O Serviço Geológico do Brasil (SGB) divulgou, nesta quarta-feira (27), os resultados da atualização do mapeamento de áreas de risco geológico de Manaus (AM). O levantamento indica que, aproximadamente, 112 mil pessoas vivem em 438 setores classificados como de risco alto (R3) e muito alto (R4) para desastres como inundações, alagamentos, enxurradas, erosões e deslizamentos. A entrega do relatório foi feita à prefeitura e à Defesa Civil municipal para subsidiar ações de prevenção e planejamento urbano.
De acordo com o estudo, a capital amazonense possui 362 setores de risco alto e 76 de risco muito alto. Em relação ao levantamento anterior, realizado em 2019, é observado um aumento do tamanho de áreas de risco em km², no número de moradias e de pessoas vivendo nessas áreas mapeadas. Na época, havia 73 mil pessoas nos setores classificados como de risco alto e muito alto, agora esse número saltou para aproximadamente 112 mil.
A atualização do mapeamento indica que todas as zonas administrativas apresentam áreas de risco, com destaque para as zonas Leste e Norte, que concentram maior número de setores e domicílios vulneráveis. Entre os bairros, os que mais se destacam pelo número de moradias em risco registrado são:
Jorge Teixeira,
Cidade Nova,
Gilberto Mestrinho,
Alvorada,
Mauazinho
e Nova Cidade.
Juntos, esses seis bairros concentram 194 setores de risco alto e muito alto, abrangendo mais de 13 mil domicílios e aproximadamente 52 mil pessoas vulneráveis aos processos geológicos e hidrológicos identificados.
O pesquisador em geociências do SGB, Elton Andretta, explica que o crescimento urbano desordenado de Manaus, observado há décadas, é o principal fator para a existência de áreas de risco. Segundo ele, o cenário se agrava porque a cidade é cortada por diversos igarapés e rios, que atravessam todas as zonas administrativas.
“A ocupação irregular nas planícies de inundação e sobre as drenagens deixa as casas vulneráveis a enchentes, alagamentos, inundações e enxurradas, além de erosões de margem fluvial”, detalha.
O estudo mostra ainda que os meses de janeiro a abril, período de maior intensidade de chuvas, concentram a maior parte dos registros de ocorrências. O SGB também identificou que parte das áreas mapeadas em 2019 passou por intervenções de mitigação, mas o crescimento urbano desordenado e a ocupação de áreas impróprias para habitação continuam sendo fatores que ampliam a vulnerabilidade da população.
Imagem: Divulgação/SGB
No estudo, o SGB apresenta recomendações para reduzir os riscos existentes, principalmente, nos setores classificados como de risco muito alto.
“Esses 76 setores mapeados devem ser priorizados pelas municipalidades na questão de intervenções estruturais (obras) e não estruturais (alertas, gestão e gerenciamento), visando a mitigação dessas áreas. Para não agravar mais a situação, o planejamento urbano do município é de extrema importância, combatendo as invasões e ocupações irregulares, realizando de obras de urbanização e infraestrutura contínuas por toda a cidade”, ressaltou Andretta.
O mapeamento de áreas de risco é um dos principais trabalhos que o SGB realiza em todo o país para apoiar o poder público em ações de prevenção de desastres. Mais de 1,7 mil municípios brasileiros já receberam esse estudo.
O levantamento anterior foi realizado em 2019 e, na ocasião, foram identificados 634 setores de risco alto e muito alto, onde viviam, aproximadamente, 73 mil pessoas. A variação no número de setores observada no novo mapeamento decorre da aplicação de metodologias e tecnologias mais precisas e atualizadas.
Para a atualização, o SGB adotou uma nova metodologia, considerando apenas os setores de risco alto e muito alto. Também foram utilizadas tecnologias como imagens de maior resolução e drones, o que permitiu unir em um mesmo setor áreas vizinhas que antes eram contabilizadas separadamente. Além disso, foi usada a base de dados domiciliar do Censo 2022 do IBGE, o que proporcionou maior precisão na estimativa populacional.
Microbioma amazônico é uma fonte ainda pouco explorada de inovação para a agricultura sustentável. Foto: Juan Lopes Teixeira
Um estudo desenvolvido na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), campus de Piracicaba, revelou o potencial de microrganismos isolados da floresta amazônica na promoção do crescimento de plantas, no controle de doenças agrícolas e na descoberta de compostos bioativos inéditos.
A pesquisa explorou actinobactérias, um grupo de bactérias conhecido pela rica produção de metabólitos com aplicações agrícolas e farmacêuticas.
De autoria da bióloga Naydja Moralles Maimone, a pesquisa foi financiada pela FAPESP e realizada no Laboratório de Microbiologia Agrícola e Química de Produtos Naturais, sob orientação da professora Simone Lira.
O projeto reuniu pesquisadores da Esalq, da USP de São Carlos e da Simon Fraser University, do Canadá. “As actinobactérias estudadas foram isoladas de solos amazônicos e estavam armazenadas no Laboratório de Genética de Microrganismos da Esalq. Destacamos o caráter interdisciplinar desse estudo, que englobou diferentes áreas da microbiologia, genética e química orgânica”, conta Maimone à Assessoria de Imprensa da Esalq.
O estudo utilizou técnicas avançadas de metabolômica e genômica, revelando como o microbioma amazônico é uma fonte ainda pouco explorada de inovação para a agricultura sustentável.
Duas das linhagens avaliadas se destacaram. A Streptomyces sp. AM25 demonstrou forte potencial como bioinsumo agrícola, promovendo o crescimento de plantas de milho e inibindo fungos que atacam culturas como soja, milho e tomate.
A Streptantibioticus sp. AM24 surpreendeu por produzir compostos inéditos, como duas novas acidifilamidas, tripeptídeos (um tipo de peptídeo composto por três aminoácidos) com estruturas químicas não usuais, uma delas contendo uma modificação que ainda não havia sido descrita anteriormente em metabólitos originados de microrganismos.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp
Anéis dos troncos de árvores espelham a variação anual de chuva. Foto: Leó Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP
No último século, as árvores da Amazônia e de outras regiões tropicais têm resistido aos períodos de seca intensa, mesmo quando duram mais de um ano, e retomam depois o crescimento. No entanto, já se notam os efeitos de temperaturas mais altas. Ao longo desses 100 anos, os episódios de estiagem severa induziram uma leve redução no crescimento do diâmetro das árvores, o suficiente para aumentar em 10% a taxa de mortalidade. Se o calor continuar a se ampliar, o desenvolvimento tende a diminuir de forma mais acentuada e a mortalidade aumentará, de acordo com um artigo publicado em 31 de julho na Science.
As conclusões se basearam em análises feitas em colaboração com 150 pesquisadores de 124 instituições, 17 delas brasileiras, que participam da rede internacional Tropical Tree-ring Network (TTRNetwork), financiada no Brasil pela FAPESP. Eles examinaram os efeitos de secas extremas e do aquecimento global por meio da variação da espessura dos anéis de crescimento do tronco de mais de 10 mil árvores do Brasil e de outras regiões tropicais.
“Até aqui, as árvores se mostraram resilientes às secas extremas”, observa o biólogo Peter Groenendijk, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos autores principais do artigo.
Resiliência, ele explica, é a capacidade de retornar ao estado anterior após um distúrbio. “Desde 1930, o crescimento nos períodos de seca intensa diminuiu em média 2,5%, mas as plantas cresceram normalmente na estação chuvosa seguinte”.
Notou-se a retomada do crescimento após secas intensas mesmo em ambientes de regiões de clima mais quente, como a Caatinga brasileira. Nesse bioma, as reduções de crescimento em anos de secas severas foram de até 10%, mas as árvores retomavam o ritmo normal de crescimento quando voltava a chover.
Temperaturas mais altas, crescimento menor das árvores
No entanto, a intensidade das secas e a redução do crescimento aumentaram nas últimas décadas. “Caso essa tendência se acentue com as mudanças climáticas, a mortalidade das árvores e as emissões de gases de efeito estufa [GEE] podem aumentar”, alerta Groenendijk.
O aumento de 10% nas taxas de mortalidade das árvores, por si só, resultou em uma emissão de GEE equivalente à de um país do porte da Alemanha, com 85 milhões de habitantes.
Em um trabalho anterior com 99 espécies em cinco continentes, a equipe da TTRNetwork verificou que o aquecimento global deve reduzir a capacidade das plantas de absorver carbono da atmosfera, como descrito em um artigo publicado na revista Nature Geosciences em 2022. Agora, o grupo ampliou a amostra e examinou o efeito das secas mais intensas ocorridas desde 1930 nos anéis dos troncos de 163 espécies de árvores.
A largura de cada anel reflete o crescimento ao longo de um ano, variando nos períodos de chuva ou de seca. Para examinar os anéis sem cortar a árvore, os pesquisadores retiram um cilindro do caule usando um tipo especial de broca manual ou motorizada, deixando um furo de cerca de 1 a 3 centímetros (cm). Essa amostragem atravessa o tronco, mas não compromete o desenvolvimento das árvores. Segundo Groenendijk, as árvores se recuperam desse tipo de ferida.
O caule das árvores é formado por vasos que transportam a água e os nutrientes absorvidos do solo. Na seca extrema, a coluna de água pode se romper, formando bolhas que bloqueiam o fluxo e, dependendo da quantidade de vasos afetados, levar o sistema de circulação do vegetal ao colapso.
“Se a temperatura subir demais e as secas se tornarem mais intensas, as árvores mais velhas devem começar a morrer e as mais jovens a viver menos tempo”, alerta o biólogo Giuliano Locosselli, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), um dos autores do estudo, responsável por coletas em Minas Gerais e São Paulo.
No Cerrado e na Caatinga, Groenendijk testa outro método, com sensores que monitoram o fluxo de água e a transpiração, para ver o limite de temperatura e de falta de água que as árvores suportam.
Nelson-Jaen, da Unicamp, examina um mogno brasileiro (Swietenia) coletado no Acre (à esq.). Amostras de anéis de espécies tropicais de árvores (à dir.). Foto: Peter Groenendijk/Unicamp
Variação extrema
A seca intensa que afeta o crescimento das árvores não significa necessariamente que a precipitação anual na Amazônia esteja diminuindo. Segundo o biólogo brasileiro Bruno Cintra, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, o clima na Amazônia está se tornando cada vez mais extremo, com chuvas torrenciais no verão, alternadas com invernos mais secos.
Cintra analisou a proporção de diferentes tipos de isótopos (formas de mesmo elemento químico com massa atômica diferente) de oxigênio, que varia conforme a quantidade de chuva e é incorporado aos troncos. Desse modo, a proporção dos isótopos nos anéis de crescimento indicará a intensidade da chuva de cada ano.
No estudo, anéis de troncos de espécies distintas indicaram a variação de chuva ao longo do ano. O cedro-cheiroso (Cedrela odorata), árvore de áreas não alagáveis, serviu de referência para a estação chuvosa, enquanto o arapari-branco (Macrolobium acaciifolium), adaptado a ambientes alagáveis, foi usado como parâmetro para a estação seca. “Conseguimos medir a chuva de cada ano sem precisar de dados climáticos da Amazônia, que são escassos”, destaca Cintra.
Por muito tempo, os especialistas no estudo dos anéis de crescimento, ciência conhecida como dendrocronologia, consideraram que as árvores dos trópicos, por viverem em lugares sem grandes variações entre as estações do ano, teriam um crescimento contínuo e formariam uma madeira uniforme. Presumia-se que os anéis eram resultado de estações bem delimitadas nas árvores de regiões temperadas, como as sequoias (Sequoia sempervirens), que podem viver mais de 2 mil anos, com troncos de 10 m de diâmetro e altura de até 100 m.
Nas regiões de clima mais ameno dos hemisférios Norte e Sul, o crescimento do tronco das árvores diminui gradativamente até parar no inverno e recomeçar na primavera. O contraste entre a madeira mais escura formada no final da estação de crescimento com a madeira mais clara gerada no verão resulta em anéis bem delimitados.
A partir dos anos 1980, os estudos nessa área deixaram claro que a variação do clima nos trópicos poderia ser suficiente para promover a formação de anéis anuais de crescimento, embora em muitas espécies sejam difíceis de visualizar. Por isso, os pesquisadores preferem as espécies que produzem anéis facilmente identificáveis, como os cedros (Cedrela spp.), a araucária (Araucaria angustifolia) e o jatobá (Hymenaea spp.).
“Nos trópicos, variações no clima podem fazer com que o crescimento das árvores se torne irregular”, ressalta a engenheira florestal Ana Carolina Barbosa, da Universidade Federal de Lavras (Ufla), que fez coletas na Amazônia ocidental e em regiões mais secas de Mata Atlântica, no norte de Minas Gerais, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Segundo ela, uma das dificuldades desse trabalho são os chamados falsos anéis, que se formam fora da época esperada, quando chove excepcionalmente muito. Já em anos de seca extrema, nas regiões mais áridas, as árvores podem deixar de crescer e não formarem o anel de crescimento, dificultando a datação e a identificação da oscilação do clima,
“Os anéis podem se tornar bem mais largos nas regiões tropicais do que nas temperadas”, reforça Locosselli. Por exemplo, os anéis do guapuruvu (Schizolobium parahyba), que cresce com rapidez em clareiras ou regiões desmatadas, podem passar de 3 cm de espessura, enquanto os das sequoias podem ter em média menos de 1 milímetro (mm).
Com base nesse conhecimento, Locosselli verificou que a tipuana (Tipuana tipu), espécie de copa larga e flores amarelas, que chega a 25 metros de altura, cresce bem sob temperaturas altas, mesmo nos períodos de seca intensa, como mostrado em um artigo publicado em maio de 2024 na revista Urban Climate. Segundo ele, a tipuana ajuda não só a amenizar a temperatura das cidades, mas também a sequestrar carbono da atmosfera, por causa de sua capacidade de crescer com rapidez.
Projetos 1. DendroGrad: Aplicando anéis de crescimento, anatomia da madeira e atributos hidráulicos em um gradiente ambiental para avaliar as respostas de crescimento de três espécies tropicais à fertilização por CO2 (nº 18/01847-0); Modalidade Jovem Pesquisador; Pesquisador responsável Peter Stoltenborg Groenendyk (Unicamp); Investimento R$ 1.300.245,40. 2. Florestas funcionais: Biodiversidade a favor das cidades (nº 19/08783-0); Modalidade Jovem Pesquisador; Pesquisador responsável Giuliano Maselli Locosselli (USP); Investimento R$ 1.399.634,55.
Assim como existem espécies de cobra que nadam tão bem quanto peixes, também há muitos peixes que parecem com as serpentes. A semelhança se dá principalmente pelo formato alongado do corpo e, em alguns casos, por conta daquela cara de zangada que certas cobrinhas têm.
Entre os peixes muito bem disfarçados, pode-se destacar as enguias (família Anguillidae), as moreias (família Muraenidae), as piramboias (família Lepidosirenidae) e o muçum (Família Synbranchidae).
Entre esses animais que “se disfarçam”, alguns são encontrados na Amazônia, como o poraquê (Electrophorus voltai), um dos integrantes da família das enguias.
Natural da Bacia Amazônica, ele é capaz de produzir descarga elétrica de até 860 volts – cerca de quatro vezes a voltagem de uma tomada de 220 volts.
Outros aspirantes a serpentes são a piramboia e o muçum, peixes de água doce com nomes que vêm da cultura indígena. Na língua dos tupis – população originária que vivia na costa brasileira quando os portugueses chegaram no Brasil, no século XVI –, o termo “pirá” significa “peixe” e “mboia”, “cobra”; enquanto “mu’su” significa “escorregadio”.
Essa característica, inclusive, é comum aos dois peixes, uma vez que secretam um tipo de muco pela pele. Isso faz com que eles consigam se movimentar rapidamente, escapando de seus predadores e pregando sustos nas pessoas que se refrescam nos rios.
Outra curiosidade é que piramboia e muçum podem viver longos períodos em áreas de lama, sem água, para escapar da seca.
A piramboia consegue essa façanha porque possui pulmão: quando está na água, ela precisa subir à superfície de tempos em tempos para buscar ar. (Com habitat exclusivo em água doce, a piramboia pode ser encontrada nas bacias dos rios Amazonas, Paraguai e baixo Paraná, além de países e regiões como Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana e Guiana Francesa).
Já o muçum tem uma faringe altamente vascularizada, que funciona de forma similar ao órgão responsável pela respiração. Por isso, durante à noite, é comum encontrá-lo rastejando pelo chão, indo de um corpo d’água para outro.
*O conteúdo completo foi escrito por Natasha Pinelli para o Instituto Butantan. A matéria contou com a contribuição e foi validada pelo biólogo e tecnologista do Laboratório de Ecologia e Evolução (LEEV) do Butantan Fabiano Morezi de Andrade.
A Glocal Amazônia 2025 começa nesta quinta-feira (28) em Manaus (AM) com muitos debates, workshops sobre sustentabilidade e inovação, oficinas e também ações culturais.
Lançado nesta quarta (27), um livro inédito vai apoiar escolas e agentes de saúde em comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas da Amazônia. A obra alia o conhecimento tradicional amazônico às informações científicas sobre a qualidade nutricional de frutos como açaí e tucumã, tubérculos como mandioca e cará, peixes e outros alimentos da floresta.
Além disso, o material propõe que a Educação Alimentar e Nutricional seja tratada de forma transversal no ensino, e não apenas em aulas de ciências. O currículo pode englobar desde aulas sobre a origem histórica dos alimentos tradicionais até a aplicação de conceitos matemáticos como razão e proporção a receitas culinárias locais.
O livro ‘Educação Alimentar e Nutricional nas escolas da Amazônia: valorizando os saberes e sabores da floresta‘ foi desenvolvido de forma colaborativa, com participação de 117 professores e agentes comunitários de saúde de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas, além de uma equipe multidisciplinar de especialistas do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), da Universidade Federal do Pará e da Unicef.
No dia 20 de agosto, o trabalho foi anunciado como um dos três finalistas do Prêmio Álvara Lopes de Mello e Silva 2025, concedido pelo Conselho Regional de Nutrição da 7ª Região (CRN-7). O resultado final será divulgado nesta quinta (28).
A região amazônica apresenta índices críticos de insegurança alimentar, com taxas de anemia infantil nas comunidades ribeirinhas seis vezes maiores que a média nacional, além de aumento do consumo de produtos ultraprocessados.
Para o pesquisador Daniel Tregidgo, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, o conhecimento reunido no livro pode ajudar no combate à má nutrição ao permitir a escolha da população por alimentos saudáveis.
“Precisamos melhorar a educação alimentar e nutricional em todas as regiões do Brasil, porém os professores amazônicos reclamam que a pouca informação que chega sobre alimentação não reflete a realidade das comunidades”, avalia.
A nutricionista e mestranda da UEA Jessica Cardoso Lopes conta que a motivação para a organização da obra partiu de sua experiência de oito anos em municípios, comunidades e aldeias do médio rio Solimões.
“Muitas vezes, professores e agentes comunitários de saúde não tinham acesso a conteúdos que integrassem nutrição e cultura local, dificultando a prática da educação alimentar e nutricional prevista no currículo escolar”, diz. Esse intercâmbio possibilitou a criação de uma metodologia aplicável a diferentes comunidades.
“Esse é um diferencial importante: superar a predominância de materiais didáticos baseados em alimentos de outras regiões, o que muitas vezes desvaloriza a cultura alimentar amazônica”, enfatiza Lopes.
O conteúdo inclui informações sobre alimentos, histórias e atividades regionais que se relacionam com as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular.
“No capítulo 2, usamos farinha de mandioca como um exemplo de carboidratos, cupuaçu como fonte de vitamina C, açaí para explicar compostos bioativos, a diferença entre pilotar ou remar uma canoa para explicar gastos energéticos, e o curupira (o protetor da floresta) nos ajuda a explicar micronutrientes (protetores do nosso corpo). Os saberes das comunidades tradicionais foram incorporados nas sugestões de aulas no capítulo 3, que os professores e agentes comunitários de saúde apresentaram durante as oficinas nas comunidades, e que refletem a realidade local”, revela Tregidgo.
Na visão dos profissionais envolvidos, o livro é uma ferramenta pedagógica que reforça a valorização cultural dos povos da floresta e contribui para a melhoria da saúde nas comunidades.
Embora voltada para a Amazônia, a metodologia pode ser adaptada a outras regiões do Brasil, respeitando as suas especificidades alimentares e culturais. O projeto contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e da Conservation, Food and Health Foundation.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori
Embrapa apoia comunidades quilombolas na produção de farinhas artesanais, gerando emprego e renda. Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa
A união entre ciência e tradição vem mudando a realidade de comunidades quilombolas do nordeste do Pará. Com apoio da Embrapa, a produção artesanal de farinhas à base de cará, araruta, banana e outros ingredientes típicos da sociobiodiversidade amazônica ganhou potencial de escala, qualidade e preparo agroindustrial, abrindo caminho para novos mercados e geração de renda — tudo sem abrir mão da floresta em pé.
A transformação foi possível graças ao Projeto Quirera, a primeira iniciativa de inovação social da Embrapa no Pará, desenvolvida em parceria com a Rede Bragantina de Saberes e Sabores. O coletivo reúne agricultores, associações e cooperativas em mais de dez municípios da região Bragantina e aposta na força do conhecimento tradicional aliado a tecnologias simples, criadas com comunidades locais e para elas.
A proposta é diferente do modelo tradicional de difusão de tecnologia: aqui, os saberes locais orientam o desenvolvimento técnico, num processo de escuta, respeito e construção coletiva. O resultado mais visível está nas agroindústrias comunitárias: nas quais antes se produziam dez quilos de farinha por semana com altas perdas e trabalho pesado, hoje são processados até 40 quilos com alto padrão de higiene, qualidade nutricional e conservação.
Dessa forma diferenciada de fazer ciência, renasceram farinhas sem glúten a base cará branco, cará roxo, araruta, banana, pupunha e tucumã, matérias-primas que comumente se perdiam nos períodos de safra ou não se cultivavam mais nas áreas de plantio. Esses alimentos atendem a um nicho diferenciado de consumo e ainda são mais nutritivos que similares encontrados no mercado, com múltiplas possibilidades de uso, desde produtos de panificação a shakes e o que mais a criatividade gastronômica permitir.
Inovação social transforma territórios tradicionais
A Embrapa tem investido em inovação social como estratégia para ampliar o acesso de povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares a tecnologias e conhecimentos capazes de fortalecer suas atividades produtivas ao mesmo tempo em que respeita os saberes e territórios desses grupos.
O pesquisador da Embrapa Agrobiologia (RJ) Mauro Pinto, acompanha de perto os projetos da Empresa em todo País que têm esse modo especial de fazer ciência. Ele destaca que a parceria com organizações sociais é essencial para atender às especificidades territoriais e gerar impactos positivos.
Ele reconhece que, por diversas razões, as comunidades têm dificuldade de acessar tecnologias e esse é o grande desafio.
“A Embrapa estimula e vem fortalecendo ações que privilegiam a utilização de abordagens de construção coletiva de conhecimentos e tecnologias como estratégia para fortalecer os processos de inovação nos territórios, no intuito de gerar valor e impactos positivos às comunidades envolvidas e a toda a sociedade”, declara o cientista.
Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa
De alimento ancestral a nicho de mercado
Historicamente ligadas à produção de farinha de mandioca — base da alimentação local —, as comunidades rurais quilombolas da região também desenvolviam, de forma artesanal, farinhas a partir de outras fontes como banana, milho, puba, cará e até a multimistura, um mix de farinhas usado no combate à desnutrição infantil. Com o tempo, essas práticas se tornaram raras ou restritas ao consumo doméstico.
A criação da Rede Bragantina (foto à direita), no fim dos anos 2000, começou a reverter esse cenário. As farinhas voltaram a aparecer em feiras e eventos na capital paraense. Mas o salto de qualidade só veio com a parceria e inovação social resultando em adequações tecnológicas e boas práticas no todo processo de fabricação.
Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa
Antes, a secagem era feita ao sol e os equipamentos eram rudimentares exigindo esforço físico extremo. Durante o inverno amazônico, período mais chuvoso, as perdas se acumulavam e a produção parava. Com o Projeto Quirera, secadores elétricos adaptados e treinamentos em boas práticas reduziram perdas pela metade.
Equipamentos e peças de reposição de baixo custo, fáceis de manter e encontrar, como ventiladores, carrinhos de padaria e resistências de fritadeira elétrica, tiveram o uso adaptado para melhorias de ferramentas agroindustriais eficientes. Como resultado, a produção quadruplicou e a qualidade aumentou gerando farinhas de maior durabilidade, respeitando a legislação vigente.
“Antes, secar a matéria-prima era um problema, principalmente no inverno. Agora, com os equipamentos, conseguimos manter a produção com menos desperdício”, conta Leiane Nascimento, jovem liderança da agroindústria Atavida, uma das beneficiadas pelo projeto. Lá, são produzidas farinhas de banana, cará branco, cará roxo, araruta, pupunha e tucumã, todas sem glúten e com alto valor nutricional.
Farinhas com padrão de qualidade e identidade local
Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa
A padronização e melhoria da higiene também foram destaque. O corte manual foi substituído por máquinas de fatiar, e a secagem – antes vulnerável à umidade – agora é feita em estufas fechadas, uma elétrica e outra solar, esta com lona e policarbonato, ideia das próprias agricultoras. “A qualidade da farinha melhorou muito. Agora sabemos armazenar, secar e processar corretamente. O produto dura mais e fica pronto para a prateleira”, conta Nascimento.
Além do ganho técnico, o projeto resgata alimentos ameaçados de desaparecer dos sistemas produtivos, como o cará e a araruta, fortalecendo a sociobiodiversidade amazônica e a segurança alimentar das comunidades. Para Nazaré Reis, assessora técnica da Rede Bragantina, a comunidade passou a olhar para a floresta com mais atenção. “Se antes pensavam em desmatar, agora plantam e entendem que preservar garante renda e alimentação”, observa.
O diferencial do Quirera e dos projetos de inovação social foi tratar a comunidade como parceira desde o início. “O conhecimento tradicional teve o mesmo peso da ciência em todo processo. Ouvimos e adaptamos soluções às necessidades locais”, destaca Laura Abreu, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (PA) e coordenadora do projeto.
A ausência de equipamentos industriais e a distância dos centros urbanos exigiram criatividade técnica e para isso, secadoras elétricas já criadas por outras Unidades da Embrapa, receberam resistências de fritadeiras elétricas. Ventiladores comuns e carrinhos de padaria foram transformados em tecnologia agroindustrial de baixo custo e fácil manutenção.
O secador elétrico desenvolvido pela Embrapa Agroindústria Alimentos é um exemplo. Compacto e eficiente, pode ser operado por técnicos locais e adaptado para funcionar com energia solar, gás ou biomassa. Com ele, a secagem, que levava dias, agora leva poucas horas, aumentando a produtividade e melhorando a segurança sanitária dos alimentos.
Ganha a ciência, ganha o território
Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa
Para a Embrapa, projetos como o Quirera representam um avanço no modo de fazer ciência. “É uma ciência que dialoga, que reconhece que as soluções nascem do território e que inovação não precisa ser cara, mas precisa ser útil e replicável”, afirma Abreu.
Para as comunidades, o ganho é múltiplo: renda, autonomia, segurança alimentar e fortalecimento cultural. “As mulheres voltaram a produzir, os jovens se interessaram de novo pelo campo, e a farinha que antes era só para casa agora tem valor de mercado”, celebra Nazaré.
Já para a bioeconomia amazônica, a iniciativa mostra que o futuro passa pelo respeito ao saber local, pela agregação de valor aos produtos da floresta e pela valorização dos modos de vida tradicionais. “É possível produzir com tecnologia, sem desmatar, respeitando o tempo das pessoas e da natureza”, reforça Nazaré.
Um modelo que pode inspirar o País
Com o sucesso na região Bragantina, o Projeto Quirera já inspira novas possibilidades. A Embrapa estuda replicar o modelo em outros territórios tradicionais, com adaptações às realidades locais.
“Nosso sonho é que pequenas agroindústrias se multipliquem, levando dignidade, saúde e floresta em pé por toda a Amazônia”, afirma Laura Abreu.
Ao transformar saber tradicional em tecnologia útil, acessível e replicável, o projeto mostra um novo caminho para o desenvolvimento rural no Brasil. Um caminho em que ciência e cultura local caminham juntas — e em que uma simples farinha de banana pode carregar o sabor de toda uma revolução. Por enquanto, a transformação já pode ser vista nos olhos de quem, com orgulho, oferece um mingau de farinha de banana ou um bolo de cará e pode dizer: “essa é nossa ciência também”.
Publicações científicas
As melhorias no processo agroindustrial para a profissionalização das farinhas sem glúten da produtos oriundos da sociobiodiversidade amazônica estão nos artigos:
Merendeiras de Oriximiná. Foto: Reprodução/Imaflora
O projeto ‘Capacitação de Merendeiras em áreas rurais da Amazônia‘, uma iniciativa do Programa Florestas de Valor do Imaflora, em colaboração com a Secretaria Municipal de Educação de Oriximiná (Semed), no Pará, e o apoio financeiro da Fundação Carrefour, concluiu sua última etapa com o I Concurso de Agentes da Alimentação Escolar Quilombola.
O presidente da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO), Rogério Pereira, ressaltou a importância, tanto do ponto de vista do fortalecimento da cultura, quanto do resgate ancestral da cultura alimentar quilombola.
“Este projeto tem uma importância muito grande para nós porque ele tem a valorização da cultura local da alimentação, na qual a gente tem uma tradição nas nossas comunidades e que ela acaba deixando de ser aplicada nas nossas comunidades e esse projeto que o Imaflora traz fortalece o nosso processo de alimentação”, Rogério Pereira.
Impacto e legado na educação e economia local de Oriximiná
A valorização das merendeiras tem um impacto social profundo, pois elas ocupam um papel central na comunidade escolar, sendo fundamentais para a promoção da segurança alimentar e nutricional. Seu reconhecimento gera uma série de benefícios: incentiva hábitos alimentares saudáveis, contribui para o melhor desempenho acadêmico dos estudantes, fortalece o empoderamento profissional e social, promove a geração de emprego e renda na comunidade e estimula práticas sustentáveis, como o apoio à agricultura familiar e à conservação da floresta em pé.
Da esquerda para a direita: Rogério Oliveira – Presidente da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Oriximiná (ARQMO);Maria Farias – Coordenadora do escritório regional do Imaflora em Alter do Chão; Ivana Maria Pereira de Souza – Secretaria Municipal de Educação de Oriximiná (Semed); Domênica Falcão – Consultora de Impacto Social do Grupo Carrefour Brasil; Patrícia Cota- Diretora Executiva Adjunta do Imaflora; Maria Daiana Silva – Presidente da Cooperativa Mista dos Povos e Comunidades Tradicionais da Calha Norte (Coopaflora); Kethellen de Paula Santos Alves – Nutricionista da Semed de Oriximiná; e Mateus Feitosa, analista técnico do Programa Florestas de Valor do Imaflora. Foto: Reprodução/Imaflora
“Essa é uma oportunidade única da gente mobilizar os diferentes atores, para juntos estimular uma produção tradicional quilombola, que conserva a floresta em pé e, ao mesmo tempo, estimula uma alimentação mais saudável nas escolas, gerando renda para a população que vive aqui”, ressaltou Patrícia Cota, diretora adjunta do Imaflora.
A valorização das merendeiras não é apenas uma questão de justiça social e reconhecimento do trabalho essencial, mas uma estratégia que causa impacto positivo na saúde, educação, bem-estar humano e desenvolvimento econômico de toda uma comunidade.
A partir deste projeto, é possível contribuir para o fortalecimento de toda uma cadeia, que vai desde o pequeno agricultor, que produz e comercializa dentro do município para o Programa de Alimentação Escolar (PNAE), acessado pela Secretaria de Educação local, que retorna para a mesa do estudante como um alimento aprimorado em um ambiente acolhedor.
“Acreditamos que combater a fome e as desigualdades passa, também, por investir em educação alimentar e nutricional. A formação de merendeiras e merendeiros contribui para a oferta de uma alimentação escolar mais saudável, acessível e conectada com a cultura local, fortalecendo os vínculos entre alimentação escolar, desenvolvimento infantil e agricultura familiar”, frisou Domênica Falcão, Impacto Social do Grupo Carrefour Brasil.
Se de um lado há o legado na geração de renda, do outro há o desenvolvimento acadêmico e o bem-estar dos alunos que passam a ter melhora no desempenho escolar e em muitos casos, redução da evasão escolar, uma vez que a qualidade do alimento pode ser um fator decisivo para a permanência e aproveitamento no aprendizado.
“Tivemos a conclusão de um momento muito significativo, que trouxe inúmeros benefícios para a educação em nosso município, especialmente para as nossas merendeiras. São elas que preparam e organizam todo ambiente escolar para os nossos alunos e estão saindo com amplo conhecimento em uma nova visão de mundo. Os alunos que terão uma alimentação ainda mais saborosa e rica em nutrientes”. Enfatizou a secretária de Educação de Oriximiná Ivana Maria.
Mateus Feitosa, analista sênior do Imaflora, falou que foram cinco meses de projeto dividido em duas etapas, que foram desde as formações até a seleção das receitas nas comunidades, além do concurso.
“Nós desenvolvemos duas ações onde trabalhamos toda a parte de treinamento destas agentes, com temas como reaproveitamento de alimentos, a importância da diversidade cultural e alimentar dos quilombos de Oriximiná, e sobre a Política de Alimentação Escolar, que é esse programa que faz toda essa engrenagem acontecer. A gente tratou dessa formação, e podemos testar receitas e trazer um olhar para a alimentação saudável nesta mescla de saberes”.
Exposição dos pratos. Foto: Reprodução/Imaflora
Na segunda e decisiva fase, na sede do município, na Escola Professor Assunção, em Oriximiná, quatro receitas disputaram a atenção dos jurados. Na grande final os pratos apresentados foram: Tucunaré a Leite de Castanha, Comunidade Jamari; Galinha Caipira Ensopada com Legumes, Comunidade Tapagem; Peixe Moqueado Quilombola, Comunidade Poço Fundo; e Torta Salgada de Macaxeira, Comunidade Serrinha.
As premiações seguiram critérios rigorosos: cada receita precisava ser preparada com ingredientes da agricultura familiar local, ter potencial para ser incorporada ao cardápio da merenda escolar do município, além de ser nutritiva e visualmente atrativa. O prato escolhido pelo corpo de jurados foi o Peixe Moqueado Quilombola, uma receita enraizada na ancestralidade e nos saberes tradicionais da comunidade.
“Esse prato é da minha autoria, eu pensei que fosse difícil porque eu nunca fiz um prato desse, mas foi fácil e gostoso. O concurso serviu para resgatar a cultura e buscar lá nas raízes dos nossos antepassados, comidas ricas, que tem no nosso território e as crianças gostam porque são acostumados com as coisas da terra, e do seu território”, comentou orgulhosa dona Marilda Otília Oliveira, que trabalha como agente de alimentação escolar na Escola São Francisco de Assis na comunidade quilombola de Poço Fundo.
O Futuro do projeto: um livro de receitas para a soberania alimentar
Para a terceira etapa deste projeto, o Imaflora planeja a confecção de um livro dereceitas com ingredientes da agricultura familiar e quilombolas, que reunirá as receitas levantadas tanto no Norte do Pará, em Oriximiná, quanto em São Félix do Xingu, onde o projeto também foi desenvolvido.
O principal objetivo é sistematizar todo o aprendizado e as receitas, criando um produto que não só promova a soberania alimentar, mas também valorize essas ricas tradições culinárias amazônicas. O livro servirá como um guia essencial para as agentes de alimentação, incentivando a oferta de uma alimentação saudável e culturalmente relevante nas escolas, além de gerar novas oportunidades de renda para os produtores locais.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Imaflora
O curso buscou fortalecer as capacidades de avaliação, monitoramento e participação cidadã nos processos de gestão ambiental. Foto: Divulgação/GRL
O Escritório Regional de Gestão Ambiental de Loreto, na Amazônia peruana — por meio da Comissão Regional de Meio Ambiente e com o apoio da Wildlife Conservation Society (WCS) — organizou o curso ‘Gestão Ambiental na Amazônia‘ para especialistas e representantes de organizações públicas, privadas e da sociedade civil.
O curso teve duração de cinco dias e foi concluído no dia 22 de agosto, informou o Governo Regional de Loreto em um comunicado à imprensa.
O programa teve como objetivo fortalecer as capacidades de avaliação, monitoramento e participação cidadã nos processos de gestão ambiental, “gerando um espaço de aprendizagem e compartilhamento de experiências sobre os desafios da Amazônia em termos de sustentabilidade”.
Com o tema “Avaliação e Monitoramento de Impactos Ambientais de Projetos de Infraestrutura na Amazônia”, a sessão de encerramento abordou o papel dos atores sociais na aplicação de Instrumentos de Gestão Ambiental (IGA) em projetos de investimento.
Entre os palestrantes estava o antropólogo Humberto Alzamora, consultor social, que compartilhou experiências e estudos de caso, como o da Usina Hidrelétrica de Chaglla, destacando as lições aprendidas com a implementação de programas sociais e comunitários.
Espaço para reflexão sobre gestão da Amazônia internacional
Além disso, “foram realizados trabalhos em grupo e oportunidades de reflexão conjunta, o que facilitou a troca de lições aprendidas e melhores práticas”, acrescentou o Governo Regional.
O evento contou com a participação do Engenheiro Mirko Doza Saboya, Gerente Regional Adjunto de Gestão Ambiental, que fez a abertura e o encerramento, destacando a importância da coordenação de esforços entre Estado, academia, organizações sociais e agências de cooperação.
Da mesma forma, o economista Rafael Rojas, representante da Iniciativa Águas Amazônicas da WCS, enfatizou a importância da pesquisa científica e do compromisso institucional com a proteção e gestão sustentável dos recursos hídricos da região.
Baixa capacidade de regulação da temperatura corporal desfavorece preguiças em épocas mais quentes. Foto: NTCO/Getty Images
As ondas de calor e a seca extrema no fim de 2023 e início de 2024 não deixaram apenas peixes, golfinhos (Sotalia fluviatilis) e botos (Inia geoffrensis) mortos às margens dos rios da Amazônia. De outubro a dezembro de 2023, biólogos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) encontraram 19 animais mortos em um fragmento florestal próximo a Manaus, monitorado desde 1998, sem nunca ter registrado um total tão alto de mortes em apenas três meses.
Dez eram preguiças-de-três-dedos (Bradypus variegatus), quatro cutias (Dasyprocta sp.), duas jiboias (Boa constrictor), dois araçaris (Pteroglossus sp.) e um tamanduaí (Cyclopes sp.).
A alta mortalidade das preguiças se explica pela lentidão dos movimentos, dificultando a busca por lugares com temperaturas mais amenas, e pela baixa capacidade de regulação da temperatura corporal, mais alta que a do ambiente.
A mortalidade foi estimada em 1,3 preguiça por hectare (ha), mais da metade da densidade de animais vivos registrada na mesma área, de 2,2 indivíduos por ha. Episódios similares podem voltar a ocorrer, já que as ondas de calor tendem a se tornar mais intensas e frequentes.
O artigo foi publicado na revista Acta Amazonica, de 9 de junho.