
Há, também, particularidades na geografia local. Em parte, isso se deve ao relevo acidentado do Pema, produto de atividades tectônicas ocorridas há milhões de anos. Como resultado da combinação de afloramentos rochosos e vales arenosos, alguns trechos de vegetação do parque se assemelham aos do Cerrado — e em muitos pontos da paisagem, se parecem um pouco menos com uma floresta tropical.
Em meio à jornada, no sopé da chamada Serra da Lua — onde estão os famosos desenhos rupestres com um sol e, como o nome indica, uma lua —, é onde os turistas encontram o centro de visitantes do Pema, que ainda passa por melhorias em sua infraestrutura. Atrás do centro, avista-se uma grande colina, coberta de árvores.
Assunção diz que esse lugar também guarda seus mistérios. “A colina está fechada ao público, já que é muito difícil de se escalar. É uma pena, pois é o único lugar onde se pode ver a pintura de uma pessoa em movimento. Todas as outras representações do parque mostram figuras estáticas”, disse.
O centro de visitantes do Parque Estadual Monte Alegre, ainda em construção, em meio às árvores. Foto: Peter Speetjens
A história escrita — e reescrita
Segundo seus próprios registros, Wallace não ficou tão impressionado quando visitou a maior caverna de Monte Alegre. Situada no interior do Pema, a imensa cavidade de pedra ainda tem um “chão arenoso e liso”, como ele mesmo descreveu no antigo século, além de “aberturas que levam a outras câmaras” na parte interna. Essas, no entanto, ele não pôde explorar — já que havia esquecido suas velas.
Caso o cientista tivesse algumas à disposição na mochila, provavelmente espantaria os morcegos que moram ali, como a reportagem pôde comprovar no momento em que as lanternas dos celulares foram acesas.
“Não havia nada de notável”, escreveu Wallace. “A vegetação ao redor não era, de forma alguma, exuberante ou bonita. Na verdade, muitas de nossas cavernas na região calcária [em território britânico] são, em todos os aspectos, mais pitorescas e interessantes”.
“Quando finalmente avistei a caverna, após uma longa caminhada pela floresta, fui tomado por uma sensação de admiração, intensificada pelo barítono acolhedor — ou ameaçador — de um macaco, que, por uma fração de segundo, pareceu silenciar toda a floresta”, contou o explorador.
Se Wallace soubesse o que se sabe hoje, teria uma opinião diferente?
O local em questão leva o nome de Caverna da Pedra Pintada. Lá, a história foi escrita e, milhares de anos depois, reescrita. Primeiro, pelos povos antigos que a utilizaram como abrigo, deixando suas marcas pintadas nas paredes. Depois, no século 20, por cientistas que seguiram os passos de Wallace e escavaram o lugar.
Entrada da Caverna da Pedra Pintada. Foto: Peter Speetjens
“Aqui, é onde a arqueóloga Anna Roosevelt, dos Estados Unidos, fez suas escavações”, disse a guia Luana, apontando para o lado direito da caverna. “Nesse outro lado, quem trabalhou foi a arqueóloga brasileira Edithe Pereira.”
No início da década de 1990, Roosevelt se tornou a primeira pessoa a escavar parte do complexo da Pedra Pintada e a utilizar técnicas de datação por radiocarbono para identificar suas descobertas. Os resultados foram mais do que surpreendentes.
A arqueóloga descobriu que os restos das ferramentas de pedra, carvão e alimentos misturados aos materiais usados para a pintura datavam de cerca de 11,2 mil anos. Mais tarde, as pesquisas de Edithe Pereira confirmariam a datação de sua colega estrangeira de profissão — e mais do que isso, ainda fariam o relógio “voltar” algumas centenas de anos.
Até então, a teoria dominante na ciência dizia que a bacia do Rio Amazonas havia sido povoada nos últimos 2 mil anos. Ademais, acreditava-se que os primeiros humanos só haviam chegado ao continente americano no final da última Era Glacial.
Segundo essa corrente, os seres humanos só teriam cruzado o Estreito de Bering para o Alasca há cerca de 11 mil anos — e, só a partir daí, avançado lentamente pelas grandes planícies norte-americanas em direção, mais abaixo no mapa, à Cordilheira dos Andes, à Amazônia e além.
Como isso poderia ser verdade, no entanto, se naquela época já havia pessoas caçando, coletando e pintando paredes em cavernas em Monte Alegre, no coração da América do Sul?
Esses primeiros habitantes, além disso, não pintaram apenas imagens rudimentares, como animais e pessoas: eles também criaram figuras geométricas de caixas e cruzes, com formações que se assemelham a um jogo da velha gigante. Conhecido como Painel do Pilão, esse conjunto de desenhos é tido como o primeiro calendário solar do continente americano.
A guia Luana Assunção explica as pinturas para os visitantes do Parque Estadual Monte Alegre. Foto: Peter Speetjens
Essa nova compreensão da ocupação humana nas Américas estabelece as bases para novos esforços de proteção da Amazônia e de outros biomas, levando em conta não apenas seu valor natural, mas, também, sua contribuição cultural.
De olho nesse objetivo, cientistas liderados pelo arqueólogo brasileiro Eduardo Neves buscam registrar sítios arqueológicos como monumentos nacionais, o que daria a várias partes do bioma amazônico uma “camada extra” de proteção legal.
Ao reconhecer oficialmente esses sítios arqueológicos, como os geoglifos, especialistas pretendem manter a floresta intacta e permitir que as comunidades locais continuem vivendo ali. Neves compara as áreas de florestas da Amazônia às pirâmides egípcias e mexicanas, destacando seu significado cultural e a importância de protegê-las.
Embora o Pema pudesse ser uma atração de destaque em vários lugares do mundo, a maioria das pessoas da própria região não sabe o que o parque tem a oferecer. Ao mesmo tempo, poucos estrangeiros que viajam de barco entre as capitais Belém e Manaus pensam em fazer uma parada em Monte Alegre.
“O Pema tem tudo para ser tão bem-sucedido quanto o Parque Nacional da Serra da Capivara”, disse Edithe Pereira, em seu escritório no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém. “Mas, essa não é a realidade. Há problemas de organização, promoção e educação.”
Declarado Patrimônio Mundial da Unesco em 1991, o Parque Nacional da Serra da Capivara, no estado do Piauí, abriga milhares de pinturas rupestres pré-históricas. Ali, arqueólogos também encontraram ferramentas de pedra que datam de 22 mil anos — evidências que desafiam ainda mais as teorias antropológicas conhecidas. O parque atrai mais de 20 mil visitantes por ano.
“Quando o Pema foi criado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pediu a um grupo de pesquisadores, do qual eu fazia parte, que fosse elaborado um plano para ajudar a ‘difundir’ o parque em Monte Alegre”, disse Pereira. “E nós o fizemos — mas nada foi feito a partir desse plano.”
“Desde o início, o objetivo era desenvolver atividades sociais e educativas com os moradores, de olho em tornar o Pema parte da comunidade, criar um senso de ‘propriedade’ e, assim, aumentar a proteção [ao que existe no lugar]. Há muito tempo, porém, falta vontade política para qualquer coisa acontecer”, desabafou a arqueóloga.
A arqueóloga Edithe Pereira em seu escritório no Museu Emílio Goeldi, em Belém. Foto: Peter Speetjens
O Pema é administrado pelo Instituto Estadual de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio). Criada em 2007, a entidade tem como principal tarefa promover “o desenvolvimento sustentável dos diferentes segmentos florestais do estado do Pará”, bem como “gerenciar sua biodiversidade”.
“Depois de concluir meu doutorado, eu queria alcançar um público mais amplo”, disse Edithe Pereira. “Desenvolvi um livro ilustrado sobre arte rupestre, trabalhei com livros infantis, histórias em quadrinhos, CDs, escrevi artigos para revistas, produzi material didático para exposições e escolas. O resultado final era sempre o mesmo: ou não eram usados, ou eram usados da maneira errada.”.
Em dado momento, alguns professores de arte da região de Monte Alegre se interessaram por um pequeno livro sobre a história local. Assim, Pereira e alguns colegas, com apoio financeiro do governo do Pará, iniciaram um projeto de arqueologia para as escolas. A obra foi distribuída gratuitamente em unidades de ensino de toda a região.
Mais artes rupestres, mais desafios
Em toda a região, as pinturas ancestrais do Pema são as mais famosas — e talvez as mais antigas —, mas não são as únicas artes rupestres encontradas no estado do Pará. Durante a entrevista, Edithe Pereira mostrou um mapa pontilhado que indicava os locais onde existem outras pinturas e inscrições em território paraense.
“Já no século 16, padres jesuítas observaram a presença de inscrições ao longo dos rios do Pará. A maior parte do estado, no entanto, ainda não foi mapeada”, disse.
Trabalhando na região há mais de 30 anos, a arqueóloga veterana identificou cerca de outras 60 pinturas rupestres no estado. Aproximadamente uma dúzia delas se encontra em uma rica paisagem de rochas e vegetação, cerca de 30 quilômetros ao norte do Pema.
Por coincidência, o terreno em questão estava à venda — e um amigo da especialista decidiu comprar os seus três hectares, por 40 mil reais, para protegê-lo. Futuras pesquisas ainda precisam ser desenvolvidas para trazer mais detalhes sobre os desenhos que se escondem ali.
Cientistas, agora, correm contra o tempo. Novos estudos devem ser feitos o quanto antes, dizem os especialistas, à medida que a região se vê ameaçada pela crescente ameaça dos incêndios, usados para “limpar” a vegetação para o manejo do gado e o cultivo da soja.
A chegada da soja à margem norte do Rio Amazonas está atrelada à inauguração de um terminal de grãos da gigante do setor Cargill, em Santarém, no ano de 2003, e mais ao sul, ao longo do Rio Tapajós, em Itaituba, em meados de 2017.
Enquanto o trecho noroeste do Pará se transformava em um centro logístico, a região de Santarém crescia, tornando-se um dos dez maiores polos produtores de soja do estado.
Barcos próximos ao terminal da empresa Cargill, em Santarém. Foto: Peter Speetjens
Os problemas foram aparecendo ao longo do anos. Ao passo que as comunidades locais em Santarém e Itaituba diziam que a multinacional dos EUA não cumpria as regras ambientais e os regulamentos de licenciamento, a vida dos moradores era afetada cada vez mais pelos químicos utilizados.
Atualmente, a Cargill está construindo um terminal de 700 milhões de reais em áreas biodiversas próximas a Belém. O empreendimento enfrenta a crítica de moradores locais, enquanto o Ministério Público investiga supostas irregularidades em transações entre a empresa e um parceiro local na aquisição de terrenos.
Em dezembro de 2024, representantes do Mato Grosso da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja/MT) solicitaram às autoridades federais a revogação da Moratória da Soja — acordo comercial que busca proibir a compra de soja cultivada em áreas desmatadas da Amazônia.
O setor do grão diz que a medida cria um “cartel” de restrições que, por sua vez, violaria a lei brasileira, gerando perdas anuais na casa dos 20 bilhões de reais. A crise segue.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Peter Speetjens (com edição de Xavier Bartaburu e tradução de Thaissa Lamha)
Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
O Instituto Trata Brasil (ITB), em parceria com a GO Associados, publica a 17ª edição do Ranking do Saneamento com o foco nos 100 municípios mais populosos do Brasil. Para produzir o ranqueamento foram levados em consideração os indicadores mais recentes do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA), ano-base 2023, publicado pelo Ministério das Cidades, além de uma ponderação de pesos na evolução dos indicadores estabelecida em metodologia criada em parceria com a consultoria GO Associados. Desde 2009, o ITB monitora os indicadores dos maiores municípios brasileiros com base na população, com o objetivo de revelar um problema histórico vivido no país. A falta de acesso à água potável impacta 16,9% dos brasileiros e 44,8% não possuem coleta de esgoto, refletindo em problemas na saúde, produtividade no trabalho, valorização imobiliária, turismo e na qualidade de vida da população, fatores adversos ao processo de desenvolvimento brasileiro.
Compõe-se o ranking da análise em três “dimensões” distintas do saneamento básico de cada município: “Nível de Atendimento”, “Melhoria do Atendimento” e “Nível de Eficiência”. Nesta edição, Campinas (SP) foi a primeira colocada, seguida por Limeira (SP) e Niterói (RJ). O ITB esclarece um ponto importante a ser observado: a verificação de aparente queda nos resultados gerais de saneamento reportados pelo SINISA de 2025, a partir dos dados do ano de 2023, quando comparados aos dados do SNIS de 2024 (ano-base 2022). No entanto, essa percepção pode ser explicada pela atualização metodológica em razão da publicação do Censo de 2022. Nos últimos anos, em razão do atraso na coleta e divulgação dos dados do Censo, estimava-se um número maior de pessoas por residência. Com a divulgação dos dados, contudo, descobriu-se que a população residente não aumentou como se projetava anteriormente.
Saneamento: Campinas e Limeira (SP), Niterói (RJ), S.J do Rio Preto, Franca (SP), Aparecida de Goiânia e Goiânia (GO); Santos (SP); Uberaba (MG); Foz do Iguaçu (PR); Uberlândia (MG); Jundiaí (SP); Ponta Grossa e Maringá (PR); São Paulo (SP); Montes Claros (MG); Taubaté (SP); Curitiba e Londrina (PR); Praia Grande (SP).
Na outra ponta, os 20 piores no Ranking são: Bauru (SP); Olinda, Recife (PE); Juazeiro do Norte (CE); Maceió (AL); Manaus (AM); S. João do Mereti (RJ); Jaboiatão dos Guararpes (PE); Duque de Caxias (RJ); São Luís (MA); Várzea Grande (MT); Ananindeua (PA); São Gonçalo (RJ); Belém (PA); Belford Roxo (RJ); Rio Branco (AC); Macapá (AP); Porto Velho (RO); Santana (AP).
À exceção de Boa Vista (RR), todas as capitais da Amazônia encontram-se entre os piores municípios no Ranking do Saneamento 2025 do Instituto Trata Brasil. O dado é contundente. Aponta, sobretudo, o fracasso dos planos de desenvolvimento e a consequente negligência com que é tratada a região pelo poder público, particularmente desde a redemocratização de 1985. De fato, a região demanda respostas, soluções pragmáticas, não recorrentes maus agouros de pitonisas prognosticando a desertificação de seu ecossistema. Todavia, tendo a inimiga número 1 da Amazônia, Marina da Silva, ministra do MMA à frente, Brasília insiste em festejar planos de desmatamento zero não considerando as necessidades de melhoria das condições de vida de cerca de 30 milhões de cidadãos que vivem, trabalham e defendem o Setentrião Brasileiro.
Políticas ineficazes e contraditórias em relação ao equacionamento dos problemas sociais e econômicos que historicamente se abatem sobre a região. Desvios cristalizados, particularmente sobre regularização fundiária, implantação e operacionalização do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), manejo florestal e tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e institutos locais de pesquisa destinadas à exploração sustentável do bioma, sem as quais não se preserva nem desenvolve a região.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
Foto: Reprodução/Prefeitura de São José do Barreiro
Os hotéis fazenda em Rondônia oferecem experiências diversificadas, que vão desde o turismo de aventura e atividades ao ar livre até o descanso em ambientes tranquilos e acolhedores.
Entre trilhas, rios, fauna amazônica e paisagens deslumbrantes, os hotéis fazenda do estado oferecem estadias para famílias, casais e viajantes que desejam turismo rural, contato com a natureza e ecoturismo com tranquilidade e aventura, sem abrir mão do conforto.
O Portal Amazônia encontrou seis hotéis fazenda em Rondônia para você conhecer:
Salsalito Jungle Park
O hotel fazenda Salsalito Jungle Park fica localizado na BR-364, em Candeias do Jamari, a aproximadamente 50 km de Porto Velho. O hotel possui área verde preservada, trilhas ecológicas, passeios a cavalo e contato com a fauna e a flora nativas.
Instalado em uma área de floresta amazônica, o Salsalito Jungle Park é voltado ao turismo de natureza e ao lazer sustentável, já que oferece trilhas autoguiadas e monitoradas, passeios a cavalo, tirolesa, caiaque, stand-up paddle, banana boat banho em uma lagoa verde e visita a uma cachoeira. Além disso, o hotel também oferece espaços para piqueniques e descanso.
A estrutura do hotel é composta por chalés e áreas de camping, para quem deseja passar o dia ou pernoitar em meio à natureza.
Localizado próximo ao Parque Chico Mendes, o Graúna Resort Hotel oferece aos hóspedes ambientes tranquilos, proximidade com áreas de preservação, conforto para descanso.
Com uma estrutura mais reservada e focada no bem-estar, o Graúna Resort é uma opção para quem quer descansar em um ambiente cercado por verde, com infraestrutura básica e acolhedora.
Além disso, a localização próxima ao Parque Chico Mendes oferece oportunidades para caminhadas e observação da natureza
Foto: Reprodução/Graúna Resort Hotel
Fazenda Três Capelas
A fazenda Três Capelas, localizada no Km 673 da BR 364, em Candeias do Jamari, oferece aos hóspedes vivências rurais, interação com animais, gastronomia regional e cultivo de alimentos orgânicos.
A Fazenda aposta na imersão na rotina rural, já que os hóspedes podem participar de atividades como ordenha e alimentação de animais e cultivo na horta. A proposta do hotel é de um turismo que valoriza a tradição do campo e a culinária caseira.
O Pau D’Alho Hotel Fazenda fica localizado na Linha Santiago em Presidente Médici, e possui estrutura rural, perfil reservado, ambiente ideal para descanso longe da cidade.
O hotel é voltado para um público que busca tranquilidade e isolamento, e por estar localizado em uma área rural mais afastada, oferece um contato mais direto com o ambiente natural e estilo de vida do campo.
Além disso, o hotel possui grande importância histórica já que foi visitado por Dom Pedro I dias antes da independência.
Foto: Reprodução/Prefeitura de São José do Barreiro
Fazenda Minuano
Localizado na Br 364, no Km 17, entre Ji-Paraná e Presidente Médici, a Fazenda Minuano dispõe de piscinas com toboágua, lago natural, cascata, redário e restaurante climatizado.
Para quem deseja passar o dia, o Day Use custa R$ 45 (sem almoço) ou R$ 100 (com almoço) mas também há pacotes de hospedagem com pensão completa, com tarifas a partir de R$ 660 (casal), R$ 850 (triplo) e R$ 1.070 (quádruplo) – valores referentes a pesquisa realizada em setembro de 2025.
Localizado no ramal Olho D’Água, na zona rural de Guajará-Mirim, na fronteira com a Bolívia e em frente ao encontro dos Rios Mamoré e Pacaás Novos. O Pakaas Lodge é cercado pela floresta e possui 28 cabanas localizadas a 4 metros de altura do solo, interligadas por passarelas elevadas que proporcionam uma maior interação com a natureza.
O Pakaas Lodge oferece restaurante panorâmico para até 300 pessoas, piscina suspensa projetada sobre o encontro das águas dos rios Mamoré e Pacaás Novos, ecobar, recepção, salas de TV e de jogos e passeios de barco.
O hotel é indicado para quem busca tranquilidade e contato com a natureza. Além disso, o hotel serviu como plano de fundo em vários capítulos da novela Paraíso Tropical da Rede Globo.
O Rio Madeira está com nível abaixo do esperado para setembro, segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB). Ainda assim, os especialistas afirmam que a seca deste ano tende a ser menos intensa do que a registrada em 2024, quando o rio chegou ao menor nível já observado: apenas 19 centímetros.
No dia 9 de setembro de 2025, o nível do Madeira era de 2,74 metros. Um ano antes, na mesma data, o rio estava com apenas 91 centímetros. Os dados são do Sipam Hidro, sistema de monitoramento do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam).
Segundo o SGB, apesar dos níveis do Rio Madeira estarem baixos, eles permanecem dentro da normalidade para esta época do ano. As previsões apontam para uma continuidade da descida em setembro, com recuperação a partir de outubro, sem sinais de uma seca severa.
De acordo com o pesquisador em geociências do SGB, Marcos Suassuna, em 2024 o Rio Madeira ficou 141 dias abaixo de 4 metros. Para este ano, a projeção é de apenas 70 dias nessa faixa, o que representa uma melhora significativa. A expectativa é que o nível do rio se mantenha acima de 2 metros durante todo o ano.
Ainda de acordo com Suassuna, a possibilidade de uma seca mais severa estará relacionada a um eventual atraso no início das chuvas de outubro.
“Caso isso [o atraso das chuvas] aconteça, a estiagem pode ser mais severa do que o previsto. Ainda assim, as chances de se repetir uma situação extrema como a de 2024 são muito baixas”, explica Marcos.
A seca extrema do Rio Madeira em 2024 é resultado de uma combinação de fatores climáticos e geográficos. São eles:
O Oceano Atlântico Norte estava mais aquecido que o normal, e mais quente que o Atlântico Sul, e seu aquecimento contínuo era motivo de preocupação para os especialistas.
O Fenômeno El Niño causou atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.
A estação chuvosa muito pobre resultou em cheias abaixo do normal e, consequentemente, em níveis mais baixos do rio. Porto Velho, por exemplo, ficou quase três meses sem chuva significativa.
Cerca de 70% da vazão do Rio Madeira depende de rios localizados na Bolívia e no Peru. Sem chuvas nessas cabeceiras andinas, o Rio Madeira em Rondônia não sente os efeitos das chuvas locais, mesmo que ocorram temporais no estado.
Para 2025, o cenário climático é mais favorável. O SGB consultou previsões de dez instituições nacionais e internacionais, e nenhuma aponta anomalias negativas de chuva para o próximo trimestre. Também não há indicativos de atraso na estação chuvosa. A previsão é de condições neutras para os fenômenos El Niño e La Niña, o que contribui para uma vazante mais branda.
O monitoramento do Rio Madeira continua sendo feito de forma rigorosa. O SGB realiza medições contínuas em todas as estações, emite boletins semanais e extraordinários, e mantém diálogo com órgãos como DNIT, Marinha, Defesa Civil e instituições de saneamento e navegação.
Mesmo com a previsão mais favorável para este ano, o SGB recomenda que a população ribeirinha e outras pessoas que dependem ou usam o rio continuem acompanhando os boletins oficiais e se preparem para possíveis variações nos níveis do rio.
Seca histórica do Rio Madeira
A seca extrema que atingiu o Rio Madeira em 2024 trouxe consigo uma série de efeitos, marcando o período como um dos piores já registrados. Este cenário de estiagem extrema fez com que Porto Velho e outros municípios do estado fossem declarados em situação de emergência.
Foto: Reprodução/Rede Amazônica RO
Um dos impactos mais diretos e severos foi na navegação e na economia local. Pela primeira vez na história, o Porto de Cargas de Porto Velho, crucial para o escoamento de produtos como soja e biocombustíveis, foi paralisado em 23 de setembro devido à inviabilidade para grandes embarcações.
A Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) chegou a declarar “situação crítica” de escassez hídrica e admitiu a possibilidade de paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio, que opera no formato “fio d’água” e depende do fluxo constante do rio.
As comunidades ribeirinhas foram as mais afetadas pela seca histórica. Em Terra Firme, por exemplo, comunidade às margens do Madeira, moradores precisavam caminhar por quase 30 minutos sobre bancos de areia para chegar ao rio e dependiam de bombas de drenagem, cujas mangueiras já não alcançavam a água devido à grande distância.
Além disso, a seca teve efeitos ecológicos e na geração de energia. Espécies de peixes da Amazônia, como o pirarucu e o surubim, foram encontradas mortas em lagos e córregos que secaram na comunidade Maravilha.
Fortaleza de São José de Macapá, durante o Território Federal do Amapá. Foto: Reprodução/IBGE Cidades
O Amapá foi Território Federal entre 13 de setembro de 1943 e 5 de outubro de 1988 e celebrou 82 anos de criação no dia 13 de setembro. O Grupo Rede Amazônica,em comemoração, separou fatos históricos, imagens e curiosidades pouco conhecidas do período.
Durante os 45 anos, o ex-Território passou por transformações políticas e sociais marcantes, como a criação estratégica durante a 2ª guerra e a exploração mineral do manganês.
Apesar dos fatos conhecidos, a história conta com curiosidades pouco comentadas, que vão desde a mudança da capital até o momento em que o regime militar passou a reprimir lideranças religiosas.
Mercado foi inaugurado por Janary Nunes, nos 10 anos do Território Federal do Amapá. Foto: Edgar Rodrigues/Acervo pessoal
Criação do ex-Território Federal do Amapá
Instituído em 1943, durante a 2ª Guerra Mundial, o território foi concebido por decreto de Getúlio Vargas como parte de uma política geopolítica para proteger a Amazônia e as riquezas minerais. O capitão Janary Gentil Nunes foi nomeado o primeiro governador.
O Amapá passou por transformações desde a descoberta de jazidas de manganês em Serra do Navio, em 1945, atraiu investimentos estrangeiros e consolidou a presença da empresa americana Icomi, que influenciou o estilo de vida local com infraestrutura urbana planejada e traços culturais importados.
Paralelamente, o território enfrentou disputas diplomáticas e desafios sociais, como a falta de autonomia legislativa e a nomeação de governadores pela presidência da República.
Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva é reaberto em Macapá – pedra de manganês extraída no Amapá; ao fundo, Janary Nunes, primeiro governador do Território Federal do Amapá — Foto: Rafael Aleixo/Rede Amazônica AP
A transformação em estado, com a promulgação da Constituição de 1988, encerrou o ciclo territorial e inaugurou uma nova era de protagonismo político e desenvolvimento social para o Amapá.
Mudança da capital
Inicialmente, o município de Amapá foi escolhido como capital do território, conforme o decreto-lei nº 5.839, de 21 de setembro de 1943 , apenas oito dias após a criação oficial. Na época, o ex-Território Federal do Amapá foi formado por três municípios: Macapá, Mazagão e Amapá.
Apesar da escolha oficial, a capital nunca chegou a funcionar na cidade de Amapá. Quando Janary Nunes assumiu o governo do território, em 25 de janeiro de 1944, solicitou ao governo federal a mudança para Macapá.
O historiador amapaense Bruno Machado, explicou sobre os episódios pouco conhecidos da história local. Segundo Bruno, a troca foi motivada por questões logísticas e estratégicas. A mudança foi oficializada pelo decreto-lei nº 6.550, de 31 de maio de 1944.
“Macapá tinha melhor acesso fluvial, porto mais estruturado, proximidade com Belém e terra firme para urbanização. Além disso, a Fortaleza de São José poderia ser aproveitada como ponto turístico”, explica.
Bruno também destaca que Macapá era, historicamente, mais relevante e tinha maior potencial de desenvolvimento econômico.
Fortaleza de São José de Macapá, que abrigou a guarda territorial do Amapá. Foto: Divulgação/IBGE
A igreja católica
Outro ponto pouco abordado na história do território é a atuação da Igreja Católica durante os anos da ditadura militar. Bruno Machado lembra que, enquanto o Brasil vivia o regime autoritário, o Amapá ainda era território federal.
“O imaginário coletivo associa o território apenas à sua criação e ao governo de Janary, mas ele existiu durante toda a ditadura, de 1964 a 1985”, disse.
Durante esse período, padres católicos – especialmente os italianos – foram vigiados pelos órgãos de repressão. Eles foram acusados pelo Serviço Nacional de Informações (SNI) de promover reuniões com estudantes e de ter tendências progressistas.
“Alguns padres foram considerados pela ditadura, aqui no Amapá, como subversivos, como progressistas. […] Porque eles mobilizavam, faziam reunião com os estudantes, com professores, davam aquela formação a partir da fé, que envolvia também análise de conjuntura política, social, econômica”, complementou.
Entre os religiosos monitorados estavam o padre Jorge Basile e o padre Gaetano (ou Caetano) Maiello. Ambos italianos e atuantes na Prelazia de Macapá, pois em 1971 ainda não era Diocese.
“Não é que eles eram contrários ou a favor que a ditadura caísse, mas algumas ações, alguns discursos deles, ainda que de forma sutil, não eram vistos de forma positiva. Porque uma ditadura, e aqui no território federal do Amapá não foi diferente, tinha medo de qualquer associação civil”, completou.
Padres Jorge Basile e o padre Gaetano (ou Caetano) Maiello. Foto: Reprodução/Porta-Retrato
A repressão também atingiu instituições ligadas à Igreja, como a Rádio Educadora São José e o jornal Voz Católica.
“Um ou outro ali fazia alguma crítica às questões da sociedade, à vida aqui no território federal do Amapá, sobretudo de Macapá, e que era vigiado pelos militares e não era bem visto.”
Bruno cita um documento confidencial de 1971 que mostra como os padres eram espionados. Para Bruno, essas ações mostram que havia uma resistência possível, mesmo em tempos de repressão.
“O padre Jorge Basile foi acusado pelo SNI de ser agitador estudantil […] Eles faziam toda uma investigação sobre determinadas pessoas […] Simplesmente reunir pessoas e ali fazer uma espécie de associação da fé à conscientização dos seus direitos. Então esses padres foram duramente vigiados, espionados pela ditadura”, finalizou.
Documento confidencial da época. Foto: Divulgação/Bruno Machado
Mosquito do gênero Sabethes, um dos vetores da febre amarela no Brasil. Foto: Rodrigo Conte
No dia 2 de junho, Jundiaí (SP) confirmou a primeira morte por febre amarela no município. A fatalidade ocorreu sete anos após a cidade passar sem nenhum registro da doença. Segundo a prefeitura, o paciente, de 41 anos, não tinha histórico de vacinação contra a doença.
O ocorrido se deu em meio a alertas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) sobre o risco elevado de febre amarela para a saúde pública na região das Américas. Nos primeiros cinco meses de 2025, o número de casos aumentou cerca de quatro vezes em comparação ao ano passado.
Nesse cenário, o Brasil está à frente: tanto no número de ocorrências, quanto no número de mortes causadas pela doença. Dados publicados em 10 de junho no Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde, apontam para 115 casos confirmados, incluindo 45 óbitos, sendo que apenas um dos casos apresentou antecedente de vacinação contra febre amarela.
Entre as principais preocupações do órgão internacional está a baixa cobertura vacinal. Segundo o Ministério da Saúde, em 2023, cerca de 70% da população estava vacinada contra a febre amarela. A recomendação para controle da doença é que a cobertura vacinal atinja pelo menos 95% das pessoas em áreas de risco.
Em relação à meta alcançada por município, dados da plataforma VacinaBR, lançada pelo Instituto Questão de Ciência (IQC) e pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), apontam que, em 2023, apenas 25% dos municípios brasileiros atingiram a meta de cobertura contra a enfermidade. Apesar da marca ainda ser baixa, ela representa um aumento de quase 10% em relação à 2022.
Outro fator de preocupação apontado pela OPAS é o fato de os novos surtos estarem ocorrendo em regiões mais urbanizadas. Em 2024, a maior parte dos registros de febre amarela ocorreram ao longo da região amazônica. Em contrapartida, neste ano os casos estão concentrados, principalmente, no estado de São Paulo e no departamento de Tolima, na Colômbia, também fora da área amazônica.
“O problema da chegada do vírus a regiões superpopulosas é que sua transmissão se acelera. Ele se depara com um cenário ideal: os mosquitos, que servem como vetores, áreas de mata, macacos e pessoas não vacinadas”, diz o médico virologista Maurício Nogueira Lacerda, docente da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP).
Nogueira participou de um estudo publicado em abril deste ano na revista científica Emerging Infectious Diseases. Entre maio de 2021 e junho de 2022, os pesquisadores coletaram 687 amostras de mosquitos do gênero Haemagogus na Reserva Florestal Adolpho Ducke, localizada na divisa de Manaus (AM).
A partir desse levantamento, foi estimado que cerca de cinco mosquitos a cada mil estavam infectados. Todos os mosquitos com presença do vírus da febre amarela foram encontrados próximos a Manaus, a apenas 500 metros do limite da mata, o que reforça a ideia de que as zonas de transição entre floresta e cidade concentram o maior risco de transmissão.
“A detecção do YFV em florestas tropicais próximas a áreas rurais e periurbanas é preocupante do ponto de vista da saúde pública devido à convivência de humanos, vida silvestre e mosquitos dessas regiões, o que cria um potencial para o transbordamento do vírus. O risco de reurbanização da febre amarela continua sendo uma preocupação importante, dado o amplo espalhamento do mosquito Aedes aegypti em toda a América do Sul”, afirmam os pesquisadores.
Segundo o grupo, a alta cobertura vacinal tem sido fundamental para proteger a população de Manaus e das regiões vizinhas contra novos casos da doença. No entanto, o grupo vê com preocupação a queda nas taxas de vacinação, que leva a um aumento do risco de novos surtos na região.
A combinação entre o aumento de casos, a baixa cobertura vacinal e as ocorrências em áreas urbanas reacendeu temores quanto à possibilidade de que a febre amarela voltar a ser transmitida por mosquitos da espécie Aedes aegypti, os mesmos vetores da dengue. Caso isso ocorra, as chances são que os casos escalem de maneira muito mais rápida, uma vez que o vetor atual é um mosquito que pica em horários e áreas mais limitadas, o que permite um maior controle da doença.
“A maior preocupação é a possibilidade de que o vírus se adapte para o Aedes aegypti, que era o vetor histórico da febre amarela, mas que não transmite a doença no Brasil desde 1942”, destaca Nogueira, que também foi Presidente da Sociedade Brasileira de Virologia entre 2017 e 2019. O pesquisador afirma que, caso isso ocorra, o país poderá enfrentar epidemias de febre amarela ainda mais graves do que as registradas em 2016 e 2017, consideradas os maiores surtos da doença desde 1980.
Segundo o virologista, uma das características que facilita administrar os surtos de febre amarela é o fato de, no Brasil, ela ser transmitida apenas por mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que costumam estar mais presentes nas copas das árvores. Essa característica facilita a contaminação de macacos, mais do que a de humanos, e possibilita às autoridades prever e mapear a ocorrência da doença por meio dos macacos mortos ou doentes.
“O Brasil tem um programa de vigilância de febre amarela excepcional”, diz Nogueira. “Normalmente, os macacos doentes precedem os casos humanos porque a explosão da circulação dentro da mata é muito maior e, em geral, eles estão mais próximos da área dos mosquitos,” explica.
Outra característica que auxilia o trabalho de prevenção é a elevada suscetibilidade ao vírus dos macacos das regiões das Américas, que se reflete em mortes mais velozes e contribui para chamar a atenção dos técnicos.
Com base nisso, o Governo Federal conta com um programa de controle de primatas não-humanos que são encontrados mortos ou doentes. Uma das principais ferramentas é o Sistema de Informação em Saúde Silvestre da Fiocruz. Nele, qualquer indivíduo que encontre um macaco morto ou doente consegue registrar a ocorrência, que gera um alerta em tempo real para equipes de vigilância e saúde. Uma vez localizado o primata, são realizadas coletas de material que passarão por uma análise para determinar a doença ou causa de morte.
Esse mecanismo, além de permitir que governos e sociedade civil reforcem medidas de segurança contra a febre amarela, também viabiliza um mapeamento das ocorrências da doença em território nacional, com o objetivo de identificar áreas de risco e zonas mais vulneráveis. “O problema não é detectar, nós fazemos isso muito bem. Também não é saber aonde ele vai, nós temos isso mapeado. O problema é vacinar a população”, reforça Nogueira.
Em especial, o desafio é vacinar a população que está mais vulnerável ao contágio, que costumam ser pessoas que moram em regiões rurais, próximas a áreas de mata, e adultos de 16 a 35 anos. “Somos muito bons de vacinar crianças, mas não sabemos vacinar adultos. Fica a pergunta: como chegar nessas pessoas?”, questiona Nogueira.
A pergunta permanece sem resposta. O virologista destaca que a vacinação segue sendo o principal meio de controle e prevenção de surtos. Neste quesito, o Brasil se encontra em uma posição privilegiada: além de se tratar de um imunizante barato (em 2020 ele custava apenas R$4,15), somos o maior produtor mundial da vacina.
A aplicação também é simples: uma única dose é suficiente para conferir imunidade por toda a vida, não sendo necessária dose de reforço. A vacina, que está disponível gratuitamente em postos de saúde do SUS, não é recomendada apenas para gestantes, pessoas com alergia à proteína do ovo, ou pessoas que sofrem de imunodeficiências graves.
Macacos não são uma ameaça
É importante reforçar que, embora os macacos sejam afetados pela doença, não são capazes de transmiti-la, e não representam risco epidemiológico para humanos. No entanto, por não possuírem defesas naturais contra o vírus, muitas espécies têm suas populações drasticamente reduzidas durante os surtos. Foi o que aconteceu com os bugios que habitavam a região da Serra da Cantareira, em São Paulo. Entre 2017 e 2018, o Brasil enfrentou seu maior surto da doença, o que resultou na morte de aproximadamente 80% da população de bugios da área.
A alta vulnerabilidade dos macacos é, também, o que confere à febre amarela seu caráter cíclico: os maiores surtos costumam ocorrer a cada sete ou oito anos. Esse é o tempo necessário para que a população de primatas volte a crescer e repopular as zonas de mata, até alcançar um número de indivíduos suficiente para que o vírus volte a circular entre eles e, eventualmente, “escape” para os humanos por meio do mosquito.
Essa janela de tempo tem ficado cada vez mais curta uma vez que a doença saiu da região amazônica e alcançou áreas mais populosas, como o estado de São Paulo. “O que acontece agora é que estamos observando pequenas epidemias todos os anos, porque o vírus está caminhando dentro desse ambiente cheio de primatas, cheio de mosquitos Haemagogus e cheio de pessoas não vacinadas. A situação é crítica”, diz Nogueira. Essa, entretanto, não é a primeira vez que o vírus da febre amarela se concentra no estado de São Paulo. No passado, ele era transmitido principalmente por uma outra espécie de mosquito, o Aedes aegypti, célebre por estar associado à transmissão da dengue.
Febre amarela: uma doença viajante
A história da disseminação da febre amarela está intimamente relacionada ao passado de colonização, interiorização e urbanização do Brasil. O vírus é de origem africana e, há mais de 500 anos, era transmitido através da picada de mosquitos Aedes aegypti infectados. A enfermidade alcançou terreno americano por meio dos navios que transportavam escravizados para trabalhar no Novo Mundo.
“Durante o processo de colonização, os navios traziam os mosquitos Aedes e, também, pessoas infectadas que pudessem transmitir a doença. Durante todo o período colonial, o vírus veio para as Américas inúmeras vezes”, relata Nogueira.
O virologista conta que um marco significativo nessa história ocorreu quando o vírus se adaptou aos mosquitos da região. Desta forma, sua transmissão passou a acontecer tanto por meio do Aedes, de origem africana, quanto pelo Haemagogus e o Sabethes, que são locais. Não se sabe exatamente em qual período da história colonial essa adaptação aconteceu, mas, a partir de então, a febre amarela passou a ser independente do transporte da África e teve início um novo ciclo da doença.
Dessa adaptação decorreram grandes surtos da doença no Brasil, principalmente nas regiões Nordeste e Sudeste. Aos poucos, o vírus foi sendo transportado ao interior do país, especialmente a partir do final do século 19, com o ciclo do café. Os imigrantes europeus, que vieram para trabalhar na lavoura cafeeira, eram muito suscetíveis justamente por nunca terem exposição ao vírus. A interiorização e o desmatamento no Brasil naquela época empurraram a febre amarela para a região amazônica. Lá, o ciclo da doença passou a envolver, também, os primatas das Américas. Nesse ponto a doença já estava bem estabelecida, com seus três atores principais: mosquitos, macacos e humanos.
Desde então, o Brasil, assim como demais países da região das Américas, enfrenta surtos periódicos, que inicialmente ocorriam em intervalos de sete ou oito anos, e tem se tornado mais frequentes nos últimos anos.
“A situação ficou complicada a partir dos anos 2000, quando a doença voltou a se movimentar e começou a descer, deixando a região amazônica”, diz Nogueira.
Essa movimentação levou aos primeiros surtos de febre amarela registrados em Minas Gerais, em 2001, em Brasília, em 2008, e na capital paulista, em 2017, com os casos concentrados na região da Serra da Cantareira.
Encontro perigoso
Para Nogueira, o principal motivo para preocupação é a possibilidade de que o Aedes aegypti volte a ser um vetor da febre amarela, algo que não corre desde 1942, quando o processo de transmissão passou a envolver apenas os mosquitos Haemagogus e Sabethes. A mudança de mosquitos vetores foi crucial para o controle dos surtos da doença e a diminuição dos números de casos. Ao contrário dos Haemagogus, que preferem as copas das árvores, o Aedes aegypti é um mosquito prefere alturas menores e, justamente por isso, pica mais humanos do que primatas.
“Será que o vírus perdeu a capacidade de se multiplicar no Aedes aegypti? Não parece”, questiona Nogueira. Ele cita como exemplos dois casos. Em 2007, o Paraguai enfrentou uma epidemia de febre amarela urbana – nomenclatura que identifica a transmissão do vírus pelo mosquito de origem africana. Em 2016, Angola enfrentou uma de suas maiores epidemias de febre amarela urbana, com 884 casos confirmados e 381 óbitos. “Tudo é uma questão de adaptação: quanto mais contato o vírus tiver com o vetor, maiores as chances desse fenômeno acontecer”, diz Nogueira.
Segundo dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses, desde janeiro de 2025 até o momento, o país já registrou cerca de 1,5 milhão de casos de dengue. Destes, pouco mais de 820 mil, ou 55%, ocorreram no estado de São Paulo. Em relação à febre amarela, o estado já contabiliza 58 casos, mais da metade dos registros do país, o que acende um alerta para um encontro perigoso entre o Aedes aegypti e o vírus da febre amarela.
Caso o medo de Nogueira se concretize, o virologista vislumbra um cenário com epidemias piores do que as de 2016 e 2017, quando o país registrou o recorde de 777 casos e 281 óbitos. Para evitar esse cenário, o pesquisador reforça que o principal caminho é a vacinação que, a longo prazo, garante a erradicação da enfermidade.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da Unesp, escrito por Malena Stariolo
Gaby Amarantos, Dona Onete e Joelma se apresentam no The Town neste domingo (14). Foto: Divulgação
O festival The Town 2025 – realizado nos dias 6, 7, 12, 13 e 14 de setembro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo – conta com a participação de artistas do Pará nesta edição. As representantes da Amazônia este ano ganharam uma participação de destaque, integrando o line-up oficial em diferentes dias e palcos.
As presenças incluem cantores consagrados de várias gerações, grupos emergentes e novos talentos. Entre os nomes conhecidos estão Joelma, Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara.
Joelma, Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara foram anunciadas como atrações do The Town para se apresentarem neste domingo, dia 14 de setembro, no Palco The One.
As artistas se reúnem em uma noite que promete celebrar diferentes gerações musicais do Pará, com estilos variados que vão do brega ao carimbó, passando por música popular paraense contemporânea.
Palco The One do The Town em São Paulo. Foto: Divulgação
Raidol abriu a programação paraense, com uma apresentação ainda no primeiro dia (6 de setembro) no Palco Factory, como convidada da banda The Mönic, representando o pop amazônico e a cena contemporânea do Pará.
Já a cantora Nirah, conhecida por sua participação no programa ‘Estrelas da Casa’ da TV Globo, participa no The Town 2025 como convidada da emissora, presente no estande da Globo. Essa participação não se dá exatamente como show no palco principal, mas como presença artística em espaço de ativações, o que também configura visibilidade no contexto do festival.
A presença de artistas paraenses no line-up do The Town 2025 evidencia a inclusão da cultura musical do Pará em festival de dimensão nacional. A confirmação de nomes consagrados como Joelma, Gaby Amarantos e Dona Onete, somada à participação de artistas mais novos ou em espaços alternativos como Raidol e Nirah, mostra uma amplitude de estilos e fases na carreira desses artistas.
Joelma é conhecida por representar o brega e gêneros populares do Pará e tem carreira que ultrapassa três décadas, o que coloca sua apresentação como uma estreia no The Town ao lado de colegas de longa trajetória.
Dona Onete é referência no carimbó e em tradições culturais amazônicas, enquanto Gaby Amarantos ganhou projeção nacional trazendo elementos do tecnobrega, pop e ritmos regionais.
Zaynara também faz parte do cenário atual, contribuindo com sua sonoridade e repertório para representar a nova geração da música paraense.
Lambateria Baile Show figura como grupo com estilo voltado para baile e gêneros populares, integrando o contexto mais festivo e de carnaval de subculturas urbanas.
Já Raidol representa um caminho mais recente do pop amazônico contemporâneo, aparecendo como convidada em dia de festival.
A jovem Nirah também entra com participação em espaço de ativações, o que permite visibilidade diferente, entre cenários musicais e de entretenimento.