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Portal Amazônia responde: o que é grilagem de terras?

Grilagem de terras tem dizimado diversas áreas verdes na Amazônia. Foto: Marizila Cruppe/Greenpeace

A grilagem de terras é uma prática recorrente no Brasil e envolve a apropriação irregular de áreas públicas por particulares, utilizando mecanismos que buscam dar aparência de legalidade a ocupações ilegais.

O tema está diretamente ligado à organização fundiária do país, à destinação de terras públicas e ao uso de recursos naturais, especialmente em regiões com grande extensão territorial e histórico de conflitos agrários.

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De acordo com a legislação brasileira, existem situações em que a ocupação de uma terra pode gerar direito à propriedade. Isso ocorre quando uma pessoa ocupa de forma pacífica uma área pública sem destinação definida, conhecida como terra devoluta, e utiliza o espaço para produção. Nesses casos, a lei prevê a possibilidade de regularização fundiária. No entanto, esse entendimento não se aplica a áreas que já possuem destinação específica definida pelo poder público.

Em entrevista ao Portal Amazônia, a socioambientalista Muriel Saragoussi explica que é justamente nessa diferença que se estabelece a grilagem de terras.

“No Brasil, o que a legislação prevê é que uma pessoa que está ocupando uma terra de forma pacífica e que está utilizando a terra para produção pode ter direito à propriedade dessa terra se ela pertence à União, ao Estado ou se é uma terra devoluta, ou seja, que ainda não teve uma destinação definida”, explica.

Ela esclarece: “a grilagem de terras é quando uma pessoa se instala numa terra pública que tem destinação, por exemplo, terras indígenas ou unidades de conservação, e busca titular essa terra como se fosse uma terra devoluta, como se essa terra não tivesse destinação anteriormente definida”.

Para alcançar esse objetivo, a grilagem de terras envolve o uso de fraudes documentais. De acordo com a socioambientalista, uma das práticas mais conhecidas é a falsificação de documentos de propriedade. “Muitas vezes, os grileiros se utilizam de falcatruas para tentar justificar o pedido de titulação. Por exemplo, eles forjam documentos de titulação da terra, documentos antigos”, relata.

A origem do termo ‘grilagem de terras’ está ligada a esse tipo de fraude. “A palavra grilagem vem de pegar documentos que foram feitos recentemente e colocá-los numa gaveta com grilos e outros insetos, que vão dar uma aparência envelhecida ao documento”, explica Muriel que também foi secretária nacional de Coordenação de Políticas Públicas para a Amazônia do Ministério do Meio Ambiente.

Segundo ela, “os grilos roem pedacinhos do papel, e a urina e os dejetos amarelecem o documento, dando a impressão de que ele é muito antigo, quando na verdade foi forjado há pouco tempo”.

Além desse método, a grilagem de terras também pode envolver fraudes em registros oficiais. “Outra prática é forjar documentos em livros de terra de cartórios, de forma fraudulenta”, afirma a socioambientalista e doutora em fisiologia vegetal. Essas ações buscam criar uma cadeia documental que sustente a falsa ideia de posse ou propriedade legítima.

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Muriel Saragoussi, que também foi diretora do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), resume a prática como uma apropriação indevida de bens públicos: “a grilagem é a ocupação de terras que são públicas e a apropriação dessas terras por pessoas que não têm direito a elas, nem por possuírem título, nem por terem uma ocupação antiga, e porque essas terras já têm outra destinação”.

Segundo ela, trata-se de uma transferência irregular do que é coletivo para o privado. “Isso é uma apropriação privada de um bem público, daquilo que é de todos”, destacou.

Consequências socioeconômicas da grilagem de terras

Imagem colorida mostra ação da PF em cartório para combate a grilagem de terras no Acre
Segundo Saragoussi, grileiros tem usado registros cartorários para surrupiar terras. Foto: Reprodução/PF AC

As consequências da grilagem de terras também geram impactos financeiros ao Estado. De acordo com Muriel, quando o poder público atua para retirar ocupantes ilegais dessas áreas, podem surgir disputas judiciais.

“Se depois o governo vai tirar esse ocupante ilegal da terra, ele pode querer uma indenização. Então, aquilo que é público, que foi tomado de forma ilegal, ainda pode gerar gasto de dinheiro público para pagar indenizações ao grileiro, se não houver denúncia e apuração correta”, explica Saragoussi

Outro ponto destacado pela socioambientalista é a exploração de recursos naturais em áreas griladas: “muitas vezes, nas terras griladas, os grileiros se apropriam dos recursos naturais, seja madeira, seja outros produtos do extrativismo, incluindo o subsolo, como mineração ou garimpagem”.

Essa exploração representa um prejuízo coletivo, segundo a especialista, pois os benefícios ficam concentrados em quem realizou a ocupação ilegal.

A grilagem de terras também se sustenta por meio da criação de cadeias dominiais artificiais. “Os grileiros buscam criar novas cadeias dominiais. Eles vendem essas terras a segundos, que vendem a terceiros, que vendem a outros, para que a pessoa que inicialmente grilou a terra fique perdida nesses papéis”, explica Muriel. Esse processo dá a impressão de legalidade e dificulta a identificação da origem ilegal da ocupação.

Imagem colorida mostra a socioambientalista Muriel Saragoussi sorrindo em uma apresentação com uma mapa da america do sul ao fundo
A sociambietalista Muriel Saragoussi. Foto: Caroline Rocha/Inpa

Além disso, mais recentemente, a grilagem de terras também passou a aparecer associada a novas atividades econômicas. “Essa história de crédito de carbono é uma coisa recente. Pessoas que dizem ser donas de áreas apresentam essas áreas como garantia para vender crédito de carbono e recebem dinheiro para manter a floresta em pé”, relata a socioambientalista.

No entanto, ela ressalta que esse não é o principal objetivo da prática. “O grande negócio da grilagem de terra não é o crédito de carbono, é a apropriação dos recursos naturais e depois a venda dessas terras”, conclui.

Gente do Norte Empresas: saiba quem é Ari Silva

O empresário amapaense Ari Silva. Foto: Reprodução/ Amazon Sat

Nascido em Macapá, capital do Amapá, Ari Silva é filho de comerciante e aprendeu desde cedo o valor do trabalho com o pai. Junto aos irmãos, João e Marco, Ari dava seus primeiros passos na futura profissão quando, aos 12 anos, acompanhava o pai ao Mercado Central de Macapá para vender produtos agrícolas.

A perda precoce do pai, aos 52 anos, foi um marco na vida de Ari e de seus irmãos. Motivados a continuar o legado, eles juntaram suas economias para comprar o Mercantil Santa Lúcia, onde, com esforço e dedicação, construíram o império que é hoje um dos maiores negócios da região.

Apesar das dificuldades enfrentadas, Ari destaca que nada foi fácil. Foram horas de trabalho árduo, muitas vezes longe de sua esposa e de seus dois filhos, para garantir que o negócio prosperasse. “Foi uma trajetória de muito esforço e perseverança. Cada conquista foi fruto do nosso trabalho e do apoio da nossa família”, afirma.

“Ninguém começa grande, né? A maioria dos empreendedores, tanto aqui no Amapá quanto no resto do Brasil, enfrenta a mesma dificuldade: começar pequeno. A mensagem que deixo é a de começar pequeno, trabalhar muito e, claro, entender que, no início, você vai precisar abrir mão de muitas coisas. Às vezes, é necessário priorizar o trabalho e, infelizmente, abrir mão da convivência familiar. Mas, com o tempo, isso vale a pena. Se você começar e trabalhar de forma certa, vai crescer.”

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A história dos Supermercados Santa Lúcia, sob a liderança de Ari Silva e seus irmãos, teve início em 1988, quando o trio adquiriu o mercado. Aos 16 anos, Ari já se via diante do desafio de aplicar os conhecimentos que havia adquirido com seu pai para fazer o comércio crescer.

“Quando começamos no mercado, já tínhamos a noção do que era necessário, porque vendíamos de tudo: tempero, farinha, arroz. Naquela época, tudo era pesado. Então, o investimento sempre foi em variedade. E hoje, o grupo Santa Lúcia trabalha com cerca de vinte mil itens”, afirma Ari.

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Ari Silva no mercado do pai durante sua infância. Foto: Reprodução/ Amazon Sat

Com quase 40 anos de história, Ari Silva se orgulha não apenas da variedade de produtos oferecidos à população de Macapá, mas também da geração de emprego proporcionada a cada supermercado aberto pelo grupo Santa Lúcia. Em entrevista, Ari destacou que o objetivo sempre foi empregar pessoas que residem nas proximidades das lojas, criando um impacto social positivo para a comunidade e seu entorno.

“O Santa Lúcia possui hoje cerca de mil e cem funcionários, e graças a Deus, chegamos até aqui com muito trabalho. O que mais nos orgulha é a oportunidade de empregar pessoas. A cada nova loja que abrimos, nosso maior orgulho é conseguir gerar mais empregos. Temos como premissa contratar pessoas que moram nas proximidades das lojas, e isso tem dado muito certo, porque também envolve a comunidade local”, afirmou Ari Silva.

A expansão do negócio de Ari Silva e dos irmãos

Atualmente, os Supermercados Santa Lúcia estão presentes em duas cidades do Amapá: Macapá e Santana. Ao todo, são cinco lojas nos dois municípios. Em Macapá, a empresa também deu um passo importante ao inaugurar o “Atacarejo Bem Nosso”, um novo modelo de negócio idealizado pelos três irmãos.

“Tudo o que ganhamos, reinvestimos no negócio. Estamos sempre em busca do crescimento da empresa, buscando constantemente expandir. Dentro desse contexto, realizamos projetos, identificamos pontos estratégicos nas cidades e também nas áreas rurais, onde percebemos o crescimento da população ou eventos significativos, como no Oiapoque, onde está prevista a exploração do petróleo, o que deve impulsionar o crescimento da população.”

O empresário é um dos convidados do programa Gente do Norte – Empresas, transmitido pelo Amazon Sat.

Ciclo de reprodução de peixes na Amazônia é determinado pelos rios; biólogo explica

Foto: Marco Aurélio Esparza/Wikimedia Commons

Os peixes da Amazônia apresentam padrões de reprodução fortemente conectados com o ciclo hidrológico da região. A cheia (enchente), a seca (vazante) e as flutuações da vazão dos rios influenciam diretamente o momento em que muitos peixes se reproduzem.

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Em ambientes amazônicos, os peixes precisam sincronizar a desova com momentos favoráveis — seja para garantir alimento abundante aos alevinos, seja para proporcionar locais seguros de abrigo. Em alguns casos, o início da estação chuvosa sinaliza o momento crítico para a reprodução. Em outros, certas espécies adaptam-se a períodos mais prolongados.

A inundação das margens, a expansão das águas nos igarapés e várzeas e a migração de adultos para diferentes habitats são elementos que determinam “quando” e “como” os peixes se reproduzem. Por isso, estudar a reprodução de peixes na Amazônia é observar muito mais que a biologia individual: é compreender a dinâmica dos rios, da floresta e dos ciclos sazonais.

O Portal Amazônia buscou por estudos e pesquisas recentes que apontam esse vínculo entre os peixes amazônicos e o ambiente para a reprodução, com especial atenção aos fatores ambientais e aos diferentes padrões reprodutivos, e também conversou com o biólogo Edinbergh Oliveira.

Ambiente e disparadores da reprodução dos peixes

Pesquisas sobre espécies de riachos amazônicos mostram que variáveis como profundidade do canal, condutividade elétrica, revestimento de folhagem no leito e pluviometria influenciam a atividade reprodutiva dos peixes. Um estudo com Helogenes marmoratus, pequeno peixe de riacho amazônico, identificou um período reprodutivo estendido entre julho de 2019 e março de 2020. A pesquisa apontou que a profundidade e a condutividade explicaram cerca de 32% da variação no índice gonado-somático (GSI) das fêmeas.

Em rios principais e na plataforma continental, outra espécie, Lutjanus purpureus (o pargo-vermelho do Atlântico Norte e bacia amazônica), apresentou picos de desova identificados em períodos de maior descarga do rio: o mais relevante entre janeiro e março, com uma possível segunda onda em outubro.

Leia também: Portal Amazônia responde: os peixes sentem sede?

Esses estudos reforçam que os peixes amazônicos dependem de janelas sazonais — geralmente ligadas à cheia ou ao início da inundação — para iniciar a reprodução. A inundação amplia os habitats, disponibiliza recursos alimentares para larvas e juvenis e oferece abrigo contra predadores.

O biólogo Edinbergh Oliveira explica que o processo de enchente tem um papel fundamental:

“A enchente dos rios amazônicos constitui o principal gatilho para a maioria das espécies de peixes migradoras, ou seja, que sobem grandes distâncias rio acima para desovar. No entanto, um menor número de espécies migradoras de curtas distâncias e que fazem movimentos laterais dos lagos para o canal principal do rio desovam tanto na enchente quanto na vazante”, detalha.

Padrões reprodutivos são diversos entre os peixes

Entre os peixes amazônicos, há uma ampla variedade de estratégias reprodutivas. Algumas espécies realizam longas migrações, outras adotam desova múltipla ou prolongam o período reprodutivo ao longo de meses.

De acordo com o biólogo, os grandes migradores (como tambaqui, jaraqui, sardinha, aracu, cubiu, pacu, piramutaba, surubim, piraíba e mandi) desovam durante os meses de enchente.

Larva do cubiu ( Hemiodus spp) mede 3,7 mm de comprimento padrão. Foto: Edinbergh Oliveira/ Laboratório de Ecologia Aquática do ICB/ UFAM

Já espécies como sardinha (Família Engraulidae), pescada, mapará, acará, tucunaré, aruanã e pirarucu desovam tanto na enchente quanto na vazante.

Larva de mapará ( Hypophthalmus marginatus ) de 3,2 mm de comprimento padrão. Foto: Edinbergh Oliveira/ Laboratório de Ecologia Aquática do ICB/ UFAM

Leia também: Portal Amazônia responde: como funcionam os processos de enchente e vazante dos rios?

O artigo Natural History of Amazon Fishes descreve que alguns peixes se reproduzem uma única vez na vida e depois morrem (semelparidade), enquanto outros se reproduzem várias vezes ao longo da vida (iteroparidade). Essa diversidade mostra como os peixes da Amazônia adaptam a reprodução às condições ambientais e ao tipo de habitat ocupado.

Locais com alta variabilidade hidrológica favorecem espécies com estratégias mais flexíveis ou prolongadas, enquanto ambientes mais estáveis permitem janelas mais definidas.

Defeso e conservação das espécies

Tambaqui é uma espécie de peixe amazônico que desova durante as enchentes. Foto: Siglia Souza/ Embrapa

O entendimento dos padrões de reprodução tem implicações diretas para a pesca, a aquicultura e a conservação. Quando a reprodução dos peixes está fortemente ligada a janelas sazonais — como durante a enchente — a pesca fora desses períodos pode comprometer a renovação das populações.

Para Oliveira, o período de defeso é uma ferramenta essencial para mitigar os impactos da pesca sobre as espécies reprodutoras, embora ainda careça de aprimoramento e fiscalização.

“A Lei do Defeso, baseada no Decreto Federal 221 de 1967 e na Portaria 48 de 2007 do Ibama, é uma ferramenta importante de manejo da pesca, não que seja a ideal, mas é a que existe hoje e possibilita mitigar em parte os impactos, pois protege as espécies durante os meses da enchente. Além disso, há o lado social: o salário-defeso pago aos pescadores cadastrados entre novembro e março, período de proibição da captura das espécies comerciais”, explica.

“Mas ainda falta fiscalização das autoridades estaduais e municipais e consciência dos consumidores para evitar o consumo das espécies protegidas. Assim, poderemos reduzir a pressão sobre os estoques pesqueiros e viabilizar uma pesca com manejo mais sustentáve”, finaliza

Alterações no ambiente — como construção de barragens, desmatamento das margens e mudanças na vazão — também podem interferir diretamente nos disparadores naturais da reprodução. A ausência de dados biológicos históricos sobre reprodução ainda dificulta a adoção de medidas mais eficientes de manejo para muitas espécies.

Em resumo, os peixes amazônicos dependem fortemente da dinâmica ambiental para a reprodução. A enchente, a vazante e as variações de nível dos rios definem o momento e o local da desova. A diversidade de estratégias — desde desova única até períodos prolongados — demonstra a complexa adaptação dos organismos aquáticos ao ambiente amazônico.

O biólogo defende que compreender esses padrões e fortalecer instrumentos como o defeso e a fiscalização são passos fundamentais para garantir a conservação e o uso sustentável dos recursos pesqueiros da maior bacia hidrográfica do planeta.

Guaraná Andrade em Manaus: a primeira fábrica de refrigerante de guaraná do Brasil

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Guaraná Andrade figura como parte do patrimônio industrial e cultural de Manaus, sendo constantemente relembrado em publicações e pesquisas. Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente

Entre as bebidas industrializadas, os refrigerantes ganham destaque por sua variedade. Muitas marcas surgem e desaparecem ao longo do tempo e, entre elas, existem algumas que mexem com a memória afetiva das pessoas, como o Guaraná Andrade. E ele ocupa um lugar relevante na história industrial de Manaus (AM).

A bebida surgiu no início do século XX, quando a cidade vivia uma fase de expansão urbana e comercial, e se tornou um dos primeiros refrigerantes regionais à base de guaraná. Pesquisas da Embrapa afirmam que a produção do Guaraná Andrade em Manaus teve início em 1907.

“No início do século 20, em 1905, a elaboração de método de processamento do fruto para produção de extrato de guaraná, por um médico do Rio de Janeiro, possibilitou o uso como ingrediente na indústria de refrigerantes. A primeira fábrica de refrigerante de guaraná no Brasil foi estabelecida em Manaus, a partir de 1907, com o Guaraná Andrade que existiu até a década de 1970”, detalha a pesquisa.

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A fábrica que produzia o Guaraná Andrade estava situada originalmente na Rua Dr. Leovigildo Coelho e era propriedade dos irmãos portugueses António Ribeiro d’Andrade e Alberto Ribeiro d’Andrade, que chegaram à cidade no final do século XIX. O empreendimento evoluiu com maquinário movido a combustível inglês e tratamento da água para a produção, conforme registros históricos.

Entre os feitos da marca, consta o envio de seus produtos a exposições internacionais, como as de Bruxelas, na Bélgica (1910), e Turim, na Itália (1911), o que indica que o Guaraná Andrade alcançou reconhecimento além do mercado local. A produção, no entanto, funcionou até aproximadamente o final dos anos 1970.

Hoje, o Guaraná Andrade figura como parte do patrimônio industrial e cultural de Manaus, sendo constantemente relembrado em publicações e pesquisas que abordam a história das bebidas regionais.

Leia também: Refrescante: refrigerantes feitos na Amazônia que você talvez não conheça

A inovação industrial do Guaraná Andrade em Manaus

Durante a virada do século XIX para o XX, Manaus vivia um ciclo de prosperidade relativo à borracha, o que gerou investimentos em infraestrutura urbana e indústrias. Nesse contexto, a produção de refrigerantes regionais se inseriu como uma atividade complementar ao mercado local.

E a fábrica da marca Guaraná Andrade teve o papel pioneiro. Além da modernização dos processos de fabricação — como o uso de água filtrada ou destilada — e da busca por qualidade, a marca aproveitou a matéria-prima regional: o guaraná, planta nativa da Amazônia, que tinha significado tanto cultural quanto econômico para o estado do Amazonas.

Leia também: Além do sabor: confira os impactos econômicos e culturais do guaraná

Esse pioneirismo ajudou a inserir o Estado do Amazonas no cenário industrial brasileiro de bebidas, ainda que o mercado nacional fosse dominado por grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.

Visita de Álvaro Maia à fábrica do Guaraná Andrade

Uma demonstração do preparo do guaraná feita pelo Sr. Francisco Cunha, sócio e químico da Fábrica Andrade, ao interventor Álvaro Maia. Foto: Nelson José da Cunha/Acervo pessoal

A visita do interventor Álvaro Maia à fábrica do Guaraná Andrade, em Manaus, ocorreu durante o período em que ele exercia a função de interventor do estado do Amazonas. Na ocasião, a direção da fábrica preparou uma recepção formal, com decoração especial, painéis e vitrôs que destacavam a importância do empreendimento para a economia local. O evento representou um momento simbólico de aproximação entre o poder público e a indústria regional.

Durante a visita, o sócio-químico da fábrica, senhor Francisco Cunha, realizou uma demonstração prática do preparo do refrigerante à base de guaraná, apresentando os processos de fabricação e explicando as etapas de produção ao interventor. Essa demonstração teve como objetivo evidenciar o nível de modernização e a qualidade técnica da produção do Guaraná Andrade, que já se destacava no mercado amazônico pela inovação e pelo uso de matéria-prima local.

Fotografias da época registram a solenidade organizada especialmente para receber Álvaro Maia, com a presença de funcionários e convidados. O encontro teve caráter institucional, funcionando também como uma espécie de inspeção e de reconhecimento público da importância da fábrica para o desenvolvimento industrial de Manaus.

Visita do interventor Álvaro Mario à fábrica do Guaraná Andrade. Foto: Nelson José da Cunha/Acervo pessoal

A visita de Álvaro Maia à Guaraná Andrade consolidou a imagem da marca como símbolo de progresso e de valorização da produção amazonense. O evento reforçou a integração entre o governo e as iniciativas privadas locais, mostrando que o Guaraná Andrade não era apenas uma bebida popular, mas também um exemplo de empreendimento pioneiro que contribuiu para a formação da identidade econômica e cultural de Manaus no século XX.

Declínio e legado da marca

Fábrica da Av. Joaquim Nabuco, em frente ao colégio Nilo Peçanha, segunda sede da empresa. Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente

Com o passar dos anos, a produção do Guaraná Andrade em Manaus passou por mudanças e, eventualmente, foi encerrada. Fontes indicam que a fábrica funcionou até a década de 1970. Registros históricos apontam que a produção foi mantida até 1979.

O encerramento pode ser compreendido em um contexto mais amplo de consolidação industrial, fusões de empresas e competição acirrada no setor de refrigerantes, que beneficiou grandes marcas nacionais. A produção local de bebidas regionais em Manaus encontrou dificuldades de escala, logística e competitividade frente a marcas de fora.

Apesar do fim da produção, o Guaraná Andrade mantém presença simbólica entre os manauaras que se lembram da bebida e de sua relevância histórica. Propagandas antigas da marca, peças de arquivo e o registro em acervos digitais já fazem parte da memória coletiva da cidade.

O prédio mais recente em que funcionou a fábrica do Guaraná Andrade, na Avenida Joaquim Nabuco. Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente

Importância para a história regional

A marca Guaraná Andrade não é apenas uma bebida, mas um capítulo importante da história industrial de Manaus e da região amazônica. A própria plantação e o beneficiamento do guaraná estão intimamente ligados ao ambiente amazônico e à cultura indígena. O guaraná era consumido por povos indígenas antes da colonização e, a partir do século XX, passou a ser explorado comercialmente como insumo industrial.

Leia também: Saiba como o guaraná se tornou símbolo da cultura de Maués

Em Manaus, a presença da Guaraná Andrade revela que a cidade não era apenas portuária ou extrativista — também havia um ambiente de produção industrial, com fábricas, máquinas, distribuição, publicidade e participação em exposições internacionais. Esses elementos ajudam a compreender o desenvolvimento urbano e econômico da capital amazonense, contrastando com visões centradas apenas no ciclo da borracha.

Feitio de Paixão: samba eternizado na voz de Jorge Aragão é baseado em história de amor em Manaus

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Samba composto no Amazonas encantou o artista carioca. Foto: Adriano Von Markendorf/Divulgação

Feitio de Paixão‘ é uma das composições mais conhecidas no repertório do cantor brasileiro Jorge Aragão, marcando presença constante nas rodas de samba e nos palcos dedicados ao gênero. A canção é reconhecida por um texto lírico que se tornou referência entre sambistas e intérpretes, ganhando projeção nacional ao ser incluída em discos e apresentações do artista, consolidando-se como parte fundamental de sua trajetória.

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Mas você sabia que essa famosa composição é do amazonense Paulo Onça com Paulinho Carvalho, ex-integrante do grupo Raça Negra, e que é baseada em uma história de amor entre ele e uma sambista da Escola de Samba Vitória Régia, com sede no bairro Praça 14, zona Sul de Manaus (AM)?

Uma história de amor contada pelo filho do poeta

É isso mesmo. E a história foi revelada pelo influenciador digital Vito Israel, filho de Paulo Onça, em vídeo feito para as suas redes sociais.

O Portal Amazônia conversou Vito que explicou que o samba nasceu de uma “paixonite” na década de 80 vivida pelo compositor, que é seu pai, durante um ensaio da Vitória Régia.

Ele contou que o pai se encantou ao ver sua mãe, Nádia Costa Israel, desfilando como passista da escola, que despertou a atenção de outros olhares.

“Eu cresci dentro da Vitória Régia, meu aniversário de um ano foi dentro da quadra, então eu sempre ouvi essas histórias desde pequeno, e com a história do meu pai e da minha mãe não foi diferente. O Paulo Onça, já atuante como sambista, vinha observando a jovem passista, mas a inspiração para compor surgiu quando percebeu que outro cantor, já famoso no cenário nacional, também demonstrou interesse por ela. Esse episódio motivou meu pai a transformar o sentimento em versos, criando assim os primeiros trechos que dariam origem a Feitio de Paixão, composta em parceria com Paulinho Carvalho”, revelou.

Nádia Costa Israel e Paulo Onça em apresentação da Escola de Samba Vitória Régia, durante a década de 80. Foto: Vito Israel/Acervo pessoal

A criação de Feitio de Paixão

Paulo Onça então “cantou” a história para Paulinho Carvalho e o também compositor, que teve passagem pelo Grupo Raça Negra, esboçou o texto em um papel, com algumas mudanças, já que “a canção tinha uma letra pesada”.

“O Paulo Onça chegou lá em casa e eu morava em Manaus na época. Ele foi lá pra casa então fazer um samba e ele veio com quatro estrofes e aí a gente discorreu. Eu fiz a melodia praticamente toda e o Paulo Onça foi colocando a letra em cima. A letra era assim: ‘Queria fazer amor…assim desejando estou. Só vou sossegar, quando te penetrar’. Daí eu falei pro Paulo que penetrar ‘tava’ muito forte. Aí achei que a palavrar ‘conquistar’ ficaria melhor. E aí ficou”, contou Paulinho Carvalho em um vídeo feito para a digital influencer Daniela Miranda sobre a criação da música Feitio de Paixão.

Imagem colorida mostra Quadra da Escola de Samba Vitoria Régia em ensaio feito em 2020, espaço onde surgia a inspiração da canção Feitio de Paixão
Foto: Reprodução/ Facebook- Vitória Régia

Em vídeo feito por Vito, Nadia Israel confirmou que, após a música Feitio de Paixão ser apresentada, Paulo Onça passou a cortejá-la com mais insistência, e foi assim que os dois começaram a namorar. A canção, que refletia a intensidade desse início de relação, acabou sendo a peça musical que aproximou o casal.

Paulo Onça em vida também afirmou que esperava conquistar Nadia e que a música surgiu em um momento de forte inspiração, o que demonstrava a ligação entre vida pessoal e criação artística. Confira a explicação de Vito:

Leia também: Cinco composições marcantes de Paulo Onça interpretadas por artistas consagrados

Com o tempo, o samba Feitio de Paixão se destacou em Manaus e alcançou o cenário nacional na voz de Jorge Aragão. Aliás foi o produtor do cantor que ligou para Paulo Onça pedindo para gravar a música depois de ouvir a música sendo cantada em bares em Manaus.

Essa história foi contada pelo próprio Paulo Onça no documentário produzido pelo canal Amazon Sat: ‘Paulo Onça – A Composição da Minha História’.

Marco na história

Feitio de Paixão foi gravada para o disco ‘Raiz e Flor’, de Jorge Aragão, de 1988. Depois disso a música se tornou praticamente obrigatória nas apresentações do artista. A canção também se relaciona com a tradição do samba urbano carioca, gênero que se consolidou nas grandes capitais a partir do século XX.

“Eu tenho muito orgulho do meu pai e do que ele fez. Ainda dói falar sobre ele porque ainda é muito recente. É sempre emocionante”, declarou Vito ao Portal Amazônia. Paulo Onça não resistiu às complicações de uma agressão sofrida após um acidente de trânsito, ocorrido em dezembro de 2024 e veio a falecer em maio deste ano.

Jorge Aragão amazonense?

Quase… o cantor carioca é filho de uma amazonense e tem um vínculo especial com o Estado. No Dia do Samba, comemorado em 30 de novembro, Jorge Aragão faz um show na capital amazonense. E Vito reuniu mais algumas curiosidades sobre essa relação do cantor com o Amazonas:

A história da origem do Aeroclube do Amazonas: do ponto de partida à tradição regional

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Foto: Divulgação/Aeroclube do Amazonas

O Aeroclube do Amazonas, em Manaus, representa um dos mais tradicionais espaços de formação aeronáutica na região. Fundado ainda na primeira metade do século XX no Aeródromo de Flores, o local se consolidou como ponto de partida de pilotos civis, instrutores e entusiastas. Ao longo das décadas, serviu como base para a difusão da aviação desportiva e para a interiorização do transporte aéreo.

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Com o crescimento de Manaus, o aeroclube, claro, também acompanhou as transformações urbanas e tecnológicas que marcaram o setor. A instituição guarda registros históricos que mostram sua importância na evolução da aviação amazonense, celebrando 85 anos de existência em 2025.

Origem e primeiros anos de operação do Aeroclube

O Aeroclube do Amazonas surgiu em um período em que a aviação civil brasileira dava seus primeiros passos estruturados. Em entrevista ao canal Amazon Sat, o engenheiro civil e tesoureiro do Aeroclube do Amazonas, Francimar Sampaio, destacou que o empreendimento foi criado para fomentar a formação de pilotos e promover atividades aéreas recreativas, tornando-se referência local em instrução de voo.

“O aeroclube foi criado em 1940 no meio da segunda guerra mundial. Existia na época uma carência de pilotos para serem mandados pro front (linha de frente no combate) e também para a aviação civil”, afirmou.

Documentos históricos apontam que suas primeiras operações eram realizadas em pistas simples, adaptadas às necessidades da época, quando aeronaves de pequeno porte dominavam o cenário nacional.

Leia também: Relembre a história do avião que ficava “estacionado” na Praça da Saudade, em Manaus

Publicação de um jornal da época sobre as primeiras instalações na área do Aeroclube do Amazonas. Foto: Reprodução/Arquivo/Aeroclube do Amazonas

Na fase inicial, o objetivo era fornecer treinamento básico, capacitação de pilotos privados e difusão das práticas aeronáuticas entre jovens interessados em ingressar na área.

“O aeroclube também mantinha intercâmbio com instituições de outros estados, permitindo o avanço técnico e o compartilhamento de informações sobre segurança, meteorologia e navegação aérea”, destacou Francimar Sampaio.

De acordo com o tesoureiro, com o passar dos anos, o clube ampliou sua frota e ganhou uma estrutura mais robusta: hangar, salas de instrução, área administrativa e pista própria passaram a compor o ambiente de formação.

A ampliação possibilitou cursos mais extensos, simulados e programas contínuos, fortalecendo a presença do local no universo da aviação regional.

Vista aérea da pista do Aeroclube do Amazonas em 2014. Foto: José Zamith/Wikimedia Commons

Durante a segunda metade do século XX, o crescimento da aviação no Amazonas esteve ligado à necessidade de deslocamento rápido entre os municípios do interior, muitos deles isolados por extensas áreas de floresta.

Nesse contexto, o Aeroclube do Amazonas desempenhou papel estratégico ao formar pilotos aptos a operar em condições adversas e em pistas não pavimentadas comuns à época na região.

O Aeroclube do Amazonas também participou de eventos, demonstrações aéreas e ações educativas voltadas ao público, ampliando o interesse pela aviação no estado. Em determinadas épocas, organizava sobrevoos panorâmicos e ações comemorativas, contribuindo para aproximar a população das atividades aeronáuticas.

“O aeroclube ao longo desses 85 anos prestou serviços relevantes, não só ao estado do Amazonas, espalhando ‘seus filhos’ ao mundo inteiro”, defendeu Edmundo Mendonça, advogado da instituição.

De acordo com Sampaio, a instituição guarda acervos com fotografias, documentos, registros de voo, listas de instrutores e informações sobre aeronaves históricas que marcaram sua trajetória. Esses materiais são considerados importantes para a documentação do desenvolvimento da aviação civil no estado.

O engenheiro civil Francimar Sampaio e o advogado Edmundo Mendonça em entrevista ao apresentador do videocast Igarapod, do canal Amazon Sat, Dudu Monteiro de Paula. Foto: Hector Muniz/Portal Amazônia

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Mudança?

O Aeroclube voltou a ganhar as manchetes em 2025 não apenas pela comemoração do tempo de atuação, mas sobre a possibilidade de precisar ter que mudar de endereço.

Atualmente, por uma ação judicial, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) pede o espaço do Aeródromo de Flores – localizado na Avenida Professor Nilton Lins, n° 300, em Flores – para ficar completamente sob sua administração.

O Aeródromo de Flores é onde está instalado o Aeroclube do Amazonas e, segundo a estatal, desde que assumiu oficialmente a administração do terminal, por meio da portaria nº 514 do Ministério de Portos e Aeroportos, publicada em novembro de 2023, a direção do aeroclube ainda não entregou da área e mantém suas atividades.

A medida, que vem sendo aplicada em outros empreendimentos do tipo no país, é alvo de protestos por parte dos administradores privados. “No momento, são 28 aeroclubes que estão sendo despejados. E em alguns lugares estão sendo implementadas atividades que não tem nada haver com a aviação e formação de pilotos. Nisso são escolas de aviação que vão acabando”, declarou Francimar Sampaio na entrevista.

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Mudanças no clima da floresta tropical: qual o impacto na Amazônia Legal?

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Mudanças no clima afetam diretamente a floresta tropical. Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

A Amazônia Legal, um vasto território que abrange nove estados brasileiros, é mais do que uma floresta tropical, é um complexo sistema climático que influencia o tempo e o clima de todo o planeta. Sua imensidão e biodiversidade, no entanto, estão em constante transformação, moldadas por fenômenos naturais e, cada vez mais, pela ação humana. Compreender o clima dessa região exige uma análise de suas características únicas e das dinâmicas que a regem.

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A principal característica do clima amazônico é sua natureza equatorial e úmida, com temperaturas elevadas e precipitações abundantes durante todo o ano. A umidade é um fator crucial, alimentada pela transpiração da vegetação – um processo conhecido como evapotranspiração – e pela evaporação dos rios e lagos.

Essa umidade se condensa, formando nuvens que precipitam, realimentando o ciclo da água e mantendo a floresta ativa e viva. Essa dinâmica é um dos principais motores do que os cientistas chamam de “rios voadores”, massas de vapor d’água que se deslocam sobre o continente, levando chuva para outras regiões do Brasil, como o Sudeste e o Centro-Oeste.

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No entanto, o clima não é homogêneo em toda a Amazônia Legal. Devido sua extensão e conexão com outros biomas, as variações regionais são notáveis. Na porção leste, por exemplo, a estação seca é mais pronunciada, enquanto na porção oeste a precipitação é mais constante.

Essas diferenças estão relacionadas a fatores como a topografia, a proximidade com o Oceano Atlântico e a circulação atmosférica. O gradiente de chuvas é evidente: o leste da Amazônia, próximo ao “arco do desmatamento“, sofre com períodos mais longos de seca, que podem se intensificar com o tempo.

E a vegetação desempenha um papel central nessa regulação do clima. A densidade da floresta tropical atua como uma barreira física que impede que o sol atinja o solo diretamente, mantendo a temperatura mais amena e a umidade do ar elevada.

A complexa rede de raízes das árvores também contribui para a estabilidade do solo e evita a erosão, regulando o escoamento da água. A floresta, em sua essência, é um gigantesco sistema de “ar-condicionado e bomba de água”, fundamental para a manutenção de um clima estável.

Impactos das mudanças no clima e cenários futuros

A Amazônia, em sua configuração atual, está no centro das discussões sobre mudanças climáticas. O desmatamento, a alteração do uso do solo e as queimadas têm um impacto direto no clima local e global. A remoção da cobertura florestal leva ao aumento da temperatura do ar e à redução da umidade, diminuindo a formação de nuvens e, consequentemente, a precipitação.

Esse processo, conhecido como “savanização“, levanta a preocupação de que a floresta possa, em algumas áreas, se transformar em um ecossistema semelhante ao Cerrado.

O aumento das temperaturas e a diminuição das chuvas podem desencadear um ciclo vicioso: a seca prolongada torna a floresta mais vulnerável a incêndios, que por sua vez liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, intensificando o efeito estufa. Esses incêndios, muitas vezes de origem humana, podem se alastrar rapidamente, afetando áreas cada vez maiores e diminuindo a capacidade de regeneração da floresta.

Mudanças no clima da floresta tropical: qual o impacto na Amazônia Legal?
Foto: Bruno Cecim/Agência Pará

O Portal Amazônia conversou com o pesquisador e biólogo Philip Fearnside, que destacou que a Amazônia pode entrar em colapso, no que que ele chama de ‘Ponto de Não Retorno’.

“Se escapar de controle, não vai ter mais floresta amazônica. Isso está muito perto de acontecer e a própria destruição da floresta está contribuindo para a mudança climática. Porque ela abriga uma quantidade de carbono tão grande que, se for liberada, em poucos anos irá empurrar o clima global para além do ponto de não retorno”, destacou.

Outro fator relevante são os eventos climáticos extremos. A Amazônia tem testemunhado tanto secas severas quanto inundações históricas nas últimas décadas. A seca de 2005 e a de 2010, por exemplo, foram amplamente estudadas e mostraram como a falta de chuvas pode afetar a saúde da floresta e o fluxo dos rios. Da mesma forma, as cheias recentes em diferentes bacias hidrográficas também revelam a instabilidade crescente do regime de chuvas.

“O aquecimento global, que causa aumento de grandes secas e de grandes inundações, tem claros impactos sobre a biodiversidade e ameaça o ecossistema da floresta tropical como um todo na Amazônia. Se passar de algum dos vários pontos de não retorno, a perda da floresta não só elimina a sua biodiversidade, como também emite uma enorme quantidade de carbono, o que pode ser um fator crítico em aumentar o aquecimento de uma forma que empurrará o sistema climático global para além do ponto de inflexão”, alertou ainda Fearnside.

Assim, para o futuro, os modelos climáticos apontam para a necessidade urgente de atenção. Embora as projeções variem, a maioria indica uma tendência de aumento das temperaturas na região, com possíveis alterações no regime de chuvas.

O risco de eventos extremos, como secas e inundações, pode se tornar mais frequente e intenso. A dinâmica do clima amazônico, com seus rios e sua vegetação, é um complexo sistema de feedback que está sendo testado. A interconexão entre o clima regional e global torna a saúde da Amazônia uma questão de interesse para o mundo todo. O futuro do clima na região depende de como esses processos complexos irão interagir nas próximas décadas.

Árvores da Amazônia são usadas na produção de instrumentos musicais: variedade sonora

Foto: Alexandre Paulemy

As árvores da Amazônia não são apenas fonte de sombra, oxigênio e abrigo para uma imensa diversidade de espécies. Elas também estão na base da produção de diversos instrumentos musicais, servindo como matéria-prima essencial para a criação de sons que atravessam culturas e fronteiras.

O uso de madeiras amazônicas na fabricação de violões, tambores, flautas e outros instrumentos é uma tradição antiga, que une saberes artesanais e estudos acústicos.

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A combinação entre densidade, textura e ressonância faz as espécies amazônicas serem muito procuradas por fabricantes e músicos de diferentes partes do mundo. A madeira, quando escolhida e trabalhada de forma correta, pode influenciar diretamente o timbre, o volume e a durabilidade de um instrumento.

Esse uso reflete não apenas a biodiversidade da floresta, mas também a presença de técnicas tradicionais e o intercâmbio entre comunidades locais, artesãos e luthiers especializados.

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Porém, embora o mercado valorize a sonoridade e a beleza das madeiras amazônicas, a extração dessas espécies é um tema que exige controle e monitoramento. E os exemplares utilizados para a confecção de instrumentos devem ser obtidos em áreas sob manejo sustentável, com rastreabilidade e autorização ambiental.

Espécies de árvores mais utilizadas

Entre as espécies amazônicas mais conhecidas pelos fabricantes de instrumentos musicais, como as catalogadas por uma pesquisa para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) em 1993, estão o jacarandá-da-Amazônia (Dalbergia spruceana), o mogno (Swietenia macrophylla) e a andiroba (Carapa guianensis). Cada uma possui características específicas que influenciam a acústica e o desempenho sonoro.

O jacarandá é uma das madeiras mais tradicionais na produção de violões, guitarras e instrumentos musicais de corda. Sua estrutura densa e a capacidade de refletir o som sem abafá-lo fazem dela uma escolha recorrente em escalas, fundos e laterais de instrumentos musicais de alta qualidade.

Já o mogno, mais leve e com tonalidade avermelhada, é amplamente usado em corpos e braços de guitarras e baixos elétricos, proporcionando um som encorpado e quente, conforme destacado na mesa pesquisa.

“As espécies Cedro, Mogno e Urucú da mata são adequadas para a confecção de braços, cabeças e joelho do violão, por causa da sua leveza, resistência e estabilidade dimensional”, destacam os autores do estudo Hany Jan Van Der Slooten e Mário Rabelo de Souza.

O uso dessas madeiras é comum em instrumentos artesanais produzidos por comunidades ribeirinhas e povos indígenas, que dominam o manejo e a cura da madeira de forma natural, respeitando os ciclos da floresta.

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Além dessas espécies, o pau-amarelo (Euxylophora paraensis) e o angelim (Hymenolobium spp.) são utilizados em instrumentos musicais de sopro e percussão. A leveza e a estabilidade dimensional dessas madeiras favorecem a produção de flautas, reco-recos e marimbas, amplamente usados em expressões musicais regionais e populares.

Tradição artesanal e sustentabilidade

O trabalho dos luthiers amazônicos — artesãos especializados na fabricação e restauração de instrumentos musicais— tem papel fundamental na valorização das madeiras regionais. Oficinas instaladas em cidades como Manaus (AM), Santarém e Belém (PA) produzem instrumentos musicais que combinam técnicas tradicionais e inovação, transformando o que vem da floresta em peças de precisão sonora.

Programas de pesquisa ligados ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e a universidades federais da região estudam as propriedades acústicas das madeiras amazônicas. Esses estudos auxiliam tanto na conservação das espécies quanto na criação de alternativas com madeiras secundárias, evitando a exploração de árvores ameaçadas.

Além do uso comercial, comunidades locais mantêm o conhecimento tradicional sobre a confecção de instrumentos musicais a partir da floresta. Povos indígenas e ribeirinhos utilizam troncos e fibras de árvores amazônicas para fabricar flautas, maracás, tambores e outros instrumentos cerimoniais, muitos deles com funções culturais e espirituais.

Árvores da Amazônia são usadas na produção de instrumentos musicais: variedade sonora
Alexandre Paulemy produz instrumentos no municípios de Oeiras, no Pará. Foto: Tales Guimarães/Sebrae

O artesão e percussionista paraense Alexandre Paulemy, de Oeiras, no Pará, tem ganhado destaque este ano com sua fabricação de instrumentos musicais. “Utilizo materiais reaproveitados vindos da floresta, como madeira, bambu, ouriço de castanha e sementes”, conta. “Ser artesão é uma experiência fantástica, pois permite pesquisar, inovar e criar características próprias”, afirma.

Com traços marajoaras e afro-amazônicos, o artista busca inovar, respeitando a matéria-prima e divulgando a cultura local de forma conjunta. Uma de suas produções, o tambor de língua feito de bambu, é considerada por ele uma alternativa sustentável aos modelos industrializados.

“A inspiração vem diretamente da natureza. Quando estou na mata, meus sentidos se aguçam. O som de um pássaro pode gerar uma nova criação, como o apito da mata, que imita os cantos que escuto”, relatou ao Sebrae.

*Com informações do Inpa e do Sebrae

Saiba quais são as partes de um rio: da nascente à foz

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Um rio é composto por várias partes bem definidas, cada uma com suas características físicas e funções dentro do sistema hídrico. A compreensão dessas partes permite entender como a água se desloca, como ocorrem os processos de erosão e deposição, e de que modo se organizam os ecossistemas fluviais.

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O estudo das partes é fundamental para a geografia, a hidrologia e o planejamento ambiental. A estrutura fluvial influencia a disponibilidade de água, a formação de paisagens e o equilíbrio ecológico das bacias hidrográficas. Na Amazônia, onde os rios ditam os movimentos da sociedade, esse conhecimento é essencial.

Segundo o doutor em Clima e Ambiente pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Rogério Marinho, cada parte cumpre um papel importante. Segundo ele:

  • a nascente marca o início do curso d’água,
  • o leito orienta seu deslocamento,
  • as margens estabilizam o ecossistema
  • e a foz representa o ponto final do percurso.

Entre esses elementos, há variações e subdivisões que explicam a dinâmica das águas superficiais.

“É uma hierarquia fluvial até chegar num rio, um grande, como o Negro e depois dele encontrar outro rio, outro rio maior como o Amazonas, que já é uma foz. Isso é o que a gente chama da rede hidrográfica. Ela possui uma nascente que vai alimentando canais de menor ordem, o que a gente geralmente chama de ‘primeira ordem’, explicou Marinho ao Portal Amazônia

“Essa água da nascente se encontra com outros canais e a gente pode imaginar esses canais de ‘primeira ordem’ como os igarapés, e aí esses igarapés vão formando pequenos rios e esses pequenos rios vão alimentando os rios maiores da nossa bacia e então os grandes rios da nossa região, como é o caso do Rio Negro. Nos demais estados amazônicos temos o Solimões, Amazonas, Madeira, Purus, Juruá. E eles têm um único ponto de saída que é o mar”, completou.

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Marinho destaca ainda que, com base em estudos e pesquisas de especialistas, é possível compreender a importância de cada parte que compõe este complexo e como elas se relacionam para formar um sistema fluvial equilibrado.

A nascente e o leito do rio

O rio começa na nascente, também chamada de cabeceira, local onde a água subterrânea aflora à superfície. É o ponto de origem do curso d’água, geralmente localizado em regiões de maior altitude. A nascente surge quando o lençol freático encontra a superfície do terreno, dando início ao fluxo da água.

A pesquisadora Luciana Falci Theza Rodrigues, em estudo sobre nascentes no Sudeste do Brasil, destaca que “nascentes são ecossistemas de grande importância econômica, social, cultural e ecológica”. Ela destaca ainda que áreas preservadas garantem a qualidade e a constância da água, prevenindo o assoreamento e a poluição das águas.

A pesquisadora também explica que o leito ou canal é a parte por onde a água corre. Ela destaca que esta parte contém o talvegue, que é a linha de maior profundidade, e se divide em duas áreas principais: o leito menor, ocupado permanentemente pela água, e o leito maior, que é atingido durante as cheias e transbordamentos. “O formato e a profundidade do leito variam conforme o relevo e a vazão dessas águas”, comenta.

As margens delimitam o leito e formam a transição entre o corpo d’água e o terreno emerso. Além de funcionarem como barreiras naturais, abrigam vegetação ciliar, fundamental para conter erosões e preservar a qualidade da água.

Saiba quais são as partes de um rio: da nascente à foz
Foto: Divulgação

Curso, afluentes e foz

O curso é o caminho percorrido desde a nascente até a foz. A literatura explica:

  • Curso superior: região próxima à nascente, com forte declividade e predominância da erosão.
  • Curso médio: parte intermediária, onde ocorre o transporte de sedimentos e formação de meandros.
  • Curso inferior: trecho final, próximo à foz, onde o rio deposita os sedimentos transportados.

Os afluentes são rios menores que deságuam em um principal, contribuindo para o aumento do volume de água. O ponto de encontro entre dois cursos d’água é chamado de confluência. Já os meandros são curvas acentuadas formadas pela ação da correnteza, que erode uma margem e deposita sedimentos na outra.

A foz é o ponto final, onde ele deságua em outro corpo hídrico, como um lago, mar ou oceano. Existem dois tipos principais de foz: o delta, caracterizado pela formação de ramificações e ilhas, e o estuário, onde há mistura entre água doce e salgada, influenciada pelas marés.

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Interação entre as partes

Todas as partes estão interligadas e dependem umas das outras para manter o sistema. As nascentes alimentam o leito, que transporta água e sedimentos ao longo do curso. As margens ajudam a conter o fluxo e reduzir a erosão, enquanto a foz é o destino final do percurso, onde se integra a outro corpo hídrico.

Durante a cheia, o leito maior e as planícies de inundação absorvem parte do excesso de água, evitando transbordamentos catastróficos. A vegetação nas margens desempenha papel essencial na filtragem de sedimentos e na estabilização do solo.

Em síntese, compreender as partes — da nascente à foz — é fundamental para a preservação dos recursos hídricos e para o manejo adequado das bacias hidrográficas. Cada elemento tem função específica, e juntos formam um sistema natural que sustenta ecossistemas, populações humanas e atividades econômicas.

Lenda do Rio Andirá une memórias e crenças nas margens amazônicas

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Imagem criada por IA.

Uma lenda conta que o surgimento do rio Andirá, no Amazonas, está ligado a uma história de amor e a uma transformação que marcou a paisagem e a memória das comunidades ribeirinhas. A narrativa circula em versões orais entre povos locais e ganhou registro em diversos histórias e compilações sobre mitos amazônicos.

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Entre alguns relatos sobre a origem da lenda, o principal é de que os indígenas Maué teriam sofrido com a distância até fontes d’água e, em um episódio de amor e perda, as lágrimas de uma jovem foram transformadas em rio.

Essa versão associa a criação do curso d’água à figura de Iacy (ou Iacy May, em algumas versões) e ao pássaro uirapuru, que passa a simbolizar o canto da saudade e da lembrança.

A lenda do Andirá e a memória comunitária

Contam os antigos Sateré-Mawé que, quando o rio Andirá não existia, suas malocas estavam longe do Tapajós, o rio mais próximo. Por isso, os indígenas precisavam caminhar horas e até dias para alcançar o único rio, onde eles pescavam, se banhavam e contemplavam as suas águas verdes.

Certo dia, o guerreiro Wassiri, o grande amor da cunhã Yaci, em caminhada pela floresta, foi enfeitiçado pela cobra jararaca e se perdeu na mata para sempre. Yaci em prantos caiu em tristeza profunda! De suas lágrimas nasceu o rio Andirá, e para lá o povo Sateré-mawé foi morar.

Compadecido com o sofrimento de Yaci, Tupã a transformou no uirapuru, o pássaro cujo canto expressa o verdadeiro amor.

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As narrativas sobre o rio Andirá não se resumem a este único enredo: elas circulam em variantes locais que combinam elementos indígenas, afrodescendentes e ribeirinhos, refletindo o processo histórico e cultural da região em que o rio corre.

Pesquisas etnográficas sobre literatura oral em comunidades ribeirinhas mostram que histórias como a do Andirá cumprem função social e identitária, servindo para explicar o mundo natural e reforçar laços comunitários como esta contado, por exemplo, em um artigo publicado pela Revista Litera, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em 2024.

Em muitos textos regionais e compilações culturais, o rio Andirá é descrito como parte integrante da vida das populações locais: as cheias, as rotinas de pesca, a formação de quilombos e a história das vilas ribeirinhas aparecem entrelaçadas às histórias que narram a origem do rio.

Esses registros enfatizam tanto o valor simbólico quanto o valor material do Andirá para quem vive às suas margens.

Interpretações etimológicas e naturais

Em entrevista ao Portal Amazônia, o linguista Victor Hugo Aguilar explica que o nome “Andirá” também aparece em estudos de toponímia tupi e etimologias regionais. Segundo ele, em tupi, termos próximos foram associados a morcegos ou a conceitos que evocam receio — o que explica a presença de vocábulos semelhantes em diferentes topônimos indígenas e seus usos na paisagem amazônica.

“Essa dimensão linguística convive com as versões lendárias, ampliando a camada cultural que envolve o nome do rio e de localidades chamadas Andirá”, explica.

A lenda e as variações locais

Ainda segundo Aguilar, as histórias orais sobre o surgimento do rio Andirá apresentam variações que dialogam com personagens e motivos correntes na mitologia amazônica

“Tragédias amorosas, transformações humanas em elementos da natureza (como aves ou cursos d’água) e a intervenção de forças criadoras ou sobrenaturais. Em algumas versões, o elemento central é a compaixão do “Grande Criador” que transforma lágrimas em água; em outras, a narrativa enfatiza ritos e hábitos das comunidades que justificam a presença do rio como recurso e como sinal mítico. Essas diferenças apontam para a multiplicidade de sentidos que a lenda carrega”, disse Victor Hugo.

Preservação da tradição oral e registros contemporâneos

Estudos acadêmicos e recolhas de história oral mostram que a transmissão dessas lendas depende fortemente da prática comunitária: contação em rodas, celebrações locais e festas folclóricas.

A literatura sobre lendas amazônicas observa que muitos mitos sobrevivem através de adaptações, sendo recontados em escolas, festivais e matérias jornalísticas que buscam documentar a cultura regional.

A presença do Andirá na memória local é, portanto, tanto uma herança imaterial quanto um objeto de interesse para pesquisadores que trabalham com patrimônio cultural.

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O Andirá na geografia: comunidades e histórias

Imagem colorida mostra rio Andirá próximo a cidade de Barreirinha no Amazonas
Rio Andirá, próximo a cidade de Barreirinha, no Amazonas. Foto: Joelma Monteiro de Carvalho/Wikimedia Commons

Além do caráter mítico, o nome Andirá aparece em registros geográficos e em notícias sobre comunidades ribeirinhas e quilombolas que ocupam suas margens.

Esses relatos, ainda segundo Aguilar, vinculam a lenda à história concreta de populações que enfrentaram deslocamentos, enchentes e processos de ocupação.

“Assim, a figura lendária do Andirá se articula com temas de luta por território, memória e direitos, presentes na vida das comunidades locais”, finaliza.

Assim, a lenda do Andirá é parte do repertório narrativo da região amazônica e combina motivações míticas, etimológicas e sociais. Seja narrada como história de amor que deu origem a um rio, seja preservada através de versos e contações, a lenda segue sendo elemento de identidade para as populações ribeirinhas e objeto de estudo para quem se dedica à antropologia, ao folclore e à história regional.