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Fauna de Rondônia é monitorada para tentar salvá-la do desmatamento

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Rondônia ocupa o sétimo lugar no ranking de desmatamento nacional e é o quarto Estado com maior emissão bruta de gases de efeito estufa. Na Amazônia Legal, é o terceiro que mais retira a cobertura vegetal, só ficando atrás do Pará e do Mato Grosso. Esses dados, divulgados em 2023 no Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (do MapBiomas Alerta), no Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG, do Observatório do Clima) e no TerraBrasilis (do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), confirmam a tendência de mudança da paisagem nesse estado amazônico nas últimas décadas.

Em 1970, início da série histórica do SEEG, Rondônia estava na 26a posição entre os estados, com pouco desmatamento e atividade pecuária em relação ao restante do país. Em 1994, subiu a terceiro lugar, e nos últimos dez anos se manteve entre os 10 maiores emissores de gases de efeito estufa do Brasil.

“Nas décadas de 1970 e 1980, os agricultores que colonizaram o estado vindos principalmente da região Sul sabiam trabalhar com a terra exposta, então houve muito desmatamento. Já havia em nosso território comunidades indígenas, quilombolas e extrativistas que estavam na floresta e tinham outros modelos para extrair riquezas, mas perderam espaço diante da força dos que chegaram e das políticas que direcionaram esta forma de atuar”,

conta o biólogo Samuel dos Santos Nienow, Coordenador Regional de Porto Velho no ICMBio (órgão federal responsável pelas unidades de conservação).

Ele explica que em Rondônia há floresta amazônica, cerrado e campos alagáveis, e com isso, fauna de diferentes biomas. Mas mudanças no uso da terra em decorrência do avanço do desmatamento fazem com que animais como anta, onça-pintada e diversas espécies de macacos tenham sua população diminuída, enquanto aquelas que se adaptam a áreas impactadas ou que migraram de outras regiões fiquem mais numerosas, caso do lobo-guará, espécie que já existe por aquelas terras.

“O cachorro-do-mato e o quero-quero, nativos de outros biomas, ocuparam Rondônia conforme a expansão de cidades e a pecuária. Por outro lado, no vale do Guaporé, na divisa com a Bolívia, o cervo-do-pantanal, que vive nos campos alagáveis, está ameaçado por espécies invasoras, como búfalos introduzidos por lá”, diz.

Desmatamento em Rondônia em 2019. Foto: Vinícius Mendonça/Ibama

Análise da riqueza nos diferentes ecossistemas

Para acompanhar essas mudanças de habitat e saber seu impacto na fauna, seja na quantidade de indivíduos em uma população ou na variedade de espécies encontradas, é preciso fazer levantamento do que existe e um monitoramento contínuo.

Em Rondônia, as primeiras informações sobre a fauna no estado surgiram no início do século 20, durante as expedições do marechal Cândido Rondon pela Amazônia. Mas só nos anos de 1990 os dados foram atualizados, através do Plano Agropecuário e Florestal de Rondonia (Planafloro), de trabalhos científicos e do planejamento das unidades de conservação e Terras Indígenas.

Nas décadas seguintes, o monitoramento da biodiversidade passou a fazer parte do Programa Monitora, iniciativa do governo federal nas unidades de conservação para verificar a efetividade das ações de conservação e subsidiar o manejo e o planejamento, gerando informações e envolvendo as comunidades locais como agentes para realizar o monitoramento.

Em Rondônia, o Monitora está presente em Florestas Nacionais, Reservas Extrativistas, Parques Nacionais e Reservas Biológicas, entre elas a Floresta Nacional (Flona) do Jamari, em que Samuel coordenou o programa até 2022, durante nove anos. Nessa unidade de conservação, aliás, há monitoramento da fauna desde 2014, antes mesmo de o Monitora ser lançado, em 2017.

“Precisamos conhecer o que temos e falar sobre a importância da biodiversidade. O monitoramento pode levar conhecimento para as populações locais, ajudar a identificar as espécies ainda desconhecidas e ser termômetro para verificar se as estratégias de conservação estão sendo eficientes”,

diz.
No Programa Monitora, as saídas a campo incluem armadilhas para capturar e identificar borboletas, fotografá-las e soltá-las em seguida. Foto: Zeziel Ferreira de Moura Silva

Monitoramento participativo

A Flona do Jamari, umas unidades monitoradas, fica a duas horas de Porto Velho, capital de Rondônia, em Itapuã do Oeste, onde Zeziel Ferreira de Moura Silva mora. Nascido na região, ele fez parte da equipe que coletou dados da biodiversidade em campo durante oito anos. A cada seis meses, Zeziel percorria as mesmas trilhas na floresta para procurar mamíferos, aves e borboletas e então registrá-los com fotos, no papel ou através de armadilhas fotográficas.

“Eu sou apaixonado pela natureza”, diz ele. “Fazendo o monitoramento, passei a conhecer o quanto a natureza é importante e que é essencial cuidar dela. Quem tá mais longe, não pensa assim.”

Ter Zeziel e outros moradores vizinhos às unidades de conservação à frente da coleta de dados faz parte do monitoramento participativo previsto no Programa Monitora, o que favorece a logística de mão de obra, valoriza o conhecimento da população, gera renda local e conscientiza os moradores sobre a importância da biodiversidade onde vivem.

“Vai ficar pra vida meu encontro com a onça”, lembra Zeziel. “Quando avistei, ela estava a uns 20 metros de distância, mas veio caminhando, chegou a 4 metros e foi embora. Fiquei assustado, mas me senti sortudo.”. Se ver onça foi sorte, avistar aves como jacu, mutum e nhambu ou mamíferos como cotia, veado e anta, faziam parte da sua rotina e dos registros.

No Plano de Manejo da Flona do Jamari estão previstas visitação, conservação ambiental, mineração, exploração sustentável da madeira e moradia de populações tradicionais, mas não é raro ser preciso lidar com atividades ilegais, como caça, retirada de madeira ou garimpo. E Zeziel nota como as mudanças nos habitats afetam as espécies: “A borboleta-estaladeira [Hamadryas feronia], por exemplo, é comum em áreas desmatadas. Se a encontramos na mata fechada, quer dizer que ali perto não tem mais floresta”.

Zeziel Ferreira de Moura Silva e seu encontro com antas (Tapirus terrestris) durante trabalho de monitoramento na Floresta Nacional do Jamari (RO).  Foto: Zeziel Ferreira de Moura Silva

Automonitoramento da fauna pelos indígenas Paiter-Suruí

Outra frente de monitoramento da biodiversidade em Rondônia é feita em Cacoal, a sete horas de Porto Velho, na divisa com Mato Grosso. Os protagonistas são o povo Paiter-Suruí em seis das 32 aldeias da Terra Indígena Sete de Setembro.

Desde 2009, os moradores registram os animais que são caçados para servir de alimento e como base de artesanato. O trabalho de monitoramento começou quando os indígenas fizeram uma pergunta a Israel Vale, biólogo que atua com os Paiter-Suruí desde 2004: “Se o nosso povo aumentar, vamos ter caça suficiente para todos?”.

Para responder à questão, Israel, que é coordenador de monitoramento ambiental e territorial da Associação Kanindé, construiu em parceria com a comunidade formas de os próprios indígenas acompanharem a variedade e volume da caça ao longo dos anos.

A análise dos resultados gerou diversos aprendizados, tanto para os pesquisadores quanto para os indígenas. Israel achava, por exemplo, que a invasão das queixadas nas roças fosse um problema: “Os indígenas me explicaram que é proposital, que faz parte de suas estratégias de manejo. Preparam parte de seus cultivos para consumo próprio e a outra parte para atrair esses porcos do mato e facilitar a caça”.

Com apoio da Associação Kanindé, os Paiter-Suruí instalam e aprendem a usar armadilha fotográfica para identificar os animais nas suas terras. Foto: Israel Vale

Já os Paiter-Suruí notaram que tem sido mais difícil encontrar macacos, alguns de seus animais preferidos para alimentação, por causa do roubo de madeira em suas terras, devastação para criação de gado e consequente alteração do habitat (os primatas, aliás, foram assunto do guia de identificação das espécies elaborado por um biólogo Paiter-Suruí em seu mestrado).

Com isso, conta Israel, passaram a dialogar com madeireiras ilegais e também procuraram combatê-las. “Quando diminui o volume de madeiras roubadas nas Terras Indígenas, mais animais estão presentes e espécies mais raras são avistadas. Os moradores notam diferença no dia a dia: se antes andavam 10 quilômetros para encontrar caça, agora caminham de 4 a 6 quilômetros”, diz.

A cada nova análise de dados, mais perguntas e discussões aparecem para apoiar a gestão do território indígena, buscando a qualidade de vida do povo e a conservação das espécies. “Estamos curiosos para observar os dados da caça no período da grande seca que atingiu a Amazônia no fim de 2023. Vamos ver se, e como, os índices de chuva e de temperatura afetaram a atividade”, diz Israel.

Monitoramento em áreas de restauração

Além das unidades de conservação e da Terra Indígena, as áreas de restauração florestal em propriedades privadas do estado também têm sido alvo de monitoramento da biodiversidade, já que 39% do bioma, segundo o MapBiomas, é ocupado pela pecuária.

Paulo Henrique Bonavigo é coordenador do programa Natureza e Comunidades da Ecoporé, instituição que realiza esse monitoramento nas propriedades privadas. “Há fragmentos de mata cada vez menores e poucos corredores interligando as áreas. Com isso, a perda da biodiversidade é grande, porque há animais que precisam de grandes áreas para alimentação e para viver. É essencial saber se a restauração de Áreas de Proteção Permanente, as APP [como beiras de rio e nascentes] e de Reservas Legais está sendo benéfica para todo o ecossistema, com o retorno da fauna aos ambientes”, ele conta.

Paulo Henrique diz que já existem primatas em áreas restauradas há cinco anos e jaguatiricas em um ambiente que era pasto há 10 anos e onde hoje crescem árvores com até 10 metros de altura: “Esses animais estão usando os ambientes para viver ou para se deslocar, o que é um resultado muito interessante”. E complementa: “Existem muitas lacunas sobre o conhecimento da fauna em toda a Amazônia. Fazer o monitoramento das espécies conhecidas precisa acontecer em paralelo com o levantamento do que existe para termos informações cada vez mais confiáveis e gerar políticas públicas e iniciativas de conservação.”

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Beatriz Santomauro

Vírus mayaro e chikungunya circulam ao mesmo tempo em Roraima 

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Estudo publicado este mês na revista Emerging Infectious Diseases mostra que os vírus mayaro e chikungunya estão circulando ao mesmo tempo (cocirculação) no Estado de Roraima. Segundo os autores, o achado reforça a necessidade de ações mais efetivas de vigilância epidemiológica na região.

A descoberta contrariou a expectativa dos pesquisadores. A hipótese inicial era de que os locais onde a taxa de infecção por um dos patógenos fosse alta seriam refratários à circulação do outro vírus, conta José Luiz Proença-Modena, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp) e um dos autores principais do artigo.

“Como mayaro e chikungunya têm alto grau de compartilhamento antigênico, era esperado que uma infecção protegesse o indivíduo da outra. Ou seja, a crença era de que os anticorpos específicos e os linfócitos T [células do sistema imune] produzidos como resposta à infecção por um dos vírus tivessem a capacidade de reconhecer o outro. Entretanto, ao contrário disso, detectamos mayaro e chikungunya nas mesmas regiões”, diz. Ele ressalta, contudo, que não foram identificados casos de indivíduos infectados simultaneamente pelos dois patógenos.

Na avaliação dos autores, a cocirculação desses arbovírus indica a necessidade da implementação de métodos moleculares para o diagnóstico preciso (exames do tipo RT-PCR, que detectam o material genético presente em amostras biológicas). “São doenças que clinicamente se confundem, pois causam sintomas semelhantes, como febre alta, dores articulares e cansaço”, pontua Julia Forato, ex-bolsista da FAPESP e autora do estudo.

Como explica a pesquisadora, o vírus mayaro é transmitido por um mosquito silvestre [Haemagogus janthinomys] – o mesmo vetor da febre amarela. Mas o desmatamento causado pela exploração ilegal de recursos naturais, sobretudo o garimpo, pode fazer com que a transmissão do mayaro passe a ocorrer em ambientes urbanos.

Segundo Forato, pessoas que trabalham em ambientes florestais – na mineração, exploração madeireira ou pesca, por exemplo – poderiam atuar como ponte, facilitando a eventual introdução e o estabelecimento da transmissão do mayaro em ambientes urbanos. No estudo, 11% das amostras infectadas por esse vírus eram de pescadores.

“Só com a implementação de vigilância molecular e genômica aumentada, tanto em humanos quanto nos mosquitos vetores, será possível monitorar o potencial estabelecimento do mayaro num ciclo de transmissão amplificado pelos humanos. Precisamos de uma vigilância robusta, não só para identificar o quanto a atividade humana em áreas de floresta pode impactar a dinâmica da circulação dos vírus, mas também para prever possíveis novos surtos. Todas essas doenças são muito incapacitantes, geram prejuízos financeiros e sociais aos pacientes, além de onerar em demasia o sistema de saúde para atendimento desses pacientes”, sublinha Proença-Modena.

Amazônia+10

O projeto que deu origem ao artigo em pauta busca avaliar como a atividade humana em áreas de floresta impacta a dinâmica de circulação viral. A equipe se propôs a investigar essa relação em três pontos focais: na reocupação da BR-319 (Rodovia Manaus-Porto Velho, que está sendo recuperada), em uma área de mineração no Estado do Pará e no Estado de Roraima, que registra alta populacional de migrantes e onde há forte presença de garimpo em áreas de mata próximas a cidades.

A empreitada envolve, além da Unicamp, grupos da Universidade Federal de Roraima (UFRR), do Laboratório Central de Saúde Pública de Roraima, da Universidade de São Paulo (USP), da Fiocruz Amazônia, do Imperial College de Londres (Reino Unido) e da University of Kentucky (Estados Unidos). E recebe apoio da FAPESP por meio de três projetos (22/10442-0, 17/22062-9 e 16/00194-8).

O trabalho integra a Iniciativa Amazônia+10, que reúne diversas agências de fomento do Brasil e do exterior, entre elas a FAPESP, no apoio à pesquisa e à inovação tecnológica na Amazônia Legal, promovendo a interação natureza-sociedade e o desenvolvimento sustentável e inclusivo da região.

“Este é o primeiro trabalho realizado no projeto, com o objetivo de entender quais vírus estavam circulando em Roraima. A partir da análise de amostras coletadas entre dezembro de 2018 e dezembro de 2021 – durante surtos de dengue e chikungunya em Roraima – montamos um panorama de quais arbovírus estavam circulando por lá”, informa Proença-Modena.

Das 822 amostras de sangue coletadas de pacientes atendidos em postos de saúde e que apresentavam doença febril aguda (febre alta associada a calafrios, cefaleia, dores musculares ou tosse geralmente relacionada a um agente infeccioso), 190 (23,1%) testaram positivo para algum arbovírus (vírus transmitidos por vetores invertebrados, sobretudo mosquitos).

Os pesquisadores extraíram o RNA de todas as amostras de sangue e, por meio de testes moleculares do tipo rRT-PCR, detectaram dengue em 146 delas (17,8%), mayaro em 28 (3,4%) e chikungunya em 16 (2%). Além desses patógenos, também foram buscados (mas não encontrados) os vírus zika e oropouche.

“Além de identificarmos a cocirculação de mayaro e chikungunya e uma frequência muito alta de dengue [inclusive coinfecção de dengue 1 e dengue 2], notamos que, na maioria dos casos [76,9%], não se sabe qual vírus está causando a infecção. Portanto, é provável que tenha algo novo por aí”, alerta Proença-Modena à Agência FAPESP.

O artigo Molecular Epidemiology of Mayaro Virus among Febrile Patients, Roraima State, Brazil, 2018–2021 pode ser lido em: wwwnc.cdc.gov/eid/article/30/5/23-1406_article.htm.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por Maria Fernanda Ziegler

Área degradada no Pará é restaurada por meio de projeto sustentável

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Cada vez mais se tem falado da importância do desenvolvimento sustentável para o futuro da sociedade. Recuperar alguma área degradada que tenha sofrido dano socioambiental está entre as principais ações pautadas para que isso ocorra. É a partir desse propósito que foi criado o projeto ‘Recuperação florestal em áreas degradadas no Sudeste Paraense’, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Parauapebas (PA).

Coordenado pela professora Daiane de Cinque Mariano, as ações do projeto resultaram na estabilidade ecológica na área trabalhada, localizada na fazenda Santa Rita da União, no entorno da Floresta Nacional de Carajás (FLONA de Carajás), zona rural do município de Canaã dos Carajás, no Pará. O objetivo principal do trabalho foi avaliar o crescimento e comportamento de espécies nativas introduzidas em área degradada em processo de recuperação florestal. 

O processo de restauração do local teve início com o plantio de mudas de castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl.) e arbóreas heliófilas nativas, através da parceria entre a Ufra campus Parauapebas, ICMBio e a empresa Salobo Metais S.A., no ano de 2018. A iniciativa começou por meio de um convite realizado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que envolveu também os professores Drs. Ricardo Shigueru Okumura e Ângelo Augusto Ebling. Em 2021 o projeto foi cadastrado na Ufra. 

A escolha das espécies utilizadas para a recuperação da área foi realizada pelos parceiros do projeto e ocorreu a partir de um levantamento florístico de áreas de floresta próximas à região.

“Na área experimental havia 174 indivíduos, que se estabeleceram por meio de regeneração natural e para o enriquecimento com as demais espécies, foram inseridas 2.211 mudas de espécies nativas”, diz. 

A professora Daiane de Cinque Mariano ressalta que um dos pontos mais delicados no processo de restauração florestal é a escolha das espécies nativas que irão compor a comunidade de determinada área degradada. Dentre as espécies inseridas no local destacam-se: Bertholletia excelsa Bonpl. (Castanheira); Clitoria fairchildiana R. A. Howard (Faveira); Cordia goeldiana Huber (Freijó); Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos (Ipê); Hymenaea courbaril L. var. stilbocarpa (Hayne) Lee et Lang. (Jatobá); Astronium lecointei Ducke (Muiracatiara); Byrsonima crassifolia L. (Murici) e Schizolobium parahyba var (Paricá).

Fotos: Divulgação UFRA-arquivo do projeto.

“O projeto permitiu observar o crescimento de espécies nativas tropicais de diferentes grupos ecológicos e destacar a necessidade de planejamento prévio visando o aumento da taxa de sobrevivência de algumas espécies por se divergir da literatura”, explica a professora. Quatro vezes ao ano realizava-se as avaliações acerca do crescimento das espécies nativas introduzidas nas áreas de estudo, além da verificação da taxa de sobrevivência. 

“Por meio do projeto foi possível obter resultados importantes como: trilhar as espécies de crescimento acelerado; espécies que apresentam altas taxas de mortalidade quando introduzidas em área de sequeiro; os efeitos positivos e negativos da herbivoria; e o crescimento de espécies por meio de análise de agrupamento ecológico”, diz a professora. 

*Com informações da Ufra

‘O Pequeno Príncipe’ inspira pesquisadora paraense a criar obra imersa no mundo TEA 

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Que ‘O pequeno príncipe’, obra de Antoine de Saint-Exupéry, vem conquistando gerações desde 1943, não é novidade. São anos guiando crianças, jovens e adultos em uma fantástica jornada sobre amizade, responsabilidade e laços afetivos, que ultrapassa os limites do imaginário literário. Cativada, assim como a raposa, pelo pequenino príncipe, a pesquisadora paraense Adeline Oliveira da Silva criou laços com a obra e, imersa nela, desenvolveu sua dissertação baseada na sua realidade pessoal e profissional com pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Intitulada ‘INTENSITEA – Protocolo de exercício físico para funções executivas de universitários(as) com TEA’, a pesquisa foi apresentada, em 2021, ao Programa de Pós-Graduação Criatividade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES/ NITAE) da Universidade Federal do Pará e resultou em um produto educacional, de mesmo título, orientado pelas professoras Netília Silva dos Anjos Seixas e Arlete Marinho Gonçalves.

“O Pequeno Príncipe traz para mim a importância de criar laços e dedicar-se àquilo e/ou àquele que você cativou, o que já é um desafio, mas, cativar uma pessoa com TEA é um desafio ainda maior, demanda dedicação para enxergar o essencial para além do que os olhos veem. Durante a minha trajetória com pessoas com TEA, esse livro me faz lembrar que é preciso exigir de cada pessoa aquilo que ela pode nos dar, celebrar cada mínimo retorno, e ficar contente por tê-la conhecido. Além disso, os ensinamentos do livro mantêm viva em mim a imaginação, a humanização e a importância em criar laços, o que foi essencial para desenvolver o INTENSITEA”, explica a professora de educação física e terapeuta ocupacional, Adeline Oliveira.

A autora reuniu todos esses interesses, seus nove anos de experiência profissional, suas motivações pessoais, saberes acadêmicos e sua crença de que ‘o essencial é realmente invisível aos olhos’ para explorar o que na obra de Saint-Exupéry seria um novo planeta: o Transtorno do Espectro do Autismo na graduação, mais especificamente na Universidade Federal do Pará.

Foi o tempo que dedicastes à tua rosa que a fez importante

Dividida em sete capítulos, a pesquisa apresenta o processo de construção e o produto IntensiTEA: um protocolo de exercício físico destinado ao melhor desempenho de funções executivas para estudantes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) do ensino superior, de maneira aguda, ou seja, a partir de uma única sessão. 

A opção por trabalhar com as funções executivas, em especial a atenção, o controle inibitório e a memória de trabalho, se deu pelo grande número de estudos que abordam as disfunções executivas como características de pessoas com autismo. Essas disfunções impactam diretamente seus processos de ensino-aprendizado, seu desempenho ocupacional acadêmico e sua autonomia.

Dentro do contexto universitário, a pesquisa foi realizada quando o campus Belém da UFPA contava com 529 discentes PcDs matriculados(as) em cursos de graduação, sendo 22 diagnosticados(as) com TEA. Hoje, o número de discentes PcDs matriculados(as) aproxima-se de mil, sendo 89 diagnosticados(as) com TEA. Para desenvolver o protocolo, foram selecionados dez discentes com TEA, do sexo masculino. A participação dos alunos se deu em três sessões on-line, devido ao contexto da pandemia de covid-19.

Nas sessões, após uma análise inicial, a pesquisadora aplicou uma série de exercícios físicos em forma de circuito. A partir desta etapa, pôde observar os efeitos agudos (ou seja, aqueles presentes logo após uma única sessão de exercício físico) nas funções de atenção, controle inibitório e memória de trabalho dos participantes da pesquisa.

A validação do protocolo de exercícios físicos pelos alunos com TEA permitiu a elaboração do produto IntensiTEA, sendo este também validado por uma banca de especialistas das áreas da educação física, terapia ocupacional, pedagogia, publicidade e design gráfico. Por fim, os resultados obtidos foram tabulados e iniciou-se o processo de elaboração dos formatos do protocolo, que são: em PDF e em videoaula, esta disponível no Youtube.

O estudo permitiu concluir que o protocolo contribuiu para literaturas do TEA, ao apresentar os efeitos agudos de 25 minutos de exercício físico de intensidade moderada, baseado em circuito, com indicação de melhor funcionamento das funções de atenção, inibição e memória de trabalho.

“A elaboração do produto foi desafiadora, principalmente devido ao reduzido número de estudos científicos que abordam, de maneira específica, os efeitos de uma sessão de exercício físico nas funções executivas de universitários com TEA. Outra dificuldade foi a pandemia de covid-19, que diminuiu o público amostral em 80%, mas, apesar disso, o resultado foi gratificante. Pude usar toda minha dedicação e experiência. O IntensiTEA, para mim, é um presente”, afirma Adeline Oliveira.

“Tu te sentirás contente por me teres conhecido

O nome ‘IntensiTEA’ é uma junção do prefixo ‘Intensi’, que se refere à ‘Intensidade’, elemento constituidor da identidade visual das atividades profissionais exercidas pela pesquisadora, desde o ano de 2014; e o sufixo ‘TEA’, relativo ao objeto de estudo do produto. Juntos, eles representam as motivações pessoais e profissionais que a acompanham ao longo de nove anos de atuação nessa área.

O protocolo é indicado a profissionais que atuam na educação superior, em qualquer área do conhecimento, que atendam alunos com Transtorno do Espectro do Autismo e que desejam melhor desempenho em atividades que exijam atenção, inibição e memória de trabalho, de modo instantâneo, desses alunos. É destacado pela pesquisadora que é importante o profissional considerar o nível do espectro e/ou da capacidade dos usuários em realizar os exercícios propostos.

Seu uso pode proporcionar, a curto prazo (com duração média de 30 minutos): maior e melhor capacidade de atenção às informações recebidas; maior controle frente aos elementos distratores, aumentando o tempo de inibição de estímulos externos que possam desviar o foco da atividade principal; maior retenção de informações recebidas, para que possa aplicá-las, instantaneamente, em alguma tarefa, ao responder questões ou questionamentos referentes ao assunto apresentado.

No formato em PDF, o protocolo pode ser acessado no site do repositório da UFPA. O documento contém as descrições dos exercícios, bem como todas as orientações necessárias para sua aplicação com segurança. A videoaula do protocolo pode ser acessada no Youtube, por meio do canal da professora (Adeline Oliveira). O conteúdo online é voltado para profissionais que não estão familiarizados(as) com exercícios físicos, podendo ser realizados de forma simultânea com a pesquisadora.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, edição 170, escrito por Por Isabelly Risuenho

NASA busca proteger onças-pintadas no Peru com ajuda de satélites

À medida que as populações humanas crescem, a perda de habitat se torna uma ameaça crescente para inúmeras espécies animais, incluindo grandes felinos, as onças-pintadas. Para resolver este problema, a NASA lançou um esforço para utilizar tecnologia de satélite para ajudar a proteger estas criaturas vulneráveis.

Os esforços de conservação no Peru se concentram no rastreamento e proteção de habitats ameaçados usando a tecnologia espacial. Os satélites da NASA desempenham um papel crucial no mapeamento do habitat da vida selvagem, permitindo que os cientistas monitorem áreas que seriam logisticamente difíceis de estudar a partir do solo.

Tigres, onças e elefantes são apenas algumas das espécies vulneráveis ​​cujos habitats a NASA está ajudando a rastrear a partir do espaço.

Foto: Reprodução/Agência Andina

Embora os tigres tenham perdido grande parte da sua área de distribuição histórica, com um declínio de 11% no seu habitat conhecido desde 2001, as onças-pintadas também enfrentam uma situação crítica. No último século, as onças perderam cerca de 50% de sua área de distribuição.

Esta perda foi agravada pelo desmatamento e pela caça, razões pelas quais a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) as classificou como quase ameaçadas.

Usando tecnologia de satélite e dados sobre o uso da terra e infraestrutura, pesquisadores financiados pela NASA mapearam áreas prioritárias de conservação para onças-pintadas. Cerca de 36% destas áreas no Chaco argentino são atualmente zonas de “baixa proteção”, onde o desmatamento é permitido.

“Gestores e conservacionistas poderiam usar as novas informações espaciais para ver onde o atual zoneamento florestal está protegendo animais importantes e onde pode precisar de reavaliação”,

explicou Sebastian Martinuzzi, principal autor do estudo e professor da Universidade de Wisconsin em Madison.

A utilização de dados de satélite fornecidos pela NASA não só ajuda a rastrear os habitats das onças-pintadas, mas também permite que os conservacionistas identifiquem áreas que poderiam ser restauradas para criar novos habitats adequados para estes grandes felinos.

Esta abordagem inovadora oferece esperança de que, com uma gestão adequada e esforços concentrados, um futuro mais seguro possa ser assegurado para as onças-pintadas e outras espécies ameaçadas na região amazônica internacional.

*Com informações da Agência Andina

Projeto destaca protagonismo feminino de compositoras maranhenses

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Com foco na promoção do protagonismo feminino e para colaborar na criação de um ecossistema de apoio a às compositoras maranhenses, a artista Valéria Sotão desenvolveu o projeto ‘Criação e fortalecimento de um ecossistema de apoio a profissionais mulheres da música autoral do Maranhão’.

A iniciativa foi selecionada no edital ‘Economia Criativa’, realizado pelo Governo do Maranhão, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Maranhão (Sebrae).

O presidente da Fapema, Nordman Wall, destacou a relevância em apoiar projetos que fomentam e promovem a economia criativa e, neste caso, priorizando as mulheres e suas produções autorais na música maranhense.

“Investir nos talentos femininos que enriquecem nossa cultura, criam oportunidades econômicas e sociais significativas. Este edital vem com a proposta de dar voz e vez a esta forma de empreendedorismo. Ao incentivarmos e apoiarmos essas compositoras, estamos promovendo a diversidade cultural, fortalecendo a identidade local e ampliando os horizontes artísticos de nossa região. Além disso, estamos contribuindo para o empoderamento feminino, estimulando o reconhecimento e a valorização do trabalho das mulheres”, avaliou.

Valéria Sotão conhece bem este cenário. É formada em jornalismo, cantora e compositora, e a partir de seu projeto, quer potencializar a cena de música autoral do Maranhão e abrir caminhos para as mulheres mostrarem e também, produzirem seus trabalhos, apoiando para a execução dos processos relacionados à gravação de álbuns de música autoral. Ela observa que o Maranhão é um “enorme celeiro” de artistas das mais diversas linguagens, mas o cenário de estímulo às artes não é dos mais animadores e necessita de mais meios de suporte aos fazedores de cultura.

O projeto nasceu da necessidade dela própria articular recursos para a gravação do seu primeiro álbum de música autoral. Diante disso, desenvolveu uma proposta para realizar o registro em estúdio e, paralelamente, criar e fortalecer um ecossistema de apoio a profissionais mulheres da música autoral no Maranhão.

“Principalmente às que desenvolvem suas especialidades artísticas de forma autoral e independente. Quando fazemos o recorte para o público feminino, os índices são ainda menores. Pensando nisso, desenvolvemos este projeto com fins a possibilitar a promoção de um trabalho coletivo, ou seja, pensando em solucionar um problema que atinge a mim e outras colegas da música. Portanto, nosso foco é conseguir executar gravações de trabalhos autorais de artistas maranhenses, com recorte para o público feminino”, explica Valéria Sotão.

Ela destaca que o projeto acolhe diversos ritmos, tendo suas maiores referências como Caetano Veloso, Bethânia, Gal, Gil, Rita Lee, além de ícones da nova MPB ao indie pop, do reggae ao samba, sem perder a forma única de criar. Na proposta, os processos que compreendem a gravação do álbum passam pelos ensaios, gravação de guias, gravação de instrumentos e voz, mixagem, masterização e concepção de identidade visual.

A proposta contempla, ainda, atividades como reuniões de alinhamento entre equipe, articulação com parceiros, divulgação, seguidos de mapeamento de empresas e artistas e capacitações. Serão promovidas também, mentorias para estimular práticas que fortaleçam os trabalhos, envolvendo temáticas como elaboração e aprimoramento de portfólios, gerenciamento de carreiras artísticas, participação em editais e acompanhamento e análise dos perfis aptos e competitivos para participar da etapa final de apresentação dos trabalhos das artistas participantes do processo para potenciais investidores e críticos da música do estado.

“Com esses direcionamentos e suportes que o projeto proporciona, será possível vislumbrar oportunidade às artistas maranhenses de música autoral, para que possam atrair parceiros e investidores das mais diversas áreas. Pretendemos também possibilitar a implementação dos seus respectivos projetos musicais. Com isso, não só eu terei possibilidade de apresentar meu novo álbum, como também, abrirei portas para outras mulheres compositoras e intérpretes do cenário musical maranhense”, avalia Valéria Sotão.

A execução da proposta ganhou concretude graças ao apoio da Fapema e do Sebrae, reconhece a artista. “Se não fosse a Fapema e o Sebrae, como principais patrocinadores, não teríamos a possibilidade de fazer, tanto o evento, quanto o projeto inteiro, assim como a gravação do disco. Então, foi de extrema importância esse patrocínio”, afirmou.

Os próximos passos serão a finalização da gravação das músicas do disco, que está em processo, seguido do show, roda de conversa e rodada de negócios com produtores locais para abertura de novas oportunidades.

Avaliação

O projeto já conta com nove músicas gravadas e prontas para serem disponibilizados ao mercado. As composições serão divulgadas no show Elas por Elas, evento resultado do projeto apoiado pela Fapema. O show traz produções de compositoras maranhenses e é uma das etapas do projeto que possibilita o mapeamento de compositoras e o fortalecimento de suas carreiras.

Além da Valéria Sotão, o projeto conta com as perfomances das cantoras-compositoras Amanda Quixa, Becky Barros, MC Morango, Yasmin Viana, Anelym, Zayda Moraes, Helyne, Andréa Frazão e Georlinda Ferro, que terá suas composições interpretadas pela cantora Paula Reis. “O show é dedicado à música autoral que oportunizará às artistas o fomento de suas carreiras e o registro visual de suas apresentações para compor seus portfólios artísticos”, explica Valéria Sotão.

O projeto inclui ainda uma roda de conversa como processo formativo com o tema ‘Desafios das compositoras no MA’ e roda de negócios para que as compositoras apresentem seus trabalhos a potenciais parceiros culturais, produtores da área musical e investidores. As atividades serão realizadas nos próximos meses.

*Com informações da Fapema

Arlequim-da-mata, o besouro de pernas compridas e carapaça espalhafatosa

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Duas características saltam aos olhos de quem observa o curioso besouro arlequim-da-mata (Acrocinus longimanus). A primeira é a carapaça com padrões em vermelho, laranja e preto, que muito lembram os trajes alegres e multicoloridos dos carnavalescos arlequins – daí a referência do nome popular da espécie.

Também são diferenciais as pernas dianteiras bastante longas. Capazes de atingir mais de 15 centímetros, muitas vezes os membros superam o dobro do tamanho do corpo do inseto. É por isso que parte do seu nome científico é “longimanus“, que em latim significa algo como “que tem mãos longas”.

Com dois pares de asas, sendo as externas mais durinhas para proteção das internas – essas, de aspecto membranoso –, o arlequim-da-mata faz parte da ordem Coleoptera (do grego koleos = estojo e pteron = asas). O grupo reúne mais de 350 mil espécies e representa cerca de 40% dos insetos e 30% de todos os animais do planeta.



Foto: Comunicação Butantan

Encontrado nas florestas neotropicais (uma das seis grandes áreas no planeta com similaridade de fauna e de flora) do sul do México ao norte da Argentina, também integra a família dos Cerambicídeos, que são aqueles besouros conhecidos popularmente como serra-pau. Como uma broca, esses insetos têm a capacidade de perfurar a madeira das árvores.

No Brasil possui uma ampla distribuição geográfica, a espécie habita tanto áreas de matas quanto em áreas urbanas, pomares,  jardins, figueiras e jaqueiras, camuflando-se entre as manchas de líquen e os fungos dos troncos. 

Tudo começa quando a fêmea da espécie abre um buraquinho milimétrico na casca de uma árvore para depositar seus ovos. Ao eclodir, as larvas vão se alimentar de madeira e abrir túneis ainda mais profundos, onde vão se transformar em pupas. Cerca de quatro meses depois, emergem os besouros adultos, que precisam abrir caminho para fora da madeira para dar sequência ao ciclo de reprodução.

Já as pernas longuíssimas são exclusividade dos machos e desempenham um papel importante no jogo da conquista. Além de servir como atrativo, os membros ajudam a “prender” a fêmea no momento do acasalamento. 

 O corpo do besouro-arlequim também pode hospedar pequenos aracnídeos conhecidos como pseudoescorpiões (Cordylochernes scorpioides). Vivendo na serrapilheira, camada de folhas secas, galhos e restos de frutas, flores e animais que ficam na superfície do solo, esses miniescorpiões pegam carona com o inseto para alcançar novas fontes de alimentos.

Espécie: Acrocinus longimanus, da ordem Coleoptera e família Cerambicídeo.

Onde habita: nas florestas tropicais do sul do México ao norte da Argentina, incluindo todo o Brasil.

Características físicas: carapaça colorida, com desenhos simétricos em preto, vermelho e laranja. Na fase adulta, mede aproximadamente 8 centímetros, enquanto os machos apresentam o primeiro par de pernas bem comprido, podendo superar os 15 centímetros.

Alimentação: na fase larval, se alimenta de cascas e lenho das árvores; quando adulto, de vegetais, madeira e excremento de outros animais.

Curiosidade: um exemplar da espécie estampou a capa do álbum “O Cair da Tarde” (1997), do cantor brasileiro Ney Matogrosso.



Foto: Comunicação Butantan
 

*Com informações do Instituto Butantan

Estudo comprova sustentabilidade do café da região das Matas de Rondônia

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Estudo inédito realizado pela Embrapa comprova a sustentabilidade da cafeicultura das Matas de Rondônia. Por meio do uso da geotecnologia e com o apoio de imagens de satélite, o trabalho registrou desmatamento zero em sete dos 15 municípios da região, entre os anos de 2020 e de 2023. Em toda a região, foram encontrados traços de retiradas de áreas florestais em menos de 1% da área total ocupada pela cafeicultura. O trabalho também demonstra que mais da metade dos territórios dos 15 municípios somados é coberto por florestas, o que totaliza 2,2 milhões de hectares com vegetação nativa. Leia o trabalho na íntegra aqui.

As plantações de café e as áreas florestais da região foram identificadas em um Sistema de Informações Geográficas (SIG). Líder do trabalho, o pesquisador da Embrapa Territorial  Carlos Ronquim explica que a equipe cruzou dados de fontes oficiais e utilizou imagens de satélite de alta resolução espacial como apoio para definir em polígonos como áreas agropecuárias e como florestas. “Então, comparamos os cenários de 2020 e de 2023 para observar avanços dos cafezais sobre áreas de floresta. É um trabalho inédito e muito aguardado pelos produtores locais”, conta o pesquisador. Acesse os mapas gerados aqui .



Foto: Fernando Wagner Malavazi

As Matas de Rondônia são responsáveis por mais da metade da produção de café de Rondônia. A produção regional está crescendo e buscando ampliar o mercado para o seu produto, um café especial. A região é o berço do “robusta amazônico”, a primeira variedade a receber selo de Indicação Geográfica de cafés canéforas sustentáveis no mundo. A bebida gerada pelo grão amazônico vem ganhando destaque em feiras e concursos nacionais e internacionais como uma das mais exóticas e interessantes do ponto de vista sensorial.

Amazônia aumenta pressão mundial pela sustentabilidade 

Segundo os Cafeicultores Associados da Região das Matas de Rondônia (Caferon), além do mercado brasileiro, o robusta amazônico é comercializado com países da América do Sul, Ásia e Europa. As negociações comerciais não são simples. Para expandir o mercado de compradores, os produtos agrícolas da Amazônia enfrentam pressão maior para comprovar a sustentabilidade do processo, como afirma Juan Travain, produtor rural e presidente da Caferon. “Sabíamos que uma cafeicultura da região era sustentável, mas não tínhamos essa comprovação com base na ciência. E o estudo demonstra isso. Esses dados precisam ganhar o mundo. Queremos divulgá-los em eventos de grande repercussão nacional e internacional”, informa.

O estudo também aponta fatores que podem ajudar a cadeia local a atender à demanda de novos mercados, sem iniciar as áreas de floresta. A cafeicultura da região vem aumentando a produtividade pela aplicação de tecnologias, e pode ainda ocupar as vastas áreas de pastagens, que representam 1,9 milhão de hectares, tamanho um pouco menor que metade de toda a área da região.

“Trabalharemos para ocupar essas áreas novamente, mas de uma maneira com mais sustentabilidade e pujança, por termos mais tecnologias. A Amazônia será um celeiro de café para o mundo, de maneira mais sustentável, obedecendo a todas as normas”,

ressalta Travain.

Equipe formada por representantes da Embrapa, Senar e da Caferon, conversou com um produtor indígena de café, em Cacoal, RO (abril/2024) – Foto: Arquivo Pessoal/Carlos Ronquim

Além da conservação ambiental por parte dos produtores, o estudo destaca a contribuição das reservas indígenas, que preservam e conservam grandes “blocos” de florestas nativas primárias num total de 1,2 milhão de hectares. Somadas, essas áreas de vegetação nativa chegam a 56% de todo o território das Matas de Rondônia, ou 2,2 milhões de hectares (ha).

Desafio para identificar plantações de café 

Identificar as plantações de café não foi tarefa fácil. Mesmo com o apoio de imagens de satélite de alta resolução espacial, não foi possível automatizar o reconhecimento dos cafeeiros, pois a maior concentração de pés encontra-se dentro de pequenas propriedades rurais, sendo confundidas com outras culturas, ou até mesmo com bordas de floresta .

Dos 37 mil imóveis rurais da região das Matas de Rondônia, declarados no Cadastro Ambiental Rural (CAR), menos de 9 mil se dedicam à cafeicultura, e, destes, 95% são pequenas propriedades familiares, com 3,5 ha cultivados com café, em mídia.

Ronquim qualifica o trabalho como árduo, exigindo o envolvimento de muitos técnicos, entre pesquisadores, analistas e bolsistas.

No vídeo abaixo, ele conta como a equipe venceu os desafios para identificar os cafeeiros dentro das pequenas propriedades rurais espalhadas pelo vasto território das Matas de Rondônia.

Política Pública

pesquisador da Embrapa Rondônia (SP) Enrique Alves , coautor do trabalho, relata que a cadeia local articulada com o governo do estado o lançamento de um programa de desmatamento zero vinculado à cafeicultura. Essa proposta de política pública pode ser considerada um dos primeiros resultados práticos do projeto. Ela toma por base a Lei nº 5.722/2024 , que tornou a qualidade sustentável e a valorização do robusta amazônico um patrimônio cultural e imaterial do estado de Rondônia.

“Queremos um programa não só para mitigar qualquer problema ambiental que tenha na cafeicultura, mas também para prevenir qualquer desmatamento”, reforça Alves. A proposta será apresentada às autoridades estaduais e representantes da cadeia de café entre os dias 9 e 10 de maio, em um evento em Cacoal (RO).

Projeto 

Plantação de café na Reserva Indígena Sete de Setembro, em Cacoal, RO. (abril/2024) – Foto: Arquivo Pessoal/Carlos Ronquim

O mapeamento do uso e ocupação da cafeicultura rondoniense integra as atividades do projeto CarbCafé Rondônia, liderado pela Embrapa Territorial, em parceria com a Embrapa Rondônia, a Caferon e o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, divisão de Rondônia (Sicoob-RO). A pesquisa também se propõe a levantar o carbono estocado no solo e nas plantações de café e a elaborar um inventário de carbono do cultivo do grão na região em um segundo momento.

*Com informações da Embrapa

Sistema conectado a satélite protege 98% das Terras Indígenas do país

A 705 Km da Terra, o Brasil tem olhos que zelam pela proteção de 98% das Terras Indígenas (TIs) do país, onde vivem 867,9 mil indígenas. Conectado ao satélite americano Landsat-8, o Centro de Monitoramento Remoto (CMR) da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Brasília, monitora e analisa imagens e dados para combater desmatamentos, degradação, incêndios florestais e ocupação e uso criminosos em cerca de 600 TIs da Amazônia Legal. Com esse poderoso instrumento, a Funai planeja fazer mais sete processos de desintrusão em TIs, nos próximos doze meses.

De acordo com o órgão indigenista, o CMR foi fundamental para planejar e executar as ações nas Terras Alto Rio Guamá, em agosto de 2023, e em Apyterewa e Trincheira Bacajá, em novembro passado, todas no Pará. A vigilância do país nas TIs cobertas pelo CMR tem precisão de 15 metros e forma uma base de imagens e dados vetorizados, gerados de forma autônoma a partir de uma varredura espacial que ocorre a cada 16 dias.

“Considerando a dimensão das TIs, 1.086.950 km, o CMR tem sido capaz de proporcionar maior efetividade da política pública, com tomadas de decisões mais rápidas, assertivas e de menor custo para o Estado, sobretudo no planejamento e nas ações de segurança. Uma incursão que antes durava 30 dias, atualmente conseguimos efetivá-la em 15”, afirma a Presidente da Funai, Joenia Wapichana, destacando também que além de funcionarem como imensas barreiras contra o avanço do desmatamento, as TIs desempenham papel crucial na preservação da biodiversidade.

“Neste dia dos Povos Indígenas, 19 de abril, precisamos chamar atenção para a proteção dos territórios indígenas. Proteger as TIs é proteger a humanidade. Devido aos modos tradicionais de vida, essas terras são as mais conservadas, em comparação com qualquer outro tipo de ocupação do solo”, diz.

O sistema da Funai também utiliza dados públicos de instituições do país inteiro. São informações fidedignas que o Estado já produz e juntas fazem um emaranhado de conhecimentos gerados e analisados diariamente pela equipe do CMR. A ferramenta permite o cruzamento de informações de diferentes temas como jurisdição das TIs, município, bioma, limitações com Unidades de Conservação, Cadastro Ambiental Rural, áreas quilombolas, imóveis certificados públicos e privados, rodovias, faixas de fronteira, dados e planos de mineração e planos de gestão territorial e ambiental. Para o trabalho de campo, em muitas situações o órgão indigenista conta com o apoio do Incra, Ibama, órgãos estaduais do Meio Ambiente, Polícia Federal e Força Nacional.

“Conseguimos atuar de forma mais estratégica nos pontos mais sensíveis. Por exemplo, desde o início das desintrusões em Apyterewa e Trincheira Bacajá, o monitoramento nos mostra que nenhuma árvore foi derrubada nessas terras, ou seja, tivemos zero desmatamento”, comemora Thais Dias Gonçalves, mestre em Engenharia Florestal e coordenadora do CMR.

O CMR foi estruturado e mantido nos últimos nove anos pela Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte. A empresa destacou ainda 12 profissionais dedicados ao desenvolvimento do software, engenheiros e especialistas em infraestrutura de rede, cartografia e geoprocessamento. O sistema fica disponível em uma plataforma composta por um painel interativo de fácil compreensão para o usuário, onde é permitido gerar gráficos, tabelas e mapas de forma ágil e intuitiva.

“Nosso objetivo, para além das responsabilidades pela concessão de Belo Monte, foi ajudar a implantar algo que, de fato, pudesse contribuir de forma significativa para os Povos Indígenas e seus territórios, e consequentemente, com o trabalho da Funai e dos órgãos de segurança”, diz o Diretor-Presidente da Norte Energia, Paulo Roberto Pinto.

O CMR também espacializa uma importante rede de comunicação, fundamental para o fortalecimento das atividades de monitoramento das TIs e para estabelecer contatos com as unidades descentralizadas da Funai e em aldeias localizadas em áreas remotas da Amazônia Legal. São as antenas de comunicação via satélite (VSAT), o único meio de contato das comunidades e das equipes de servidores da Funai, em muitas regiões.

*Com informações da Funai

Abelhas são fonte de renda extra para agricultores familiares no Mato Grosso

Responsáveis pelo trabalho de polinização das plantas, as abelhas são fundamentais para a manutenção da biodiversidade no planeta e também para a produção agrícola. Não é à toa que o mundo reconhece essa importância e comemora em 20 de maio o Dia Mundial da Abelha, data instituída pela ONU em 2017.

As abelhas são consideradas as principais polinizadoras de culturas agrícolas e o valor do trabalho delas e de outros animais polinizadores é estimado em US$ 42 bilhões no Brasil e em até US$ 577 bilhões no mundo, segundo a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES).

Os benefícios ambientais e produtivos das abelhas começam a ser incentivados e fortalecidos na região de Canarana (MT), por meio do projeto Semêa, desenvolvido pela Fundação Bunge desde 2022. Na região, agricultores familiares assentados começaram a ter uma renda extra a partir da criação desses polinizadores e grandes produtores rurais colhem os benefícios de terem esses insetos em suas áreas de cultivo de soja e gergelim.

Segundo o zootecnista e consultor da Fundação Bunge em abelhas, Heber Luiz Pereira, no mundo existem cerca de 20 mil espécies. No Brasil é estimada a presença de 3 mil delas. Algumas culturas agrícolas como maçã, melão, melancia e maracujá dependem do trabalho realizado por elas para que haja produção.

“No caso da produção agrícola, as abelhas acabam levando ao aumento da produtividade de algumas culturas ao mesmo tempo em que se beneficiam da abundância das flores e de néctar no tempo da florada. É por isso que no Brasil, grande parte da produção de mel acaba existindo por conta dessa produção agrícola, como em áreas de eucalipto e laranja”, explica.

Renda para os pequenos, produtividade para os grandes produtores

Em Canarana (MT), a polinização assistida foi uma das atividades incentivadas pelo Semêa, levando em conta as características do território, o caráter ambiental das abelhas e também seu potencial para geração de renda para os agricultores familiares e pequenos produtores, tanto pela produção de mel, quanto pelo “aluguel” de caixas para grandes produtores de soja.

“Vimos que as abelhas seriam uma excelente alternativa para a região. Estudos da Embrapa mostram que o trabalho de polinização das abelhas pode aumentar em média 13% a 18% a produtividade da soja, por exemplo. Com isso, agricultores familiares de Canarana estão colocando caixas de abelhas em grandes propriedades de soja e gergelim da região, prestando serviço aos grandes produtores rurais e gerando mel para diversificação de renda”, explica Cláudia Calais, diretora-executiva da Fundação Bunge.

Por meio do projeto, a Fundação Bunge doou 160 caixas de abelhas e equipamentos de proteção individual (EPI) para 29 famílias de agricultores familiares e outras 160 caixas para pequenos produtores de grãos. Além dos equipamentos necessários, foi oferecida formação para que os agricultores trabalhassem corretamente com as abelhas, estabelecessem a cadeia produtiva do mel e começassem a ter renda com a atividade. O sucesso verificado no Mato Grosso fará o projeto ser expandido para outros estados brasileiros.

Até julho deste ano, a Fundação, em conjunto com o Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT), oferece a formação “Apicultura: Manejo, Empregabilidade e Empreendedorismo” para 25 homens e mulheres com vivência no campo, ligados a agricultura familiar ou de comunidades indígenas. A formação prevê módulos técnicos e práticos de apicultura. O conteúdo programático conduzirá os alunos a geração de renda por meio da elaboração de Planos de Negócio ou Planos de Desenvolvimento Individual direcionados ao trabalho na cadeia apícola. O fechamento do curso acontecerá na FEICAN, a maior feira agropecuária da região de Canarana. Os alunos estarão em um estande organizado pela IFMT e Fundação Bunge e terão a oportunidade de apresentar seus aprendizados e prospectar oportunidades de negócio junto a outros produtores rurais.

Foto: Keiny Andrade

Onde tem abelha, tem conservação

De acordo com Calais, a escolha do incentivo da criação das abelhas e apoio na criação da cadeia produtiva do mel na região é estratégica do ponto de vista do fomento a uma agricultura regenerativa de baixo carbono, base do projeto Semêa.

“Para ter abelhas, é preciso ter corpos d’água limpos e floresta conservada. Além disso, os produtores precisam adotar algumas práticas mais sustentáveis do ponto de vista da produção agrícola, com a aplicação de defensivos agrícolas de forma direcionada e correta, conforme indicado nas bulas, em momentos do dia que não atrapalhem a polinização das abelhas. Tudo isso é fundamental para uma agricultura mais regenerativa e que queremos incentivar no projeto”, afirma a executiva.

Ana Assad, diretora-executiva da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A), explica que a convivência harmônica das abelhas em áreas de produção agrícola é possível, mediante um diálogo construtivo entre produtores rurais e apicultores. “Este é um trabalho de ganha a ganha, mas é preciso que haja um diálogo contínuo para a adoção das melhores técnicas de manejo para que as abelhas sejam conservadas. Os produtores precisam saber os locais exatos que as caixas de abelhas estão instaladas e os produtores rurais, tendo acesso a essas informações, precisam fazer um bom manejo na aplicação de defensivos agrícolas, como a não aplicação em momentos de florada”, afirma.

A diretora da A.B.E.L.H.A. explica ainda que outro ponto fundamental é que as abelhas tenham acesso a áreas com água, plantas nativas e culturas que forneçam alimentos durante todo o ano. “Todos ganham com as abelhas. É importante que haja a conscientização e educação sobre o papel fundamental que esses polinizadores exercem no ambiente”, explica.

A Fundação Bunge

A Fundação Bunge, entidade social da Bunge no Brasil, há mais de 60 anos atua para gerar impactos positivos na sociedade em territórios e setores estratégicos para a Bunge, fomentando a diversidade com promoção dos direitos humanos por meio da inclusão produtiva e do estímulo à economia de baixo carbono, estimulando a ciência e a preservação da memória.

A Fundação é o pilar social da Bunge, líder mundial no processamento de sementes oleaginosas e na produção e fornecimento de óleos e gorduras vegetais especiais, que tem como propósito conectar agricultores a consumidores para fornecer alimentos, nutrição animal e combustíveis essenciais para o mundo. A Fundação valoriza suas parcerias com os agricultores para melhorar a produtividade e a eficiência ambiental da agricultura em nossas cadeias de valor e para levar produtos de qualidade de onde eles crescem para onde são consumidos.

Ao mesmo tempo, colabora com nossos clientes para pensar e criar o futuro dos alimentos, desenvolvendo soluções personalizadas e inovadoras para atender às necessidades e tendências alimentares em evolução em todas as partes do mundo.