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MPF pede atuação urgente contra queimadas em terra indígena no sudoeste do Pará

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Imagem ilustrativa de queimada no Pará. Foto: Marcelo Seabra/Agência Pará

O Ministério Público Federal (MPF) enviou pedidos a órgãos públicos, na última sexta-feira (23), para que sejam tomadas medidas urgentes de combate a queimadas na Terra Indígena (TI) Munduruku e no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Terra Nossa, no sudoeste do Pará. As medidas foram propostas após reunião realizada em 22 de agosto para discutir o tema. 

O MPF solicitou que os órgãos destinem aeronaves para que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) atue na TI e para que a Polícia Federal (PF) realize os trabalhos tanto na TI quanto no PDS. Também foi solicitado o reforço nas ações de contenção de queimadas no PDS, de forma articulada entre vários órgãos públicos. 

O acesso a essas áreas apresenta uma série de dificuldades logísticas, desafios que se tornam ainda mais complexos quando somados ao fato de os focos de incêndio estarem se expandindo, destaca a procuradora da República Thaís Medeiros da Costa nos ofícios enviados a autoridades.

A segurança das comunidades e das equipes de combate aos incêndios também é uma preocupação do MPF. Denúncias enviadas ao órgão apontam que a origem dos incêndios pode ser criminosa e que pessoas responsáveis pelas queimadas estariam retaliando lideranças socioambientais locais, por meio de ameaças e tentativas de lesão corporal e de homicídio.

Órgãos demandados

A fim de viabilizar o encaminhamento, à Terra Indígena Munduruku, de equipe de brigadistas já organizada pelo Ibama, o pedido de aeronaves foi feito à Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), Polícia Militar (PM), Exército e Força Aérea Brasileira. Já o pedido de aeronave que fique permanentemente à disposição da PF em Santarém foi encaminhado ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública.

Além da emergência do combate às queimadas, a necessidade de uso de aeronave pela PF de forma permanente na microrregião de Itaituba é justificada pela extensão da área, que abrange seis municípios (Itaituba, Aveiro, Rurópolis, Jacareacanga, Novo Progresso e Trairão) e o distrito de Castelo dos Sonhos, do município de Altamira.

O pedido de uma atuação mais robusta para o combate aos incêndios no PDS Terra Nossa foi feito à Diretoria de Fiscalização Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas). O MPF indicou a necessidade de que esse trabalho seja realizado de forma conjunta e coordenada com a PF, PRF, Ibama e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Questões fundiárias do PDS 

O MPF pediu ao Incra que apresente informações relativas aos processos supervenientes à supervisão ocupacional realizada no PDS Terra Nossa, em 2023. Também foi solicitado à autarquia a confirmação do encaminhamento, à Polícia Federal, do relatório da supervisão, para auxiliar nas investigações em andamento.

Por fim, o MPF solicitou que o Incra encaminhe ao órgão informações sobre ocupante do PDS suspeito de crimes ambientais, ameaça, e tentativa de lesão corporal e de homicídio. O MPF quer saber se o suspeito tem perfil de beneficiário do programa de reforma agrária e se a área ocupada por ele é passível de regularização fundiária.

*Com informações do MPF 

Parceria para o futuro Parque Científico e Tecnológico do Alto Solimões é discutida em Manaus

A região do Alto Solimões deve receber o primeiro Parque Científico e Tecnológico (PCT) do Amazonas e o segundo do Norte do país. Em diálogo de aproximação institucional com o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Henrique Pereira, o coordenador-geral de Gestão do Território da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), Vitarque Coêlho, informou que ao menos dez empresas já demonstram interesse em se instalar no centro que será focado na bioeconomia da Amazônia.

O Parque Científico e Tecnológico do Alto Solimões – PaCTAS será instalado em Tabatinga e Benjamin Constant, na tríplice fronteira do Brasil, Peru e Colômbia, região com previsão de boas oportunidades comerciais. Tabatinga (a 1.105 Km de Manaus) será um hub logístico Chancay-Manaus, uma rota de interligação logística, de distribuição de mercadorias, pelo oceano Pacífico. O Porto de Chancay, em construção no litoral peruano, permitirá ao Polo Industrial de Manaus receber produtos direto da China e outros países asiáticos. 

Um PCT é um espaço físico para os empreendimentos inovadores se instalarem e se conectarem a laboratórios de prestação de serviços, promovendo a articulação entre o setor produtivo e as instituições de C&T para produzir novos processos, produtos e serviços para o mercado e fazer inovação. A preocupação de um parque é com a emissão da nota fiscal com a prestação de serviço propriamente dito, e o sucesso do projeto envolve a sua capacidade de construir uma rede de colaboração para que possa efetivamente transformar a realidade local e regional.

Foto: Cimone Barros/Ascom Inpa

De acordo com Coêlho, o PaCTAS está na fase de estruturação do modelo de governança, processo conduzido pela Fundação Guamá, que gerencia o PCT Guamá, em Belém (PA). A Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o Instituto Federal de Educação do Amazonas (Ifam) e a Universidade do Estado Amazonas (UEA) são parceiros. Além de instituições do Amazonas, MIDR e Fundação Guamá estão dialogando na cooperação internacional com organizações do Peru e Colômbia, a fim de permitir acessar recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). 

“Nosso papel será buscar essa aproximação de empresas do Polo industrial de Manaus com instituições como o Inpa, com a inteligência, sua capacidade de desenvolver projetos de tecnologia e colocá-las em inovação, em produtos e serviços. Outra perspectiva é o de interiorização do desenvolvimento com a chegada e instalação de empresas de pesquisa e inovação no Alto Solimões”, contou Coêlho, que também se reuniu com representantes da Federação da Indústria do Estado do Amazonas (Fieam) e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti).  

No Brasil existem 59 Parques Científicos e Tecnológicos. O PCT Guamá em Belém é o único do Norte e conta com cerca de 40 empresas instaladas de portes diversos. Dessas, mais de 30 são startups e seis são multinacionais.

Também participaram da reunião por parte do Inpa, a coordenadora-geral de Planejamento, Administração e Gestão, Magalli Henriques, a coordenadora de Gestão da Inovação e Empreendedorismo, Deuzanira dos Santos, e o chefe da Divisão de Cooperação e Intercâmbio, Laurindo Campos.

*Com informações do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

Acre registra pior mês de agosto na série histórica de queimadas, aponta Inpe

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Seca de rios e igarapés, baixa umidade do ar e muitos focos de incêndios. Esta é a realidade do Acre no período em que a estiagem se intensificou ainda mais. É neste cenário que o estado chegou ao seu pior mês de agosto em relação aos registros de queimadas, com 3.482 focos até este domingo (25), segundo monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Antes mesmo do fechamento do mês, o índice já supera todas as marcas do mês nos anos anteriores, na série histórica que se inicia em 1998. Até então, o pior índice havia sido detectado em agosto de 2010, com 2.444 focos, segundo o Inpe.

Na comparação com o mesmo período em 2023, os dados são ainda mais preocupantes: em agosto do ano passado, foram 352 focos, o que equivale a um aumento de 889% entre um ano e outro.

Cenário do ano

Ainda no oitavo mês, o ano de 2024 também já supera 2022 (1.599) e 2023 (1.666) no total de queimadas. Entre 1º de janeiro e 25 de agosto deste ano, ainda segundo o monitoramento do Inpe, o Acre já teve 5.280 focos.

Este total também representa 96% do total de registros de 2021, que fechou em 5.469. O pior ano da série histórica é 2010, com 7.291 focos.

A análise histórica dos dados também mostram que o alcance e a destruição provocadas por estes focos também preocupam. De acordo com um levantamento do projeto Acre Queimadas, que envolve diversos órgãos ambientais e pesquisadores, 2022 foi o segundo ano com maior área queimada mapeada desde 2005, quando foi registrado o ano mais crítico no estado.

Foto: Arquivo pessoal

Saúde

A reportagem conversou com o médico alergista Guilherme Pulicci, que falou sobre os efeitos da exposição à fumaça e das doenças que podem se agravar a longo prazo.

O especialista chamou atenção para outro fator que contribui para uma piora do cenário: a baixa umidade do ar na região durante esse período.

De acordo com Pulicci, o mínimo considerado pela Organização Mundial de Saúde para a umidade do ar é de 60%, sendo que o índice tem se mantido entre 20% e 30% em Rio Branco entre as 9h e as 19h.

Para o médico, isso significa que a prática de exercícios físicos ao ar livre pode ser prejudicial à saúde. E não só o sistema respiratório sofre com os sintomas: Pulicci destaca que a poluição também contribui para maior incidência de problemas cardiovasculares.

“A principal medida que a gente deve tomar nesse período é não sair para prática de exercícios físicos, porque desde as 9h da manhã às 7h da noite, a umidade do ar está abaixo do considerado normal pela OMS. O mínimo considerado pela OMS é 60%, e aqui ela varia entre 20 a 30%, muito abaixo do normal”, avalia.

Conforme o especialista, o período de aumento da fumaça originada pelas queimadas aumenta a incidência de doenças por contato direto com a fumaça, como conjuntivite (infecção ocular) e dermatite (infecção de pele), além de doenças respiratórias, como rinite, sinusite, crises asmáticas e até mesmo sintomas que não necessariamente acompanham uma doença de base, como tosse crônica.

Fumaça encobre céu de Rio Branco. Cidade tem o segundo pior ar do Brasil. Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica AC

Se os altos níveis de poluição se mantiverem, a tendência é que esses quadros piorem. Quanto maior a exposição, maior é a intensidade dos quadros clínicos, segundo Pulicci. A longo prazo, a contaminação do ar pode intensificar também a ocorrência de problemas renais e hepáticos. As máscaras cirúrgicas, que foram indispensáveis durante a pandemia de covid-19, não apresentam eficácia satisfatória na qualidade do ar.

“As máscaras comuns, as máscaras cirúrgicas, tem pouco efeito. Não vou dizer que não faz nenhum efeito, mas muito pouco, então a gente acaba não recomendando por conta da relação custo-benefício. As partículas que circulam, são muito pequenas e as máscaras cirúrgicas não são capazes de filtrar”, diz.

Outras dicas valiosas que o especialista destaca para o período de contaminação pelo ar, são:

  1. Hidratar-se bem
    “Água é importante para a gente, não só para o sistema imune mas para o sistema respiratório também. Os efeitos da fumaça não repercutem apenas no respiratório mas também no cardiovascular, então temos aumento na incidência de infarto nessa época do ano, vários estudos comprovam”, ressalta.
  2. Dar preferência a alimentos que sejam mais nutritivos
    “Frutas, legumes, verduras, alimentos ricos em água, até para fazer essa hidratação indireta”, destaca.
  3. Vacinação
    “Mantenha atualizado o calendário vacinal, porque a gente ainda tem doenças circulando na nossa região”, acrescenta.

*Por Victor Lebre, do g1 Acre

Amapá lança Atlas que orienta novos investimentos em usinas eólicas e solares

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Projeto que promete impulsionar a produção de energia renovável. Foto: Antônio Medeiros/Arquivo pessoal

Foi lançada, no município de Santana, nesta segunda-feira (26), a plataforma Atlas Eólico e Solar do Amapá. Com investimento de R$ 5 milhões, o estudo mapeia as áreas disponíveis para novos investimentos em energia renovável. O estado é pioneiro, no Norte, neste mapeamento.

O projeto é estudado desde a época do apagão em 2020 numa parceria entre o governo estadual, o Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Na plataforma, os investimentos poderão ter acesso aos índices em tempo real do estudo.

Segundo Antônio Medeiros, coordenador de pesquisa e desenvolvimento do Instituto Senai de Inovação e Energias Renováveis (ISI-ER), foram instaladas estações de mapeamento nos municípios de Santana, Laranjal do Jari, Porto Grande, Ilha de Maracá-, Jipioca e Tartarugalzinho.

O coordenador destaca ainda que o Amapá, apesar de ainda não ter uma cadeia econômica voltada para esse tipo de energia, encontra-se numa posição geográfica privilegiada.

“Estados como o Amapá têm um potencial de desenvolvimento tecnológico para combustíveis do futuro muito grande, a gente tem muita biomassa, tem muita energia solar e muita água, que são os elementos principais da composição dos combustíveis do futuro”, detalhou Antônio.

O projeto conta com contrapartida do Senador Davi Alcolumbre. Ele destaca os pontos positivos do Amapá em relação aos outros estados.

“Temos capacidade de gerar 56 megas de energia elétrica. São duas vezes e meia Itaipu, a segunda maior hidrelétrica do planeta. São duas vezes a três gargantas, sendo a maior hidrelétrica do Brasil e do mundo, na China. Nós estamos falando de transição energética, de hidrogênio verde, de energia limpa e o Amapá sai na frente desse estudo porque é o primeiro estado do Norte”, disse o senador.

Durante a programação desta segunda, foi lançada também a pedra fundamental do Instituto Margem Equatorial (IMQ), que deve funcionar como um polo para desenvolvimento sustentável da região da margem equatorial brasileira.

Serão investidos cerca de R$ 14,3 milhões para a criação do laboratório de desenvolvimento de pesquisa aplicada voltada para a questão energética regional, tanto do Amapá quanto da margem equatorial, que compreende desde a área que vai da costa do Rio Grande do Norte à do Amapá.

*Por Mariana Ferreira, Mônica Costa, g1 AP e Rede Amazônica 

Dia da mochila maluca: criança é destaque por usar ‘mochila de batedeira de açaí’ no Amapá

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Apaixonado por açaí, o pequeno Richard Lael, de 5 anos, estudante educação infantil foi destaque no ‘dia da mochila maluca‘ por inovar levando uma miniatura de uma batedeira de açaí. A brincadeira realizada na Escola Estadual Professora Izanete Victor dos Santos, localizada em Santana, no Amapá, aconteceu dia 21 de agosto.

A mãe do estudante, Leciele Silva, disse que a ideia surgiu devido o filho amar bater o açaí, um costume tradicional que tem com os avós e que a mochila foi feita de surpresa, especialmente para ele.

A mãe contou ainda que viu no ‘dia da mochila maluca’ a oportunidade de divertir e surpreender o filho. Ela guardou a mochila e entregou somente antes da criança ir para a escola. Richard ficou muito feliz ao ver o resultado final.

O ‘dia da mochila maluca’ virou febre no Amapá, após vários momentos engraçados e criativos viralizarem nas redes, como a mochila de conserva em lata, um prato comum no Mazagão. E desta vez, o prato mais amado pelos nortistas, foi o escolhido.

A programação na escola de Santana não foi uma competição, mas todos os estudantes tiveram o momento de diversão com a mochila diferenciada.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

Filme amazonense que estreou no Teatro Amazonas concorre ao ‘Oscar’ do cinema de natureza

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Com estreia mundial no Teatro Amazonas, em agosto de 2023, o filme ‘Pirarucu – o respiro da Amazônia‘ está concorrendo a uma premiação internacional considerada o ‘Oscar‘ dos filmes de natureza, o Panda Awards. Filmada no Amazonas, a obra concorre na categoria Sustentabilidade.

‘Pirarucu – o respiro da Amazônia’ mostra como o manejo sustentável do pirarucu é um forte mecanismo de proteção da região amazônica e dos povos da floresta.

Os mundialmente aclamados Panda Awards, considerados os ‘Óscares Verdes’ da indústria internacional de cinema e televisão sobre vida selvagem, estão no centro do Wildscreen Festival desde 1982. A competição é composta por 14 categorias e três prêmios especiais, incluindo o cobiçado Golden Panda pela melhor produção geral.

FOTO: Divulgação / Secretaria de Cultura e Economia Criativa

“O filme é um testemunho emocionante da força dessas comunidades amazônicas, que se tornaram os maiores guardiões da Amazônia, optando pelo manejo participativo do pirarucu, maior peixe de escamas de água doce do mundo, como uma estratégia ousada de conservação”, define a diretora.

Na visão de Carolina Fernandes, o filme traz uma mensagem de esperança para a Amazônia. “Em meio a tantas notícias de perdas e tragédias na região, o documentário conta como o manejo de apenas uma espécie de peixe se tornou um poderoso instrumento para proteção e benefício da floresta e dos seus povos”, diz.

FOTOS: Divulgação / Secretaria de Cultura e Economia Criativa

A obra

‘Pirarucu, o Respiro da Amazônia’ é idealizado e protagonizado por lideranças comunitárias do Rio Juruá e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá destacando os notáveis resultados dessa união entre o conhecimento científico e a sabedoria ancestral das populações tradicionais e indígenas.

O filme mergulha profundamente nas águas do Rio Juruá e na região de Mamirauá, oferecendo uma visão fascinante de como a união entre comunidades e natureza pode resultar em um equilíbrio delicado que salva espécies da extinção e preserva a majestade da floresta amazônica.

O filme também mostra como a região do Médio Juruá saiu de um cenário de trabalho análogo à escravidão para se tornar um verdadeiro exemplo de desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Produzido pela Banksia Films com direção de Carolina Fernandes, produtora audiovisual radicada no Amazonas há 12 anos, o filme mostra como o manejo do pirarucu foi desenvolvido, destacando a importância do conhecimento tradicional aliado ao conhecimento técnico de pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

De acordo com a diretora, o filme retrata de forma poética como as comunidades melhoraram a qualidade de vida ao se engajar nessa atividade sustentável, que salvou o pirarucu da extinção e protege a floresta.

FOTO: Divulgação / Secretaria de Cultura e Economia Criativa

Por meio da obra, o público também pode conhecer a história da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), que foi a primeira organização criada na região e até hoje é um grande exemplo para a Amazônia, coordenando as atividades no território com compromisso com a floresta e seus povos.

Além disso, o filme apresenta os resultados positivos dessa atividade no Médio Juruá. Em 11 anos, a população de pirarucu aumentou 55 vezes em lagos protegidos, fruto do manejo participativo do pirarucu e que gera uma importante fonte de renda, melhorando a qualidade de vida nas comunidades pela valorização dos produtos sustentáveis da floresta.

A logística para as filmagens foi bastante complexa e realizada em várias etapas, relata a diretora. “Filmamos o manejo do pirarucu no médio Juruá por 10 dias. Após isso, tivemos filmagens de entrevistas com os parceiros da rede pirarucu em Manaus”, conta. “E, por fim, viajamos para Mamirauá por cinco dias, onde pudemos fazer entrevistas com os pioneiros pescadores de pirarucu da região, que iniciaram e implementaram o manejo dessa espécie na Amazônia”, lembra.

De acordo com a diretora, o que fez a diferença foi poder contar com a dedicação e talento da equipe, que tem conhecimento e experiência para encarar quaisquer condições de filmagem na Amazônia, segundo ela.

A diretora

Carolina Fernandes é diretora e produtora audiovisual radicada no Amazonas há 12 anos. Treinada pela indústria de televisão britânica e francesa, ela tem experiência na direção e produção de séries de TV e documentários com temática ambiental com créditos na BBC, National Geographic Channels, Smithsonian Channel, HBO, Netflix, Animal Planet, Arte France, dentre outros.

Além disso, Carolina é diretora da série do Discovery Science “Mysteries of the Abandoned” na Amazônia. Produziu e atuou como diretora assistente no filme “Ex- Pajé” (premiado no Festival de Berlim em 2018 e no festival É Tudo Verdade) e no filme “A Última Floresta” (vencedor do prêmio do público na mostra Panorama da Berlinale em 2021), ambos dirigidos por Luiz Bolognesi. Seu trabalho se aproxima intimamente da Amazônia, sempre testemunhando a enorme capacidade dessa região de se preservar enquanto transforma a sua paisagem e o seu povo.

O filme é produzido por Banksia Films, produtora audiovisual de filmes com conteúdo para cinema e TV com atuação no mercado audiovisual brasileiro e internacional, oferecendo serviços de criação de conteúdo, produção e pós-produção de séries de entretenimento factuais, programas de entretenimento de alto perfil, documentários de realidade e de observação. É reconhecida no mercado nacional e internacional pela qualidade e solidez de seus projetos audiovisuais.

*Com informações da Agência Amazonas

Exploração madeireira cresce 584% em Roraima, aponta Simex

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Foto: Reprodução/Ibama

O total de 11.442 hectares (ha) de floresta foi explorado para extração de madeira no estado de Roraima entre agosto de 2022 e julho de 2023. De toda a extração madeireira mapeada, 82%, ou 9.319 hectares, ocorreu de forma não autorizada, e 18%, ou 2.103 hectares, de forma autorizada. Isso significa que a maior parte da madeira extraída em florestas do estado não tinha plano de manejo autorizado pelo órgão competente e foi alvo de ação ilegal.

Esse cenário é influenciado pela transparência de dados disponibilizados na plataforma do Sistema Compartilhado de Informações Ambientais (Siscom), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), onde as informações foram coletas coletadas.

Anualmente, o Sistema de Monitoramento da Exploração Madeireira (Simex), formado pela rede de instituições de pesquisa ambiental integrada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Idesam, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e Instituto Centro de Vida (ICV), produz informações sobre a atividade na Amazônia Legal e nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima.

Pablo Pacheco, consultor do Idesam, explica como a falta de transparência afeta o acesso ao cenário concreto de informações sobre a exploração madeireira na Amazônia. “Essa situação representa um desafio significativo, que impacta a análises de legalidade e a fiscalização da exploração madeireira. Essa deficiência pode levar a várias consequências, incluindo a exploração insustentável das florestas, o desmatamento ilegal e a degradação ambiental, além de dificultar a implementação de políticas de manejo florestal sustentável por parte de iniciativas do terceiro setor”, diz Pacheco.

A rede Simex procurou a Organização Estadual de Meio Ambiente (Oema) de Roraima em busca de informações sobre exploração madeireira autorizada, mas não obteve retorno. Assim, os dados apresentados neste relatório foram obtidos exclusivamente por meio do Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) pela plataforma do Siscom, o que pode acarretar inconsistências decorrentes da falta de atualização do sistema.

Das explorações não autorizadas em Roraima, 81%, o equivalente a 7.531 ha, foram identificadas em Imóveis Rurais Privados; 9%, ou 857 hectares, em Assentamentos Rurais; outros 9%, correspondentes a 810 ha, em Áreas Não Destinadas; e o 1% restante em outras categorias fundiárias.

“A validação dos polígonos, por parte do Idesam, foi feita com imagens normalizadas da constelação PlanetScope e a identificação por meio de satélites como LandSAT e Cbers, o que aumenta a precisão dos dados”, completa Heitor.

Para cada extração madeireira mapeada via satélite, foi examinada a existência de licença para o Plano de Manejo Florestal Sustentável, cuja validade estivesse em conformidade com o período de análise deste trabalho, no entanto, somente 18% da extração mapeada tinha plano de manejo.

Transparência combate fraudes e facilita a criação de políticas públicas

Segundo Pablo Pacheco, as análises de legalidade da exploração madeireira precisam de dados claros sobre as práticas de exploração e a gestão florestal para avaliar riscos e garantir que as empresas envolvidas na atividade cumpram o que determina a legislação ambiental. “A falta de dados transparentes torna difícil quantificar os impactos da exploração madeireira sobre a biodiversidade e os ecossistemas. O que impede a criação de estratégias adequadas para mitigação e adaptação da atividade de exploração madeireira”, explica o consultor.

Ele ressalta que a dificuldade de acesso a informações também agrava a situação podendo facilitar fraudes. “A escassez de dados confiáveis sobre a quantidade de madeira extraída, as áreas desmatadas e as práticas de manejo florestal dificultam a avaliação precisa dos impactos ambientais e sociais da exploração madeireira”, diz Pablo. “Isso leva a falta de supervisão rigorosa e de dados transparentes, o que pode facilitar práticas fraudulentas que perpetuam atividades ilegais e prejudicam aqueles que operam de maneira sustentável”, acrescenta Pacheco.

O diretor-técnico do Idesam, André Luiz Vianna, alerta que a exploração ilegal, além dos danos ambientais, pode gerar situações de riscos aos trabalhadores do setor e impacto negativo no mercado. “O produto ilegal compete com a madeira licenciada prejudicando todo o setor, tanto na redução de preço quanto em termos reputacionais, o que dificulta o acesso a mercados com maiores valores”, disse. “A atividade madeireira licenciada é importante para o Estado e para a sociedade, pois gera arrecadação de impostos, empregos e movimenta recursos relacionados a essa cadeia. Também permite a manutenção da cobertura florestal e, quando realizado por populações tradicionais, gera renda e proteção dos territórios”, analisa Vianna.

Panorama

Os municípios de Roraima com mais exploração madeireira autorizada entre agosto de 2022 e julho de 2023 foram: São Luiz, com 819 ha; Caroebe, com 466 ha; Caracaraí, com 326 ha; Rorainópolis, com 257 ha; e Mucajaí, com 235 ha. Já entre os com mais exploração madeireira não autorizada foram: Caracaraí, com 5.102 ha; Rorainópolis, com 2.400 ha; São Luiz, com 878 ha; Mucajaí, com 436 ha; Caroebe, com 364 ha; Cantá, com 93 ha; e São João da Baliza, com 45 ha.

Entre os Assentamentos Rurais mais explorados em Roraima, se destacaram: o Projeto de Assentamento Dirigido (PAD) Anauá, com 514 ha; o Projeto de Assentamento (PA) Cupiuba, com 124 ha; o PA Trairi, com 69 ha; o PA Ladeirão, com 66 ha; o PA Integração, com 51 ha; e o PA Jatapu, com 22 ha.

*Com informações do Idesam

Uma breve história sobre a mestra da floresta

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*Por Conexões Amazônicas – contato@conexoesamazonicas.org

Quando a maioria das pessoas pensa em cobras, imagina animais perigosos, espreitando à procura de sua próxima vítima. Essa visão romântica e preconceituosa provavelmente resulta da cultura que compulsoriamente herdamos de nossos colonizadores europeus. Na realidade, menos de 30% das mais de 235 espécies de cobras conhecidas no Brasil são peçonhentas. Destas, mais da metade são cobras-corais, que raramente causam acidentes com humanos devido ao seu comportamento recluso. Portanto, mais de 200 espécies de cobras brasileiras são inofensivas para humanos e animais domésticos, e exibem uma incrível diversidade de tamanhos, cores e hábitos de vida.

Acidentes ofídicos não devem ser subestimados como problema de saúde pública. Eles são classificados pela Organização Mundial da Saúde como uma doença tropical negligenciada, o que se deve mais à dificuldade de acesso ao tratamento adequado com soro antiofídico do que ao perigo inerente das cobras. Pessoas em áreas remotas geralmente enfrentam maiores riscos de acidentes e desafios para chegar a um hospital, especialmente na Amazônia, onde precisam percorrer distâncias imensas pelos rios.

No entanto, há muito mais a ser explorado sobre cobras além do risco de acidentes. Como parte da impressionante diversidade de vida que resultou de bilhões de anos de evolução biológica, a história das cobras revela mistérios sobre a própria história do planeta. A Amazônia, por exemplo, abriga uma das maiores cobras peçonhentas do mundo, a única víbora das Américas que reproduz depositando ovos e uma das poucas espécies que exibem cuidado parental – as fêmeas cuidam de seus ovos e podem usar contrações musculares para manter a temperatura estável. Estou falando da surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta, Viperidae), conhecida no Ceará como malha-de-fogo e nos países de língua inglesa como Bushmaster – a mestra da floresta!

A surucucu-pico-de-jaca pode ser encontrada em toda a Amazônia e em alguns remanescentes da Mata Atlântica, onde ainda não foi extinta. No entanto, não ocorre entre esses dois biomas, na região chamada diagonal seca da América do Sul, formada por biomas de clima relativamente seco e vegetação aberta, como o Cerrado e a Caatinga. Mudanças geológicas e climáticas ao longo de milhões de anos separaram as duas grandes florestas tropicais da América do Sul, isolando populações de surucucus-pico-de-jaca.

Assim, essa cobra incrível fornece evidências de que a Amazônia e a Mata Atlântica já foram uma única floresta. Hoje, sabemos que esses biomas estão separados há tempo suficiente para que as populações isoladas de surucucus tenham divergido evolutivamente a ponto de se tornarem espécies distintas. Estudar surucucus-pico-de-jaca na natureza é um desafio. São animais noturnos, com camuflagem eficiente e ocorrem em baixas densidades populacionais, o que significa que geralmente existem poucos indivíduos por unidade de área. Em meus 18 anos de experiência na Amazônia, encontrei apenas cinco indivíduos, sendo um deles particularmente interessante. Em uma noite chuvosa na região do interflúvio Madeira-Purus, no sudoeste da Amazônia, um colega australiano gritou: “A mexican hat!!” (“um chapéu mexicano”, em inglês). Demorei alguns segundos para entender que ele havia avistado uma enorme surucucu-pico-de-jaca, com a cabeça repousada sobre o corpo enrolado, lembrando um chapéu mexicano.

Capturar aquela cobra enorme para coletar os dados necessários para os nossos estudos seria um desafio enorme. Meu colega não tinha experiência capturando cobras, e eu jamais me atreveria a tentar sozinho. Estávamos a mais de 5 km da estrada mais próxima, em péssimas condições, e levaria um dia inteiro para chegar a um hospital. Então não podíamos correr riscos. Decidimos que meu colega ficaria de olho na cobra enquanto eu buscava o resto da equipe, a 3 km de distância.

A trilha era bem marcada, então parecia fácil. Mas especialmente naquela noite alguns obstáculos apareceram pelo meu caminho. Uma grande árvore caída bloqueou a trilha, e na tentativa de desviá-la, fiquei perdido na floresta por uns 30 minutos. Também havia uma grande poça d’água que decidi pular, sem me atentar para um galho de árvore que despontava do outro lado, na altura da minha cabeça. Bati tão forte com a cabeça que vi tudo girando, e caí desmaiado na poça. Recuperei a consciência rapidamente, e percebi que havia sangue escorrendo pela minha orelha. Mais à frente tentei me equilibrar atravessando uma pinguela sobre um igarapé (ponte feita com tronco fino de árvore), e caí da forma mais dolorosa que você pode imaginar em uma situação como essa.

Finalmente, alcancei meus companheiros, que ficaram eufóricos com a notícia da surucucu-pico-de-jaca. Voltamos todos correndo e encontramos meu colega australiano ainda observando a cobra. Planejamos cuidadosamente a captura, coletamos nossos dados e voltamos ao acampamento, felizes, cansados e molhados. Que noite!

Parte da equipe de pesquisadores e assistentes de campo na BR-319, estrada que corta o interflúvio Madeira-Purus, sudoeste da Amazônia. Fotos: Rafael de Fraga/Acervo pessoal

*Autor:

Rafael de Fraga é biólogo, mestre e doutor em ecologia. Ele tem estudado cobras na Amazônia há 16 anos, investigando padrões de diversidade associados à variação nas características de florestas e savanas. Também participou como apresentador e pesquisador da série de TV Em Busca das Cobras.

Rafael de Fraga – r.defraga@gmail.com

Sobre o Conexões Amazônicas

O coordenador da ONG Rede Conexões Amazônicas, Ayan Fleischmann, é pesquisador titular do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, sendo mestre e doutor em recursos hídricos. Em sua trajetória tem pesquisado as águas e várzeas amazônicas em suas múltiplas dimensões. É representante da ONG na coluna no Portal Amazônia, onde recebe pesquisadores convidados que contam os bastidores de suas experiências de pesquisa na Amazônia.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Manaus de ontem, de um passado não muito distante: a cidade que já não existe mais, em nome da modernidade

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Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br

Se a arquitetura é o símbolo mais visível de uma sociedade, a fisionomia urbana de Manaus reflete bem o espírito da sociedade que aqui floresceu em fins de 1800 e início de 1900. Na verdade a arquitetura de Manaus, a arquitetura mais antiga exprime uma atitude emocional e estética do apogeu de um período do látex e da burguesia enriquecida pelo processo produtivo.

A cidade que despertou a admiração de tantos estrangeiros imigrantes ou visitantes, nas primeiras décadas de 1900, surgiu como por encantamento.

De uma aldeia dos indígenas, o antigo Lugar da Barra se transformara num dos mais importantes centros do mundo tropical, graças a vitalidade econômica da borracha, que lhe deu vida, riqueza e encantos, como na antiguidade o comércio intenso no Mediterrâneo e no Adriático possibilitou a Roma, Florença e Veneza papel preponderante na economia, nas artes, nas letras e na arquitetura da Velha Europa.

Tal como Veneza, por meio de seu comércio de longo alcance com povos europeus e extras europeus, Manaus veio conhecer o gosto e a experiência de países extras americanos onde sua burguesia procurava inspirações de vida e de ação. O passeio de férias à Europa era ocorrência de rotina para a família de Manaus que, por sua vez, de lá traziam ideias e sugestões transformados em valores culturais, às vezes um tanto invulgar de uma sociedade desejosa de crescer e firmar-se como força civilizadora.

Cidade de suaves colinas, Manaus desdobrava-se em vistas múltiplas para quem a cruzasse nas avenidas e ruas de um lúcido urbanismo. E não deixa de impressionar a obra urbanizadora da capital, creditada ao governo de Eduardo Gonçalves Ribeiro, a topografia da cidade, antes do governo dele, deslumbrava-se em cortes hidrográficos: era o Igarapé do Salgado, o Igarapé da Castelhana, o Igarapé da Bica, o Igarapé do Espírito Santo, Igarapé de Manaus, Igarapé da Cachoeirinha, Igarapé de São Raimundo, Igarapé dos Educandos, etc.

Eduardo Gonçalves Ribeiro aterrou os caudais em benefício de um urbanismo funcional, que lutou contra a natureza até fazer secar os pequenos cursos d’água, transformada em amplas avenidas.

[…] Avenida Eduardo Ribeiro, com sua imponência, resultado do aterro do Igarapé do Espirito Santo. Outros tantos igarapés atravessados por sólidas pontes de ferro, em disposições geométricas artisticamente apresentadas. O Teatro Amazonas erigido no topo de uma colina, como se fosse a Acrópole dos Deuses da Floresta, marca a capital no espaço e no tempo, inaugurado em 1896.

Fonte: TOCANTINS, Leandro. O rio comanda a vida: uma interpretação da Amazônia. Manaus: Valer, 2000. Pág.: 188-189.

Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente

Cidade rica, progressista e alegre, calçadas com granito e pedra de liós, trazida de Portugal, sombreadas por frondosas mangueiras e de praças e jardins bem cuidados, com belas fontes e monumentos, tinha todos os requisitos de uma cidade grande urbana moderna: água encanada e telefonias; energia elétrica, rede de esgoto e bondes elétricos deslizando em linhas de aço espalhadas por toda malha urbana e penetrando na floresta até os arredores mais distantes do Bairro de Flores. O seu porto flutuante, obra-prima da engenharia inglesa, construído a partir de 1900, o qual recebia navios de todos os calados e das mais diversas bandeiras.

O movimentar do centro comercial regurgitando de gente de todas as raças: nordestinos, ingleses, peruanos, franceses, judeus, norte-africanos, norte-americanos, alemãs, italianos, libaneses, portugueses, caboclos e índios.

A Avenida Eduardo Ribeiro concentrava um número expressivo de casas comerciais. Nas proximidades do Mercado Municipal Adolpho Lisboa, Ruas Marcílio Dias, Guilherme Moreira, Quintino Bocaiúva, 7 de Setembro, Henrique Martins, Instalação, Praça XV de Novembro. Tudo o que o comércio internacional oferecia à época poderia ser encontrado nesta longínqua cidade, plantada a milhares de quilômetros dos principais centros capitalistas.

Atividades comerciais bem constituídas abrigavam, no andar inferior, o comércio e no andar superior a residência do proprietário, instalado próximo ao seu trabalho, o que ocorria normalmente das 7h às 21h.

Esse espaço residencial era o que predominava em nosso centro comercial. Mas, afastadas como a Praça dos Remédios ao longo da Joaquim Nabuco, Largo de São Sebastião, Avenida 7 de Setembro, Rua Barroso, 24 de Maio, Saldanha Marinho e outras ruas circunvizinhas, dispunha-se as residências mais ricas, magníficos palacetes construídos no melhor estilo da época, assoalhos de acapu e pau amarelo, pinho-de-riga, onde o sol vazava as janelas e vitrais europeus. As salas normalmente iluminadas de belíssimos lustres europeus, paredes e tetos decorados de pinturas e telas ou de ares frescos.

Seus salões amplos exibiam luxuosíssimos móveis, porcelanas, cristais, pratarias e que permaneciam sempre abertos para receber visitas e festas de aniversários, banquetes e saraus, as diversões familiares da belle époque.

Casas de alvenaria com porões habitáveis, com fachada de painéis de azulejos europeus, com suas entradas de escadas em degraus de pedra de liós, ou madeira, sala de visita, alcova, sala de jantar, o grande corredor, ladeados de dois três quartos, cozinha em mais dependências.

[…] As famílias de menores recursos habitavam as extensas vilas de casas populares, o que ainda encontramos hoje nas ruas 24 de maio, Lauro Cavalcante e Joaquim Nabuco e as chamadas estâncias, extensas construções de meia-água divididas em pequenos quartos para aluguel. Entre os hotéis destacavam-se o Casina, na Praça Dom Pedro II e o Grande Hotel na Rua Municipal número 70, belíssimo edifício de dois andares, com quarenta e dois quartos, cujos, cômodos eram decentemente mobiliados.

Fonte: LOUREIRO, Antônio José Souto. A Grande Crise. Pág.: 33 e 34. In. BAZE, Abrahim. Luso Sporting Clube: A Sociedade Portuguesa no Amazonas. Manaus: Valer, 2007.

Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente

Poucas cidades do Brasil tenham passado pela fase de esplendor que atravessou Manaus, entre 1895 a 1915, quando conquistamos do grande ciclo econômico do látex o que de melhor era trazido da Europa e utilizado em nossa cidade. Não é, na realidade, um tema ignorado para muitos, mas poucos conhecem as verdadeiras relíquias históricas da arquitetura que, em tempos passados marcaram o desenvolvimento e o embelezamento da cidade de Manaus.

Turistas, estudiosos e outras pessoas que procuram Manaus se deparam com Teatro Amazonas, com Tribunal de Justiça, com a Alfandega e outras obras importantes daquele período, mas, passam despercebido por prédios menores que desafiam as gerações e a técnica moderna, esboçando na sua estrutura e apresentação, um tipo de arte, implantada em Manaus pelo arquiteto Severiano Mário Porto.

É o caso do Restaurante Chapéu de Palha que foi um dos lugares mais curiosos e marcantes da história da arquitetura regional e obra-prima do referido arquiteto. Inaugurado no dia 24 de fevereiro de 1968, esse point da gastronomia regional tinha como endereço a esquina da Rua Paraíba com Rua Fortaleza no Centenário Bairro de Adrianópolis.

Projeto totalmente regional idealizado pelo arquiteto Severiano Mário Porto um ícone da nossa arquitetura, cuja inspiração era formatada num estilo de chapéu de palha usado pelos ribeirinhos de nossa região como proteção contra o sol em suas longas jornadas de pescaria em nossos rios a estrutura do restaurante era totalmente feita de materiais locais, incluindo troncos de aquariquara que promovia sua sustentação e cuja cobertura era feita de palmeiras regionais (palha), além de concreto armado que formavam suas sapatas. Uma área que possuía aproximadamente 7.850 metros quadrados e o restaurante ocupava uma área de 2.400 metros quadrados.

Severiano Mário Porto manteve o escritório no Rio de Janeiro com a coordenação de seu sócio, o arquiteto Mário Emílio Ribeiro, que foi seu colega de turma na FNA e coautor de projetos importantes. Muito dos projetos desenvolvidos em nossa região foram premiados pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB, como o restaurante Chapéu de Palha, demolido em 1967. Suas obras e sua história de vida fica a espera de um estudo mais aprofundado e quem sabe sua autobiografia.

Severiano Mário Porto. Foto: Reprodução/CAU-AM

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Censipam divulga novo boletim de desmatamento e ilícitos ambientais na Amazônia

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Operação Pariwat. Foto: Rebeca Hoefler/ICMBio

O Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) publicou, no dia 23 de agosto, o primeiro Boletim de Desmatamento e Ilícitos Ambientais (BDI Censipam). O objetivo do boletim é acompanhar a evolução do desmatamento no bioma amazônico ao longo do ano, trazendo foco também para outros ilícitos ambientais relacionados ao desmatamento, como a mineração ilegal e pistas de pouso irregulares em terras indígenas e unidades de conservação.

A edição atual traz a análise do primeiro semestre de 2024 e, a partir de então, será publicada bimestralmente. O próximo número, previsto para a primeira quinzena de setembro, incluirá dados de julho e agosto.

Integração de alertas de desmatamento

O BDI Censipam utiliza uma nova metodologia que integra os alertas gerados pelo Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pelo Programa Brasil MAIS (Meio Ambiente Integrado e Seguro), do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), e pelo sistema Localização de Garimpos (LOGAR), do próprio Censipam. A integração de diferentes sistemas de alertas tem o objetivo de aumentar a acurácia da informação sobre o desmatamento na Amazônia, explorando as potencialidades de cada ferramenta disponibilizada pelos órgãos públicos.

Devido à melhor resolução espacial e a delimitação mais precisa da área desmatada fornecidas pelos alertas Brasil MAIS, estes foram escolhidos como base para a análise do desmatamento. Por possuir uma melhor cobertura do bioma Amazônia, os alertas DETER foram utilizados de forma para garantir a abrangência para todo o bioma.

Além do desmatamento da vegetação nativa, o boletim inclui dados sobre desmatamento de vegetação florestal secundária, ou seja, áreas florestais em processo de regeneração que foram anteriormente desmatadas, utilizando informações do programa TerraClass, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pelo INPE, com apoio do Censipam.

Mineração ilegal e pistas de pouso irregulares

Além do desmatamento, o BDI traz enfoque para a mineração ilegal e as pistas de pouso irregulares em Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Para isso, utilizou o Sistema de Localização de Garimpos (LOGAR), produzido pelo Censipam, que realiza validação, refinamento e classificação dos alertas de mineração gerado pelo DETER e Brasil MAIS, utilizando imagens de alta resolução. Com relação às pistas de pouso irregulares, foi utilizado o sistema de Localização de Pistas de Pouso (LOPIS), também produzido pelo Censipam, que identifica e classifica as pistas de pouso irregulares na Amazônia Legal, a partir de imagens de satélite.

Eventos de fogo

O boletim apresenta também informação sobre o número de eventos de fogo detectados nos estados amazônicos, a partir das informações geradas pelo Painel do Fogo (Censipam), uma plataforma que disponibiliza informações em tempo real sobre incêndios e queimadas no Brasil e nos países vizinhos que possuem o bioma amazônico em seu território.

*Com informações do Censipam