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E o discurso da COP27 senhor presidente, ficou só no discurso?

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Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Por Walace SO*

Um dos momentos mais marcantes e simbólicos do terceiro mandato do presidente Lula foi seu discurso na COP27 (Conferência das Partes das Nações Unidas sobre mudanças Climáticas) no Egito no final de 2022. Diferente do antecessor, que ignorou completamente essa pauta, antes mesmo dele assumir a presidência foi convidado para o evento onde discursou sobre a Carta da Amazônia – uma agenda comum para a transição climática.

O discurso foi o primeiro do evento, levando assim a esperança de zerar o desmatamento na Amazônia, recuperar a credibilidade e protagonismo do Brasil em relação ao tema que fora perdido (e outros), reivindicar a COP30 em 2025 no Brasil e liderar os nove países que compõe a Amazônia Internacional: Brasil, Guiana Francesa, Suriname, Guiana Venezuelana, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Lembrando que aproximadamente 60% da Amazônia pertence ao território Brasileiro.

Após o discurso a retomada do protagonismo do Brasil em relação ao tema ficou marcada, novas perspectivas e cobranças foram feitas no discurso para a comunidade internacional, principalmente a Europeia. E alguns efeitos foram imediatos, como o aceno da Alemanha e Dinamarca para a liberação do Fundo Amazônia que estava congelado por causa do governo anterior, que é de suma importância para projetos na região. Nesse momento, acredito mais em Marina Silva, uma seringueira, guerreira e atual ministra do Meio Ambiente e em toda sua história de luta pela nossa região.

Contudo, um imbróglio logo se fez com a perspectiva de exploração de petróleo pelo Brasil na Bacia da Foz do Amazonas. E não é por acaso que o debate está acirrado, quando falamos em Amazonas. Ainda não temos a consciência da importância da região para o planeta e para o próprio país, e tudo que está relacionado a nós é gigantesco. Para o nosso leitor ter uma pequena noção da nossa importância, o Rio Amazonas despeja 200 milhões de litros de água doce no oceano por segundo. O que equivale a 17% do total mundial de água continental e sedimentos em suspensão para todos os oceanos. Já imaginaram o impacto disso?

Em relação ao Brasil, a Costa Amazônica abriga 80% dos manguezais do nosso país, que são responsáveis para a preservação da biodiversidade e sustentabilidade da indústria pesqueira. Os recifes da região são o habitat de mais 90 espécies de peixes que sustentam as economias locais pela costa brasileira. E primordialmente esses ecossistemas ainda são responsáveis em sua contribuição do balanço de gás carbônico, que é de suma importância e responsável por frear o aquecimento global.

A desculpa de progresso e desenvolvimento, é só uma desculpa, esquecendo o debate e a necessidade de um novo projeto real de desenvolvimento sustentável para a região, que leve em consideração nossas características, potencialidades, nosso povo ribeirinho, quilombola, povos originários, nossa cultura e toda nossa riqueza. E temos trágicos exemplos de exploração que não trouxeram riquezas apesar de suas promessas, o que sobrou para nossa região? Vamos lembrar de Serra Pelada e as mais de 40 mil toneladas de ouro retiradas de lá, quem enriqueceu? A Companhia Vale do Rio Doce que recebeu uma indenização de 59 milhões de reais, por deter os direitos de exploração. Qual foi a sua herança? Para a região, nenhuma que boa herança. Quais os efeitos ambientais e sociais para a região? Catástrofe ambiental, pobreza na região com total esquecimento e desigualdade social.

A nossa riqueza está em alternativas de arranjos produtivos sustentáveis devidamente ligados ao século XXI, e não exploratórios antiquados. Alinhados ao respeito da a nossa cultura ribeirinha, quilombola, dos povos originários, da floresta e de todos nós da região e do planeta. Se o discurso do presidente foi verdadeiro, se o papel brasileiro de liderança dos países da Pan Amazônia será nosso, devemos seguir os exemplos do povo e dos governos da Colômbia e Equador, que já se recusaram a exploração de petróleo na Amazônia.

Devemos lembrar que temos capital humano e podemos nos associar com o capital humano internacional, além de reivindicar que a comunidade internacional participe na manutenção. Pois, os países desenvolvidos têm suas responsabilidades históricas da exploração das Américas e da África, muito foi retirado daqui e nada nos foi dado em troca nem monetariamente, nem em respeito ou solidariedade. E estamos chegando ao ponto do não retorno, depois não haverá volta e todos seremos responsáveis. Talvez a ambição dos políticos junto a determinados grupos e nosso silêncio como cidadãos seja julgado como os maiores cúmplices do que está por vir.

Nós somos a Amazônia, ela é nossa e somos responsáveis por ela, temos que assumir essa posição de protagonistas, debater, reivindicar e lutar por ela. E não esqueçamos nosso poeta Thiago de Mello, “quem sabe onde quer chegar escolhe o caminho certo e o jeito de caminhar”. BORA REFLETIR meu povo

Sobre o autor

Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Mineirinho, venha tomar um açaí e tacacá na Amazônia

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Foto: Cristino Martins/Agência Pará

Por Walace SO*

Buenas, na coluna passada sugeri uma reflexão sobre a nossa riqueza amazônica e o desconhecimento que o Brasil tem sobre a nossa Região Norte. E não demorou a termos uma triste demonstração de preconceito, intolerância e xenofobia escancarada nos jornais contra nós e o Nordeste. Velhos políticos e politicagens, já tradicionais da história brasileira deram essa demonstração mais uma vez com as falas do governador Romeu Zema de Minas Gerais.

E basta uma leitura da coluna passada para percebermos a importância que temos para o Brasil e para o planeta. O governador, que se diz representante de uma nova política, age como os antigos coronéis da época da República do café com leite, dos tempos que as oligarquias paulistas e mineiras se revezavam e dominavam o país, marcada pela corrupção (aliás, corriqueira em nossa história) aliada ao voto de cabresto e fraudes eleitorais que caiu com a Revolução de 1930.

É interessante analisarmos esse movimento, com dois pontos a serem observados. O primeiro partindo de um movimento contra a Reforma Tributária do atual mandato que estava engavetado. Ressaltando que a Zona Franca de Manaus correu sérios riscos nas mãos da política econômica do gerente do “posto Ipiranga”, no superministério de Paulo Guedes, que trabalhou mais para ele e para a elite financeira do que para o país.

A reforma tributária passou claro que com alterações, ela ainda terá que ser avaliada. E dada à complexidade da tributação brasileira em todos os aspectos e sentidos, esperamos que ela seja um avanço pela necessidade que temos sobre o tema. As regras da tributação devem ser simples e claras para seu devido funcionamento do Estado, para o bem de todos. Claro que temos problemas com excesso de arrecadação, contudo creio é gestão adequada é o que mostra a eficiência do imposto e não somente sua cobrança. A burocracia permite a corrupção e o fisiologismo visto no orçamento secreto.

Segundo, a necessidade de se manter um estado de acirramento e de divisão pós-eleição de 2022, com a manutenção da polarização de direita x esquerda. Que é um combustível perigoso socialmente falando. E ela volta a mostrar a pior face do brasileiro, que ficou escancarada desde a eleição de 2018. A face da intolerância com o tempero de preconceitos entre regiões, colocando umas como mais evoluída que outras por sua opção ideológica (ridículo). Somos um país de democracia jovem e de velhas culturas de ditaduras.

E tentando buscar um espaço na linha sucessória da direita radical, o governador Zema, não agiu na tradição mineira de silenciosamente comer pelas tabelas para saborear o mingau quente. Atropelou, buscando um espaço que provavelmente irá dividir com o governador de São Paulo. E ambos assoprando e beijando as mãos do ex-presidente, pois essa é a fatia que lhes interessa. Contudo os estados do Sul e Sudeste esquecem a importância da nossa região para país e o planeta.

Aliás, o descaso com nossa região sempre existiu e nossos próprios políticos é que deveriam ter uma atuação de defesa, investimento em pesquisa, arranjos/processos produtivos e logísticos para o melhorar o nosso desenvolvimento. E sinceramente não vejo o empenho deles de forma satisfatória e adequada ao desenvolvimento produtivo orientado pelas nossas características que o século XXI pede.

Assim, quero deixar claro para os adeptos do velho mascarado de “novo”, como na afirmação do governador de Minas, que não vamos aceitar essa ideia e comparação depreciativa de “vacas gordas e vacas magras”. Pois temos sim produtos e uma cultura maravilhosa, que também representa o Brasil. Não adianta dizer que foi mal compreendido ou que sua fala do foi retirada do “contexto”, ela é bem clara e tem um modus operandis.

Aliás, esse é um movimento comum dessas pessoas e seus discursos. Caro governador, o senhor foi sim preconceituoso e uma pessoa que ocupa um cargo público como o seu deveria ter respeito por todos os estados irmãos de Minas, lembrando que juntos formamos uma só nação. Bora refletir, não importa a região, cada uma dela contribui muito mais que esse movimento arrogante, tosco e mal educado feito contra as regiões Norte e Nordeste. 

Sobre o autor

Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Amazônia, a maior riqueza do planeta

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Foto: Reprodução/Imazon

Por Walace SO*

Nossa saudosa “pimentinha”, a grande cantora Elis Regina costumava cantar uma música chamada “querelas do Brasil”, a música é do século passado e refletia que o Brasil desconhecia o próprio Brasil. E realmente foi um presságio do que vivemos em pleno século XXI. Desconhecemos o Brasil desde a sua invasão portuguesa e o movimento colonialista daquele período e tudo que envolve principalmente a nossa terra, a nossa água, nossa história e enfim a nossa Amazônia.

Espanhóis e portugueses adentraram por essas bandas destruindo e escravizando em busca do Eldorado, a lendária cidade de ouro e pedras preciosas na Amazônia. Era a justificativa que os conquistadores europeus precisavam para continuar seu rastro de destruição, que se estendia do México até a América Latina. O tempo passou, e as Entradas e Bandeiras que trouxeram os bandeirantes com a mesma desculpa do litoral paulista, pelas Gerais, Goiás e outras bandas atrás das lendas de riquezas, com sua ganância e a destruição dos povos originários e suas culturas.

Aliás, em Goiás, Bartolomeu Bueno da Silva aterrorizou as indígenas adornadas de peças de ouro que encontrou lá. E para conseguir que elas indicassem o local do ouro, ele encheu uma cuia de cachaça e ateou fogo nela, ameaçando queimar todas as águas dos rios. Assim nasceu Anhanguera (em tupi, añã’gwea), equivocadamente traduzido como “diabo velho”, ressaltando que a ideia de diabo é uma criação cristã, ela não existe nos povos originários, porém foi adaptada nas narrativas. E dessa forma, os bandeirantes aterrorizavam e escravizaram as etnias que encontravam, e elas cada vez mais se embrenhavam pela floresta, evitando o contato com o homem branco.

Essa introdução apresenta nosso lado europeu ganancioso, egoísta e que naquela época não compreenderia a verdadeira riqueza da nossa Amazônia, que é a nossa floresta, nossa água, a herança da sabedoria dos povos originários e que não podemos separar a Mãe Terra (ou Mãe Água) de seus filhos. Não se justifica, contudo, eram outros tempos. Assim vivemos séculos abandonados em nossa região, muitas vezes protegidos pela distância.

O Reino do Grão-Pará, como era conhecida a região naquele período, tinha sua importância na geopolítica histórica (entre espanhóis e portugueses) e de outros tipos de aventureiros que aqui chagavam com sede de levar tudo que podiam levar da nossa terra. Ainda tivemos outros ciclos como o da borracha que aproveitou os seringais e promoveu riqueza, e um novo tipo de escravidão dos migrantes nos seringais que fugiam do infortúnio da seca no Nordeste e enriqueceram os poderosos.

No século passado, o triste projeto de “integrar para não entregar”, na megalomania da ditadura militar, promoveu o genocídio de várias etnias e trouxeram outra legião de brasileiros produzidos pela desigualdade social, em especial do Sul e Sudeste que sofreram a falta de oportunidade em suas regiões fugindo do êxodo rural e da implacável mecanização que chegava por lá.

E a cultura da derrubada da mata para plantar e construir o progresso era o lema. Infelizmente com o gado e a monocultura como as novas bandeiras, que não são exatamente uma riqueza daqui, novamente não compreenderam a verdadeira riqueza da Amazônia. Nossa terra tem sua alma e peculiaridades, aqui tudo é diferente, aliás não deveria nem ser chamada de nossa terra, careceríamos de chamar de nossa água. Pois, paradoxalmente, somos a terra da água.

Aqui também é a terra da Oxum, de Yara, de Nossa Senhora do Nazaré, do povo ribeirinho das beiradas de nossos rios, somos a terra da água doce. E o Brasil tem 12% de toda água doce do mundo, e a maior parte dela está na Amazônia. Tanto em nossos rios quanto embaixo dela. Pois, o Aquífero de Alter do Chão é um reservatório subterrâneo de água que regula tanto nossos rios, quanto o meio ambiente e clima.

Para que vocês tenham uma ideia da sua importância, se toda a água potável do mundo findasse, o aquífero abasteceria o planeta por cem anos. Equivocamente a já foi considerada como o pulmão do mundo. Não, meus senhores, ela jamais foi o pulmão do mundo. A nossa maior riqueza é a combinação da água e floresta, elas se completam e não existiriam sem essa união.

A relação de ambas é tão profunda e intensa que nossas estações são divididas em duas, no verão da seca e inverno das chuvas. E devemos nos atentar, a escassez de água é uma realidade em todo mundo. Logo ela será o produto mais importante que o ouro, o petróleo ou qualquer outra riqueza, estamos mais perto de um mundo apocalíptico que imaginamos.

E a ciência já mostrou que a floresta está ligada em rede, preservar é de extrema importância para o clima e água daqui e de todo o mundo. Temos um processo conhecido do ciclo hidrológico que é a evapotranspiração, que de maneira simples é a transpiração de toda superfície da terra, onde ela se transforma em vapor a umidade dos rios, das plantas e de tudo gerando novas nuvens que regulam o clima e o novo abastecimento de água, daqui e de boa parte do planeta.

Por isso, devemos resistir contra a barbárie dos últimos quatro anos que se intensificaram pelo incentivo ao garimpo ilegal, a grilagem das reservas indígenas e de terras públicas; do desmatamento e do agronegócio predador (não o sério, porque temos o agro sério), que não entendeu o conceito de sustentabilidade avançando implacavelmente sobre a floresta e todas riquezas que temos aqui.

A ciência e tecnologia tem propostas de sustentabilidade e novas perspectivas para nossa terra, além das tradicionais e predatórias que só destroem e trazem riqueza para poucos. A riqueza da floresta tem que ser para todos, sem questões de ideologias, mas de civilidade. Se não compreendermos a riqueza da relação em rede que a floresta e a água têm, é o nosso Avatar. O cupuaçu está ligado ao açaí, a copaíba, e outras plantas que se ligam rainha da floresta a castanheira e todos estão comungam com a água.

Caso queiram se aprofundar nesse tema, segue um hiperlink sobre a Amazônia 4.0 do professor Carlos Nobre, estudioso sobre a sustentabilidade e novas perspectivas produtivas de nossas riquezas, clique e aumentem seus conhecimentos.

Realmente, não conhecemos o Brasil, muito menos a Amazônia, Elis Regina estava certa.

Deixo também o link de duas músicas, a primeira “querelas do Brasil”, o alerta que falei no primeiro parágrafo e “planeta água” um hino a nossa maior riqueza e símbolo de reflexão:

Agradeço a todos a atenção e “bora refletir” para podermos debater e construir uma sociedade de diálogo e tolerância.

Sobre o autor

Walace Soares de Oliveira é cientista social pela UEL/PR, mestre em educação pela UEL/PR e doutor em ciência da informação pela USP/SP, professor de sociologia do Instituto Federal de Rondônia (IFRO).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Duelo da Fronteira: conheça a disputa tradicional entre os bumbás de Guajará-Mirim

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O Festival Folclórico da Pérola do Mamoré, conhecido como “Duelo da Fronteira“, é uma tradição realizada em Guajará-Mirim (RO), criada em 1995. Tornou-se um dos maiores eventos culturais do Estado de Rondônia com a disputa entre os bois bumbás Flor do Campo e Malhadinho. O festival busca apresentar as heranças culturais tanto indígenas quanto caboclas, com danças, músicas e lendas.

O embate entre os bois bumbás tem esses nome, ‘Duelo da Fronteira’, porque a cidade de Guajará-Mirim está separada pelo rio Mamoré da cidade de Guayaramerín, na Bolívia, e ocorre à semelhança do Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas.

Leia também: Saiba quais cidades-gêmeas são encontradas na Amazônia Internacional

O Boi Malhadinho foi criado em 1986 pelo casal Leonilso Muniz de Souza e Edilza Mendes de Souza. A ideia era ajudar na educação de crianças e adolescentes de forma lúdica e suas cores são azul e branco. O Boi Flor do Campo foi criado em 1988 com as cores vermelho e branco e o nome veio do Pará, com sua criadora, a professora Georgina Ramos da Costa.

Na edição do evento em 2016 não houve disputa, pois o cantor e musicista Márcio Paz Menacho, de 45 anos, do boi bumbá Flor do Campo, foi morto com um tiro durante um assalto dois dias antes do festival. Nos anos seguintes, o duelo também não aconteceu, pois os representantes dos bois bumbás alegaram falta de recursos para a realização do festival.

Em 2020, já durante a pandemia, surgiu a ideia de realizar o festival pela primeira vez de forma online. Mas em 2023 o Duelo voltou a acontecer de forma presencial.

QUIZ: Você sabe dizer quais frutas são amazônicas?

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Existem dezenas de frutas super populares na região, mas que, na verdade, nem são originárias da Amazônia.

Frutas doces, cítricas, azedas. São muitos os sabores das frutas brasileiras e as amazônicas então? Existem dezenas de frutas super populares na região, mas que, na verdade, nem são originárias da Amazônia.

Uma fácil: o kiwi, obviamente, é um fruto delicioso, com certa popularidade em todo o Brasil, mas originário do sul da China. O Portal Amazônia reuniu algumas das mais populares e te desafia: será que você consegue acertar todas?

Política de não contato: como o modo de vida de povos indígenas isolados impacta a Amazônia

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O Vale do Javari, no Amazonas, abriga o maior número desses povos no mundo. 

Terra Indígena (TI) Yanomami, no estado de Roraima. Foto: Reprodução/Funai

Conhecer e proteger alguém usando apenas os rastros que deixa pelo caminho – arcos, flechas, artefatos, vestígios de alimentos e itens de acampamentos provisórios. É dessa forma que trabalham indigenistas que se ocupam da defesa de povos em isolamento voluntário, como Bruno Pereira, que esteve à frente da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), e foi morto em junho de 2022, em uma emboscada que também custou a vida do jornalista britânico Dom Phillips, correspondente do ‘The Guardian’. Ambos pagaram o preço por denunciar crimes socioambientais praticados no Amazonas.

Um ano depois de os dois serem assassinados, restam, para muitas pessoas, dúvidas sobre as comunidades que buscavam proteger. Os povos isolados estão em maior número no Brasil do que em qualquer outro local no mundo, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari, onde também vivem outros agrupamentos indígenas, inclusive alguns de recente contato.

O isolamento é, em geral, uma escolha dessas comunidades. Elas preferem manter distância de não indígenas, e até mesmo de outras etnias, por diversas razões. Um dos principais motivos é a recusa em manter uma ponte com o Estado e a existir em conformidade com a lógica do lucro, uma vez que, na maioria das vezes, já foram vítimas dessa situação, tendo experimentado matanças de seus pares. Há possibilidade de ter havido um trauma oriundo de outras vivências, como a de choque com outros povos. Como destaca um livro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Editora da Universidade Federal do Amazonas sobre o assunto, “a existência de grupos indígenas isolados, muitos enxotados de suas terras e em busca de refúgio em lugares de acesso muito difícil, alerta para o ‘terrorismo do desenvolvimento’, pensado em função de interesses externos, fora da Amazônia”.

Suruwahas (Zuruahã), no Amazonas. Foto: Reprodução/Funai

A obra do Cimi, de 2011, ressalta que o isolamento é mais comum na região amazônica por causa de suas características geográficas e ambientais. Contudo, outros locais, como o Cerrado brasileiro, o Gran Chaco, localizado entre o Paraguai e o Sul da Bolívia; e ilhas da Nova Guiné e do Sul da Índia também são lar de povos em isolamento voluntário.

Conforme esclarece o antropólogo Tiago Moreira, do Instituto Socioambiental (ISA), muitos povos deixam o isolamento para sinalizar que estão em apuros diante das ameaças à sua existência e ao seu modo de viver. O pedido de ajuda pode ocorrer mesmo que não seja de maneira explícita, e sim sutil. “Muitas vezes, esses povos têm contato intermitente, esporádico, com outros povos indígenas, por meio dos quais conseguem até ter acesso a instrumentos de metal, como facão, machado”, afirma, em complemento à definição do que são os povos em isolamento voluntário.

O fundador do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), o antropólogo Gilberto Azanha, enfatiza que o número reduzido de rastros e indícios que os povos em isolamento voluntário deixam é proposital e calculado. “O que significa viver escondido? Viver escondido significa deixar pouca pista”, diz ele, que atualmente é conselheiro consultivo do CTI. 

“São várias situações. Cada povo tem uma pequena história, profunda, sobre suas experiências de contato com outros, sejam os outros terríveis, como os agentes da nossa sociedade ocidental, sejam missionários, agentes da especulação imobiliária, madeireiros, e com outros povos indígenas da região, seu entorno. Todos construíram a sua, seja lá por que motivo. A gente só vai especular quando eles decidirem se apresentar e expor a sua história, por que se isolaram, por que passaram a viver escondidos. Isso a gente só pode especular”.

Gilberto Azanha

O povo isolado que vive na TI Massaco, em Rondônia, diz Azanha, é um dos que têm demonstrado curiosidade de ver o que se passa em suas fronteiras. “Eles têm umas saídas, os especialistas costumam falar dos jovens, para observar o que se passa e nisso deixam algumas pistas que o pessoal da Funai acompanha e ativa um sistema de proteção mais eficaz nessas áreas onde têm aparecido, meio de repente”, conta.

Como não há, geralmente, uma comunicação verbal com os povos em isolamento, que poderia permitir maior entendimento sobre a cultura de cada, eles podem ser identificados a partir de seu ponto geográfico. Há nomes como “isolados do Alto Xeruã”, “isolados do Rio Copaca/Uarini” e “isolados do Igarapé Lambança”.

Alguns desses povos, explica Azanha, desenvolvem sofisticação em suas andanças e movimentos, tenho habilidades excepcionais, por exemplo, de caminhar na floresta à noite. Como o intuito é perambular despercebido, um deles até parou de fazer roçados, de abrir clareiras na mata e de construir casas mais permanentes.

Tiago Moreira comenta ainda que, nos anos 80, houve, em Rondônia, ocorrências de povos isolados e de recentes contatos, que acabaram se deparando com pessoas que não pertenciam à sua comunidade e o resultado disso foi um elevado número de mortes. 

“A partir dos anos 80, também foi construída uma política de não contato, principalmente baseada no fato de que as experiências de aproximação eram desastrosas, as pessoas morriam, os grupos passavam por um processo de perda populacional muito grande. Então, a Funai, junto com os antropólogos, indigenistas, se reuniram para decidir o que fazer. Aí, foi indicada essa política de não contato e adotada uma série de protocolos, porque, eventualmente, esse contato teria que ser feito em caso de risco desse grupo [isolado]”,

diz.

Suruwahas (Zuruahã), no Amazonas. Foto: Reprodução/Funai

Rede de proteção 

O órgão que oficialmente faz o acompanhamento e registro dos povos em isolamento voluntário é a Funai. Contudo, outras organizações, como o Instituto Socioambiental (ISA), colaboram com essa função. A autarquia, afirma Tiago Moreira, busca vestígios e tenta manter distância segura desses povos.

“É um trabalho muito minucioso e cuidadoso, porque encontrar os vestígios dessas populações na floresta é uma coisa realmente bastante difícil. E, ao mesmo tempo, não se pode ficar ali dando bobeira, porque pode-se encontrar com esses isolados. Já aconteceu, a gente perdeu um colega da Funai, o Rieli [Franciscato, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau]. Ele estava fazendo uma ação de proteção na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, porque os isolados estavam sendo vistos fora da terra indígena. Tinham aparecido em uma fazenda, uma chácara, algo assim, que fica no limite da terra indígena, e foi para lá, a fim de tentar entender a situação e ver esses vestígios, para saber por onde estavam andando. Acabou sendo flechado por esses isolados. É um trabalho que é feito a distância”, diz o antropólogo, completando que quando a área ainda não é demarcada, há um empenho para, pelo menos, interditar o território, com o objetivo de preservá-la contra invasores e ameaças.

Segundo Moreira, no caso do ISA, o monitoramento é feito com a ajuda de satélites. “Nesse caso, tentando mais monitorar as pressões ao território do que propriamente se os isolados estão ali, porque, pelo satélite, é quase impossível acompanhar a presença deles. Então, a gente faz um monitoramento das ameaças, principalmente do desmatamento”, esclarece.

Para o antropólogo do ISA, os maiores inimigos, atualmente, dos povos em isolamento voluntário são o garimpo e o desmatamento. Além disso, enfrentam o narcotráfico, fazendeiros, caçadores, posseiros, madeireiros e a especulação imobiliária.

Moreira lembra que, no interior da TI Yanomami, há povos com esse perfil: “o que a gente viu nos últimos quatro, cinco anos foi que houve um crescimento do desmatamento em terras indígenas sem precedentes e que boa parte dele foi em terras indígenas com a presença de povos isolados”.

PL 490/2007

Outra entidade que forma a rede de proteção é o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), criado, conforme conta uma de suas integrantes, Luisa Suriani, durante o governo Bolsonaro, como reação ao aumento da vulnerabilidade dos indígenas. Muitas pessoas que fazem parte do observatório, relata ela, deixaram outras atividades com que estavam envolvidas para se dedicar exclusivamente a ele, após a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips.

A mestranda em antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) diz que o Projeto de Lei (PL) 490/2007, aprovado no dia 30 de maio, na Câmara dos Deputados por 283 votos contra 155, contém trecho relacionado aos povos em isolamento que preocupa especialistas. O Artigo 29 da proposta, que trata do marco temporal na demarcação de terras indígenas, permite que haja contato com esses povos, “para intermediar ação estatal de utilidade pública”. No último dia 26, o OPI e o Cimi já alertaram para esse aspecto, questionando o contato forçado e denunciando que, em nome de “suposto interesse público”, grandes empreendimentos promoveram verdadeiros massacres, genocídios, como a construção de rodovias, hidrelétricas, projetos de mineração, colonização e agropecuária.

“Isso abala completamente a política do não contato, que é a da Funai. Ou seja, a gente respeita a autonomia dos povos isolados e entende que essa forma de viver é uma forma de recusar o contato direto. O Artigo 29 propõe uma coisa que vai contra a política do não contato, consolidada no Brasil, e impõe um problema muito grave”,

 afirma Luisa.

TI Massaco, no sudoeste do Estado de Rondônia. Foto: Reprodução/Funai

Embora acredite que esteja em curso, pelo governo Lula, o que chama de “desintrusão da Funai”, isto é, a troca de figuras com posição anti-indígena por indígenas e indigenistas com anos de carreira na autarquia, Luisa diz que a recuperação do desmonte, que se estende a limitações de orçamento, ainda provoca inquietude. “As frentes de Proteção Etnoambiental, que são bases da Funai por região e cuidam de registros de povos isolados, sofrem com falta de comida. Daqui a pouco, não vai ter comida para abastecer essas bases. É uma coisa muito elementar”, afirma.

A noção de que poucas pessoas dominam conhecimentos sobre os povos em isolamento voluntário é uma percepção errônea, para a antropóloga. “No fim das contas, os verdadeiros especialistas são os próprios indígenas que compartilham os territórios com eles. Só que, durante muito tempo, a questão dos isolados ficou muito marcada como uma política da Funai. São dados muito sigilosos, até por essa questão de invasão. Então, há dificuldade de se acessar as informações justamente por causa da proteção desses dados. Muitas vezes, cria-se essa nebulosidade de que é algo que poucos sabem. Não, na verdade, quem está no campo, na base, que são os próprios indígenas, sabe disso muito bem. E acho que, dentro da antropologia, agora pensando em algo mais acadêmico, também para uma discussão política, é uma pauta que tem crescido, têm sido ampliado esses estudos mais antropológicos, sociológicos. Mas a expertise de fato é de quem está em campo, que são os próprios indígenas”, defende a pesquisadora, para quem a devida remuneração e contratação dos indígenas que têm proximidade com os isolados deve ser uma prioridade da Funai.

A Agência Brasil procurou a Funai e o Ministério dos Povos Indígenas, mas não teve retorno até o fechamento desta matéria.

*O conteúdo original é da Agência Brasil, escrita por Letycia Bond 

Litoral do Amapá: como é a bacia da foz do Rio Amazonas, alvo de disputa entre Ibama e Petrobras

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Esta biodiversidade está no centro das discussões sobre a exploração de petróleo no extremo norte do Brasil, a cerca de 175 quilômetros da costa do Amapá, na bacia da Foz do Amazonas

Com recifes de corais ainda pouco estudados e com o maior cinturão de manguezais do mundo – que se estende pela costa da Amazônia e representa 80% da cobertura do país –, a bacia da foz do Rio Amazonas é considerada uma região de grande relevância biológica.

Esta biodiversidade está no centro das discussões sobre a exploração de petróleo no extremo norte do Brasil, a cerca de 175 quilômetros da costa do Amapá, na bacia da Foz do Amazonas.

Em maio de 2023, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negou licença para a Petrobras iniciar a exploração petrolífera na região.

O órgão informou que o plano da Petrobras para a área não apresenta garantias para atendimentos à fauna em possíveis acidentes com o derramamento de óleo, e que viu lacunas na previsão de impactos da atividade em três terras indígenas em Oiapoque.

Biodiversidade costeira que pode ser impactada pela exploração de petróleo no Amapá — Foto: Parque Nacional do Cabo Orange/Divulgação

A Petrobras declarou que atendeu a todos os requisitos do Ibama no processo de licenciamento e que a área em que pretende perfurar o poço está a 175 km costa do Amapá e a mais de 500 km da foz do Rio Amazonas.

O Ministério de Minas e Energia declarou que recebeu a decisão do Ibama com naturalidade e respeito, e que o poço, de pesquisa, serviria para reconhecimento do subsolo e das potencialidades da região.

Na primeira manifestação sobre o assunto, o Presidente Lula (PT) disse achar difícil haver algum problema para a Amazônia, mas que ainda avaliaria o caso.

“Se explorar esse petróleo tiver problemas para a Amazônia, certamente não será explorado. Mas eu acho difícil, porque é 530 km de distância da Amazônia. Mas eu só posso saber quando eu chegar lá [no Brasil]”

declarou o presidente pouco antes de deixar o Japão, onde estava para a participar da cúpula do G7 .

Corais da Amazônia 

Em 2016, recifes de corais foram descobertos na costa do Amapá em meio ao anúncio de exploração de petróleo na região. Os “corais da Amazônia”, de acordo com a organização não-governamental (ONG) internacional Greenpeace, são formações únicas e seriam diretamente ameaçadas pela atividade petrolífera.

Os corais foram citados pela primeira vez em maio de 2016 por um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que explorou a costa Leste do Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa.

De acordo com a pesquisa, os recifes são formados por corais, esponjas e rodolitos (algas calcárias). 

Diante do estudo, os pesquisadores fizeram em janeiro de 2017 a primeira expedição que, ao longo de 16 dias, mapeou e identificou as novas descobertas.

O ecossistema ainda pouco conhecido fica a 100 quilômetros do litoral, próximo ao encontro das águas do Rio Amazonas e do Oceano Atlântico. Ele desperta grande curiosidade sobre como acontece a adaptação da vida marítima na mistura de água doce e salgada.

Inicialmente, foi estimado que os recifes teriam pelo menos 9.500 quilômetros quadrados, mas após a expedição, os cientistas estimam que eles podem ter até 56 mil quilômetros quadrados, em uma área que vai da Guiana Francesa, passa pelo Amapá e Pará e chega ao Maranhão.

Para o Greenpeace, os recifes estão ameaçados pelo fato de estarem localizados próximos ao bloco a ser explorado na bacia da foz do Amazonas.

“O Greenpeace apoiou expedições científicas em 2017 e 2018, que já indicavam a inviabilidade ambiental para essa exploração. Inclusive, esse termo é usado no parecer do Ibama, que respeita o princípio da precaução, de se evitar qualquer intervenção o meio ambiente sem as garantias de que não vai ter impacto”

disse Marcelo Laterman, porta-voz de Oceanos do Greenpeace Brasil.

Em 2018, uma petrolífera francesa que tentava explorar a mesma área teve a licença negada pelo Ibama.

Também em 2018, um projeto de lei para tornar os corais da Amazônia uma área de preservação permanente começou a tramitar na Câmara dos Deputados, mas a proposta foi rejeitada em dezembro de 2021 pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara.

Em meio à discussão sobre a possível liberação da exploração de petróleo na área próximas aos corais, ONGs, universidades e moradores da região temem as consequências de impactos ambientais ao ecossistema. 

Corais da Amazônia — Foto: Greenpeace/Divulgação

Manguezais da Amazônia

Distribuídos pelos estados do Amapá, Pará e Maranhão, os manguezais da Amazônia correspondem a mais de 80% dos manguezais do Brasil e possui o maior cinturão ininterrupto do mundo.

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Amapá é o terceiro maior estado do Brasil com uma área de 226 mil hectares de mangues, atrás do Pará (aproximadamente 390 mil hectares) e do Maranhão (505 mil hectares). O dado, segundo o instituto, consolida a importância da costa norte para a conservação da vegetação.

O mangue é um ambiente de transição entre o mar e o continente, entre a água salgada e a doce, entre os biomas terrestre e marinho, nas regiões tropicais e subtropicais.

Na Amazônia, o ecossistema gera verdadeiras florestas com árvores de grande porte. O solo se forma a partir de uma grande quantidade de matéria orgânica em decomposição que serve de alimento e habitat para diversas espécies de crustáceos e peixes.

No Amapá, ocorre entre o Oceano Atlântico e o Rio Amazonas, onde existem as áreas de várzea, protegidas pelos manguezais.

“Ele surge com o objetivo de proteger o próprio continente de impactos possíveis, como de um tsunami, por exemplo, ou de grandes ondas. Ele também é um berçário de espécies aquáticas, onde peixes, crustáceos e camarões usam para reprodução. O mesmo peixe que a gente consome no mercado, é o mesmo peixe que um dia viveu no mangue”

destacou Paulo Silvestro, analista ambiental do ICMBio.

A maior parte dos mangues amapaenses está localizada no Parque Nacional do Cabo Orange. 

Parque Nacional do Cabo Orange

Com uma área de aproximadamente 657.318 mil hectares, o Parque Nacional do Cabo Orange está localizado nos municípios de Calçoene e Oiapoque, no Norte do Amapá, região também conhecida como Litoral Equatorial Amazônico.

As espécies florestais mais comuns na região são as árvores mangue-branco, mangue-vermelho e o negro.

O local abriga vários animais que estão ameaçados de extinção, entre eles gato-do-mato, cuxiú-preto, tartaruga-verde, tamanduá-bandeira, onça-pintada, peixe-boi marinho e peixe-boi-da-Amazônia.

Um protagonista desta região é o peixe-boi chamado “Victor Maracá”. Ele foi resgatado e após viver por seis anos em uma piscina foi devolvido à natureza num rio na Aldeia do Manga, em Oiapoque.

Segundo o ICMBio, uma das visões que mais impressiona os visitantes é a grande concentração de aves, que utilizam a área para construção de ninhos nos mangues.

De acordo com o biólogo analista do ICMBio, o Amapá recebe anualmente algumas espécies de aves que fogem do inverno de países como o Canadá e os Estados Unidos e que passam o verão nesse ponto específico no Norte do Brasil.

“Tem animais que viajam milhares de quilômetros do Canadá e do Alasca (EUA) e vêm pra cá. O maçarico-rasteirinho, maçarico-de-perna-amarela. Do grande e do pequeno, vêm ficar aqui durante o inverno de lá, que tem muita neve e não tem comida”, 

comentou Silvestro.

Outros protagonistas dessa área são os caranguejos-uça, crustáceos predominantes na região. A espécie se alimenta de folhas em decomposição, sementes e frutos de mangue.

A carne do caranguejo-uça é bastante apreciada na culinária, por isso é definido anualmente o período de defeso durante a época reprodutiva da espécie.

Conhecida como “andada”, essa fase acontece no início do ano, quando os caranguejos saem das tocas e andam aos montes pelos manguezais, em busca de acasalamento e para a liberação de ovos.

Esta área que compõe o Parque Nacional do Cabo Orange é apenas um recorte da rica biodiversidade existente na costa do Amapá.

Outras duas unidades de conservação litorâneas também guardam as riquezas do extremo norte do Brasil: a Reserva Biológica do Lago Piratuba e a Estação Ecológica Maracá-Jipioca, que abriga a “Ilha das Onças-Pintadas”, uma das regiões mais remotas do estado com acesso pelo município de Amapá. 

Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO), no Amapá — Foto: Marcus Cunha/ICMBio

Terras indígenas 

Povos Indígenas temem a exploração de petróleo na costa do Amapá por acreditarem que a atividade deve provocar impactos ambientais em pelo menos quatro etnias que ficam ao norte do estado.

Renata Lod, vice coordenadora do Conselho de Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO), detalhou que os povos Karipuna, Galibi Marworno, Galibi Kali’ na e Palikur-Arukwayene vivem em 3 Terras Indígenas demarcadas e homologadas (TI Uaçá, TI Jumina e TI Galibi).

Ao todo, são cerca de 13 mil indígenas vivendo em 56 comunidades dentro de uma área contínua de 518.454 hectares, organizada em 5 regiões: BR-156, Rio Oiapoque, Rio Uaçá, Rio Urukawá e Rio Curipi.

A vice coordenadora disse que as comunidades receberam com satisfação o resultado do parecer do ibama.

“Ele apenas afirma aquilo que a gente vem tentando dialogar com a Petrobras todo esse tempo porque nós estamos tentando um diálogo para que o nosso protocolo de consulta seja respeitado, mas também para que a gente mostre os danos que isso pode trazer. Nós estamos vivendo as questões das mudanças climáticas e nós povos indígenas estamos vivendo na pele toda essa situação”

disse.

Outra preocupação é a movimentação de aeronaves na região. Segundo Lod, o barulho pode causar transtornos nas aldeias, que não estão acostumadas com sobrevoos.

“A questão das aeronaves que passavam quase que diariamente em cima das nossas aldeias trazendo consequências tanto para as nossas crianças que se assustavam, quanto para a caça. Isso assustava as caças, tanto pássaros, quanto animais terrestres […] os nossos territórios vai sendo impactados com isso”, completou.

*escrito por Núbia Pacheco 

Carnaval de ontem e de hoje

À época da Província do Amazonas esses acontecimentos de rua eram feitos por brincadeiras como o Entrudo e o Zé Pereira, além dos foliões mascarados que invadiam o Centro antigo de Manaus, quando da época da festa popular.

Segundo a professora e historiadora Mary Del Priore, o carnaval não tem sua origem no Brasil. Sua origem se perde no tempo, tanto que as religiões históricas nascidas às margens do Mediterrâneo tiveram que criar um espaço para tais festividades no seu calendário. O Cristianismo associou o carnaval à quaresma, que antecede à Páscoa, ao Judaísmo, à festa de Purim, em homenagem a Rainha Éster. Já o Islã situou as mascaradas no início móvel do seu ano lunar. Ainda segundo a historiadora, as três festas seguem firmemente inscritas no tempo religioso, mas aparecem, em diferentes graus, como fragmentos ou parênteses pagãos.

Em tempos mais remotos do carnaval, na longínqua Babilônia e na Roma Antiga, foi no calendário cristão que brotaram suas raízes mais evidentes.

“[ ]… Ao longo da idade média, os festejos com mascaradas eram mais definidos pelas estações do ano que por datas exatas. Entre o natal e o carnaval multiplicavam-se as quermesses. O período de matanças de porcos, para o preparo de embutidos a consumir na semana gorda, permitia aos jovens tingir o rosto com cinzas, encapuzar-se, vestir-se com sacos, roupas de mulher ou suas roupas ao avesso. Assim vestidos, assustavam outras pessoas, entravam em casas, comiam, bebiam e beijavam as moças, que tentavam reconhecê-lo. Na quarta-feira de cinzas, um manequim figurando o carnaval fazia sua entrada no vilarejo seguido de um grande cortejo de mascarados. Ao fim do dia, era queimado num muro próximo à Igreja, juntamente com as mascaras e acompanhado de lamentos que anunciavam a chegada da quaresma.

O carnaval seguiu os navegadores europeus pelo resto do mundo. Ao longo do tempo, carnavais rurais e urbanos se complementaram, com duração variável. Eles apostaram no papel maior ou menor das máscaras ligadas à Quaresma, ritos agrários, como se vê no México, ou nos Andes, no Mardi Gras de Nova Órleans ou no Carnaval das Irmandades Haitianas, em que as máscaras de vodu se confundem com as de carnaval.”

Fonte: Mary Del Priore é professora de pós-graduação na USP e autora do livro Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo: Brasiliense, 2003.

Avenida Eduardo Ribeiro, 1913. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Afirma-se também que o carnaval é considerado umas das festas mais animadas e representativas. Tem sua origem no entrudo português, cujo hábito era jogar nas outras pessoas água, ovos e farinha. O entrudo, em Portugal, acontecia em um período anterior à Quaresma, com significado ligado à liberdade. Chega ao Brasil, no século XVII, influenciado também por outros países europeus como a Itália e a França, tinham características de desfiles, onde os brincantes usavam máscaras e fantasias, não podemos esquecer os personagens como a Colombina, o Pierrô e Rei Momo, estes incorporados ao carnaval brasileiro, no Brasil, especialmente nas grandes capitais, no final do século XIX, começam a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos corsos. Estes últimos, tornaram-se mais populares no começo do século XIX. As pessoas fantasiavam-se, decoravam seus carros ou, a maioria, a pé desfilavam pelas ruas das cidades.

O carnaval, em Manaus, teve seu período áureo, nos anos quarenta, cinquenta, sessenta e setenta, com bailes tradicionais nos principais clubes sociais, como Atlético Rio Negro Clube, Ideal Clube, Luso Sporting Clube, Nacional Futebol Clube, Barés Clube, Sheik Clube, Olímpico Cube, Internacional, América, Sulamerica, São Raimundo, Ipiranga e tantos outros.

Avenida Eduardo Ribeiro, 1915. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Segundo o pesquisador e escritor Geraldo Xavier dos Anjos, as reminiscências do carnaval do passado são recheadas de fatos interessantes. Tais manifestações do carnaval que transcorriam nos principais clubes da cidade e de uma forma mais popular nas ruas de Manaus.

O pesquisador nos revela, ainda, que à época da Província do Amazonas esses acontecimentos de rua eram feitos por brincadeiras como o Entrudo e o Zé Pereira, além dos foliões mascarados que invadiam o centro antigo de Manaus, quando da época da festa popular.

Por sua vez, o Entrudo era uma prática proibida, por promover sujeira e imundície. O Entrudo foi uma manifestação introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses da Ilha de Açores.

A prática consistia em jogar nas pessoas água de lama, tinta e tudo que fosse mal cheiroso, até água podre e urina. Tal comportamento provocou a proibição por meio de uma portaria da Câmara Municipal de Manaus publicada no código de postura do município. O fiscal do primeiro distrito desta cidade faz publicar a bem dos interesses o seguinte artigo.

Ideal Clube. Família Tadros e família Sabbá. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

”[ ] … Artigo 82 – é proibido andar-se pelas ruas e lugares públicos e jogar entrudo ou alguma coisa sobre os transeuntes. Pena de dez mil reis de multa ou três dias de prisão.

Artigo 1. Permite-se as mascaradas danças carnavalescas de modo que não ofendam a moral e tranquilidade publica e não contenham alusão às autoridades ou a religião.

Artigo 2. Pelas ruas, praças e estradas da cidade não transitarão pessoas mascaradas depois do toque da Ave-Maria, salvo as que tiverem para isso licença da autoridade policial. Os infratores incorrerão na multa de cinco mil reis, ou dois dias de prisão.

Manaus, 28 de janeiro de 1874.

Pedro Mendes Gonçalves Pinto

“[ ]” Publicado no jornal da Barra do Rio Negro, O Estrela do Amazonas encontra-se o convite da Sociedade Recreativa Amazonense para o primeiro baile carnavalesco de que se tem notícia, da época 28 de janeiro de 1854. A Diretoria da Sociedade Recreativa Amazonense faz saber aos seus sócios que a partida carnavalesca correspondente ao mês terá lugar no dia 1 de fevereiro próximo vindouro na casa de residência do excelentíssimo senhor Capitão Gabriel Antonio Ribeiro Guimarães.

Os sócios que desejarem cartões para convidados deverão fazer os seus pedidos até o dia 31.

Barra, 24 de janeiro de 1854.

O Secretário

João Antonio Pará

Neste mesmo jornal, no dia 24 de fevereiro de 1855, temos a seguinte notícia: Na noite do dia 20 do corrente alguns dos principais negociantes desta capital ofereceram na casa da residência do Senhor Doutor Antonio José Moreira um baile de carnaval para homenagear excelentíssimo senhor Conselheiro Herculano Ferreira Penna. A ocorrência foi brilhante e, ainda nesta Capital não houve um baile em que se dançassem treze quadrilhas como nesta: o serviço foi muito bem feito.

Fonte: Carnavalesca – exposição de arte e memória do carnaval amazonense. 08 de fevereiro de 1991. Pesquisa e texto de José Geraldo Xavier dos Anjos.

João Bosco Fonseca (Arroz) e Antônio Lima de Souza (Mococa). Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Afirma-se, hoje, que o carnaval é uma festa do povo, vale relembrar os grandes desfiles na Avenida Eduardo Ribeiro, que, para os mais velhos, o local é sempre relembrado e naturalmente o preferido da velha guarda.

Em Manaus, quando os desfiles ocorriam na Avenida Eduardo Ribeiro, eram ostentadas elegantes fantasias, algumas com máscaras que desfilavam em carros alegóricos que desciam e subiam a partir do porto de Manaus até o Instituto de Educação. Tinha seu início muito cedo ,normalmente, às 16h. Os veículos da época de capotas arriadas com bonitas jovens a desfilar, o que permitia a população a tirar serpentinas e confetes e, quando em vez o lança-perfume. Tempo de boas memórias, o carro alegórico era sempre esperado com muita curiosidade pela população que se colocava nas calçadas daquela bela avenida, muito bem arborizadas pelos benjaminzeiros. Era uma avenida mesclada de comércio e residências, ainda me recordo das famílias sentadas a porta a apreciar o desfile, especialmente a família da Madame Verdade, responsável pela produção de muitas cabeças que haveriam de desfilar no Atlético Rio Negro Clube e no Ideal Clube.

Na década de quarenta, tínhamos os famosos carros alegóricos a cada ano muito bem produzidos da fábrica de cerveja Miranda Corrêa, destacando a sua saborosa cerveja XPTO, os caminhões muito bem ornamentados da empresa do Comendador Joaquim Gonçalves de Araújo, jogando para o povo os famosos saltos de borracha Coroa. A fábrica de guaraná Andrade participava oferecendo seu delicioso guaraná Andrade, o Luso Sporting Clube também participava do desfile sempre na tentativa de superar a União Esportiva Portuguesa, pois o Luso Sporting Clube era frequentado pelos portugueses mais pobres e a União Esportiva Portuguesa que era frequentado por uma camada de portugueses mais ricos. Importante ressaltar que os sócios do Luso Sporting Clube não podiam frequentar a União Esportiva Portuguesa, em contra partida os sócios do Luso Sporting Clube também não recebiam os sócios da Esportiva União Portuguesa. O Atlético Rio Negro Clube fazia o seu baile de Black-tie e o Ideal Clube seu principal concorrente com finos bailes com desfiles de belas fantasias. O Nacional Futebol Clube tinha seu baile máximo infantil, também com desfiles de fantasia.

Avenida Eduardo Ribeiro, 1913. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Mas é na Avenida Eduardo Ribeiro que tínhamos o grupo da Mocidade que, segundo escritor Carlos Zamite, apresentava, no último dia de desfile, o seu carro alegórico que era construído em sigilo, cujo tema era discutido na loja dos irmãos Tetenge, também na Eduardo Ribeiro. Este grupo carnavalesco que chamava Mocidade desfilou durante 25 anos tendo saído pela primeira vez em 1953 com o tema Branca de Neve e os Sete Anões. Foram muitos os temas apresentado por eles: Cangaceiros, Ciganos, Lavadeiras, Ali Maria, TV não era, o Circo e tantos outros. O último desfile de Mocidade foi em 1978.

Vamos relembrar o famoso baile Black-tie do Atlético Rio Negro Clube que iniciava às 22h com um grande sereno, era aglomeração de pessoas na porta do clube para observar a entrada das belas fantasias da alta sociedade amazonense que haveriam de desfilar. Este baile tinha o seu término às 05:30 da manhã e desfile continuava pela Avenida Epaminondas, passando por trás da Santa Casa de Misericórdia, descia Avenida Eduardo Ribeiro, subia Avenida sete de setembro e chegava no seu ponto máximo de encerramento na famosa Praça da Polícia, assim, eram os anos de glórias da elite do carnaval amazonense. A sociedade amazonense envelheceu, porém, a partir dos anos setenta começam a surgir as primeiras bandas, de certa forma com um crescimento vertiginoso permitindo ao brincante se fazer presente de uma forma muito simples. Esse fenômeno se proliferou e, hoje, é uma verdadeira febre, podemos destacar duas Bandas, a do Bar do Armando e a da Rádio Difusora, porém, há inúmeras delas. 

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Pesquisadora explora relação entre urbanização e vulnerabilidade socioambiental na orla do rio Tocantins em Marabá

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O estudo chama a atenção para o fato de que o modelo de desenvolvimento proposto pelo Estado não se equilibra com a infraestrutura necessária para atender toda população, em especial as que vivem às margens dos rios e igarapés.

Desde de 2006, a coordenadora e professora do Mestrado em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), professora Andréa Hentz, estuda a qualidade das águas do rio Tocantins. Recentemente, a pesquisadora publicou os resultados da análise sobre a relação entre urbanização e vulnerabilidade socioambiental na orla do rio Tocantins, em Marabá (PA), realizada entre janeiro de 2022 a janeiro de 2023.

As atividades da pesquisa ocorrem no âmbito do projeto ‘Estado e Políticas Sociais na Amazônia’ (PROCAD_AM e PDPG Amazônia Legal), que têm como objetivo analisar as políticas desenvolvimentistas praticadas pelo Estado, em escala nacional e regional, e seus impactos ambientais, culturais e sociais, como a degradação do rio Tocantins e os impactos para os moradores do núcleo da Velha Marabá, área pioneira que deu origem à cidade.

De acordo com a pesquisadora, há décadas prevalecem nas fronteiras amazônicas dinâmicas de ocupação do espaço baseadas em formas agressivas de exploração do ambiente.

“As relações historicamente estabelecidas entre sociedade e natureza nessas áreas revelam a predominância de uma visão moderna que geralmente reduz os elementos naturais existentes a uma condição de ´recursos´ e de disputa pela posse e uso destes, tendo em vista os diferentes interesses que orientam os diversos atores locais”, explica.

Foto: Reprodução/Unifesspa

O estudo de Hentz chama a atenção para o fato de que o modelo de desenvolvimento proposto pelo Estado, que eleva a concentração industrial e populacional urbana, não se equilibra com a infraestrutura necessária para atender toda população, em especial as que vivem às margens dos rios e igarapés, que no contexto do desenvolvimento urbano não são contempladas com políticas públicas que proporcionem melhorias de vida.

A dinâmica de ocupação e estruturação do território de Marabá é retratada, no relatório produzido pela pesquisadora, como resultado de um conjunto de decisões políticas que estimularam a vinda de mão de obra para atuar na região, formando concentração populacional, que combinada à fragilidade em termos de infraestrutura urbana no entorno da orla do rio Tocantins, contribuiu para reforçar os aspectos de vulnerabilidade da região. A figura abaixo demonstra a delimitação da orla da cidade e os bairros limítrofes do Bairro Velha Marabá:

Foto: Reprodução/Unifesspa

Pesquisa com moradores da orla 

O estudo professora Andréa Hentz mergulhou também na análise de uma pesquisa realizada em amostras de água do Tocantins, no período de 2016 a 2020. O levantamento ouviu 170 famílias ribeirinhas, observando que 55,70% dos entrevistados moradores da orla do Rio Tocantins em Marabá utilizavam, no período pesquisado, chafariz público para consumo da água para beber, 22,60% utilizavam poço artesiano, 17,90% compravam água mineral e apenas 3,80% possuíam água encanada.

Foi observado, também, que entre 2016 a 2020, o número de residências atendidas pelo sistema de abastecimento de água cresceu levemente. Paralelamente, a integração aos sistemas de esgotamento sanitário cresceu significativamente de 2018 para 2020 (67,19%). “Mesmo com o alto percentual registrado, quantitativamente ainda está muito abaixo da demanda da cidade”, diz.

Em relação ao saneamento básico, foi observado que os entrevistados reconhecem que, para melhorar a qualidade da água, deve haver investimentos no setor, pois a maioria (32,18%) apontou para o tratamento de esgoto. Já 27,80% acham que é preciso mais fiscalização; a necessidade de mais conscientização da população foi apontada por 21,30 % e a gestão ambiental foi o motivo atribuído por 18,62% dos moradores entrevistados. “Os dados demonstram que a percepção da população está alinhada a situações que, de fato, podem comprometer a qualidade da água e o bem-estar da população”, analisa a pesquisadora.

Foto: Reprodução/Unifesspa

Qualidade das águas do Rio Tocantins

Durante todo o ano de 2022, nos meses de enchente e no veraneio, Andréa Hentz coordenou trabalho de coletas de amostras de água. Depois de analisadas, o estudo revelou que 81,11% das 480 amostras analisadas, continham a presença de coliformes – evidenciando que a água pode oferecer riscos ao consumo humano.

Andréa lembra que, atualmente, no Brasil, os padrões de potabilidade que normatizam a qualidade da água para consumo humano vêm por meio da Portaria nº 2.914 do CONAMA. “Essa portaria define como água potável destinada ao consumo humano aquela cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam aos padrões e não ofereçam riscos à saúde, dispondo sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para o consumo, assim como os padrões de potabilidade”, explica.

O estudo mostra que, em relação a Escherichia coli ou coliforme termotolerantes, os valores máximos permitidos em cada amostra de água são referentes 103 unidades formadoras de colônia de bactérias, ou total ausência em cada 100 mL de água coletada. Os valores de coliformes termotolerantes encontrados no inverno de 2022 nos diversos pontos de coleta ficaram entre 1,9 x 102 e 4,8 x 1013 UFC/mL.

No verão de 2022, os valores obtidos variaram entre 3,8 x 102 e 5,2 x 1010 UFC/mL. Os coliformes totais na época da cheia apresentaram valores que corresponderam a uma mínima e máxima de 1,5 x 102 e 5,2 x 1013 UFC/100 mL, respectivamente. Na seca foram encontrados valores variando entre 1,5 x 102 e 4,3 x 1010 UFC/100 mL.

Foto: Reprodução/Unifesspa

Ainda segundo a professora, “esses dados corroboram com pesquisas realizadas desde 2006 e revelam que a contaminação das águas do rio Tocantins, às margens da orla de Marabá, não é recente, reafirmando a necessidade da efetivação e aplicação da legislação em relação à educação ambiental e melhorias relacionadas ao saneamento básico”.

Outro dado importante publicado no estudo demonstra que, por mais tenha havido investimentos públicos em melhorias da infraestrutura urbana da região, incluindo a própria orla, com importantes locais estruturados para Andrea7 1atividades físicas e esportivas, a utilização do rio Tocantins como opção de lazer ainda é um fator de destaque para a população entrevistada, pois 47% o utilizam para essa finalidade.

Por outro lado, a relação com o rio por parte de quase todos os entrevistados vai além do lazer, pois ao somar o percentual de respostas, 75% dos entrevistados utilizam-no para banho rotineiramente, lazer ou quando estão trabalhando nele. O rio ainda assume a primeira opção de banho quando falta água nas residências desses moradores.

A análise deixa evidente que o processo de urbanização provoca consequências no âmbito social e ambiental. “A urbanização da Amazônia, consolidada a partir da década de 1960, continua se acentuando até os dias atuais, enquanto a dinâmica das cidades se contrapõe à gestão e são pressionadas pelo cumprimento de legislações urbanísticas e ambientais tanto na condição nacional, estadual, como municipal”, concluiu a pesquisadora.

Inverno amazônico na verdade é verão; entenda por quê

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O “inverno amazônico” nada mais é que uma expressão que se popularizou, mas do ponto de vista científico o período entre dezembro e maio é verão.

Chega o fim do ano e as chuvas se intensificam em Estados como o Pará e o Amazonas. O céu mais nublado e a temperatura mais branda indicam características de que o período conhecido como ‘Inverno amazônico’ está chegando. Mas, afinal, é inverno mesmo? 

Segundo o meteorologista e professor na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Hildo Giuseppe, não, não é inverno. O “inverno amazônico” nada mais é que uma expressão que se popularizou, mas do ponto de vista científico estamos no verão.

O professor conta que no hemisfério sul do planeta, o período que vai de dezembro a maio é considerado verão, por conta da radiação solar mais intensa, por isso chove mais. “Aqui na região temos muitos rios, e quando há muita energia solar, evapora muita água, formando assim nuvens que vão condensar e precipitar. E assim fica nesse ciclo, precipita, cai a chuva, evapora e forma a nuvem novamente, o que é comum nesse período, justamente pela maior incidência de radiação solar”, explica.

Foto Ricardo Amanajás/Agência Pará

Segundo Giuseppe, é muito comum se falar de “inverno amazônico” justamente pela maior formação de nuvens e maior quantidade de chuvas. Do ponto de vista climatológico, não existe uma variação nas estações do ano, ou seja, elas têm uma data para começar e terminar.

“Nós, climatologistas, não gostamos do termo ‘inverno amazônico’ porque já é definido o verão na climatologia, mas quando se trata de demonstrar como é a variabilidade dos diversos climas ao redor do globo, existem especificações provenientes de cada município e cada região, e no caso da região amazônica, é muito comum se falar de inverno amazônico. É uma questão mesmo de nomenclatura para adaptar esse conceito com relação ao padrão local, mas, corretamente, estamos durante o verão no hemisfério sul. De acordo com o movimento de translação da terra, movimento que o planeta faz ao redor do sol, existem períodos que estamos mais próximos da estrela, e a terra recebe maior radiação solar, o que configura o chamado verão climatológico, que é o período que estamos começando a passar agora”, 

esclarece o meteorologista.

Hildo Giuseppe diz ainda que o período em que as chuvas são mais intensas costuma ocorrer de dezembro até maio, meses que concentram a maior quantidade de chuva, mas na região amazônica até em outros períodos é comum chover mais que em outras regiões do país.

“Nesse período […] há uma maior concentração das chuvas de dezembro até por volta de maio, o que em porcentagem representa que em torno de 65% a 70% das chuvas do ano se concentram nesses meses, e o resto é distribuído ao longo do ano. Mesmo nos períodos mais “secos”, ainda ocorre uma quantidade significativa de chuvas”, diz. Segundo ele, isso ocorre em função da formação que a região tem – a formação das florestas.

E pode até parecer que as chuvas começam a ficar intensas um pouco antes do previsto, como no mês de novembro, quando começa a chover mais. Segundo o professor, é o chamado período de transição. “Não é atípico, espera-se que nesse mês de novembro, que antecede o início do verão no hemisfério sul, já comece ocorrer o que chamamos de mês de transição na meteorologia, ou seja, um mês que já começa a se preparar para a entrada de novos sistemas atmosféricos nessa região, e provocar, justamente o aumento da incidência de chuvas nesse período”, diz.

E se você sente que fica mais quente depois que chove, aquela sensação comum de de que o clima fica mais abafado, saiba que isso é comum, especialmente em capitais, região onde existe uma grande quantidade de edificações.

“Isso faz com que ocorra uma espécie de tampão, ou seja, aquele vapor que deveria ser transportado de forma mais rápida para as altas camadas da atmosfera, acaba se aprisionando em uma grande parte. Isso causa uma sensação maior de calor, que a gente chama de aprisionamento, bem parecido com o efeito estufa, onde esse calor não se dissipa de forma rápida e causa essa sensação de abafamento”, 

explica o professor.

Clima e tempo

Existe uma diferença entre clima e tempo, e isso está ligado diretamente à previsão feita diariamente e ao conhecimento do clima de uma região. “Quando você monta uma estação pra fazer um monitoramento, e ele ocorre de forma instantânea a gente chama de tempo, aí sai os informativos de tempo nos jornais, a conhecida previsão do tempo, para a população se preparar. Já quando a gente fala em relação a sazonalidade, o clima, a gente fala com referência a vários anos, aí vem a climatologia, que segundo a Organização Mundial de Meteorologia leva em torno de 30 anos para avaliar. Então durante esse tempo que vai se conhecer as condições de clima de uma região”, explica o professor.

E já conhecendo o clima da região metropolitana de Belém e amazônica, o professor alerta que é bom se preparar para as chuvas que já começaram, e para os transtornos típicos que elas causam.

“O alerta que o Instituto Nacional de Meteorologia vem fazendo, atualiza a cada previsão, e segundo as análises feitas diariamente, existe a possibilidade de chuvas além do padrão tido como normal, ficar um pouquinho acima. A ideia é que a população se prepare, principalmente para os transtornos que ocorrem durante o período de maior quantidade de chuvas”, finaliza.