Fumaça encobre Manaus. Foto: Lucas Macedo/Rede Amazônica AM
Com o constante aparecimento de fumaça nos municípios do Amazonas, é importante adotar medidas preventivas para proteger a saúde da população. Ao Grupo Rede Amazônica, o infectologista Noaldo Lucena destacou os principais riscos da situação e deu orientações para minimizar os impactos na saúde.
Manaus voltou a ser encoberta com uma densa fumaça desde o dia 27 de agosto, como resultado da mudança de rotas dos ventos causadas pela frente fria que atingiu o sul do estado. Em alguns bairros, a qualidade do ar chegou a ser considerada “péssima”.
Lucena explicou que a fumaça contém partículas nocivas, incluindo metais pesados que, ao serem inaladas, podem causar sintomas como tosse, dor de cabeça e náuseas. Inalar a fumaça pode afetar principalmente os grupos de risco, como crianças de 4 a 5 anos, idosos acima de 60 anos e pessoas com doenças crônicas.
“O impacto é maior em pessoas nas extremidades de idade e em quem tem doenças crônicas, que tendem a apresentar, num momento dramático como esse, mais sintomas que as outras”, afirmou o infectologista.
Ele também alertou que a exposição prolongada à fumaça pode agravar doenças respiratórias, como asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), gerando sintomas mais graves, como dor no peito, falta de ar e até intoxicação em casos mais graves.
Para se proteger, Lucena recomenda que a população evite sair de casa e, quando necessário, utilize máscaras adequadas, como a N95, que oferece maior proteção contra as partículas menores presentes na fumaça.
“Tem partículas desde 5 μm/m³ (micrómetro por metro cúbico de AR) e assim a boa máscara cirúrgica pode ser utilizada, mas a ideal mesmo é que seja usada a N95 que protege de partículas menores do 5, que são muito perigosas e podem alcançar terminações pulmonares”, ressaltou.
Já dentro de casa, o infectologista indicou manter as janelas fechadas e usar umidificadores, quando possível, para melhorar a qualidade do ar. Lucena também sugeriu evitar banhos excessivos com sabão, para não ressecar a pele, e reforçar a hidratação, consumindo entre 35 a 45 ml de água por quilo de peso corporal diariamente.
Para quem já sente os efeitos da fumaça, como ressecamento na garganta e no nariz, Noaldo recomenda a lavagem com soro fisiológico. Para os olhos irritados, o uso frequente de colírio é indicado.
Lucena ainda enfatizou os cuidados com os animais de estimação, recomendando os manter hidratados, oferecendo água fresca e, se possível, com pedrinhas de gelo para refrescar.
A Defesa Civil do Governo do Acre informou, no dia 28 de agosto, que o estado enfrenta a maior seca da sua história. Segundo o coordenador da Defesa Civil estadual e coordenador do Gabinete de Crise, coronel Carlos Batista, os níveis de todos os rios do Acre estão em cota de alerta máximo.
“A navegação em quase todos os rios e igarapés do estado está totalmente prejudicada devido ao baixo nível das águas, o que tem afetado o abastecimento de insumos aos municípios isolados e comunidades ribeirinhas e indígenas”, declarou.
De acordo com o coronel Batista, os órgãos de monitoramento de previsão do tempo apontam que a seca pode se estender até outubro.
Preocupado com as consequências do agravamento da estiagem prolongada, o governo do Acre já decretou situação de emergência da seca severa, situação de emergência dos incêndios florestais e situação de emergência de saúde pública e solicitou apoio do governo federal para ações complementares.
Foto: Pedro Devani/Secom AC
Além disso, o Serviço de Água e Esgoto do Estado do Acre (Saneacre) vem realizando ações para garantir, mesmo no período de seca, o fornecimento de água aos municípios do interior do estado, como também a Secretaria Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH) planeja o envio de cestas básicas aos municípios mais afetados e o Corpo de Bombeiros Militar do Acre (CBMAC) envia brigadistas às cidades com mais incidências de queimadas.
Foto: Pedro Devani/Secom AC
O Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) aponta o Acre como um dos 16 estados do país que sofrem com a seca severa e altas temperaturas.
Ajuda humanitária
Dando continuidade às ações para minimizar os impactos de seca severa, o governo do Acre enviou, nesta semana, a equipe técnica do Gabinete de Crise para fazer o levantamento das demandas mais urgentes dos municípios isolados, comunidades ribeirinhas e indígenas.
Uma lontra albina foi flagrada se alimentando próximo a casas em uma área de lago no bairro dos Congós, na zona sul de Macapá (AC). Os registros foram feitos no dia 28 de agosto e começaram a ganhar repercussão nas redes sociais no dia seguinte.
Júnior Santos, de 46 anos, que trabalha na construção de uma casa na área de “ressaca” gravou um dos vídeos e disse estar surpreso com a presença da lontra diferente das comuns que aparecem nos lagos.
“Geralmente a gente costuma ver ela preta e não branca. É a primeira vez que vejo uma e é uma coisa inédita aqui na área. Quando vi, fiquei admirado pro saber que existe assim”, disse o morador.
Para a bióloga Danielle Lima, da Fundação Mamíferos Aquáticos, a presença de lontras é comum em todo o país, principalmente em áreas alagadas como rios e lagos – como este em Macapá.
“Essa região de ressaca tem essa variação de marés e com a subida da água, os animais começam a explorar toda a região alagada em busca de alimento. Esses ambientes ocupados fazem parte da área de uso delas, e elas encontram ali pequenos crustáceos e peixes”, descreveu a bióloga.
De acordo com a bióloga, as lontras possuem a coloração marrom ou parda.
“O caso dessa lontra um pouco mais clara é conhecida tecnicamente como leucismo, que é uma perda parcial de pigmentação. Pelas imagens a gente não consegue confirmar se realmente seria um animal albino completamente”, acrescentou a pesquisadora.
Ainda segundo a bióloga, o leucismo acontece com outras espécies e já foi documentado em lontras em outras regiões do país, sendo o primeiro caso no Amapá.
Rio Acre, em Rio Branco, se aproxima da menor cota da história desde 1971. Foto: Vitória Guimarães/Rede AmazônicaAC
Após baixar 12 centímetros em apenas cinco dias, o Rio Acre chegou a marca de 1,30 metro em Rio Branco (AC). O nível, alcançado nesta sexta-feira (30), é o segundo menor da série histórica do manancial e só havia sido atingido em outras duas ocasiões em mais de 50 anos.
O rio está a 5 centímetros da menor cota histórica desde 1971, quando o manancial começou a ser monitorado em Rio Branco. A marca histórica de seca é de 1,25 metro, em 2 de outubro de 2022.
Toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo para seca, agravada em razão da falta de chuvas na região. Esta situação generalizada perdura há dois meses. Já o manancial em Rio Branco se encontra abaixo de 4 metros há mais de três meses. Mais de 387 mil pessoas nas zonas urbana e rural de Rio Branco já foram afetadas.
Prejuízos: como resultado da seca, produtores perderam plantações e houve queda nas vendas. O baixo nível do manancial também afeta o transporte das mercadorias.
A primeira vez que o nível do Rio Acre baixou para 1,30 metro foi no dia 17 de setembro de 2016. Na ocasião, a seca chegou a ser considerada a pior da história da capital acreana.
O Departamento de Pavimentação e Saneamento do Acre (Depasa) chegou a gastar mais de R$ 2 milhões em equipamentos e insumos para manter o abastecimento na cidade. Depois de chegar até a marca, o rio voltou a subir, mas foram necessários mais nove dias até que voltasse a ficar acima dos dois metros.
Entre cheias e secas, se passaram mais seis anos até que a marca de 1,30 metro fosse novamente alcançada no dia 10 de setembro de 2022. Daquela vez, porém, o manancial continuou a bater a menor marca por mais quatro vezes até chegar a 1,25 metro no dia 2 de outubro.
Na época, a Defesa Civil já trabalhava com a possibilidade do rio ficar abaixo de 1 metro, mas chegada do período de chuvas afastou essa possibilidade.
Agora, em um cenário de seca que começou antes do esperado, no final de maio, e ainda distante do início do período chuvoso em outubro, a avaliação do órgão é que é possível ultrapassar a marca histórica de 2022.
“Já há um plano de contingência para o caso do rio ficar abaixo de 1,25 metro”, explica o coordenador da Defesa Civil do Acre, coronel Carlos Batista.
Última medição de julho marcou 1,48 metros e não houve medição no dia 23 de agosto por problemas na régua.
A seca já afeta, direta e indiretamente, mais de 387 mil pessoas apenas na capital acreana. As mais atingidas, entretanto, são as comunidades da zona rural. Desde junho, equipes da Defesa Civil Municipal levam carros-pipas para atender os moradores dessas regiões.
“Todos nós somos afetados pela seca extrema e suas várias consequências. Há impacto na produção, na agricultura, na pecuária, no abastecimento de água potável, incêndios florestais que emanam gases que afetam a saúde de todos nós”, explica Batista.
Alerta máximo
Toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo para seca, agravada em razão da falta de chuvas na região. Esta situação generalizada perdura há dois meses. Já o manancial em Rio Branco se encontra abaixo de 4 metros há mais de três meses.
As oscilações têm sido frequentes desde que o manancial ficou abaixo de 4 metros na capital, e mais precisamente este mês, quando o chegou a ultrapassar 1,50 metro e depois voltou a reduzir.
A situação acima contrasta com a vivenciada entre fevereiro e março, quando o Acre passou pela segunda maior enchente de sua história desde 1971, ano em que a medição começou a ser feita. Na época, a inundação provocada pelo Rio Acre fez com que mais de 11 mil pessoas deixassem suas casas. Agora os acreanos vivem o contrário da cheia.
Rio Acre alcança Ponte Metálica em março de 2024. Foto: Melícia Moura/Rede Amazônica Rio Acre registra um dos menores índices do ano em agosto de 2024. Foto: Divulgação/Governo do Acre
Histórico de seca
O governo do estado decretou, no dia 11 de junho, situação de emergência por conta da seca e emergência ambiental por causa da redução da quantidade de chuvas e riscos de incêndios florestais.
Duas semanas depois, foi montado um gabinete de crise para discutir e tomar as devidas medidas com redução dos índices de chuvas e dos cursos hídricos, bem como do risco de incêndios florestais. O decreto com a criação deste grupo foi publicado no dia 26 de junho, em edição do Diário Oficial do Estado (DOE), e fica em vigência até dia 31 de dezembro deste ano.
Em 2022, a seca levou o Rio Acre a bater recordes negativos pelo menos quatro vezes. A cota histórica era de 1,30 metro, registrada em 2016.
Há dois anos, o manancial marcou esse nível no dia 10 de setembro. No dia 11, o rio reduziu para 1,29 metro, e depois seguiu em baixa até o dia 29 quando chegou a 1,26 metro. Na manhã do dia 2 de outubro o nível chegou à marca de 1,25 metro, a menor da série histórica iniciada em 1971.
No ano passado, o decreto de emergência foi publicado em outubro. O coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista, disse que o plano estadual de contingenciamento já foi elaborado.
No dia 28 de junho, o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, também assinou um decreto de emergência em razão do baixo nível do Rio Acre e da falta de chuvas.
A situação alerta para a possibilidade de um período de seca que, segundo especialistas, pode se antecipar e se tornar cada vez mais frequente em um menor espaço de tempo.
O mesmo quadro foi observado em 2016, ano com a segunda pior seca. Em 17 de setembro, o rio atingiu a menor cota histórica da época: 1,30 metro.
A língua dos Incas dança ao ritmo do pop coreano. Esta é a proposta de Lenin, um artista peruano que cultiva um estilo em que funde coreografias cuidadosas com notas eletrônicas, bases musicais das montanhas de seu país e letras em quíchua, língua dos Incas, que se espalhou do norte da Argentina ao sul da Colômbia, cobrindo os territórios do Equador, Peru e Bolívia. É assim que foi criado o “Q-pop“.
“Fiz uma proposta musical que agregasse minhas influências de criança e jovem, a música que ouvia; a andina (do Peru) por parte de mãe, e os novos gêneros musicais que descobri no ensino médio como o K-pop, música de anime e pop americano”, diz Lenin Tamayo.
Foto: Reprodução/Agência Andina
A estética, a música e as danças do artista unem os ritmos do interior do Peru com danças e trajes típicos de festas ancestrais, mas a coreografia, a encenação e os ritmos são claramente de influência coreana.
É uma ideia partilhada por uma nova tendência de artistas que fundem o trap e o hip-hop com o quéchua e sons tradicionais do interior do país.
Assim, o artista passou a unir elementos da cultura peruana, país que compõe a Amazônia Internacional, com a influência do pop coreano.
BR-319 é considerada vetor de desmatamento na região da AMACRO. Foto: Fábio Bispo/InfoAmazonia
A AMACRO, região que abrange 45 milhões de hectares na tríplice fronteira entre o Amazonas, Acre e Rondônia e ocupa 10% do bioma amazônico, avança rapidamente para ter mais área de agropecuária do que de floresta.
Uma análise exclusiva da InfoAmazonia, com base nos dados da rede MapBiomas, aponta que em 20 anos, de 2003 a 2022, a área destinada ao agronegócio na AMACRO mais que dobrou de tamanho e chegou a 7,2 milhões de hectares, um território maior do que o da Irlanda. Atualmente, em 13 dos 32 municípios que compõem a região, a agropecuária já ocupa uma área maior do que a floresta.
O projeto começou a ser discutido em 2018 e foi lançado durante o governo de Jair Bolsonaro para incentivar o agronegócio na região. Na prática, se tornou um dos principais motores do desmatamento no bioma Amazônia.
Ao todo, a região reúne 32 municípios. Em 2022, representou, sozinha, mais de 34% de todo o desmatamento da Amazônia brasileira.
A abertura de áreas para a agropecuária cresceu em média 5,61% por ano de 2018 a 2022, mais que o dobro da média para o bioma no Brasil.
Por dia, foram 4,2 mil hectares para novas pastagens e lavouras, que atingiram 7,2 milhões de hectares em 2022 – uma área maior do que a Irlanda.
Em 13 dos 32 municípios que formam a AMACRO, a agropecuária já ocupa mais áreas do que as florestas. São eles: Buritis. Plácido de Castro, Senador Guiomard, Monte Negro, Acrelândia, Alto Paraíso, Ariquemes, Campo Novo de Rondônia, Cujubim, Capixaba, Epitaciolândia, Rio Crespo e Porto Acre.
Nos próximos anos, pelo menos outros nove municípios devem ter o mesmo destino, incluindo as capitais Porto Velho, de Rondônia, que deve atingir 1,7 milhões de hectares em 2037, e Rio Branco, no Acre, onde as áreas de agropecuária devem cobrir mais da metade do município em 2041, segundo análise da InfoAmazonia.
Além dessas duas capitais, os seguintes municípios são os que estão mais perto de ter mais pasto do que floresta nos próximos anos: Nova Mamoré, Bujari, Machadinho D’Oeste, Lábrea, Candeias do Jamari, Xapuri e Itapuã do Oeste.
Entre os 32 municípios que formam a AMACRO, há um corredor ecológico vital formado por 49 terras indígenas e 86 unidades de conservação, que representam a última linha de defesa para a biodiversidade e os povos tradicionais da floresta.
A agropecuária, especialmente sua expansão entre 2018 e 2022, cercou muitas das terras indígenas e unidades de conservação na AMACRO, que agora estão diretamente ameaçadas pelo ritmo crescente dessas áreas sobre os territórios.
A Terra Indígena Karipuna, localizada entre os municípios de Porto Velho e Nova Mamoré, é um exemplo emblemático dessa pressão da agropecuária. Cercada por fazendas de gado, a comunidade Karipuna tem visto suas áreas tradicionais de subsistência serem destruídas para dar lugar ao pasto.
A data-chave, segundo a análise da InfoAmazonia (leia mais sobre a metodologia aqui), é 2067: ano em que a AMACRO como um todo, terá mais área de agropecuária do que floresta. Essas previsões foram feitas a partir de um modelo estatístico que analisa a variação da área de floresta e agropecuária ao longo dos anos.
A expansão da pastagem e da agricultura cresce duas vezes mais rápido nessa região do que no restante da Amazônia brasileira: enquanto em outras partes do bioma a abertura de novas áreas de agropecuária cresceu, em média, 2,63% ao ano, na AMACRO, esse crescimento anual foi de 5,61% entre 2018 e 2022.
Assim, o projeto da AMACRO, lançado no governo de Jair Bolsonaro como um polo de produção agropecuária para promover o “desenvolvimento sustentável”, torna-se, segundo o climatologista Carlos Nobre, um dos motores que podem levar a Amazônia ao ponto de não retorno — limite crítico para a sobrevivência da Amazônia como a conhecemos. Ao atingir este ponto, os rios, as florestas e os animais não terão mais as mesmas funções e condições de adaptação, perdendo a capacidade de regeneração e de manutenção dos serviços ecossistêmicos essenciais para o clima global.
“Ali [na AMACRO], se nada for feito, até 2050 a Amazônia passa do ponto de não retorno e perde sua capacidade de regeneração natural. Não existe mais nenhuma justificativa para mais desmatamento. Essa é a região mais crítica para a floresta, junto com o norte do Mato Grosso e o centro-sul do Pará, onde mais de 90% do desmatamento ocorre para abertura de pastagens e lavouras”, observou Nobre.
O climatologista explica que a Amazônia já perdeu 13% de sua cobertura florestal ao longo de mais de 50 anos de intensa exploração. Nas últimas décadas, segundo ele, a destruição atingiu níveis industriais. “Quando a perda de floresta chegar entre 20% e 25%, a Amazônia vai atingir o ponto de não retorno. Com o avanço do desmatamento nesta região [AMACRO], este risco é altíssimo”.
“Se nada for feito, até 2050 a Amazônia passa do ponto de não retorno e perde sua capacidade de regeneração natural. Não existe mais nenhuma justificativa para mais desmatamento”. – Carlos Nobre, climatologista
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo InfoAmazonia. Leia completo AQUI.
A Cáritas Brasileira tem acompanhado de perto a Terra Indígena de São Marcos (TISM), em Roraima, afetada diretamente pelos efeitos das mudanças climáticas. Em 2023, comunidades foram atingidas com fortes chuvas, que comprometeram espaços comunitários e destruíram casas de farinha. Já nesse ano de 2024, o estado registrou uma estiagem recorde e focos de incêndios ocasionando, desta vez, destruição pelo fogo nos sistemas de abastecimento de água.
Sensível a essas situações, a Cáritas Brasileira iniciou duas ações. Uma em parceria com a Catholic Relief Services (CRS), por meio do Programa Empower, com financiamento da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e com apoio técnico da Agência para o Desenvolvimento Ultramarino (CAFOD), por meio da qual desenvolveu e implementou o projeto Apoio Humanitário às Comunidades Afetadas Pelas Queimadas em Roraima, que teve início em abril e está em fase de finalização.
A segunda ação, que se chama Casa de Farinha, foi possível com o apoio da organização humanitária inglesa The Little Way Association. Com início em fevereiro e finalização neste mês de agosto.
O Apoio Humanitário às Comunidades Afetadas Pelas Queimadas restabeleceu os sistemas de abastecimento de água que foram destruídos durante as queimadas nas comunidades indígenas do território, além de criar condições para que muitas delas, que antes não contavam com um sistema captação de água, pudessem ter acesso otimizado à água.
Através desse projeto, foram entregues para cerca de 12 comunidades, mais de 22 mil metros de canos hidráulicos, essenciais para transportar a água. Além disso, foram distribuídas aproximadamente 26 caixas d’água, de mil litros e seis caixas d’água de cinco mil litros, em 26 comunidades.
O segundo projeto doou materiais para a construção de dez casas de farinha, telhas, itens para dormir e cozinhar. A primeira parte desse apoio chegou na TISM ainda no primeiro mês de execução, em fevereiro, com a entrega de 125 redes, 125 cobertores, panelas e utensílios domésticos.
Nos últimos dias 21 e 22 de agosto, agentes Cáritas estiveram na região do Alto São Marcos, em Pacaraima – RR, nas comunidades Ouro Preto, Nova Morada, Sakaomota e Tarau Paru. A visita fez parte de um ciclo formativo para realização de promoção de higiene, com foco nos cinco momentos críticos de lavagem de mãos e com orientações sobre como cuidar das caixas d’água.
As ações de resposta à emergência e de assistência às famílias atingidas pelas mudanças climáticas em Roraima fazem parte da área de atuação em Meio Ambiente, Gestão de Riscos e Emergências (MAGRE) da Cáritas Brasileira.
“O MAGRE tem investido fortemente na gestão de riscos, com foco no monitoramento e prevenção, para minimizar os impactos da atual emergência climática”, comentou a assessora nacional da Cáritas Brasileira, Taynara Dettmann, acrescentando também sobre os treinamentos nas comunidades para mitigação de danos.
“O treinamento das comunidades para garantir a sustentabilidade dos processos de resposta e prevenção se mostra cada vez mais crucial”, concluiu.
“Eu fico feliz, não só por mim, mas sim pela comunidade”
Giselda Freitas, moradora da comunidade indígena de Ouro Preto, comentou sobre o restabelecimento do abastecimento de água: “Eu fico feliz, não só por mim, mas sim pela comunidade, porque aqui em Ouro Preto realmente não tinha as caixas. Todas as comunidades que receberam são agradecidas a esse projeto. Algumas comunidades tinham o projeto de puxar a água, mas não tinham os canos, e hoje os canos estão interligados”.
Para o vice-coordenador da Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM), Adizon Menandro, a parceria com a Cáritas foi fundamental para o enfrentamento das emergências causadas pelas mudanças climáticas.
“Fizemos vários levantamentos nas comunidades, detectamos muitos problemas e muitas deficiências. Em cima desses levantamentos, os projetos de encanamento e poços foram efetuados. Levamos caixas d’água para as comunidades, materiais para as casas que queimaram com o verão muito forte, e conseguimos recuperá-las. Assim como também, conseguimos chegar com água em comunidades indígenas que nunca tiveram nenhum tipo de abastecimento de água”, detalhou.
Cuidado com a água
Além da distribuição das caixas e canos, foram desenvolvidos materiais informativos para as comunidades impactadas pelos incêndios em Roraima, como parte do projeto de Ajuda Humanitária às Comunidades Afetadas por Incêndios. Os banners e folhetos produzidos fornecem informações sobre como limpar e manter os sistemas de abastecimento de água, bem como técnicas adequadas de armazenamento de água.
Os folhetos foram impressos e distribuídos em cinco idiomas: Português, Espanhol, Macuxi, Wapichana e Taurepang, sendo os três últimos línguas indígenas. É possível visualizar e baixar esses materiais no link: https://caritas.org.br/divulgacao/24
A região amazônica possui um grande número de aves. Uma descoberta rara e significativa foi registrada nos últimos dias no Parque Estadual do Utinga “Camillo Vianna” em Belém (PA). O professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e fotógrafo de natureza, Gustavo Melo, conseguiu capturar imagens de um uiraçu (Morphnus guianensis) sobrevoando o Lago Bolonha.
A ave conhecida como accipitriforme da família Accipitridae, também é conhecida como gavião-real-falso ou gavião-de-penacho. A identificação da espécie contou com o auxílio do biólogo Felipe Furtado, confirmando a presença da ave em uma das áreas de conservação mais importantes da capital paraense.
O uiraçu é uma espécie rara, mais difícil de ser avistada do que o gavião-real (Harpia harpyja), com o qual compartilha diversas características. Considerada uma das maiores aves de rapina das Américas, o uiraçu pode medir entre 81 e 91 centímetros de comprimento, com as fêmeas geralmente maiores e mais robustas que os machos. Uma de suas características marcantes é o penacho escuro na cabeça, com uma única pena negra mais longa, que o diferencia do gavião-real, que possui duas penas no penacho.
De acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o uiraçu é classificado como “quase ameaçado”. No Brasil, a situação é ainda mais crítica em alguns estados da Mata Atlântica, onde a espécie é severamente ameaçada ou até mesmo considerada extinta regionalmente, como no caso do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A raridade desse avistamento no Parque Estadual do Utinga ressalta a importância da conservação das áreas verdes remanescentes em grandes centros urbanos.
Relevância
O gerente da Região Administrativa de Belém, Júlio Meyer, destacou a importância do registro para a conservação da biodiversidade na região.
“O avistamento do uiraçu no Parque Estadual do Utinga é um sinal claro de que nossos esforços para proteger e conservar este ecossistema estão dando frutos. Esse registro reforça a necessidade de continuarmos a trabalhar para garantir que espécies raras e ameaçadas, como o uiraçu, possam encontrar refúgio seguro em áreas protegidas como o Utinga”, afirmou.
Foto: Gustavo Melo/IdeflorBio
O uiraçu é encontrado em florestas conservadas ou com pouca alteração, tanto em florestas primárias quanto secundárias. Prefere viver sozinho ou em pares e é conhecido por passar longos períodos imóvel, oculto em poleiros altos enquanto caça suas presas. Sua ampla distribuição geográfica abrange desde o México até o nordeste da Argentina, com ocorrência registrada em vários países da América Central e do Sul.
No Brasil, a espécie é mais comum na Amazônia, mas também pode ser encontrada em biomas como o Cerrado e a Mata Atlântica. No Cerrado, há registros em pontos do Centro e Sudeste, incluindo Minas Gerais. Já na Mata Atlântica, sua presença é mais notável no sul da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, embora em algumas dessas áreas a espécie esteja sob risco extremo de extinção.
Refúgio
O Parque Estadual do Utinga, uma das 28 Unidades de Conservação (UCs) do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), com sua rica biodiversidade e importância ecológica, tem se consolidado como um refúgio para diversas espécies de fauna e flora da região amazônica. O avistamento do uiraçu neste local reflete a qualidade do ambiente preservado e a relevância do parque como área de conservação.
Vale lembrar que em maio deste ano, o Ideflor-Bio, por meio da Gerência da Região Administrativa de Belém (GRB), promoveu um evento que culminou na criação do Clube de Observação de Aves do Pará (Coapa). A iniciativa é aberta à participação de todas as pessoas interessadas em observação de aves.
Para Gustavo Melo, professor da UFPA, que também é atual vice-presidente do Coapa e fotógrafo que registrou o momento, o encontro com o uiraçu foi emocionante e inesperado.
“Estava acompanhando a movimentação no lago Bolonha quando avistei a ave sobrevoando a área. Consegui capturar algumas imagens antes que ela desaparecesse sobre a copa das árvores. Foi uma experiência única, saber que registrei uma espécie tão rara e significativa”, comentou.
Avistamentos como este não só contribuem para o conhecimento científico, mas também inspiram o público a valorizar e preservar a rica biodiversidade da região. O Ideflor-Bio enfatiza que o registro do uiraçu no Parque Estadual do Utinga deve servir como um lembrete da importância de proteger os habitats naturais e reforçar as políticas de conservação.
Encoberta por fumaça desde o início da semana, a cidade de Porto Velho registrou, no final da manhã desta quinta-feira (29), uma concentração de material particulado de 621 microgramas por metro cúbico (µg/m3), apontou a plataforma que mede o Índice de Qualidade do Ar em tempo real, da fundação suíça IQAir.
A medição indicou um nível de poluição muito acima do padrão de qualidade do ar estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como seguro à população, que admite a presença de material particulado em até 45 microgramas por metro cúbico (µg/m3).
Pela classificação da Fundação IQAir, a cidade registra atualmente o nível perigoso, o mais grave em uma escala de seis, no qual há indicação de evitar atividade física ao ar livre, fechar portas e janelas para manter a poluição fora dos ambientes internos e usar máscara em áreas de maior exposição.
Foto: Tiago Frota/Rede Amazônica
Com 5,88 mil focos de incêndio registrados de 1° de janeiro até o dia 29 de agosto, segundo o programa BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado teve nesses meses mais do que o dobro dos 2,4 mil focos registrados no mesmo período de 2023.
O governo de Rondônia declarou no início desta semana situação de emergência por incêndios florestais. Também foi decretada a proibição do uso do fogo em todo o estado por um período de 90 dias.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da prefeitura de Porto Velho e do governo do estado de Rondônia em busca de informações sobre medidas de proteção à saúde da população. A prefeitura informou que a secretária municipal de Saúde, Eliana Pasini, não tinha disponibilidade na agenda, e o governo do estado reforçou as medidas adotadas para o enfrentamento às queimadas da região.
O atual período de estiagem na Amazônia será o mais severo em 20 anos. A região enfrenta condições climáticas extremas, aumentando a frequência e a intensidade dos focos de incêndio. Diante do cenário, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional, aprovou o repasse de R$ 11,7 milhões para a região até o momento.
O recurso será destinado para ações de defesa civil nos estados do Amazonas e Roraima. O MIDR também reconheceu a situação de emergência em 53 municípios do Acre, Amazonas, Roraima e Rondônia e aprovou oito planos de trabalho.
O ministro Waldez Góes falou sobre as ações de enfrentamento ao desastre do Governo Federal. “Desde o primeiro momento, o governo Lula está mobilizado. Assim que montamos uma sala de situação para debater e resolver o problema do Pantanal, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudanças do Clima), sob o comando do ministro Rui Costa, está analisando todas as questões referentes à Amazônia. Está prevista para a próxima semana uma reunião com os governadores dos estados que passam pelo problema”, disse o ministro, ressaltando o esforço do MIDR.
“Reconhecemos várias situações de emergência e liberamos recursos para ajuda humanitária em alguns municípios”, completou.
Waldez Góes também lamentou o cenário atual da Amazônia.
“Nós temos um ano muito desafiador por causa das mudanças climáticas. Em 2023, passamos por uma estiagem muito forte na Amazônia. Eu sou amazônida e nunca vi coisa igual ao longo da minha vida. No Pantanal, por exemplo, a seca e as queimadas, que costumavam acontecer em agosto, começaram no fim de maio, ou seja, dois meses antes. Vai ser mais prolongada a estiagem”, afirmou o ministro.
Ações do Governo Federal na Amazônia
Até o momento, foram liberados R$ 405 milhões do Fundo Amazônia para apoiar o Corpo de Bombeiros dos estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso). Além disso, R$ 785 milhões do programa União com Municípios foram destinados para ações de combate ao desmatamento e incêndios em 70 municípios prioritários.
Em julho deste ano, o presidente Lula sancionou projeto de lei que regulamenta o manejo integrado do fogo no país. O projeto proíbe o uso do fogo para desmatamento da vegetação nativa, exceto para queima controlada, permite o uso do fogo em práticas agropecuárias apenas em situações específicas, com responsabilização dos proprietários em caso de incêndios, estimula a criação, capacitação e fortalecimento de brigadas voluntárias e privadas e fortalece o Corpo de Bombeiros e brigadas federais, estaduais e municipais.
Em junho, no Dia Mundial do Meio Ambiente, Lula também assinou um pacto com governadores do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas, Maranhão, Tocantins, Acre, Amapá, Roraima e Rondônia. O pacto busca reforçar a ação coordenada para prevenção, controle e manejo do fogo e inclui a suspensão de autorizações de queima até o fim do período seco e durante épocas com previsão de ondas de calor.
“Estamos realizando ações como a dragagem nos rios (processo de limpeza, desobstrução e remoção de material do fundo de grandes reservatórios de água), além de medidas de emergência adotadas, também, pelo Ministério de Minas e Energia em comunidades isoladas, no combate a incêndios”, concluiu o ministro Waldez Góes.
Como solicitar recursos
Cidades com o reconhecimento federal de situação de emergência ou de estado de calamidade pública podem solicitar ao MIDR recursos para ações de defesa civil. A solicitação deve ser feita por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD).
Com base nas informações enviadas nos planos de trabalho, a equipe técnica da Defesa Civil Nacional avalia as metas e os valores solicitados. Com a aprovação, é publicada portaria no Diário Oficial da União (DOU) com o valor a ser liberado.
Capacitações da Defesa Civil Nacional
A Defesa Civil Nacional oferece uma série de cursos a distância para habilitar e qualificar agentes municipais e estaduais para o uso do S2iD.
As capacitações têm como foco os agentes de proteção e defesa civil nas três esferas de governo. Confira neste AQUI a lista completa dos cursos.