Júlia Bonitese foi convidada oficialmente a participar da COP30. Foto: Divulgação
A estudante mineira Júlia Bonitese, de apenas 13 anos, foi convidada oficialmente a participar da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém (PA). Júlia participará do painel “Diálogo Intergeracional de Alto Nível sobre Crianças e Clima”, dia 17 de novembro, dentro da Zona Azul, área reservada a embaixadores, autoridades e líderes globais — o que faz de sua presença um marco histórico para a representatividade infantojuvenil brasileira no debate climático internacional.
Fundadora do projeto Pequenos Protetores do Planeta, Júlia atua desde os 8 anos como ativista ambiental e defensora dos direitos de crianças e adolescentes na agenda climática. É Embaixadora da Justiça Climática pela Plant-for-the-Planet Brasil, consultora da organização internacional Child Rights Connect, ligada à ONU, e membro da Rede Primeira Infância de Minas Gerais.
Júlia Bonitese, Rodrigo Ravena (Secretário do Meio Ambiente da cidade de São Paulo), Katrin Stjernfeldt Jammeh (prefeita de Malmö, na Suécia) e Gino Van Begin (Secretário-Geral do ICLEI). Foto: Divulgação
Projeto
Em seu projeto, ela promove ações presenciais de educação ambiental, como palestras, plantios e campanhas, além de conduzir o programa “Papo Natural”, em que entrevista especialistas no YouTube sobre temas como preservação, sustentabilidade e participação cidadã. Júlia também é presença constante em fóruns e câmaras legislativas, defendendo o direito de voz das crianças. Dentre essas participações, atuou na elaboração e apresentação da “Declaração das Juventudes de Belo Horizonte pelo Clima” na Câmara Municipal, junto à LCOY, e compôs a mesa de debates no evento nacional “Crianças e Jovens Rumo à COP30”, em Brasília.
Reconhecida como uma das principais vozes da juventude ambiental no país, Júlia já recebeu dois prêmios nacionais e um internacional: foi a primeira criança agraciada com o Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade, o mais importante do Brasil na área, e recebeu o título de Embaixadora Regional da América Latina e Caribe pela Plant-for-the-Planet Global. Em 2024, representou o Brasil no ICLEI World Congress, onde encerrou o evento diante de centenas de líderes políticos mundiais.
Júlia Bonitese recebe o prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade. Foto: Divulgação
Na COP30
Na COP30, Júlia apresentará uma fala voltada à educação ambiental, à redução das desigualdades e à responsabilidade compartilhada entre governos, empresas e cidadãos. Sua mensagem principal destaca o protagonismo das crianças e jovens como agentes de mudança, não apenas vítimas da crise climática.
“Meu sonho é que as decisões sobre o clima também considerem a voz das crianças. Somos nós que viveremos as consequências do que está sendo decidido agora”, diz Júlia.
A escola tem papel central na rotina e na visão de mundo de Júlia que, além de se dedicar prioritariamente aos estudos, vê na educação ambiental parte essencial da formação de crianças e adolescentes. Para ela, é por meio da escola que o conhecimento se transforma em consciência e ação. Ao conciliar os estudos com projetos e eventos socioambientais, demonstra que aprender e agir podem caminhar juntos, sem abrir mão das experiências próprias da infância.
Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP-30. Foto: Divulgação
Mesmo reconhecida por sua atuação em projetos e eventos de relevância global, Júlia diz que o projeto deve ser de muitos, e ressalta que gostaria muito de expandi-lo a mais crianças e jovens e a mais territórios pois, para ela, ampliar o acesso ao conhecimento é o caminho para transformar o mundo.
“É preciso conhecer para desejar proteger — esse é o lema do meu projeto. E por isso eu desejo chegar a mais e mais crianças e jovens a cada dia, para que eles tenham a chance de conhecer os problemas climáticos e se identificarem como solução. Juntos somos força!”, afirma.
Com atividades desenvolvidas de forma independente e sem apoio corporativo, Júlia sente por não conseguir expandir suas ações presenciais e também o programa Papo Natural. “Tudo tem um custo e nem sempre dá pra fazer tudo o que eu planejo. O Papo Natural está parado por causa dos gastos com estúdio e edição, mas o projeto tem muito potencial. Nele eu dou voz a outras crianças e levo conhecimento sem fronteiras. É só entrar no YouTube”, explica.
Maior e mais tradicional feira agropecuária do Norte do Brasil, a Exposição-feira Agropecuária de Roraima (Expoferr Show 2025), encerrou sua 44ª edição no dia 8 de novembro superando as expectativas para este ano. O evento foi realizado no Parque de Exposições Dandãezinho, localizado na BR-174 sentido Norte, na zona rural de Boa Vista.
E esta edição, pela primeira vez, foi realizada pelo Governo de Roraima com recursos do Governo Federal, repassados pelo Ministério do Turismo.
O governador Antonio Denarium reiterou o sucesso absoluto do evento e agradeceu o público que compareceu ao evento: “Nada disso teria acontecido sem o carinho de cada um de vocês. A todos que vieram prestigiar a Expoferr Show 2025, o meu mais sincero obrigado”.
Veja como foi a Expoferr Show 2025 em números:
Visitantes
Segundo dados do Governo de Roraima, foram mais de 630 mil visitantes, número acima do previsto até então, de meio milhão de pessoas. Os dados são referentes aos cinco dias de evento, consolidando-se como a maior edição da história.
Segundo estimativas da Polícia Militar de Roraima (PMRR), somente no último dia (8), cerca de 190 mil pessoas prestigiaram os dois últimos shows nacionais, de Zé Felipe e Pablo.
Foto: Fernando Oliveira/Secom RR
Economia
Considerada a maior vitrine do agronegócio da região Norte, a Expoferr Show 2025 contou com a presença de 302 empresas expositoras dos mais variados segmentos, especialmente de companhias que atuam diretamente na agropecuária.
A economia popular de Roraima também foi de muita movimentação. Segundo os dados do Governo, cerca de 5 mil pessoas entre ambulantes, vendedores, catadores de latinha e prestadores de serviços atuaram de forma direta ou indireta nos cinco dias da feira, numa expectativa R$ 1 bilhão em volume de negócios gerados.
Foto: Fernando Oliveira/Secom RR
Leilões
O balanço dos leilões de animais de Roraima realizados na Arena do Leilão, foi considerado positivo pelos organizadores. As negociações movimentaram mais de R$ 5 milhões, valor considerado expressivo pelos criadores, investidores e compradores que participaram dos eventos. Foram comercializads de mais de 200 animais, entre matrizes, reprodutores e embriões.
Foto: Neto Figueredo/Secom RR
Programação musical
Por falar em shows, oito artistas nacionais movimentaram a Arena do Rodeio: Taty Girl, Murilo Huff, Natanzinho Lima, banda Forró Anjo Azul, Manu Bahtidão, João Gomes, Zé Felipe e Pablo.
No último dia, o primeiro artista a subir no palco foi o goiano Zé Felipe, com muito sertanejo. Filho do também sertanejo Leonardo, o cantor se apresentou pela primeira vez em Roraima com um repertório cheio de sucessos. “Mando um beijo pra todo mundo, pois fiquei sabendo que estava lotado e hoje fizemos uma noite muito especial. Obrigado pela recepção e tenho certeza que eu e o Pablo fizemos uma noite linda”, declarou.
Foto: Artur Mucajá/Secom RR
Encerrando a programação de artistas nacionais da Expoferr Show 2025, o baiano Pablo estreou no evento com muita emoção e alegria com os sucessos que marcam os mais de 20 anos de carreira. “O Rei da Sofrência”, como é conhecido, agradeceu o carinho que recebeu do público roraimense em sua segunda passagem pelo Estado.
“A galera de Roraima sempre me recebeu com muito carinho. Estou muito feliz pois, todas as vezes que eu me apresento aqui, a galera tem uma energia e um calor surreal. Foi um show pra gente guardar na memória e no coração. Isso que a gente sabe fazer: levar muita música aos corações”, ressaltou.
Além disso, a programação contou com a apresentação de 36 artistas locais, distribuídos entre a Arena do Rodeio e o Espaço da Cultura Local.
Foto: Artur Mucajá/Secom RR
Gastronomia
A Arena da Alimentação foi um dos espaços mais visitados da feira, reunindo mais de 20 boxes gastronômicos com lanches, petiscos, caldos, sanduíches e sucos naturais.
A Expoferrr Show 2025 contou com a degustação de iguarias da gastronomia roraimense, com a terceira edição da distribuição de damurida, produzida por mulheres indígenas. Foram distribuídas 600 porções, uma centena a mais que 2024.
Foto: Artur Mucajá/Secom RR
E, pela primeira vez, os visitantes tiveram a oportunidade de saborear um peixe defumado na Rota do Agro, no Pavilhão da Agricultura Familiar. Cerca de 15 kg de peixes defumados – pacu e surubim – foram oferecidos para degustação dos visitantes. A iniciativa foi do Centro de Ciência Agrária da Universidade Federal de Roraima (UFRR) em parceria com o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Iater).
Além das exposições e das atividades agropecuárias, a Expoferr Show 2025 ofereceu espaços voltados ao público infantil, apresentações culturais, competições esportivas
Foto: Divulgação/Secom RR
Premiações
O Governo de Roraima, em parceria com o Sebrae-RR e a Federação da Agricultura e Pecuária de Roraima (Faerr/Senar), realizou a entrega do 1º Prêmio AgroInventor de Roraima, iniciativa que reconhece projetos de inovação e tecnologia voltados ao agronegócio e à agricultura familiar.
A premiação, que teve como objetivo incentivar a criatividade e o desenvolvimento de soluções que facilitem o trabalho no campo e aumentem a produtividade, selecionou cinco projetos. Os três primeiros colocados receberam prêmios em dinheiro, totalizando R$ 10 mil, com valores de R$ 5 mil (1º lugar), R$ 3 mil (2º lugar) e R$ 2 mil (3º lugar).
Foto: William Roth/Secom RR
O 1º lugar ficou com Francisco Edivan, criador de uma máquina para debulhar feijão verde, equipamento que promete agilizar o processo de colheita, ainda feito de forma manual.
O 2º lugar foi conquistado pela startup Agramas de Desenvolvimento e Tecnologia, representada pelo CEO Carlos Coutinho, que desenvolveu um equipamento para colher açaí diretamente do pé, eliminando a necessidade do produtor subir nas árvores.
Já o 3º lugar ficou com a estudante de Agronomia Ana Ferreira, autora do projeto Biomissomos, que propõe o uso de ovos de crisopídeos no controle biológico de pragas no feijão-caupi.
Foto: William Roth/Secom RR
Fortalecimento rural
O Governo de Roraima realizou uma série de entregas voltadas ao fortalecimento da agricultura familiar dentro da Rota do Agro. O conjunto de ações incluiu 60 casas de farinha, três barcos, um trator e a liberação de R$ 1 milhão em crédito rural para 52 produtores, reforçando o apoio do Estado à produção rural e indígena.
Os equipamentos e recursos foram entregues em uma ação integrada entre o Iater, a Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e a Agência Desenvolve Roraima, com o objetivo de valorizar o trabalho dos produtores e impulsionar a geração de renda no campo.
Também foram entregues cinco barcos, 110 kits de irrigação uma beneficiadora de arroz e um veículo Saveiro destinado à Associação dos Produtores Rurais de Entre Rios (Aprubers).
Foto: Neto Figueredo/Secom RR
Competições esportivas
Pelo menos 30 peões de Roraima e de outros estados do Brasil se inscreveram na competição de Rodeio, que distribuiu R$ 33 mil em premiações. Além disso, provas como a de três tambores e a paratambor reuniram competidores que impressionaram o público.
As provas infantis chamaram a atenção e também a categoria paratambor, que celebra a inclusão e é voltada a competidores com deficiência. As provas de laço e o rodeio também conquistaram os visitantes e o peão Natanal Zuqueto conquistou o título de campeão e a fivela de ouro da Expoferr Show 2025.
Outra prova que reuniu o público mesmo com o calor típico da Amazônia foi a corrida de cavalos:
Foto: Willame Sousa
Entretenimento
A Expoferr Show 2025 teve atrações que unem conhecimento, oportunidades e experiências únicas para o público visitante. Entre elas, o Circuito Rota do Agro, um percurso interativo que mostrou a produção rural roraimense, e o Pavilhão Internacional, que apresentou produtos e tecnologias de outros países.
Foto: Willame Sousa
Na Rota do Agro foi projetada uma imersão no caminho do agronegócio roraimense, desde o plantio até o consumo final. Outro destaque foi a Fazendinha, onde era possível ver de perto bovinos, porcos e equinos, despertando a curiosidade de crianças e adultos.
Já no Pavilhão Internacional, instalado em parceria com o Sebrae Roraima, o destaque é a troca entre empresários, instituições e representantes de diferentes países. O espaço contou com a presença da delegação da Guiana, com o objetivo de ampliar as conexões comerciais e culturais.
Foto: Artur Mucajá/Secom RR
Segurança e saúde
Nos cinco dias do evento, 600 agentes de segurança pública atuaram de forma conjunta e integrada entre a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros, a Secretaria de Segurança Pública e os órgãos de fiscalização. O Detran-RR (Departamento de Trânsito de Roraima), em parceria com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), atuou no ordenamento do trânsito, bloqueios e rotas de acesso ao parque.
“Tivemos zero ocorrências graves. Apenas alguns desentendimentos pontuais, que foram rapidamente contidos pelas nossas guarnições. Foi uma feira totalmente segura, com vigilância em todo o parque e também no entorno, com mais de 500 agentes atuando em prol da população”, afirmou a secretária.
Foto: Artur Mucajá/Secom RR
A Secretaria de Saúde (Sesau) também esteve presente no Parque de Exposições Dandãezinho com atendimento médico, ações de prevenção e serviços de vigilância em saúde. No Posto de Atendimento Médico, a equipe composta por médico, enfermeiro e técnico, com ambulância disponível para urgências e emergências, realizou mais de 70 atendimentos de urgência e 15 atendimentos de emergência com remoção, sendo que 50% dos casos estavam relacionados a dores e mal-estar.
Além do atendimento médico, a Sesau também ampliou o acesso as ações de prevenção e vigilância em saúde. Foram distribuídos 5.882 preservativos externos, 868 preservativos internos, 1.760 unidades de gel lubrificante, 265 autotestes de HIV por fluido oral e 56 autotestes por punção digital.
As equipes realizaram 93 testagens rápidas, sendo 23 para HIV, 23 para sífilis, 24 para hepatite B e 23 para hepatite C.
As ações de vigilância sanitária também fiscalizaram barracas de alimentação e orientaram comerciantes sobre práticas seguras de manipulação de alimentos. Já a vigilância ambiental distribuiu hipoclorito para tratamento de água, reforçando o cuidado com a saúde coletiva.
Foto: Divulgação/Sesau RR
Juventude na Expoferr
A Fundação Rede Amazônica (FRAM), por meio do projeto ‘Expofeira na Rede’, promoveu a iniciativa ‘Juventude na Expoferr’ com o objetivo de aproximar e estimular o interesse dos estudantes da rede pública estadual no universo econômico, social e cultural do Estado, além de proporcionar uma visão empreendedora para as diversas oportunidades apresentadas durante a Expoferr.
Em parceria com a Secretaria de Educação e Desporto de Roraima (SEED-RR), a ‘Juventude na Expoferr’ foi realizada durante toda a semana sempre das 13h30 às 17h, reunindo cerca de 240 alunos.
Foto: Willame Sousa
Expofeira na Rede
O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.
Região que se estende por oito países além do Brasil e com características sociais, econômicas e geográficas bastante peculiares, a Amazônia tem se tornado uma nova fronteira para a atuação de grupos criminosos.
Para entender melhor essa região e os diferentes tipos de crimes cometidos nela, o USP Analisa conversou com o professor e pesquisador do Núcleo de Estudos Amazônicos da Universidade de Brasília, Franco Perazzoni, e com o perito criminal federal Herbert Dittmar.
Crimes florestais
Eles explicam que os principais crimes na Amazônia basicamente são:
desmatamento ilegal,
garimpo ilegal
e grilagem de terras.
Porém, não é uma prática recente. Suas raízes estão na própria colonização do Brasil por Portugal e houve uma intensificação de algumas das práticas durante o governo militar, graças ao projeto de ocupação da região e à criação da Rodovia Transamazônica, na década de 1970.
“O governo militar praticamente jogou um pessoal da região Sul lá, sem apoio nenhum. Eu conheci alguns deles morando no Sul do Amazonas que disseram ter recebido um lote de cem hectares nessa época, mas não tiveram ajuda para se estabelecer. Muitas famílias precisaram se ajudar, e várias foram embora. Se hoje já é difícil, imagina naquela época, sem estrada, sem apoio, sem hospital, sem nada. E depois chega o Estado no início deste século e diz que desmatamento é crime. Aí o pessoal se revoltou: ‘Que história é essa? Nós viemos aqui, vocês disseram que era para desmatar e agora estão dizendo que é crime?’”, conta Dittmar.
Amazônia também se estende à estados como Mato Grosso, que também sofre com o desmatamento. Foto: Mayke Toscano/ Gcom-MT
Lucratividade ilegal
Além disso, segundo Perazzoni, nos últimos anos, a madeira se transformou em uma espécie de commodity da Amazônia.
“Nos últimos 20 anos, há o esgotamento de reservas de madeira em outros lugares do mundo. A nossa madeira é muito boa, mas é vendida a preço de banana. A gente vende o nosso ipê mais barato do que o pinus norte-americano. Por quê? Porque ele existe em boa quantidade. A gente começa de algo que sobrava da ocupação da terra para produção, para passar a ser uma commodity”, explica.
A alta lucratividade e a baixa punibilidade associadas ao garimpo ilegal também ampliaram o interesse de grupos criminosos pelo ouro nessa região.
“Por exemplo, legalmente, se eu não me engano, Roraima não produz uma grama de ouro. Você não tem permissão de lavra garimpeira lá, é tudo legalizado em outros lugares. É uma região que tem um dos índices de desenvolvimento humano mais baixo do Brasil. As comunidades tradicionais, às vezes, estão em cima de uma mina de dinheiro. Então você tem esse assédio do crime organizado, você tem alta lucratividade e baixa punibilidade de vários desses crimes”, diz.
“Eu sempre brinco, se o traficante pega uma avioneta e pode trazer uma tonelada de ouro e uma tonelada de droga, o que é melhor? Ouro é mais fácil de legalizar, a pena é muito menor, dá muito mais lucro e pesa a mesma coisa”, completa Perazzoni.
Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
O Brasil espera chegar a um acordo para materializar os compromissos de COPs anteriores, especialmente em relação ao Acordo de Paris, assinado durante a 21ª Conferência das Partes (COP21), de 2015, com o objetivo central de fortalecer resposta global à ameaça da mudança do clima e de reforçar a capacidade dos países para lidar com os impactos decorrentes dessas mudanças. O Acordo de Paris, aprovado pelos 195 países signatários, “estabelece como compromisso que os países desenvolvidos deverão investir 100 bilhões de dólares por ano em medidas de combate à mudança do clima e adaptação, tendo como beneficiários países em desenvolvimento, visando a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE)”.
Avanço não é reconhecido pelo presidente norte-americano, Donald Trump. Em discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, ele classificou as mudanças climáticas como “a maior farsa já perpetrada contra o mundo”. Também prometeu ampliar a exploração de petróleo e gás e reverter iniciativas ambientais adotadas por antecessores. Desta forma, tem sido cada vez mais difícil chegar a consenso sobre negociações referentes a questões ambientais em 2025, dentre estas o tratado global sobre plásticos, fracassado pela segunda vez em agosto. Em outubro, outro acordo alusivo à redução das emissões globais do setor de transporte marítimo foi adiado após pressão dos EUA e outros países.
Alguns observadores têm defendido conquistas, embora a “insuspeita” ativista Greta Thunberg venha acusando COPs anteriores de “falta de ação real” e “greenwashing” ou “maquiagem verde”. Na verdade, uma estratégia de marketing enganosa adotada por poderosos conglomerados como ambientalmente responsáveis, sem, contudo, albergar práticas sustentáveis que efetivamente correspondam à imagem que alegam assumir, mesmo não tendo de fato realizado as mudanças comprometidas. A despeito dessas incoerências, durante a COP29, em Baku, Azerbaijão, a meta dos 100 bilhões de dólares anuais do Acordo de Paris foi superada.
No fechamento dos acordos, nações mais ricas se comprometeram a repassar a países em desenvolvimento cerca de US$ 300 bilhões por ano até 2035 para ajudá-los a enfrentar as mudanças climáticas (promessas não cumpridas do Acordo de Paris, de 2015). Face à demora dos países desenvolvidos em atender seus compromissos financeiros assumidos em COPs anteriores, permanecem dúvidas se mais esta promessa (US$ 300 bilhões) seria factível, ou não passaria de mais um sonho de uma noite de verão. Em Belém do Pará, o Brasil lançou, na quinta-feira, 7, no primeiro dia da Cúpula de Líderes da COP30, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês).
O TFFF refere-se a um fundo de investimentos a ser gerido pelo Banco Mundial e composto por governos nacionais e entes privados, num total previsto de US$ 125 bilhões, sendo US$ 25 bilhões de governos nacionais e outros US$ 100 bilhões do setor privado, como empresas e entidades filantrópicas. Anunciado pelo governo federal na COP28, em Dubai, o TFFF foi construído em parceria com Colômbia, Indonésia, Malásia, Gana e República Democrática do Congo, os países com maior área de florestas tropicais no mundo.
O Brasil anunciou que deverá fazer um aporte inicial de US$ 1 bilhão, sem explicar de onde proviriam esses recursos dada a grave crise das contas públicas nacionais. Segundo fonte ouvida pela Bloomberg Linea, o Reino Unido não investirá no presumível fundo, mesmo que se destine à proteção das florestas globais. Sem a Grâ Bretanha, salienta, “será cada vez mais difícil para o Brasil alcançar sua meta de captar pelo menos US$10 bilhões para o TFFF na COP30”. Do que se depreende que COPs vêm se resumindo em criar aleatoriamente fundos sobre fundos, sempre de resultados duvidosos. Nesse meio tempo a Amazônia continua à espera de Godot enquanto nossos problemas ambientais, econômicos e sociais se avolumam.
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
Na Truaru da Cabeceira são 24 famílias beneficiadas. Foto: Fernando Teixeira/PMBV
A comunidade indígena Truaru da Cabeceira recebeu alevinos nesta semana, por meio do projeto de piscicultura Moro-Morí. A iniciativa da prefeitura contempla a escavação dos tanques, disponibilizando equipamentos para tratamento e controle da qualidade da água, biometria dos peixes e ração durante todo o ciclo até a despesca, oferecendo condições para que os integrantes deem continuidade à produção.
Todas as 17 comunidades indígenas serão atendidas, sendo 13 na região do Baixo São Marcos e 4 na região do Murupu. Na Truaru da Cabeceira são 24 famílias beneficiadas, que recebem capacitação e assistência técnica para compreender as tabelas de alimentação, horários e quantidade de ração, além de análise das condições da água e verificação contínua do crescimento dos peixes.
“O diferencial está na participação direta das comunidades”, explicou o técnico da SMAAI, Ariosto Aparecido. Foto: Fernando Teixeira/PMBV
O projeto é executado pela Secretaria Municipal de Agricultura e Assuntos Indígenas (SMAAI). A escavação é feita durante o verão, que é o momento ideal para a preparação dos tanques, garantindo que eles estejam bem estruturados e futuramente, na época do inverno, retenham a água.
Segundo o técnico da SMAAI responsável pelas comunidades indígenas, Ariosto Aparecido, a prefeitura fornece os produtos necessários e equipamentos de manejo para a criação dos peixes.
“O diferencial está na participação direta das comunidades. Fornecemos a ração e os alevinos, promovendo aprendizado e autonomia aos participantes. O objetivo final é que, com o conhecimento adquirido, ampliem a produção e melhorem o acesso ao peixe, especialmente em locais mais distantes dos rios”, disse.
Podemos vender e reinvestir na produção, se tornando uma corrente positiva”, enfatizou Jucinei de Souza. Foto: Fernando Teixeira/PMBV
Jucinei de Souza é o responsável pelo projeto de piscicultura na comunidade Truaru da Cabeceira, além dos projetos de grãos e energia fotovoltaica. Segundo ele, a iniciativa facilita a autossustentabilidade econômica das famílias.
“A gente não tem rio próximo para pescar e o projeto de piscicultura feito pela prefeitura só tem trazido benefícios. Agradecemos muito, porque isso melhora nosso dia a dia. Podemos fazer peixe cozido, frito, assado e até a damorida, que é uma comida tradicional nossa. Ainda podemos vender e reinvestir na produção, se tornando uma corrente positiva”, enfatizou.
Petronilia Ângelo de 66 anos é uma das beneficiadas e destaca a relevância do Moro-Morí para ela e a família. “É muito importante para mim e para toda comunidade. Não temos onde pescar, pois nosso terreno é bem pequeno. Então, um projeto desses é maravilhoso. A gente agradece a prefeitura por essa oportunidade”, comentou.
Petronilia Ângelo diz que a iniciativa é muito importante para a comunidade. Foto: Fernando Teixeira/PMBV
Moro Morí
O nome significa “peixe bom”, em macuxi. A prefeitura trabalha o projeto desde a escavação do tanque de engorda (de 20 x 150 m) em cada comunidade indígena atendida pelo município, com fornecimento, além dos alevinos, também de equipamentos como rede de arrasto, balança, kit reagente, conjunto motor-bomba e ração.
Cinco comunidades já fizeram a primeira despesca, retirando cerca de 2 toneladas de peixe em cada tanque. Quando todas as comunidades forem atendidas com o projeto, estima-se produção de 40 toneladas de tambaqui a cada dez meses, melhorando a qualidade nutricional da alimentação e o incremento da renda das famílias envolvidas neste projeto.
Experiências para fazer em Belém durante a COP30. Foto: Alexandre Costa/Alepa
Belém (PA) está no centro das atenções mundiais. Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), são esperados mais de 40 mil visitantes na cidade e, com isso, surge a necessidade de opções que permitam conhecer a região de forma autêntica, prática e protagonizada por lideranças locais, aproximando os participantes da Conferência à realidade da sociobioeconomia amazônica.
Ao todo, 11 “Rotas da Bioeconomia” foram lançadas no fim de outubro, em um evento no Complexo Porto Futuro, em Belém, que reuniu autoridades governamentais, integrantes da Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia (ASSOBIO), empreendedores locais e empresários do trade turístico.
Entre as opções, os visitantes podem conhecer cadeias produtivas da sociobioeconomia das empresas Manioca, Da Cruz, Meu Garoto, Blaus, Da Tribu, Filha do Cumbu, Uruçun, AMZ Tropical, Cacauaré e Jucarepa, todas ligadas à ASSOBIO.
Em novembro, serão mais de 450 saídas, em roteiros com duração de 1 a 7 horas e em diferentes horários, dependendo do local e da experiência. Todas as imersões serão realizadas junto aos negócios locais e que possuem, em média, 23 vagas por saída, com o investimento que varia de R$ 50 a R$ 560 por pessoa.
Rotas da Bioeconomia foram lançadas no fim de outubro para os visitantes durante a COP30. Foto: Divulgação/Vivalá/Jucarepa
“Mostrar a sociobioeconomia da região Norte é valorizar o que a Amazônia tem de mais precioso: as pessoas, os saberes e os sabores da floresta. Cada produto conta uma história de sustentabilidade, cultura e vida. As rotas são essenciais porque movimentam a economia local e mantêm o valor dentro da região. Elas fortalecem produtores, criam oportunidades e fazem a floresta girar de forma sustentável”, afirma Mauro Valério, diretor da Blaus, uma sorveteria que faz parte dos roteiros.
As experiências foram criadas especialmente para o mês de novembro e para serem opções durante o evento, entretanto, ficarão como parte do legado pós-COP, sendo disponibilizadas nos próximos anos.
A construção do programa foi realizada pela Vivalá – Turismo Sustentável no Brasil em parceria com Cooperação Alemã, KFW, Governo do Estado do Pará, Fundação de Ação Social (FAS) e Associação dos Negócios de Sociobioeconomia da Amazônia (ASSOBIO).
Há roteiros diversos e acessíveis. Foto: Divulgação/Vivalá/DaTribu
“Ser escolhido pela Assobio e Governo do Estado do Pará para produzir este programa foi uma grande honra para a gente e está diretamente ligada à nossa missão de aproximar as pessoas de experiências reais, conectando, na COP30, tomadores de decisão com a realidade do dia a dia da Amazônia. Reserve sua vaga e conheça de perto a força da bioeconomia!”, destaca Daniel Cabrebra, cofundador e diretor-executivo da Vivalá.
Os roteiros
Há roteiros diversos e acessíveis, para diferentes disponibilidades de agenda e de bolso, como:
“Entre tradição e inovação na rota da bioeconomia”, uma rota desenvolvida junto à Assobio e que é um convite para vivenciar a Amazônia com calma, escuta e sensibilidade;
“Raízes do Cumaru: a baunilha da Amazônia, da muda à mesa”, que mostra aos viajantes a importância do cumaru para a floresta;
e “Alquimia Amazônica: a origem da cachaça com jambu”, um passeio pela plantação de jambu e a cachaçaria Meu Garoto.
A expectativa é que todos os roteiros sigam em funcionamento após a COP30. Foto: Divulgação/Vivalá/Manioca
“Entendemos que fazer visitas nos negócios é uma forma de aproximar e potencializar o público, seja consumindo produtos da sociobioeconomia, mas também fazendo vivências muito mais próximas da realidade, com as comunidades e nos negócios, vendo o impacto. É uma realidade aproximar o que está por trás, quem faz, a complexidade e o valor que a Amazônia tem. Com certeza as rotas são mais reais e mais profundas, porque tem a gente pertinho ali”, complementa Tainah Fagundes, conselheira da Assobio e uma das lideranças do projeto.
As experiências contam com muita história, cultura, degustações e interações, além de sempre terem um anfitrião junto e, na maioria das vezes, os próprios fundadores dos negócios locais. O investimento para participar vai de R$ 50 a R$ 560, com opções de parcelamento. Há opções de grupos abertos ou experiências privativas para empresas e delegações governamentais.
A expectativa é que todos os roteiros sigam em funcionamento após a conferência. “Manter as rotas após a COP30 é garantir que o legado continue vivo. Esses caminhos fortalecem a economia local, valorizam quem produz na floresta e mostram que o desenvolvimento da Amazônia não é um evento, mas um compromisso permanente”, finaliza Mauro.
Sobre a Vivalá
A Vivalá é referência em programas de impacto socioambiental positivo, atendendo algumas das maiores organizações do país, com agendas de inovação, bioeconomia, tecnologia, cultura tradicional e responsabilidade social, promovendo experiências que buscam ressignificar a relação que as pessoas têm com o Brasil.
Rotas da Bioeconomia foram lançadas no fim de outubro para os visitantes durante a COP30. Divulgação Vivalá/MeuGaroto
Com 16 prêmios e reconhecimentos nacionais e internacionais da Organização Mundial do Turismo, ONU Meio Ambiente, Braztoa, Embratur, Abeta, Fundação do Grupo Boticário, Yunus & Youth, entre tantos outros. A Vivalá tem uma operação 100% carbono neutro e é uma empresa B certificada, tendo a maior nota do setor no Brasil e a 7ª maior no mundo, além de ter injetado mais de R$ 7 milhões em economias locais por meio da compra de serviços de base comunitária.
Sobre a ASSOBIO
A ASSOBIO é uma associação representativa, que reúne 126 pequenos e médios empreendimentos, que visam proteger e promover a sociobiodiversidade da Amazônia, integrando aspectos socioeconômicos e ambientais. Fundada em 2023, é resultado de um ecossistema cada vez mais importante na região e que incentiva uma economia verde, que gera emprego e renda nas cidades amazônicas.
O historiador e pesquisador Roberto Mendonça. Foto: Reprodução/Amazon Sat
Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br
‘Cândido Mariano e Canudos’ é a obra do historiador e pesquisador Roberto Mendonça agora numa segunda edição. Cândido Mariano foi militar, nascido em Algemas, no sul de Minas Gerais no dia 2 de maio de 1870, filho do advogado Cândido José Mariano e da senhora Leopoldinas Gomes Mariano.
Roberto Mendonça, pesquisador festejado, afirma que a obra é o resultado de anos de pesquisa desse nobre comandante do Batalhão Policial Militar do Amazonas que se empenhou na guerra da pequena cidade de Antônio Conselheiro em Canudos, no Sertão da Bahia, ao mesmo tempo em que descreve o deslocamento da nossa tropa até aquela cidade.
O autor é Coronel da Polícia Militar e dedicou parte da sua vida na história da Polícia Militar. Nessa obra recorreu ao arquivo em diversas cidades e capitais brasileiras antes de chegar à Bahia, onde realizou o sonho de pisar nas terras do Conselheiro. Porém, o mérito maior foi ter encontrado com a senhora Lucy no Rio de Janeiro, filha de Cândido Mariano, conseguindo assim, um valioso relato sore a história do Comandante, como bem lembra a vice-Presidente do Conselho Regional de Biblioteconomia senhora Elba Carvalho Mendonça.
“Sabeis, o Comandante que a campanha aos bravos viajantes não é novo nos sofrimentos e nas refregas, seu nome já sagrado nos feitos pela república” (Fileto Pires Ferreira, Governador do Amazonas, ao despedir-se da tropa que partia de Manaus).
Canudos, no Sertão da Bahia. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
A Estação da Calçada do Bonfim visivelmente ordenada e as redondezas da estação ferroviária conservavam-se com céu cheio de nuvens aquele momento histórico. Os acontecimentos e especialmente os personagens da tragédia de Canudos refluem com avassaladora energia na demolição de Belo Monte, consolidado na terça-feira 5 de outubro de 1897.
Os herdeiros de Bom Jesus Conselheiro estão resgatando este singular movimento com a rediscussão dessa saga ocorrido no curto período do quatriênio inaugurado em junho de 1893, ou seja, a partir da implantação daquele arraial liderado por Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido eternamente como Antônio Conselheiro.
Para a Polícia Militar do Estado do Amazonas a data mais significativa da referida campanha é a do retorno de sua tropa, em 8 de novembro daquele mesmo ano. Naquela ocasião O Primeiro Batalhão de Infantaria do Regimento Militar foi saudado com flores e com versos, com discursos inflamados de políticos e literatos no átrio do quartel da Praça da Polícia e das janelas engalanadas dos sobrados, desde o humilde cidadão até as autoridades como o Governador Fileto Pires Ferreira.
Quem é o autor Coronel Roberto Mendonça
Ao ingressar na Polícia Militar do Amazonas (PMAM), em meados de 1966 encontrei, a despeito da escassez de subsídios, o culto a um incensado herói de Canudos Cândido José Mariano. Quase nada se conhecia ou existia publicado a seu respeito, quando em 1972 essa corporação encomendou a um historiador uma síntese histórica.Foram essas primeiras informações biográficas que me impulsionaram a desvendar a origem e o destino deste paladino.
Em frente! Quando servia na Casa Militar do Governo (1983-84), despertou minha curiosidade e impediu-me a desvendar a substância da PMAM uma máquina leitora e copiadora de microfilmes disponível no Palácio Rio Negro. Tardes e tardes inquietei-me diante do visor luminoso a cata de fatos e datas, de nomes e de feitos. As anotações acumularam-se , pois a leitora dispunha de recurso reprodutivo e cópias ampliadas, assim o trabalho de pesquisa tornou-se mais franco e asséptico.
Apesar da assepsia, estou convencido de que, naquele instante, fui inoculado com um veneno da pesquisa. Daí em diante, decidi recuperar de páginas amareladas de compêndios e de fontes disponíveis, o ilustre desconhecido Cândido Mariano.
Da partida, reli e anotei todos os dias dados existentes em arquivos da cidade de Manaus. Visitei (e aqui registro meu agradecimento) todos os departamentos estaduais, todos os locais onde fosse possível colher algum apontamento acerca do campeador de Canudos.
Selo comemorativo dos Correios referente ao centenário do fim da guerra de Canudos. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Somente quando esgota a pesquisa local e ainda pela inexistência de dados básicos, como datas de nascimento e de morte do biografado, viajei ao Rio de Janeiro com a vã esperança de recolher no principal cemitério daquela cidade os pormenores que me afligem.Ledo engano. Descobri, então, que ali os mortos desafortunados ainda não estavam atendidos por esse recurso tecnológico. Contudo, não perdi a viagem, o Arquivo do Exército cedeu-me cópia de todos os documentos existentes na pasta do ex-capitão Cândido Mariano, alguns dos quais ilustram este trabalho.
De retorno a Manaus, certo dia caminhando solitário (como atleta frustrado) veio-me a ideia de repetir a experiência realizada em A Crítica, jornal da cidade. Inquiri-me por que não endereçar uma carta a um jornal carioca? Assim, no início de dezembro de 1993, remeti com certa descrença uma carta ao leitor para O Globo. Resumindo como presente natalino, recebi um telefonema de Jorge Torres, neto de Cândido Mariano. É, para meu cabal entusiasmo anunciava que sua mãe adotiva – nonagenária era a filha de Cândido Mariano e, estava viva e me aguardando.
Alvorecei-me para encontrar tão preciosa descoberta. Viajei ao Rio, onde dialoguei durante uma semana (vou explorar isso a exaustão do decurso desta retrospectiva) com dona Lucy Mariano, que me proporcionou uma incomensurável dadiva. A de ser o último e único policial militar do Amazonas a conversar com a filha de Cândido Mariano. O privilegio recompensou-me de tantas andanças e de horas e horas enfurnado em pesquisas, nem sempre em ambiente acolhedor como também postado a frente do computador.
A partir desse diálogo, localizei no cemitério de São João Batista, do Rio de Janeiro a arca contendo os restos mortais de Cândido Mariano no extremo do campo santo, constituindo a parede para a rua fronteiriça. Ao retornar a Manaus, fiz gestão junto ao comandante-geral no sentindo de que a PMAM efetuasse a remoção dos restos mortais de seu patrono. Já ponderei essa sugestão a mais outros comandantes. Contudo, nunca obtive sucesso. Oxalá, a urna ainda esteja perpetuando o combatente de Canudos.
E avancei na empreitada. Em busca de maiores detalhes sobre o homenageado, visitei Rio Branco e Sena Madureira, no Acre e Porto Velho, capital de Rondônia, onde vasculhei arquivos de organizações, sem muito alcançar. O arquivo rondoniense estava a merecer maior espaço e organização (1994), e os apontamentos sobre os funcionários da estrada de Ferro Madeira Mamoré estavam sendo processados para se construir um acervo de futuro museu. Ainda há muito a pesquisar, pois o comandante do batalhão do Amazonas operou por diversas cidades do sul ao norte do país. Espero que a divulgação deste trabalho ajude aos interessados a recompor a trajetória deste combatente.
Por fim, aventurei-me em uma particular quinta expedição. Para isso, retornei a Salvador (BA), quando mantive contato com o saudoso mestre José Calasans Brandão da Silva (1915-2006) e com professores do Centro de Estudos Euclides da Cunha (CEEC), da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), para recolher informações sobre Canudos. Fiz uma parada e, Juazeiro (BA), aonde recebi o apoio do 3.° Batalhão Policial ali instalado que, me permitiu madrugar em direção a Canudos. Embora estivesse e, veículo policial, a turma da Associação Canudense de Estudos e Pesquisas Antônio Conselheiro (Acepac) conduziu-me pelas trilhas sagradas de Belo Monte. Concretizei um sonho!
Acerca da campanha canudense, não me propus a produzir uma dissertação acadêmica. Livros a mão cheias expostos, tentando desvendar os mistérios insólitos daquela luta as margens do rio Vaza Barris. Meu intento persiste – tão somente – em particular a presença amazonense, recolhendo, para isso, de compêndios e de revista, de diários e de periódicos, a descrição do desempenho da força militar no campo de luta. Bem como a passagem do batalhão de Cândido Mariano por algumas cidades da costa brasileira, em especial, a capital baiana. Valho-me do método de revelar a história, fazendo falar os personagens, que vem ao encontro do leitor, tal como me inspirou Hélio Silva, saudoso historiador.
Seja qual for resultado deste trabalho, a participação da Polícia Militar do Amazonas no evento bélico do final do século XIX, na Bahia de inúmeros Antônios, está posta a disposição de estudiosos ou, simplesmente de interessados. Sou imensamente grato a quantos me incentivaram a publicá-la.
Roberto Mendonça
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
Roraima teve a maior safra da história do Estado. Foto: Divulgação
Roraima alcançou um marco inédito na agricultura. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Estado registrou a maior safra da sua história, com 692 mil toneladas de grãos colhidos na temporada 2024/2025.
Os números foram apresentados oficialmente no dia 7 de novembro, durante a penúltima noite da Expoferr Show 2025, no Parque de Exposições Dandãezinho, em Boa Vista.
O levantamento foi realizado ao longo de 12 meses, em parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e a Seadi (Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação), avaliando as principais culturas produzidas no Estado – soja, milho, arroz e feijão.
O levantamento foi realizado ao longo de 12 meses, em parceria com o IBGE e a Seadi. Foto: Bárbara Araújo/Secom-RR
“Roraima teve a maior safra da história do Estado. São 692 mil toneladas de grãos produzidos. Esse resultado confirma que Roraima se consolida como uma nova fronteira agrícola nacional. É fruto de um esforço conjunto entre produtores, políticas públicas e instituições que incentivam o campo, mesmo diante dos desafios de clima e logística”, destacou o superintendente regional da Conab, Pablo Cabadas.
A decisão de divulgar os dados na Expoferr reforça o papel do evento como principal vitrine do agronegócio da região Norte, reunindo produtores, empresários e instituições financeiras.
“Lançamos os números oficiais na Expoferr porque ela representa o coração do agro roraimense. É onde o produtor, o técnico e o investidor se encontram”, completou Cabadas.
Políticas para o desenvolvimento agrícola
Roraima teve a maior safra da história do Estado. São 692 mil toneladas de grãos produzidos. Foto: Divulgação
O governador Antonio Denarium comemorou o resultado e atribuiu o recorde ao conjunto de ações do Governo do Estado voltadas para o fortalecimento da produção rural.
“Esse resultado é fruto de um esforço coletivo, com regularização fundiária, infraestrutura, energia, incentivos e crédito rural. Trabalhamos para dar segurança jurídica e condições para que o produtor invista e cresça. Hoje, Roraima é a nova fronteira agrícola do Norte do Brasil”, celebrou Denarium.
Produtores destacam importância dos dados consolidados
Estado registrou a maior safra da sua história, com 692 mil toneladas de grãos. Foto: Divulgação
O presidente da Aprosoja Roraima, Murilo Ferrari, destacou que a divulgação dos dados oficiais da Conab fortalece o planejamento e a segurança do produtor.
“Ter dados confiáveis é essencial para orientar as decisões no campo e para cobrar políticas públicas que garantam infraestrutura, como estradas, pontes e energia. Essa produção crescente significa emprego, renda e desenvolvimento para todo o Estado”, afirmou Ferrari.
O boletim completo da safra 2024/2025 pode ser consultado no site da Conab.
Um filhote de gato nasceu com apenas um olho no distrito de Nova Conquista, interior de Vilhena (RO). Foto: Gilmar Almeida
Um caso raro chamou a atenção de moradores do distrito de Nova Conquista, interior de Vilhena (RO) no dia 4 de novembro: um filhote de gato nasceu com apenas um olho. O tutor da mãe do animal, Gilberto Almeida, relatou que o nascimento surpreendeu toda a família.
“Tenho 32 anos nunca tinha visto isso na minha vida. Minha gata já teve várias crias, só que essa foi a primeira vez que isso aconteceu. Nasceram três juntos com ele [gato ciclope], mas só esse veio diferente”, conta Gilberto. O gatinho viveu apenas um dia e faleceu. Segundo Gilberto, o filhote tinha problemas para respirar.
Depois do nascimento do gato,surgiram dúvidas sobre a ciclopia, anomalia congênita rara que chamou atenção pela aparência incomum do gato. Para a veterinária Janete Silva, o gato apresenta uma condição congênita chamada ciclopia, caracterizada por uma má formação.
“Quando o embrião está se desenvolvendo, em vez de a estrutura do cérebro se dividir em duas partes, forma-se uma massa única. Como os olhos acompanham essa divisão, acabam ficando centralizados”, explica a veterinária Janete Silva, especialista em cirurgias animais.
A ciclopia é considerada uma condição rara tanto em animais quanto em humanos. O nome tem origem na mitologia grega: os ciclopes, criaturas gigantes e imortais que possuíam apenas um olho no centro da testa.
De acordo com a especialista, defeitos genéticos, como alterações nos cromossomos, ou fatores externos, como exposição a toxinas e medicamentos durante a gestação, podem estar entre as causas da anomalia.
Janete ressalta que a expectativa de vida de animais que nascem com essa condição é bastante baixa, já que a má formação também compromete as narinas, dificultando a respiração, como aconteceu com o filhote.
Mas o que é ciclopia?
Gato ciclope. Foto: Gilmar Almeida
Segundo a veterinária, a ciclopia é caracterizada pela fusão dos olhos em uma única cavidade central. O problema ocorre quando, durante o desenvolvimento embrionário, o cérebro não se divide corretamente em dois hemisférios. Como os olhos acompanham essa divisão, acabam se formando juntos.
O termo “ciclope” vem da mitologia grega, em referência aos gigantes com um único olho na testa.
De acordo com a especialista, defeitos genéticos, como alterações nos cromossomos, ou fatores externos, como exposição a toxinas e medicamentos durante a gestação, podem estar entre as causas da anomalia.
A veterinária ressalta ainda que a expectativa de vida de animais que nascem com essa condição é bastante baixa, já que a má formação também compromete as narinas, dificultando a respiração, como aconteceu com o filhote.
Classificação oficial
De acordo com documentos do Ministério da Saúde, a ciclopia está entre as anomalias congênitas do sistema nervoso. A condição pode estar associada a alterações cromossômicas ou à exposição da mãe a toxinas e medicamentos durante a gestação.
A expectativa de vida de bebês ou animais com ciclopia é extremamente baixa, já que a má formação compromete funções vitais como respiração e alimentação.
*Por Raíssa Fontes, Marcos Miranda e Iuri Lima, da Rede Amazônica RO
Em uma cerimônia realizada no final de outubro na cidade de Morales, o Instituto Peruano de Pesquisas da Amazônia (IIAP) lançou a Campanha 2025 para a Restauração das Florestas Amazônicas Afetadas por Incêndios Florestais com Esferas de Restauração, uma iniciativa que busca recuperar milhares de hectares de ecossistemas degradados e promover uma cultura ambiental de prevenção e restauração.
Durante o evento, realizado na região de Ricuricocha, foi feita uma demonstração prática da implantação de esferas restauradoras — pequenas cápsulas feitas de materiais biodegradáveis contendo sementes de espécies florestais nativas — em áreas afetadas por incêndios florestais.
Essas esferas foram dispersas tanto manualmente quanto com o auxílio de drones, uma inovação tecnológica que acelera o processo de reflorestamento em áreas de difícil acesso.
Foto: Reprodução/Agência Andina
A presidente executiva do IIAP, Carmen García Dávila , destacou a importância da iniciativa e afirmou que esta campanha é uma “resposta à constante perda de nossas florestas devido aos incêndios florestais”.
“O IIAP está promovendo esta campanha com o objetivo de recuperar ecossistemas degradados e fomentar uma cultura ambiental de prevenção e restauração. A ciência e a inovação são nossas aliadas para trazer vida de volta às paisagens amazônicas e fortalecer a resiliência às mudanças climáticas”, disse.
Ela afirmou que o objetivo central da campanha é restaurar mais de 2.000 hectares de florestas amazônicas nas regiões de San Martín e Ucayali, por meio da regeneração natural da floresta e da recuperação de seus serviços ecossistêmicos — como captura de carbono, regulação climática, conservação da biodiversidade e proteção dos recursos hídricos.
Entre 2024 e 2025, o IIAP restaurou com sucesso mais de 1.315 hectares de floresta utilizando essa tecnologia ecológica, alcançando taxas de germinação superiores a 40%. De acordo com o instituto, esse progresso reflete o potencial das esferas de restauração como uma ferramenta eficaz e sustentável para a recuperação de áreas afetadas por incêndios.
O evento contou com a presença de representantes do Ministério do Meio Ambiente, do Governo Regional de San Martín, do Congresso da República, da Prefeitura do Distrito de Morales, além de professores, universitários, alunos do ensino fundamental e moradores locais, que se uniram simbolicamente aos esforços de restauração.
A campanha reforça o compromisso do Peru com os objetivos da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas (2021-2030) e com a Estratégia Nacional para a Restauração de Ecossistemas Degradados, que estabelece a meta de restaurar 3,2 milhões de hectares até 2030.
“Esta campanha representa não apenas um esforço técnico e científico, mas também um apelo à ação coletiva. Envolve comunidades, instituições públicas, estudantes e o público em geral para trabalharem juntos pela recuperação do patrimônio natural da Amazônia e pela construção de um futuro mais sustentável para todos”, concluiu Carmen.