Os estudos fazem parte do Edital Bolsa de Doutorado com produto Tecnológico. Foto: Arquivo/Pesquisadora.
Projeto de pesquisa investiga formas de produzir leites fermentados utilizando polpas de frutos nativos do Brasil. Os primeiros foram os frutos do cupuaçu (Theobroma grandiflorum), mangaba (Hancornia speciosa) e ata (Annona squamosa), explorando o uso desses ingredientes para agregar valor nutricional aos produtos lácteos.
Os estudos começaram com o desenvolvimento de um leite à base de cupuaçu, formulado e otimizado para definir concentrações de polpa de açúcar, buscando equilíbrio de sabor e estabilidade do produto. Foram realizadas análises físico-químicas, medição de teor de compostos bioativos, testes de vida de prateleira e avaliação sensorial.
Na segunda etapa, foi produzida uma versão com mangaba, com formulação voltada para alto teor de fibras. O objetivo foi avaliar o potencial do produto para a saúde intestinal e quais os benefícios ele pode oferecer. As análises incluirão estudos físico-químicos, bioacessibilidade de compostos fenólicos e fermentação colônica, para investigar o efeito sobre a microbiota.
O terceiro produto será elaborado com o fruto da ata, sem adição de açúcar. O foco é atender consumidores que buscam opções com menor teor calórico. Serão feitos testes físico-químico, análises de percepção de doçura de vida de prateleira.
De acordo com a pesquisadora, “o trabalho busca ampliar o portfólio de leites fermentados funcionais, valorizar frutos regionais e gerar conhecimento aplicável à indústria de alimentos, contribuindo para a inovação no setor lácteo brasileiro’, ressaltou a doutora Maressa.
*O conteúdo foi originalmente publicado na FAPEMAT MT e escrito por Widson Ovando.
O Amazonas registrou uma queda expressiva nos focos de calor no mês de julho de 2025. Foram identificados 278 focos em todo o território estadual, uma redução de 93,44% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o número chegou a 4.241 focos.
“Todo o trabalho que a gente tem feito tem trazido os bons resultados que a gente tem acompanhado. Tudo isso é resultado desse comprometimento, dessa antecipação que é feita pelo nosso Comitê Permanente de Enfrentamento aos Eventos Climáticos”, afirmou o governador do Amazonas, Wilson Lima.
Focos de calor são áreas detectadas por satélites que apresentam temperaturas elevadas, indicativas da presença de fogo ou calor anormal na superfície terrestre. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Focos de calor são áreas detectadas por satélites que apresentam temperaturas elevadas, indicativas da presença de fogo ou calor anormal na superfície terrestre. Eles são identificados por sensores de satélite que captam a radiação térmica emitida por essas áreas.
Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), monitorados pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). Além da queda de focos de calor no mês, no acumulado do ano, de 1º de janeiro a 31 de julho, também foi registrada uma redução significativa.
Foram contabilizados 498 focos de calor no Amazonas, número 89,85% menor do que o registrado no mesmo período em 2024, quando o estado somava 4.907 focos. Para o secretário de Estado do Meio Ambiente, Eduardo Taveira, os dados refletem os resultados de uma estratégia integrada de enfrentamento ao desmatamento e aos incêndios florestais no Amazonas.
“Essa redução nos focos é fruto de um esforço contínuo do Governo do Estado em fortalecer o combate às queimadas, com ações de monitoramento, fiscalização e, principalmente, prevenção. As ações de monitoramento continuarão intensificadas nos próximos meses, em articulação com os órgãos ambientais estaduais e com políticas que combinem tecnologia, gestão territorial e parcerias institucionais”, destacou Taveira.
Segundo o diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, a queda nos focos de calor reflete o trabalho técnico e permanente desenvolvido.
“O monitoramento é feito de forma contínua pelo Ipaam, por meio do Centro de Monitoramento Ambiental e Áreas Protegidas (CMAAP), que funciona como uma central de inteligência ambiental do Governo do Amazonas. É esse núcleo que identifica focos de calor, mapeia áreas de risco e emite alertas que orientam ações preventivas. Os dados são usados como base técnica para orientar nossas operações de campo e fiscalizações”, explicou.
Dados
A maior parte dos focos de julho foi registrada em áreas sob jurisdição federal, que concentraram 75,18% do total. Ao todo, foram 209 focos notificados em territórios como glebas federais (141), assentamentos (47), Terras Indígenas (16) e Unidades de Conservação federais (5).
Foto: divulgação
Já nas áreas de gestão estadual, foram identificados 32 focos (11,51%) em julho, sendo 18 em Unidades de Conservação estaduais e 14 em glebas do Estado. Os demais 13,31% (37 focos) ocorreram em vazios cartográficos, áreas sem definição fundiária.
A distribuição fundiária dos focos no acumulado de 2025 mantém o mesmo padrão observado em julho. As áreas federais concentraram 364 focos (73,09%), enquanto as áreas estaduais somaram 65 focos (13,05%). Os demais, 69 focos (13,85%), aconteceram em vazios cartográficos.
Todos estes dados, bem como panoramas de desmatamento, informações sobre qualidade do ar, monitores de cheias e secas das calhas dos rios e muito mais, podem ser vistos no Painel do Clima, site do Governo do Amazonas AQUI.
A Área de Soltura de Animais Silvestres da Fazenda São Benedito, em Jangada, recebeu, neste mês de agosto, 8 animais silvestres aptos para voltarem à natureza. Os animais foram destinados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT), sendo 3 araras-canindé adultas, 1 tatupeba juvenil, 1 urubu-de-cabeça-preta juvenil, 1 periquito-de-encontro-amarelo juvenil, 1 jabuti-piranga adulto e 01 Anú-coroca adulto.
Entre os animais, 2 das araras-canindé receberam tratamento médico veterinário em uma clínica de Sorriso, credenciada junto à Sema, após serem resgatadas com lesão nas asas e escoriações. Após alta médica, as aves se encontraram aptas para soltura imediata, assim como a 3ª, que foi resgatada em Cáceres e passou por tratamento veterinário para curar uma inflamação dos sacos aéreos (aerossaculite).
O tatupeba foi resgatado em Tangará da Serra, com o apoio da Diretoria de Unidade Desconcentrada (DUD) da Sema no município, com quadro de pneumonia. Após tratamento veterinário ele foi levado para a fazenda e ficará em aclimatação e cuidados nutricionais para futura soltura branda, feita com acompanhamento.
Os outros 4 animais foram resgatados na baixada cuiabana. O periquito-de-encontro-amarelo foi uma entrega voluntária e por estar com as penas das asas e rabo cortado, que são crimes ambientais, ele não tem plenitude de voo. O animal ficou sob os cuidados de uma tutora para cuidados nutricionais e ficará em recuperação na área de soltura até o crescimento das penas e aclimatação para futura soltura.
O urubu-de-cabeça-preta foi resgatado após ataques de cães, ao cair em um quintal e após tratamento veterinário teve a soltura imediata na fazenda São Benedito. Já o jabuti e o anú não precisaram de atendimento médico e foram levados ao local para soltura branda.
Área de Soltura de Animais Silvestres da Fazenda São Benedito
A Fazenda São Benedito é uma área de soltura cadastrada pela Sema desde 2022 e no primeiro semestre de 2025 recebeu aproximadamente 90 animais silvestres, entre eles 18 exemplares de filhotes de Marrecos, 14 exemplares araras-canindés e 10 exemplares de jabutis.
Em 2024, o local recebeu mais de 150 animais como araras, papagaios, paca, cotia, anta, curiós, bicudos. O local tem um papel importante na reabilitação de periquitos, jandaias e maracanãs, que ao serem resgatados filhotes exige cuidados intensivos como alimentação com papinha específica.
A bióloga e servidora da Coordenadoria de Fauna e Recursos Pesqueiro, Rebeca Marcos, ressalta a importância da área de soltura, que se adequa cada ano para receber um maior número de espécies de animais silvestres. “Este ano a área de soltura, que tem esta parceria com a Sema há mais de 2 anos, começou a receber filhotes de antas para reabilitação”.
Três filhotes de antas levadas ao local para cuidados nutricionais já foram destinados para empreendimentos. No momento estão no local 2 filhotes de antas, sendo que um deles foi levado ao local há aproximadamente 10 dias após ser encontrado na beira da rodovia e passar por tratamento médico em clínica veterinária de Sorriso. O filhote ficará na área de soltura para cuidados nutricionais e aclimatação em ambiente adequado, com presença de corpo d´água e vegetação nativa.
Foto: Reprodução/ Secom-MT.
“Eu sempre gostei de animal silvestre e estamos aqui hoje com esta parceria com a Sema. Daqui mais uns 10 anos para frente, se Deus abençoar, isso aqui vai estar povoado cada dia mais de animais”, comemora Sanid José Nassarden, responsável pela Área de Soltura.
* O conteúdo foi originalmente publicado na Secom do Mato Grosso e escrito por Renata Prata.
No mercado da manteiga de murumuru, enviada a pelo menos três grandes empresas de cosméticos do país, a Coopercintra atua em 53 comunidades rurais distribuídas entre cinco municípios. Foto: Pedro Devani/Secom
Gerar renda com produtos da floresta tem sido a missão da Cooperativa dos Produtores de Agricultura Familiar e Economia Solidária de Nova Cintra (Coopercintra), situada em Rodrigues Alves, município do interior do Acre com 14.938 habitantes, dos quais mais de 61% vivem na zona rural.
Aproveitamento consciente desse recurso gera renda e fortalece a consciência ambiental. Foto: Pedro Devani/Secom.
Essa realidade é o que torna a comunidade um exemplo vivo de bioeconomia, ao trabalhar, com responsabilidade ambiental, a cadeia produtiva do óleo de murumuru, matéria-prima que confere notas da floresta acreana aos produtos vendidos por marcas como a Natura. O avanço é fruto de uma engrenagem que reúne diversos atores: ações governamentais de capacitação e infraestrutura, parcerias com a iniciativa privada e, sobretudo, a força pulsante do cooperativismo.
No mercado da manteiga de murumuru, enviada a pelo menos três grandes empresas de cosméticos do país, a Coopercintra atua em 53 comunidades rurais distribuídas entre cinco municípios: Porto Walter, Rodrigues Alves e Cruzeiro do Sul, no Acre; Guajará e Ipixuna, no Amazonas. Por ano, o grupo produz 20 toneladas do produto.
Queline Souza, diretora executiva da Coopercintra, conta que há 14 anos o trabalho do grupo é focado na sustentabilidade e no fortalecimento das famílias que vivem da floresta em pé. Famílias que elevam o nome do estado por meio da qualidade dos produtos que chegam às penteadeiras de todo o país. Um detalhe que revela a sensibilidade do projeto: 30% da diretoria da cooperativa é formada por mulheres.
O murumuru é uma palmeira nativa da Amazônia, encontrada em áreas de várzea e em terra firme, com destaque para o território acreano. Seus frutos crescem em cachos protegidos por palhas espessas, uma estrutura fibrosa que resguarda o coco onde está a verdadeira joia: a amêndoa.
Murumuru fruto. Foto: Divulgação
A colheita, feita por extrativistas das comunidades tradicionais, respeita o tempo da natureza. Após a coleta, os frutos são descascados manualmente e as amêndoas passam por secagem natural. Em seguida, são prensadas para extração da manteiga, uma substância cremosa, rica em ácidos graxos e altamente hidratante, qualidades que seduzem o mercado da beleza.
Todo esse processo hoje acontece na própria comunidade, na sede da Coopercintra. A agroindústria funciona com incentivo da Natura e também do governo do Acre, por meio da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), que cedeu o espaço e oferece capacitações, qualificação técnica e métodos inovadores para garantir a excelência de um produto que leva a marca de Rodrigues Alves.
Foto: Reprodução/Agência de Notícias do Acre.
“O murumuru hoje é uma fonte de renda dentro das famílias. Antes era visto como apenas um espinheiro na mata, que muita gente achava inútil. Hoje, nossos produtores relatam que virou uma renda complementar e ajuda a preservar a natureza”, explica Queline.
O aproveitamento consciente desse recurso gera renda e fortalece a consciência ambiental. Ao colher a amêndoa, as comunidades praticam o manejo sustentável, uma ação crucial para manter a área preservada.
Óleo chega a grande empresas de cosméticos do país. Foto: Pedro Devani/Secom.
“Os nossos produtores têm papel fundamental nos municípios onde atuamos, porque entendem que dali vem o sustento de suas famílias, então eles são os principais guardiões da floresta”, reforça a diretora.
Entre março e abril, a cooperativa realiza um cadastro com os extrativistas, visitando as comunidades para recadastramento e mapeamento das famílias beneficiadas.
“Depois dessa visita, nós também vamos até a casa deles buscar a matéria-prima e selecionar as que serão trabalhadas na agroindústria”, detalha Queline.
Na extração do óleo de murumuru, nada se perde. A casca é levada para a olaria e a chamada ‘torta de murumuru’, resíduo sólido que sobra após a prensagem, é reaproveitada como ração.
Queline Souza, diretora executiva da Coopercintra. Foto: Pedro Devani/Secom.
Técnicas refinadas, como prensagem a frio e métodos mecânicos, transformam a manteiga em óleo vegetal puro, altamente valorizado na indústria cosmética por suas propriedades emolientes e regeneradoras. Mais do que um insumo, o óleo de murumuru carrega consigo a força da floresta, a biodiversidade e as mãos que o tornam possível, um elo entre tradição, sustentabilidade e inovação.
‘Se matar os pés de murumuru, não vamos ter trabalho’
Cleisson Oliveira, selecionador de amêndoas há mais de 10 anos, domina a arte de escolher os melhores caroços. Ele entende que essa etapa é essencial para a qualidade do produto final. E foi justamente esse trabalho que sustentou sua família, sua esposa e seus filhos.
“Minha vida sempre foi aqui. E vejo que é preciso preservar, porque se derrubar a floresta e matar os pés de murumuru, não teremos trabalho. Então é fundamental manter tudo preservado”, avalia Cleisson.
O coletor Antônio Carlos da Costa, de 51 anos, percorreu todos os estágios da cadeia produtiva. Criou os filhos com o que chama de tesouro das palmeiras. A técnica de aguardar a queda natural dos frutos é o princípio básico do extrativismo sustentável, pois assim permite que a palmeira continue viva e produtiva por muitos anos, mantendo a floresta em pé e gerando renda às comunidades.
“É preciso valorizar os coletores. O trabalho mais difícil é feito na mata, como limpar o entorno, cuidar para não ter cobra nos cachos, é um serviço que exige atenção. Mas é dali que tiramos nossa renda”, diz Antônio.
Murumuru é uma palmeira nativa da Amazônia, encontrada em áreas de várzea e terra firme, com destaque para o território acreano. Foto: Pedro Devani/Secom.
Esperança plantada em cada muda
A ameaça das queimadas e do desmatamento preocupa as comunidades que sabem extrair riqueza natural sem ferir o meio ambiente. Foi com essa consciência que a Coopercintra implantou um viveiro florestal.
“Em parceria com a SOS Amazônia, começamos a trabalhar com 15 famílias no reflorestamento e enriquecimento de áreas. Nossos produtores estão engajados nesse trabalho, tanto em nossa comunidade quanto nas vizinhas, fortalecendo as cadeias e criando mais uma fonte de renda”, afirma Queline, mostrando a estrutura do viveiro montado ao lado da agroindústria.
O objetivo é fortalecer os sistemas agroflorestais e expandir outras cadeias de produção, como açaí, cacau, graviola, e também trazer o murumuru para mais perto dos extrativistas.
“Depois de reflorestar essas outras espécies, vamos iniciar o reflorestamento do murumuru, porque os pés estão muito distantes. Queremos enriquecer áreas e aproximá-los das moradias dos produtores”, projeta.
Entre março e abril, a cooperativa realiza um cadastro com os extrativistas, visitando as comunidades para recadastramento e mapeamento das famílias beneficiadas. Foto: Pedro Devani/Secom.
Funtac parceira
A diretora técnica da Funtac, Suelen Farias, acompanha de perto o trabalho com a cooperativa. Segundo ela, o fortalecimento das cadeias produtivas se dá por diversas frentes.
“Oferecemos cursos de capacitação na coleta da matéria-prima, no armazenamento e na melhor utilização do recurso, inclusive melhorando o fluxo de produção”, explica.
A micro usina em funcionamento na Coopercintra foi doada pela Funtac em 2004. Desde então, o governo tem apoiado com aquisição de produtos e melhorias estruturais, com recursos do REM e também da Natura, que investiu no aperfeiçoamento do espaço.
Mais do que um insumo, o óleo de murumuru carrega consigo a força da floresta, a biodiversidade e as mãos que o tornam possível, um elo entre tradição, sustentabilidade e inovação. Foto: Pedro Devani/Secom.
“Além de novas tecnologias, damos cursos para que eles saibam como posicionar seus produtos no mercado. Ensinamos sobre redes sociais, como divulgar os produtos e melhorar a parte visual, como embalagens”, enumera Suelen.
Trata-se de um esforço conjunto entre Universidade Federal do Acre (Ufac), Sebrae, Funtac, governo estadual e iniciativa privada, um modelo de economia sustentável que mira o reconhecimento mundial.
No fim de junho, o governo do Acre realizou um feito aguardado há quase 30 anos: o pagamento da subvenção da borracha e do murumuru diretamente na conta dos produtores extrativistas. A ação histórica trouxe dignidade, agilidade e segurança.
A nova metodologia, prevista na Lei Estadual nº 1.277/1999 e oficializada pelo Decreto nº 1.564/2024, foi implementada por determinação do governador Gladson Cameli, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri).
“Essa decisão me deixou muito feliz. Criamos a divisão do subsídio para atender exclusivamente os extrativistas, porque antes ela era fundida a outras áreas”, explica o secretário de Agricultura, José Luis Tchê.
Segundo ele, o pagamento era constantemente atrasado por erros em CPF ou ausência de assinatura. O governo decidiu desburocratizar e pagar diretamente aos trabalhadores.
“Por solicitação do governador, decidimos resolver de vez a vida dos nossos extrativistas. Fizemos parceria com o Banco do Brasil e já pagamos mais de 70 extrativistas diretamente na conta. O plano piloto funcionou e vamos seguir nesse formato”, garante Tchê.
*O conteúdo foi originalmente publicado na Agência de Notícias do Pará, escrito por Tácita Muniz.
Apresentação diagnóstico climático no Amazonas. Foto: Noir Miranda
O Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), apresentou, no dia 11 de agosto, o Diagnóstico Climático e Análise de Riscos Ambientais no Amazonas, durante reunião do Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais, organizada pela Defesa Civil. O objetivo é iniciar o planejamento integrado para a estiagem deste ano.
O estudo servirá como base para a elaboração do Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas do Estado, que integrará ações de diferentes órgãos para prevenir e minimizar impactos ambientais e sociais no Amazonas. Para o secretário de Estado do Meio Ambiente, Eduardo Taveira, o diagnóstico mostra a necessidade de integração entre órgãos estaduais para enfrentar os efeitos da crise climática.
“A Sema está coordenando a implementação de um plano integrado do estado para combate às mudanças climáticas. Vai ser muito importante a gente saber não só o que essas secretarias já estão fazendo, mas também como integrar essas ações para que a gente possa atuar em conjunto”, explicou Taveira.
Durante o encontro, ficou definido entre os membros que a Sema encaminhará o diagnóstico apresentado para todos os órgãos integrantes do comitê. Cada instituição deverá apresentar seus planos e iniciativas em andamento relacionados às mudanças climáticas, contribuindo para a consolidação do documento final.
“Não podemos atuar apenas quando o problema já existe. A reunião de hoje tem como finalidade compilar informações, submetê-las ao Comitê Técnico-Científico e, em breve, apresentar um plano norteador das ações do Estado. É essencial concluir este trabalho ainda durante o período crítico, que atinge seu ápice entre agosto e setembro, quando os impactos da seca tendem a ser maiores”, afirmou o secretário de Estado da Defesa Civil, coronel Francisco Máximo.
O Comitê Permanente de Enfrentamento a Eventos Climáticos e Ambientais foi instituído por decreto assinado pelo governador Wilson Lima em janeiro deste ano, tornando-se uma estrutura fixa de monitoramento e resposta a fenômenos como a cheia e a vazante dos rios.
Sobrevoo e vista de uma comunidade atingida pela estiagem em Manaus. Foto: Digulgação
Composto por 33 secretarias, órgãos e entidades estaduais, o colegiado conta com o apoio de um Comitê Técnico-Científico, responsável por orientar decisões com base em evidências. Entre as atribuições, estão a adoção de medidas para prevenir desastres, apoiar a reorganização do setor produtivo e promover a recuperação econômica das áreas atingidas.
Um estudo inédito da Diversitera, startup especializada em soluções de pesquisa, revela dados exclusivos sobre a população indígena no mercado formal de trabalho. Ele é fundamental, já que há um blecaute histórico ou incipiência de informações sobre esse agrupamento, além da complexidade de autodeclaração que os distorce, dificultando o destino de políticas públicas e privadas.
“Soa óbvio, mas é preciso dizer: a presença mais ou menos expressiva de indígenas nas organizações não quer dizer que eles não existam, tampouco que as empresas não devam apoiar essa população. Pelo contrário. É um compromisso ético e cidadão visibilizá-la e incluí-la e os dados podem ajudar”, afirma Tamiris Hilário, especialista em Raça e Etnia da Diversitera.
Sabe-se que a população indígena no Brasil representa 0,83% dos brasileiros (IBGE), com mais de 250 etnias, cujos integrantes ocupam 0,9% da força de trabalho no país , de acordo com o relatório “Panorama da população indígena no mercado de trabalho formal brasileiro” da Diversitera. O estudo é baseado em pesquisas realizadas entre julho de 2022 e março de 2025, com uma amostra de 112.947 pessoas em 53 empresas de médio e grande porte, de mais de 17 segmentos de mercado, em diversas regiões do país.
Ele também afirma quase 61% dos profissionais indígenas ocupando funções operacionais, contra 29% da população branca em funções semelhantes. O contraste salta ao observarmos o acesso a cargos de liderança e tomada de decisão: há apenas 0,4% dos indígenas em cargos de média liderança, contra 72,6% de pessoas brancas; e apenas 0,3% na alta liderança, enquanto 85,2% destas vagas são ocupadas por pessoas brancas.
Pessoas indígenas enfrentam ainda discriminação no ambiente de trabalho. O relatório aponta que 22% dos profissionais já foram alvo ou testemunharam manifestações de preconceito no cotidiano , sendo 66% dos casos relacionados a questões como origem, práticas religiosas e características fenotípicas.
“O imaginário popular é ainda colonizado, isto é, repleto de vieses que ou romantizam ou barbarizam os indígenas, descolando-os das questões do dia a dia como o trabalho formal”, diz Tamiris Hilário.
Imagem: Thiago Gomes, Agência Pará
Outro dado alarmante é a disparidade salarial: os profissionais indígenas ganham, em média, 23% a menos que os brancos para desempenharem as mesmas funções, evidenciando um abismo de desigualdade no mercado de trabalho.
“Precisamos arquitetar novas práticas de inclusão de pessoas indígenas. As organizações têm condições de melhorar esses números fazendo-se perguntas chave: Já realizamos um censo de diversidade para constatar a presença ou ausência de indígenas na empresa? Estamos situados em regiões, no Brasil ou América Latina, com alto índice populacional de autodeclarados indígenas, consciente dessa característica do contexto?
Promovemos conversas sobre raça e etnia, incluindo indígenas na pauta e colaborando no processo de autodeclaração dos colaboradores? Temos como escopo de trabalho áreas que podem impactar comunidades indígenas diretamente, como o agronegócio, a mineração e os químicos? Apresentamos políticas de preservação que incluam o combate ao racismo ambiental? Investimos em desenvolvimento local, apoiando empreendedores e trabalhadores informais indígenas? Apostamos em talentos indígenas e apoiamos cotas raciais?”, finaliza Tamiris.
Além dos dados sobre a população indígena, a Diversitera também aponta desigualdades em outros grupos minorizados no mercado de trabalho brasileiro. Segundo levantamento, apenas 1,5% dos cargos de diretoria e gerência executiva são ocupados por pessoas com deficiência física, um número que reflete a exclusão desse grupo das posições de liderança nas empresas.
Indígenas no mercado de trabalho. Foto: Karine Silva
Pessoas com deficiência intelectual representam apenas 0,09% da força de trabalho empregada no Brasil, evidenciando a falta de oportunidades e de políticas eficazes para integrar esse grupo ao mercado de trabalho formal.
As mulheres, por sua vez, ocupam 35% dos cargos de alta liderança no Brasil, um número que, embora significativo, ainda está longe de refletir a paridade de gênero nas posições de decisão. Pessoas do sexo feminino também representam a maioria em funções elementares, sendo responsáveis por 70% da presença em cargos de serviços gerais, o que demonstra uma concentração da força de trabalho feminina em funções de menor poder e remuneração.
Outro dado preocupante revelado pela Diversitera é a representatividade das pessoas negras, que ocupam apenas 9,7% das lideranças de topo, uma porcentagem bem abaixo de sua participação na força de trabalho ativa brasileira que corresponde, segundo o IBGE, a 55,2%. Além disso, elas ocupam 55% da participação em serviços gerais, o que reforça a desigualdade racial no acesso a cargos de maior responsabilidade e remuneração.
Embarcações e Flutuantes encalhados em comunidade ribeirinha da Amazônia. Foto: Rafa Neddermeyer
Nos períodos de cheia, as comunidades ribeirinhas da Amazônia ficam mais expostas à insegurança alimentar. Em média uma em cada três pessoas afirma pular uma refeição. Isso porque, diferentemente da seca, quando os peixes ficam mais concentrados em um local, na cheia eles estão mais espalhados, o que dificulta a pesca.
Comunidades ribeirinhas da AmazCiclos da água têm impacto direto na segurança alimentar de comunidades ribeirinhas da Amazônia. Foto: Reprodução/ INPA.
No entanto, as secas severas, como as de 2023 e 2024, também prejudicam as comunidades, sobretudo por dificultarem o transporte de barcos com alimentos vindos de fora.
Esses são alguns dados que demonstram a relação profunda desses ciclos com a segurança alimentar da população e que fazem parte do livro “Alimentação: avanços e controvérsias – Água, Planeta Terra”. A obra é a quinta edição da Coleção Verakis – visão plural da alimentação e reúne artigos de pesquisadores do Brasil e Europa e apresenta a água como um elo entre cultura, saúde, ambiente e economia.
Outro tema tratado na publicação é a pegada hídrica na produção de alimentos, em especial da carne. A produção de 1 kg de laranja leva em média 50 litros de água, enquanto a de 1 kg de carne leva 15.000 litros. Isso reforça a importância do consumo equilibrado e a preferência, quando possível, por ingredientes de base vegetal e produções agrícolas sustentáveis.
A obra também apresenta pilares da gestão sustentável da água, que inclui elementos como o desenvolvimento de capacidades técnicas para a execução de projetos que garantam a disponibilidade de água potável no futuro.
Como exemplo, os desafios na produção agrícola podem ser parcialmente contornados com reciclagem da água da chuva ou dessalinização (remoção do sal da água do mar) ou pela busca por espécies mais resistentes às novas condições hídricas decorrentes das mudanças climáticas.
Juliana Grazini dos Santos, presidente da Fundação Verakis e uma das organizadoras do livro, conta que a água ainda é desvalorizada, mas que esse pensamento precisa mudar. Isso porque ela está inserida em todos os aspectos da alimentação, desde o nascimento das plantas e animais que servirão como alimento até o processo de ingestão e digestão em nosso organismo.
“As pesquisas deveriam se atentar mais ao papel da água, não só para tratar de doenças, mas também para preveni-las”, aponta Juliana dos Santos.
A doutora em popularização científica ainda completa que uma abordagem integrada sobre o papel da água poderia facilitar a valorização desta substância essencial para a existência de vida no planeta Terra.
“Saber de onde vem a água que bebemos, o quanto usamos dela para que um alimento chegue à nossa mesa e qual é o seu ciclo é extremamente valioso para entendermos a importância e mudarmos a concepção de que a água é algo conquistado para sempre”, finaliza Juliana.
*O conteúdo foi originalmente publicado na Agência Bori.
Criado em 2013, o Família que Acolhe é uma política pública integral para a primeira infância. Foto: Andrezza Mariot/PMBV
Como Capital da Primeira Infância, Boa Vista continua transformando vidas e estimulando o fortalecimento de vínculos. Por meio das visitações do programa Família que Acolhe (FQA), essa política pública social, de saúde e educação, está ainda mais próxima dos lares, levando orientação, apoio e um abraço acolhedor.
Com uma bolsa de anotações e brinquedos, a visitadora Laudicélia Ribeiro atende beneficiárias do CRAS Silvio Leite. Segundo a profissional, esse trabalho diário envolve avaliações sobre as condições vividas pelas famílias. Porém, mais que isso, ela acredita que exerce um papel transformador para a sociedade.
“Me sinto feliz em ter essa oportunidade de entrar nas casas, de conversar com as pessoas e criar esse vínculo com as famílias”, destaca Laudicélia. Foto: Andrezza Mariot/PMBV
“Consideramos fatores como a residência e a distância do CRAS. As visitas são agendadas em dias e horários determinados com as beneficiárias. Para mim, é muito gratificante fazer esse trabalho e eu me sinto feliz em ter essa oportunidade de entrar nas casas, de conversar com as pessoas e criar esse vínculo com as famílias”, disse.
Desde 2020, Lairyne Oliveira é beneficiária do FQA, que segundo ela, se tornou um porto seguro em sua jornada como mãe de primeira viagem. Hoje, ela tem dois filhos – Giovanna, de 5 anos e Antony, de 9 meses – e afirma que o programa representa segurança e apoio à sua família.
“Tudo que eu aprendi durante as visitas e palestras foi muito útil para o meu dia a dia”, comenta Lairyne. Foto: Andrezza Mariot/PMBV
“Na minha primeira gestação, eu estava cheia de dúvidas e recebi todo o suporte necessário do FQA. Foi uma verdadeira rede de apoio. Tudo que eu aprendi durante as visitas e palestras foi muito útil para o meu dia a dia. O carinho que recebemos dos profissionais é importante nesse momento sensível que se inicia na gravidez e vai até o desenvolvimento dos nossos filhos”, relatou.
O Família que Acolhe
Criado em 2013, o Família que Acolhe é uma política pública integral para a primeira infância, que cuida da criança desde a gestação até os seis anos, garantindo o acesso à saúde, educação e desenvolvimento social de maneira integrada. O programa atendeu mais de 37.788 gestações. Além disso, são 31.040 o total de beneficiárias cadastradas.
O programa já atendeu mais de 37.788 gestações. Foto: Andrezza Mariot/PMBV
O programa é referência nacional e internacional na área da primeira infância, o que rendeu a Boa Vista o título de Capital da Primeira Infância. Além do atendimento na sede no bairro Pintolândia, uma das principais e mais importantes evoluções no FQA foi a descentralização para os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) em 2021.
As atividades do programa são: Universidade do Bebê (UBB); visitação familiar domiciliar; serviços integrados de saúde e apoio social; entrega de enxoval e apoio nutricional; garantia de vagas em creches municipais e ações comunitárias e eventos públicos.
Instalada na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Oeste do Pará, o Observatório Atmosférico da Amazônia que funciona na Estação Meteorológica da universidade, está localizada às margens da Rodovia Santarém – Curuá-Una (PA-370), km 37, no município de Santarém.
Instalação de novo equipamento no Observatório Atmosférico da Ufopa em Santarém — Foto: Divulgação
O Observatório é um centro de pesquisa que coleta dados atmosféricos, incluindo radiação solar e aerossóis, para estudar as mudanças climáticas na Amazônia, com foco no impacto das queimadas e na pesquisa científica sobre a atmosfera. Funciona em uma área de um hectare, onde é possível fazer medidas da atmosfera em multicamadas, podendo atingir as quatro camadas atmosféricas: 1. Troposfera, que vai até 12km de altura, 2. Estratosfera, até 50km de altura, 3. Mesosfera, até 80km de altura, e 4. Ionosfera, até 500km de altura. Com as medições também é possível acompanhar o campo magnético da terra.
O observatório faz parte de uma rede de pesquisa que inclui outras instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Serviço Geológico do Brasil e universidades de outros países, como a Université de La Réunion, da França. Os parceiros são os detentores dos equipamentos e a Ufopa atua com uma equipe de trabalho que é responsável pelo funcionamento do Observatório. A equipe é formada por professores ligados ao curso de Ciências Atmosféricas e por alunos de graduação, mestrado e doutorado que podem utilizar os dados para pesquisas.
Um pouco da história
A Estação Meteorológica da Ufopa foi instalada em 2017, com a implantação de uma torre de 10 metros para a execução de medições meteorológicas. A partir de 2020, o Inpe, por meio do Projeto Sonda, trouxe para a estação a plataforma solar e métrica. Com esse equipamento foi possível começar a fazer medidas de radiação solar: radiação global, radiação solar difusa, radiação solar direta e a radiação que a terra emite (o calor que a terra emite). Esses dados possibilitam fazer o balanço radiativo da terra nesse ponto, configurando o funcionamento do Observatório Atmosférico da Amazônia.
Foto: Divulgação
Ao longo dos anos, outros equipamentos também foram instalados, como o radiômetro PAR que mede radiação fotossinteticamente ativa que influencia no crescimento das plantas. Também há o espectrômetro cimel que faz parte da rede Aeronet, desenvolvida pela Nasa, que investiga a suspensão de partículas no ar (aerossóis), como poeira, cinzas e fumaça. Recentemente, novo equipamento foi instalado para também possibilitar medições noturnas (Nasa substitui equipamento no Observatório Atmosférico da Amazônia da Ufopa ).
Entre outros equipamentos, também há uma câmera scae que tira fotos da nebulosidade, a cada dez minutos, e um espectrofotômetro brewer que funciona como um rastreador solar que mede radiação ultravioleta e da camada de ozônio na estratosfera. As medições com esse equipamento são feitas desde 2023.
Equipe responsável
A coordenação do Observatório Atmosférico da Amazônia (Ufopa) é formada por professores do curso de Ciências Atmosférias da Universidade Federal do Oeste do Pará: Lucas Vaz Peres, Rodrigo da Silva, Theomar Trindade, Antônio Marcos e Júlio Tota.
De acordo com o professor Lucas Vaz Peres, esse “é o único ponto na Amazônia que consegue juntar em um mesmo lugar medidas atmosféricas que atendem a todas essas camadas atmosféricas”.
Os equipamentos que funcionam no Observatório da Estação Meteorológica da Ufopa têm a função principal de medir o comportamento da atmosfera e as mudanças que ela pode sofrer ao longo do tempo. “Com esse acompanhamento vai ser possível analisar, no futuro, as questões das mudanças climáticas em todos os níveis da atmosfera se a gente conseguir manter esses equipamentos funcionando a longo prazo. E essa é a nossa ideia”, destacou Peres.
*Com informações Universidade Federal do Oeste do Pará
A grilagem provoca o desmonte do patrimônio público, que prejudica diretamente a capacidade do Estado de implementar políticas agrárias inclusivas e sustentáveis. Foto: Cimi
Um novo estudo do Imazon revela um cenário preocupante no combate à grilagem de terras na Amazônia Legal: apenas 7% das decisões judiciais em ações criminais sobre o tema resultaram em condenação. A pesquisa, que analisou 526 decisões de 193 réus em 78 processos na Justiça Federal, aponta que a maioria dos casos termina em absolvição ou prescrição, com os estados do Amazonas, Acre e Rondônia enfrentando desafios significativos.
Os processos analisados tramitavam majoritariamente em varas federais do Pará (60% ou 47 processos). No entanto, a região conhecida como AMACRO, composta pelos estados do Amazonas, Acre e Rondônia, também concentra uma parcela significativa desses casos, respondendo por 20% dos casos, sendo 15% no estado do Amazonas; 4% em Rondônia por 4%; e 1% no Acre.
Distribuição por estado relacionados à grilagem de terras. Imagem: Imazon
Quase metade dos processos (42%) não informava o tamanho da área-alvo da grilagem, mas 18% envolviam áreas acima de 10.000 hectares, o que é um território vasto, equivalente a mais de 10 mil campos de futebol em cada caso.
Tamanho de áreas envolvidas. Imagem: Imazon
A grilagem é a obtenção de terras por meios ilícitos, como o desmatamento ilegal para sinalizar ocupação e a falsificação de documentos para forjar propriedade de áreas públicas. Essa prática criminosa causa conflitos fundiários, violência no campo, desmatamento descontrolado e degradação ambiental, além de prejudicar a capacidade do Estado de implementar políticas agrárias inclusivas e sustentáveis.
O estudo do Imazon, intitulado “Existe punição para grilagem na Amazônia? Uma análise de decisões judiciais em ações criminais”, divulgado em julho de 2025, mostra que dos 78 processos analisados até maio de 2022, o desfecho mais comum foi a absolvição (35% das decisões), seguida pela prescrição (33%), que ocorre quando o poder público perde o direito de punir o réu devido à demora na ação judicial. Isso significa que, na prática, em grande parte dos casos, os grileiros não são punidos.
Um fator crucial para essa impunidade é a lentidão do Judiciário. O tempo médio entre o início da tramitação de um processo e a decisão final foi de seis anos. Para quase metade dos réus (48%), a sentença demorou mais de cinco anos, e em 17% dos casos, levou entre 13 e 18 anos para ser proferida. Casos de prescrição, por exemplo, levaram em média dez anos até serem declarados.
Grilagem compensa?
Lorena Esteves, pesquisadora do Imazon e uma das autoras do estudo, explica que a grilagem “envolve desde falsificação de documentos até a ocupação ilegal de áreas que pertencem ao Estado, alimentando um ciclo de destruição ambiental, especulação fundiária e violência no campo”. Apesar da gravidade, as condenações são raras. Quase metade (49%) das condenações foram por crimes ambientais, principalmente desmatamento em floresta pública (10 casos), e 64% ocorreram em Unidades de Conservação. Para o crime mais frequente dentre os analisados, a invasão de terra pública (134 casos), houve apenas duas condenações.
A pesquisa aponta que a baixa pena para o crime de invasão de terra pública (máximo de 3 anos de detenção) facilita a prescrição em oito anos e a concessão de benefícios legais, como a suspensão condicional do processo. Estes benefícios permitem aos réus evitar a condenação e o registro de antecedentes criminais, mesmo quando indiciados por múltiplos crimes.
Outros motivos para as baixas condenações incluem a dificuldade de provar os crimes, muitas vezes pela falta de perícias para comprovar falsidade documental ou a aceitação da “boa-fé” do invasor, mesmo com contratos de compra e venda inválidos para terras públicas.
Apenas um caso de estelionato resultou em condenação, com juízes frequentemente interpretando a comercialização de terras públicas sob a ótica do Direito Civil, focando na invalidade do negócio jurídico e desconsiderando o proveito econômico da exploração e os danos ambientais. Já para o crime de associação criminosa, nenhum réu foi condenado, sendo a prescrição o desfecho mais comum.
Além disso, o Ministério Público raramente pede reparação de danos (apenas para 16% dos réus), e esses pedidos são quase sempre negados pelos juízes, limitando o impacto financeiro para os grileiros. O único caso em que a reparação foi deferida foi por invasão de terra pública, em valor de R$ 39.920,00, devido à prolongada ocupação (três décadas) de uma área extensa.
Modificação na lei
Diante desse cenário, o estudo propõe diversas recomendações para fortalecer a responsabilização penal e prevenir novas ocupações ilegais.
Entre as medidas, estão o aumento das penas para crimes de grilagem, com penas mínimas acima de um ano e máximas acima de cinco anos, para estender os prazos de prescrição e dificultar benefícios legais; a criação de um tipo penal específico para punir a comercialização de terras públicas griladas, coibindo a impunidade e os lucros ilícitos; a inclusão de pedidos detalhados de reparação de danos pelo Ministério Público nas denúncias, especificando os prejuízos de cada réu; e a intensificação das investigações sobre grilagem, com foco em crimes de penas mais altas, como lavagem de dinheiro, fortalecendo a colaboração entre MPF, Polícia Federal, Ibama e Coaf.
Brenda Brito, também pesquisadora do Imazon, reforça a importância da prevenção: “A prevenção sempre é a melhor via. E para prevenir a grilagem de terras, é essencial avançar rapidamente na destinação de florestas públicas de forma compatível com o uso sustentável, retirando esses territórios dos alvos dos grileiros”.
Segundo o estudo, o Judiciário também precisa atuar de forma mais incisiva, consolidando a jurisprudência de que a invasão de terra pública é um crime permanente – ou seja, o crime continua enquanto a ocupação ilegal persistir, e a contagem da prescrição só se inicia quando a ocupação termina. Além disso, é crucial que os órgãos fundiários notifiquem formalmente os invasores sobre a natureza pública da área, o que tem se mostrado uma prova fundamental nas condenações por afastar a alegação de boa-fé.