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Lei que reforça o Fundo Nacional do Meio Ambiente é sancionada

Nova norma estabelece que metade dos valores arrecadados, com o pagamento de multas ambientais, sejam destinados a esse fundo.

Foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) a Lei 14.691, de 2023, que reverte ao Fundo Nacional do Meio Ambiente a metade dos valores arrecadados com pagamento de multas por infração ambiental aplicadas pela União, percentual que poderá ser alterado a critério dos órgãos arrecadadores.

A lei também inclui entre os fundos destinatários dos recursos provenientes de multas o Fundo Nacional para Calamidades Públicas, Proteção e Defesa Civil (Funcap), voltado à prevenção de desastres naturais. Para isso, altera a Lei 9.605, de 1998, relacionada a sanções penais e administrativas por danos ambientais. Porém o governo vetou, no texto, um percentual específico para o Funcap.

Foto: Reprodução/Vinícius Mendonça – Ibama

Sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a matéria que garante reforço ao fundo voltado à conservação e de uso sustentável dos recursos naturais teve origem no PL 920/2023, aprovado pelo Senado em setembro. Proveniente da Câmara, o texto teve o senador Carlos Viana (PL-MG) como relator na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). 

Veto

A norma foi sancionada com veto à destinação de 5% de multas por crimes ambientais ao Funcap. De acordo com o projeto, o Funcap seria reforçado nesse percentual com os recursos advindos do pagamento de multas ambientais e com o mesmo percentual dos recursos advindos de acordos judiciais e extrajudiciais de reparação de danos socioambientais. 

Além disso, ainda pelo projeto, os fundos estaduais e municipais criados para apoiar ações de prevenção de desastres naturais e de recuperação de áreas atingidas receberiam 5% dos recursos provenientes de acordos judiciais e extrajudiciais de reparação de danos ambientais que couberem ao respectivo ente.

O governo alegou, porém, que esses dispositivos comprometeriam os objetivos a serem alcançados por meio dos acordos relacionados a infrações ambientais e que a vinculação de recursos de outro ente federativo viola a autonomia financeira dos entes federativos garantida na Constituição. 

Selo de certificação orgânica é recebido por produtores familiares no Mato Grosso pela primeira vez

O selo é uma maneira de certificar a caráter orgânico do plantio e contribui com o aumento de renda das famílias no município de Alta Floresta.

A história da agricultura familiar de Alta Floresta e região, no Mato Grosso, ganha um novo capítulo. Pela primeira vez, 31 produtores que vivem no entorno do município receberam a Certificação de Produção Orgânica, por meio do Sistema Participativo de Garantia (SPG), que assegura a procedência dos produtos oriundos de práticas agrícolas ambientalmente responsáveis.

O Sistema Participativo de Garantia (SPG) foi possível por meio da criação e aprovação no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) da OPAC – Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica. Esse sistema é composto por colaboradores e fornecedores, que dividem de forma participativa as responsabilidades quanto à avaliação de conformidade dos produtos e método organizacional.

Ao todo, 42 produtores e produtoras estão cadastradas no Projeto Agroecologia em Rede, executado pelo Instituto Centro de Vida (ICV), em parceria com a Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (Repoama). 

Foto: Divulgação/ICV

Segundo o gestor de projetos do ICV, Eriberto Muller, cada vez mais é preciso ter investimentos que fortaleçam a agricultura familiar e mantenham a floresta em pé. 

“Esses projetos são super bem-vindos e importantes para o estado. São projetos que a gente vem desenvolvendo, em parceria com o REM, que está proporcionando o crescimento da agricultura familiar, um olhar mais sustentável pro nosso território e produção orgânica, então é algo que veio para somar e crescer cada vez mais nosso estado”,

comemora.

A agricultura familiar é responsável por uma parte substancial da produção de alimentos no Brasil, contribuindo para a segurança alimentar e geração de empregos.

Além disso, a produção de orgânicos com certificação tem crescido no mercado, visto que a sustentabilidade vem ganhando prioridade e consumidores estão atentos aos impactos ambientais e buscam uma alimentação mais saudável.

No entanto, muitos desses agricultores enfrentam dificuldades para competir no mercado. É aí que a certificação orgânica desempenha um papel fundamental, garantindo fonte de renda para diversas famílias.

O coordenador do projeto, Eduardo Darvin, explica que a intenção é consolidar a agricultura familiar no território norte e nordeste de Mato Grosso, atuando principalmente para fomentar o mecanismo de sistema participativo de garantia.


“O Programa REM MT apoiando esse projeto propiciou que a gente tivesse tanto a consolidação da agricultura orgânica certificada no território, como diversas outras ações que aconteceram durante o projeto, como a criação e estabelecimento de um fundo rotativo solidário dentro da própria rede, investimento em diversas atividades agrícolas como compra de insumo, aconteceram intercâmbios, dias de campo e reuniões… Diversas atividades que fizeram com que as famílias ampliassem seu nível de organização”, descreve Eduardo.

O que é certificação orgânica? 

A certificação orgânica é um selo de qualidade que atesta que um produto agrícola foi cultivado em conformidade com práticas agrícolas sustentáveis, que priorizam o respeito ao meio ambiente, a saúde do solo e a utilização responsável dos recursos naturais.

Para obter a certificação, os agricultores familiares precisam seguir diretrizes rigorosas que proíbem o uso de pesticidas químicos sintéticos e fertilizantes, promovendo, em vez disso, o uso de técnicas orgânicas, como compostagem e rotação de culturas. 

Foto: Ronaldo Rosa/Embrapa

Os produtos precisam passar por uma certificadora devidamente credenciada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e credenciada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).

Os selos podem ser: um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica, denominado OAC, que por sua vez tem que ser credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), ou então o produtor pode se organizar em um grupo e cadastrar-se junto ao MAPA para realizar a venda direta ao consumidor sem a certificação. 

Tipos de certificação

Há três tipos de classificação de produtos orgânicos disponíveis para o consumidor: Certificação por Auditoria (OAC), Sistema Participativo de Garantia (SPG) e Controle Social (OCS) na Venda Direta. Nos produtos deve haver a qualidade que o consumidor espera – sem agrotóxicos e sem modificações genéticas.

Aumento da renda e acesso a mercados

A certificação orgânica abre portas para mercados diferenciados e mais lucrativos, pois geralmente têm preços mais elevados e são bem aceitos pelos consumidores, que estão dispostos a pagar por alimentos que são produzidos de forma sustentável e saudável. Isso significa que os agricultores familiares que obtêm a certificação orgânica podem aumentar sua renda e melhorar suas condições de vida.

Foi o que aconteceu com o produtor Agnaldo Alves da Silva. Trabalhando a vida toda com agricultura familiar e tendo como carro-forte a apicultura, o produtor relata como as abelhas abriram portas para ele.

Morador de Alta Floresta há 45 anos, o paranaense também trabalha com produtos orgânicos e plantas medicinais. Por estar há tanto tempo no ramo, Agnaldo é um grande defensor e incentivador da agricultura orgânica, sem o uso de agrotóxicos. 

“Rodamos 1.800 km para dar assistência em todos os nossos apiários, tanto na região da Nossa Senhora de Guadalupe, como em várias áreas de fazendeiros. Tenho parceria com bastante pecuaristas, produtores rurais e através da abelha estamos mudando a cabeça de muitas pessoas, principalmente nessa questão da área ambiental, preservação das matas ciliares e do meio ambiente. Se não cultivar com agrotóxico, conseguimos conquistar muita coisa”,

relata. 

Antes da certificação, Agnaldo e o irmão vendiam os produtos em feiras e estradas. Com um bornal – uma bolsa para carregar mantimentos – do lado, batia de porta em porta à procura dos consumidores. “No começo, eu e meu irmão era assim: era bornal, carrinhola, bicicleta e carrinho de burro. Vendíamos dessa forma, era na beira de estrada, vendia muito requeijão em beira de estrada, muito milho, mamão, laranja…”, recorda.

No entanto, o mercado era desencorajador. Sem a certificação, eram barrados e muitas vezes retornavam para casa com os produtos. 

“Eu abandonei a feira, porque além da gente ser taxado, quando falávamos que era orgânico, éramos um pouco humilhados, as pessoas falavam que não era orgânico, que poderia comer com veneno que estava acostumado, porque estamos em uma região que se consome muito veneno”,

lamenta.

Com o tempo, integrou a Rede Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (Repoama). Ele conta que a venda direta para o consumidor tem suas desvantagens, porque o tempo que demanda na comercialização, poderia estar produzindo.

“Vender é importante, mas produzir é mais importante, sem produto a gente não tem venda e nossa mão de obra hoje está bastante escassa, hoje é só da família”, complementa.

Inseto de um milímetro encontrado apenas em caverna do Pará já está em extinção

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Cientistas buscam sensibilizar comunidades para conservação do Troglobius brasiliensis, ainda sem nome popular.

Um inseto de um milímetro, sem olhos e com seis pernas, é encontrado dentro de uma única caverna no interior do Pará. Longe do senso comum, pesquisadores brasileiros estão mobilizados para a preservação do Troglobius brasiliensis, ainda sem nome popular, que está criticamente ameaçado de extinção.

A ação para manter o inseto (inofensivo ao ser humano) em uma rocha na Caverna do Limoeiro (o único registro em todo o mundo), em Medicilândia (PA), vai além das paredes da caverna e tem potencial de sensibilizar comunidades para o respeito ao meio ambiente. Nas expedições, os cientistas ficaram agachados por horas em busca de encontrar o inseto.

“O animal existe, tem direito de continuar existindo e está intimamente associado ao processo de ciclagem de nutrientes no solo (da caverna)”,

afirma o professor Douglas Zeppelini, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Foto: Reprodução/ Acervo IDEFLOR-Bio

Ele explica que o bichinho, registrado pela primeira vez há 25 anos, alimenta-se de detritos e transforma a matéria orgânica em decomposição, mantendo o ciclo natural para a riqueza do solo.

O trabalho de preservação do Troglobius brasiliensis é do Plano de Ação Territorial para Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção do Território Xingu (PAT Xingu), com o trabalho de pesquisadores do projeto ‘Pró-Espécies: Todos contra a Extinção’.

A ação é coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e pretende gerar iniciativas para reduzir as ameaças e melhorar o estado de conservação de pelo menos 290 espécies categorizadas como Criticamente em Perigo.

“Com as expedições recentes, conseguimos coletar novos dados sobre essa espécie e observamos que o bicho está dentro de uma cadeia alimentar de organismos. Imagine que todos os indivíduos da espécie inteira habitam uma localidade em um único ponto”,

explica.

Segundo os pesquisadores, a caverna está bem conservada e conta com a consciência dos donos da fazenda. “A gente se sente muito privilegiada depois dessas descobertas, já que a fazenda está bem conservada”, diz a fazendeira Rosane Gotardo. 

Ela espera que as pessoas na região fiquem mais bem informadas sobre a novidade e que existam mais recursos para proteção do local. 

Políticas públicas 

O professor Douglas Zeppelini entende que seria necessária uma unidade de conservação, também levando em conta que os proprietários colaboram para preservação da região. “Nós coletamos o material de pesquisa em três expedições para fazer o levantamento”. 

O pesquisador defende que existam políticas públicas para preservar os animais ameaçados de extinção. 

Foto: Reprodução/ Acervo IDEFLOR-Bio

Ele lembra que, além do Troglobius brasiliensis, os pesquisadores encontraram um pseudoescorpião predador. Uma mostra, segundo ele, de que o ecossistema da caverna está funcionando perfeitamente. “São duas espécies que ocupam diferentes níveis na cadeia alimentar”, explica.

Sensibilização 

A coordenadora do PAT Xingu, Nívia Pereira, pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor), também defende que é necessário garantir visibilidade para mudar a realidade de espécies ameaçadas, o que inclui levar as histórias para diferentes públicos, como é a escola, por exemplo. “Conscientizar ou sensibilizar a comunidade está entre os objetivos. Percebemos que a caverna do Limoeiro, entre todas que a gente visitou, tem o entorno mais conservado. Há uma fauna que entra e sai da caverna”, comenta.

A área do plano tem contexto de dificuldades, incluindo incidência de desmatamento, avanço agrário e garimpo: “O plano contempla a preservação de oito espécies e já tivemos resultados muito interessantes”. Além das expedições, os pesquisadores têm como prioridade a educação ambiental. É esse aprendizado que fascina os pesquisadoras que precisa chegar às crianças em uma aula prática de meio ambiente, saúde e educação. 

Foto: Reprodução/ Acervo IDEFLOR-Bio

A bióloga Tayane Accordi, da Secretaria de Meio Ambiente de Medicilândia, defende que é importante para a cidade a parceria com o plano Pat Xingu, a fim de promover a proteção das espécies na cidade, com ênfase no Troglobius, que é o mais sensível. A conscientização sobre a novidade é trabalhada na escola. “Promovemos campanhas de educação ambiental nas escolas e, em breve, vamos implementar com algumas das metas do plano”, diz.

Potencial de cavernas 

Para o analista ambiental Daniel Mendonça, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), que atua na pesquisa e conservação de cavernas, pode haver interesse turístico em regiões como essa.

A lógica é simples: ao garantir visibilidade para os animais, maior seria o interesse de conservar. “Que mais cavernas possam ter planos para o turismo ocorrer de forma sustentável”. As instalações têm custos como escadaria, rampa e outras estruturas, mas que devem ser feitas com planejamento.

Foto: Reprodução/ Acervo IDEFLOR-Bio

Mendonça explica que a Constituição Federal considera as cavernas como bem da União e que devem ter proteção máxima. Para ele, há um mundo de descobertas em estruturas naturais de fauna e flora. Hoje o Brasil tem, registradas e conhecidas, aproximadamente 23.500 cavernas.


Há estimativa de mais de 150 mil. A caverna do Limoeiro tem 1,5 mil metros de extensão.

“Quanto mais mapear, maior a chance de proteger também. Na verdade, é desaconselhável que se entre em uma caverna que não se conhece sozinho. Sempre é um ambiente de risco”,

alerta.

Uma das maiores hidrelétricas do Brasil tem atividades paralisadas por conta da seca do Rio Madeira

Essa é a segunda vez que a hidrelétrica para totalmente as operações. A primeira vez foi em 2014, durante a cheia histórica do rio Madeira. Não há previsão de quando as operações serão retomadas.

A Santo Antônio Energia informou, nesta segunda-feira (2), a suspensão momentânea das operações da hidrelétrica em Rondônia por conta da seca histórica do rio Madeira. Segundo o anúncio, os níveis de vazão do rio estão 50% abaixo da média histórica.

Essa é a segunda vez que a hidrelétrica para totalmente as operações. A primeira vez foi em 2014, durante a cheia histórica do rio Madeira. Agora, o motivo é a seca no mesmo rio.

De acordo com a Santo Antônio, a suspensão foi alinhada com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O objetivo é “preservar a integridade das unidades geradoras da hidrelétrica”, já que a quantidade de água é muito pouca para o funcionamento das turbinas. Não há previsão de quando as operações serão retomadas.


Hidrelétrica de Santo Antônio no Rio Madeira. Foto: Beethoven Delano/Arquivo Pessoal

A Santo Antônio informou que a baixa vazão do Madeira apresentou recordes nas últimas semanas e que a paralisação das turbinas não deve impactar o fluxo do rio.

“O rio Madeira permanecerá seguindo seu curso natural, com passagem da vazão concentrada no Vertedouro Principal da usina, sem qualquer impacto em seu fluxo natural”,

informou em nota.

Instalada no rio Madeira, a hidrelétrica de Santo Antônio é uma das maiores do Brasil, tem 50 turbinas gerando energia para várias regiões do Brasil, com potência instalada de 3.568 Megawatts. Em 2022, a hidrelétrica ocupou a 4ª posição no ranking de geração de energia. 

O que diz a ONS 

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirmou a parada temporária das máquinas na Santo Antônio como “medida é temporária e excepcional” em decorrência das “condições adversas hidrometeorológicas vivenciadas na Região Norte do país”. Segundo o ONS, essa condições inviabilizam a operação segura e eficiente da hidrelétrica. Apesar disso, aponta que “o abastecimento de energia em todo país está garantido”.

A nota esclarece que a hidrelétrica de Santo Antônio é uma usina de fio d’água, ou seja, mantém um reservatório pequeno e depende da vazão de água que passa pela calha do rio para gerar energia.

O Operador aponta que “permanecerá reavaliando a decisão e, assim que essa situação melhorar, retornará com o despacho da usina para o Sistema Interligado Nacional (SIN)”.

Seca histórica

Nas últimas semanas, a seca que atingiu o rio Madeira se tornou histórica. A Defesa Civil informou que registrou o nível de 1,43 metros. Depois disso, uma reunião foi realizada na “Sala de Crise”, entre integrantes de órgãos que monitoram as bacias do rios na Amazônia.

Atualmente Porto Velho está em estado de alerta. Caso o rio baixe para 1,22 metros, o município passa para estado de emergência.

Desde agosto, o nível do rio baixou rapidamente. Em menos de uma semana, entre o fim de agosto e início de setembro, o nível do Madeira recuou mais de um metro. Na época, a Defesa Civil já previa uma seca histórica. 

*Por Jaíne Quele Cruz, do g1 Rondônia

Territórios mais preservados do bioma amazônico são indígenas

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Para o professor Pedro Luiz Côrtes, isso apenas enfatiza a necessidade de demarcação e preservação dessas terras.

O Senado Federal aprovou, na última quarta-feira (27/09), por 43 votos a 21, o Projeto de Lei (PL) do Marco Temporal para a demarcação de terras indígenas — decisão que vai contra o posicionamento marcado pelo STF, que havia avaliado o projeto como inconstitucional na quinta passada (21).

Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, explica que o Marco Temporal é uma tese jurídica que avalia que diferentes povos indígenas só poderiam ter as suas terras demarcadas caso estas já estivessem sob sua posse ou sendo disputadas até o dia 5 de outubro de 1988 — data de promulgação da Constituição Federal.

Existe uma dinâmica complexa, que precisa ser considerada para a demarcação de terras – Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Ramificações 

As questões que envolvem esse debate se ampliam para outras discussões, uma vez que, por exemplo, nem todos os povos tinham uma documentação de permanência em suas terras de forma burocrática. Além disso, muitos deles são nômades — se deslocando por diferentes regiões e, durante muito tempo, a atuação dos militares fazia o remanejamento de aldeias para a construção de rodovias e outras obras.

Assim, é possível observar que existe uma dinâmica complexa, que precisa ser considerada para a demarcação de terras. Apesar desses pontos, nota-se que a Frente Parlamentar Agropecuária vem marcando uma posição ao redor dessa discussão. 

“Embora seja uma tese que certamente será vetada pela presidência da República, eles fizeram questão de aprovar. Ela vai ser rejeitada não só por uma questão conceitual, mas também porque não é possível mudar o entendimento do Plenário e do Supremo por meio de um Projeto de Lei”,

explica Cortês.

Atualmente, também existem alguns senadores que estão articulando uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que poderia ser utilizada para que o Marco Temporal prevalecesse. Portella também avalia que o texto do Marco Temporal aprovado pelo Senado foi considerado turbinado, já que, além da tese da data, também prevê a retomada de terras em caso de mudanças culturais e a plantação de transgênicos nas áreas demarcadas. 

Proteção ambiental 

Um ponto central para esse debate concentra-se também no fato de que os territórios indígenas são as áreas mais preservadas no bioma amazônico — fator que enfatiza a necessidade de demarcação e preservação dessas terras. O professor também reflete que há uma tese errônea, que foi criada durante a gestão do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, de que os territórios indígenas seriam repositórios muito ricos de bens minerais, mas não há estudos geológicos que corroborem essas informações. 


Manifestação de Indígenas contra o marco temporal, na Esplanada dos Ministérios no dia 31 de agosto de 2023. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

As grandes empresas de mineração também não teriam interesse em atuar nesses territórios, já que há uma latente preocupação com a imagem que será transmitida para fora do País. 

“Às vezes, se uma empresa for acusada de entrar em territórios indígenas, isso poderá prejudicar muito o comércio de seus produtos para o exterior”,

.adiciona Cortês.

Apesar de ter marcado uma posição que avalia a inconstitucionalidade do projeto, é também possível observar que o STF vem tentando remediar os diferentes conflitos da discussão. 

“Eu sinceramente não vejo a necessidade do Supremo de descer a essas especificidades, porque, na verdade, nós já temos um arcabouço legal que vem dando conta da demarcação dos territórios indígenas e do ressarcimentos dos agricultores que ocupam essas áreas”,

avalia o professor.

Portal Amazônia responde: qual a diferença entre povos originários e povos tradicionais da Amazônia?

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Ao contrário do que muitos pensam, os dois grupos são distintos, apesar de possuírem similaridades.

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, formada por uma fauna e flora riquíssima e por rios que serpenteiam o território de diversos países. Mas, não apenas isso, a região é também um retrato sociocultural das populações que a habitam, que vivem do contato com suas riquezas naturais, ou que fazem de morada cada um de seus municípios, ou de suas centenas de vilas e povoados.

Para compreendermos um pouco mais alguns dos povos que compõe a cultura amazônida, o Portal Amazônia buscou entender a diferença entre os povos originários e os povos tradicionais da Amazônia que, ao contrário do que muitos pensam, os dois grupos são distintos, apesar de possuírem similaridades.

Povos originários 

Foto: Reprodução/FUNAI

Os povos originários são populações indígenas, chamados desta forma por estarem presentes no território que viria a ser o Brasil antes da colonização iniciada em 1500. Ou seja, são grupos que aqui habitavam muito antes sequer da delimitação das terras do país.

Entretanto, esses povos não estiveram sempre fixados nas mesmas localidades e para compreendê-los é necessário, primeiramente, entender a sua relação com a mobilidade. Afinal, uma população pode ser considerada originária se não se fixar em uma região? Como se delimita um território indígena?

De acordo com Daniela Gato, antropóloga e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social PPGAS na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), apesar de terem características móveis, os povos originários do Brasil e da América Latina não devem ser chamados de “nômades”, pois sua mobilidade é carregada de sentido, de significados complexos e diversos. 

“É importante ter em mente que os povos indígenas, tanto do Brasil quanto da América Latina, sempre tiveram uma característica móvel. Os motivos são sempre profundos, relacionados com a cultura do povo, envolvendo sua economia, seu parentesco, seus conflitos entre comunidades. Por isso se fala sobre mobilidade”,

explica a pesquisadora.

Então, sim, por terem suas mudanças carregadas de significado, os povos pré-colombianos (anteriores a chegada de Cristóvão Colombo), são originários das terras que comporiam o território brasileiro. Mas por que mencionar as características móveis desses povos?

“Quando se fala em territórios indígenas, se pensa que aquele povo habitava o mesmo território desde sempre e, por isso, eles têm direito aquela terra. Mas, na verdade, as terras indígenas só nascem a partir da colonização, da relação entre os povos indígenas com o branco. O branco que vê a terra como pedaços delimitados, como território. Para os indígenas a terra é do mundo e o mundo é o mundo, não tem por que ser dividido”,

justifica.

Conforme explica Daniela, para esses povos o mundo não é dividido em territórios, ele é de todas as populações e suas delimitações são estipuladas pelo contexto cultural do homem branco. 

Principalmente quando se considera que muitos dos povos originários da Amazônia só passaram a ocupar estas terras após fugirem do processo de colonização.  

“[O termo] povos originários se refere à população indígena do Brasil, a qual tem conhecimento de suas origens, étnicas, culturais e ancestrais e que se reconhece de forma coletiva enquanto pertencente a um grupo étnico”,

completa.

Povos tradicionais da Amazônia 

Foto: Divulgação

Os povos tradicionais, por sua vez, surgem em um período pós-colonial. Na Amazônia essas populações se organizam principalmente derivadas do contato entre os indígenas e os colonizadores europeus. 

“Povos tradicionais é um termo que diz respeito à populações que habitam a Amazônia e que mantém um modo de vida tradicional, construído a partir dos impactos da colonização nestas sociedades”,

elucida a antropóloga.

Cada população, conforme explica Daniela, teve sua forma de reagir à colonização, alguns fugiram do processo o máximo possível, outros até mesmo se aliaram aos portugueses para combater etnias rivais. 

Seja como for, informa a pesquisadora, um fato é: todos os povos indígenas que tiveram contato com o homem branco passaram por alguma mudança, em menor ou maior escala.

“Muitos desses povos, de língua Aruak, principalmente, foram utilizados como mão de obra escrava pela colonização ou foram ‘incorporados na sociedade’ por meio dela, com a criação de vilas e comunidades que, posteriormente, tornaram-se as cidades do interior da Amazônia”,

ressalta.

A pesquisadora destaca ainda que em outras regiões do país as configurações dos povos tradicionais são diferentes, principalmente pelo contato com populações de outras etnias, como os africanos ou europeus de outras partes da Europa, que não Portugal.

Povos originários x Povos tradicionais 

Finalmente, conclui Daniela, pode-se dizer que, apesar de na Amazônia tanto os povos originários quanto os povos tradicionais terem origem das populações indígenas, “o primeiro grupo diz respeito aos povos indígenas do Brasil que buscam manter a sua continuidade cultural, enquanto que o segundo grupo diz respeito as populações que, apesar de manterem um modo de vida tradicional, foram diretamente afetadas pela colonização”. 

*Estagiário sob supervisão de Clarissa Bacellar

Coletoras indígenas de sementes em Rondônia e Mato Grosso firmam parceria para evitar colapso de biomas

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Base da cadeia de restauração, as redes de coletores são fundamentais para o Brasil alcançar a meta de restaurar 12,5 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. O foco da parceria é recuperação da Amazônia e do Cerrado.

O Rio das Mortes, afluente do Rio Araguaia que passa por Nova Xavantina (MT), já foi considerado um dos rios mais limpos do mundo. Hoje, alguns trechos sofrem com os agrotóxicos da soja que avança sobre pastagens no nordeste de Mato Grosso, entre outros impactos. Foto: Kevin Damasio

Em julho, 15 mulheres indígenas percorreram 1.600 quilômetros de Rolim de Moura, em Rondônia, até Nova Xavantina, no nordeste de Mato Grosso. Elas representavam as 146 coletoras da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), criada em meados de 2021 e formada pelas etnias Aikanã, Gavião, Sabanê, Suruí, Tupari e Zoró. Após um dia de estrada, chegaram à zona de transição entre Amazônia e Cerrado para conhecer de perto o mais antigo grupo de coletores do Brasil, a Rede de Sementes do Xingu.

Base da cadeia de restauração, as redes de coletores são fundamentais para alcançar a meta nacional de recuperar 12,5 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030 – 4,8 milhões na Amazônia e 2,1 milhões no Cerrado. Sem um programa governamental, intercâmbios com grupos estabelecidos são uma forma de novas redes adquirirem expertise e encontrarem os caminhos para se firmar.

“É muito importante para nós ter esse conhecimento através das outras pessoas que estão nos ensinando como produzir, limpar, coletar semente”,

conta Rubithem Suruí, integrante da Reseba e representante das 56 coletoras da Terra Indígena (TI) Sete de Setembro.

Coletoras da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), criada em meados de 2021, em Rondônia. Foto: Kevin Damasio

Aos 27 anos, Rubithem é liderança entre as mulheres da aldeia Gamir, cujo conhecimento sobre o potencial econômico das sementes se limitava às espécies utilizadas para artesanato, como tucumã. Até que membros da Ação Ecológica Guaporé (Ecoporé) propuseram a criação da primeira rede de coletores de Rondônia.

A Ecoporé é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que há 35 anos foca na restauração da Amazônia. Produz 600 mil mudas florestais por ano no viveiro da sede em Rolim de Moura, grande parte destinada a projetos de restauração.

“A Reseba surgiu para articular a compra e venda de sementes com os povos originários e suprir tanto a demanda do viveiro como a do estado”,

diz Aline Smychniuk, analista socioambiental da rede.

Conhecimento prático 

Durante a visita a Mato Grosso, as coletoras e técnicas da Reseba foram conhecer as árvores matrizes do grupo de coletores urbanos de Nova Xavantina, parte da Rede de Sementes do Xingu. “No trajeto, eu vou em pés de várias espécies, coletando tudo que conseguir e estiver na época”, diz Milene Alves, 25 anos, bióloga e coletora desde os 16 na Rede de Sementes do Xingu. “O papel do coletor é monitorar a floração, para ver se a flor vai vingar, abrir, virar fruto, e se o fruto vai madurar.” 

Em praças públicas da cidade, Alves apontou matrizes de angelim, angico, paina-barriguda, caju, tamboril, ipês. Na BR-251, jatobás-do-cerrado e barus que restaram em alguns imóveis rurais, cujos proprietários liberaram o acesso – um grande desafio para os coletores urbanos.

“Isso é o que sobrou de mata para nós”,

disse Alves, observando a paisagem dominada pela agropecuária, retrato de 60% do município.

Na borda de uma propriedade, as indígenas da Reseba aprenderam a selecionar os frutos de baru espalhados pelo chão. Na beira da estrada, coletaram jatobás-do-cerrado usando uma vara de bambu com um gancho de ferro na ponta. De volta à cidade, pararam em uma praça em busca de caroba – ou jacarandá, como é chamado na Amazônia.
Sementes de tamboril, uma das 150 espécies coletadas pela Rede de Sementes do Xingu. Nova Xavantina, Mato Grosso. Foto: Kevin Damasio

Em seguida, Alves e sua mãe, a coletora Vera Oliveira, ensinaram diferentes técnicas de beneficiamento das sementes. Deixaram a caroba secar ao sol, para desprender a ponta do fruto e poder abri-lo com um facão. Esfregaram as garapas – árvore que ocorre em diversos biomas brasileiros e, na Amazônia, pode alcançar 40 metros de altura – em uma peneira com um chinelo e separaram as pequenas sementes, além de utilizarem uma roçadeira para acelerar o processo. Em um chão firme, estenderam uma lona sobre a qual colocaram os jatobás, e passaram com as rodas do carro por cima para quebrá-los e extrair as sementes. Depois, formaram lotes destinados às casas de sementes, onde foram armazenadas em um ambiente controlado – frio, escuro e seco.

“O importante é ser uma semente vigorosa, limpa, que não está misturada com outra espécie, que não tem fungo, caruncho, broca. Isso é uma semente de qualidade”, orientou Alves. “O olhar do coletor tem que ser minucioso”, completa.

“Gostei muito. Conhecemos as árvores que lá na aldeia não tem. Agora vou falar pra minha filha, pro meu marido, passar tudo. É muito baixinha essa árvore. Agora, pra lá [na Amazônia] não é assim, é muito alto. Por isso é difícil pra nós”,

comentou Lucilene Maparoka Tupari, coletora da aldeia Colorado, na TI Rio Branco.

Os desafios das redes 

Ao longo do ano desde janeiro, as engenheiras florestais Aline Smychniuk e Joana Gomes visitaram cinco Terras Indígenas de Rondônia para estruturar a Reseba. Realizaram oficinas teóricas e práticas, depois foram para a mata identificar as espécies potenciais, como bandarra e copaíba, e definir as matrizes de coleta.

Nas apresentações da Rede de Sementes do Xingu, um elemento chamou a atenção das rondonienses: o “elo”, liderança que representa cada grupo de coletores. 

“O elo é a comunicação entre o grupo e a rede. Recebe as listas de potencial dos coletores, depois repassa para a rede. Faz reuniões para dividir os pedidos entre os coletores. Está de olho na qualidade da semente, que recebe e passa para o responsável da casinha [de sementes]. Recebe o pagamento e divide entre os coletores.”,

detalha Roberizan Tusset, elo de Nova Xavantina há três anos.


Lucilene Maparoka Tupari, liderança da aldeia Colorado, na Terra Indígena Rio Branco, e coletora da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), de Rondônia. Ela segura frutos de baru, espécie nativa do Cerrado. Foto: Kevin Damasio

A Reseba adotou uma estratégia semelhante. “Em cada território tem uma representante com a qual a gente trata diretamente, explica o máximo possível, para então repassar ao restante da comunidade”, conta Gomes, analista socioambiental da rede.

Criada em 2007, a Rede de Sementes do Xingu engloba mais de 600 membros divididos em 25 grupos de indígenas, agricultores familiares e urbanos. Até 2022, a rede coletou 294 toneladas de sementes para a restauração de 7,4 mil hectares na Amazônia e no Cerrado. Nesses 15 anos, o trabalho rendeu R$ 5,3 milhões para os coletores.

Milene Alves atribui o sucesso da rede à valorização de diferentes povos, à parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), ao pioneirismo da muvuca – método no qual um combinado de sementes de até 80 espécies é semeado diretamente no solo – e à capacitação técnica, com oficinas sobre qualidade de sementes e gestão, por exemplo. 

Alves é técnica do Redário, uma articulação entre 24 redes brasileiras que abrangem cerca de 1.200 coletores, para promover assistência em questões como governança, mercado e logística. “Muitas alavancas, na maioria das redes, são a base. Tem muita dependência técnica dos grupos. Isso dá uma segurada no crescimento”, observa.

Na TI Tubarão/Latundê, no sul de Rondônia, a falta de conhecimento atrapalhou a primeira experiência dos indígenas com a coleta. Em 2015, uma empresa encomendou sementes, mas não os instruiu, conta Dorvalina Sabanês, da aldeia Tubarão Gleba. “A gente só colhia e entregava. Não sabia como era para fazer, para guardar sementes. Vinha muito bicho, muita coisa.”

Essa experiência desmotivou boa parte das 26 famílias da aldeia a aderir à Reseba, mas Dorvalina estava animada para retornar ao território e engajar seus parentes:

 “Dessa vez, a gente aprendeu muita coisa e pode contribuir na aldeia, para não entregar semente toda estragada, toda bichada, aprender a cuidar das coisas”,

conclui.

Casa de Sementes de Nova Xavantina (MT), onde as espécies coletadas são armazenadas em um ambiente controlado – frio, escuro e seco. Foto: Kevin Damasio

Políticas públicas 

Fornecer uma capacitação técnica, ou extensão florestal, “estruturada e relevante”, e aprimorar a cadeia de produção de sementes e mudas estão entre as promessas do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), criado em 2017, mas engavetado no governo Bolsonaro.

“A extensão florestal vai ser fundamental para o sucesso desses projetos de restauração”, diz Rita de Cássia Mesquita, secretária de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Segundo Mesquita, o governo trabalha para restabelecer a comissão que trata das políticas de restauração, a Conaveg. Em seguida, revisará e implementará o Planaveg.

O plano prevê também o fomento ao mercado e o desenvolvimento de mecanismos financeiros para incentivar a recuperação da vegetação nativa. Hoje, essa frente da bioeconomia depende da “disposição a restaurar” dos proprietários rurais, avalia Mesquita.

O Código Florestal, aprovado em 2012, é a única lei que obriga proprietários a recuperar seus passivos ambientais, que somam mais de 20 milhões de hectares, segundo o Observatório do Código Florestal. As maiores áreas estão na Amazônia (aproximadamente 10 milhões de hectares) e no Cerrado (quase 5 milhões de hectares).

Angela e Rubithem Suruí, da aldeia Gamir, Terra Indígena Sete de Setembro, e coletoras da Rede de Sementes da Bioeconomia Amazônica (Reseba), de Rondônia. Nas mãos, sementes de tingui-do-cerrado. Foto: Kevin Damasio

Pela lei, todos os proprietários rurais deveriam se regularizar até 31 de dezembro de 2022. Mas, em junho, o Congresso Nacional tornou individual o prazo de adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA). Agora, o período de um ano para aderir ao PRA passa a contar a partir da convocação do proprietário pelo órgão estadual responsável.

Essas alterações desestabilizam as redes de coletores, afirma Alves. “O cara tem uma área para restaurar, mas está segurando e esperando uma mudança no Código Florestal. Se tiver uma brecha, ele não precisa mais fazer”.

“Nós ainda passamos por instabilidade quanto à venda das sementes. Vivemos problemas muito similares às redes que estão iniciando agora”, 

acrescenta Marcos Vinícius Lima, responsável comercial da Rede de Sementes do Xingu, cujos principais clientes são o Instituto Socioambiental, a Fazenda Brasil e o Instituto Pequi.

Essa inércia dos proprietários também é sentida em Rondônia. A Ecoporé tem um projeto com o governo do estado para recuperar 500 hectares degradados no eixo da BR-429, em pequenas propriedades com o Cadastro Ambiental Rural analisado pela Secretaria do Desenvolvimento Ambiental. A Ecoporé visita as áreas, identifica as necessidades, doa mudas e realiza acompanhamento técnico.

“Não estamos conseguindo adesão dos produtores”, diz Joana Gomes. “Precisa ter mais incentivos e cobranças do governo. Já conseguimos fazer projetos dentro de áreas públicas, mas temos que voltar os olhos para as áreas privadas, as que mais precisam de restauração.”

Feijão-de-porco, leguminosa que faz o recobrimento da área de vegetação nas restaurações e ciclagem de nutrientes no solo, no processo de adubação verde. Foto: Kevin Damasio

Ameaças externas  

A agropecuária foi o vetor de 95,7% do desmatamento no Brasil em 2022, segundo o MapBiomas. Já o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou, na última década, 8,24 milhões de hectares desmatados na Amazônia e 9 milhões no Cerrado – somados, dá uma área equivalente à do Uruguai.

Luciana Gatti, pesquisadora do Inpe, alerta que a meta de zerar o desmatamento até 2030 pode não ser suficiente para evitar o colapso climático na Amazônia. Estudos estimam que isso acontecerá se o desmatamento alcançar de 20% a 25% da Pan-Amazônia, que engloba nove países e já perdeu 17% de sua cobertura original.

“Estamos caminhando cada vez mais rápido para o colapso. Não é só parar de desmatar, temos que recuperar floresta perdida”,

diz Gatti.

Para a cientista, as ações de restauração na Amazônia precisam se concentrar onde a mortalidade tem superado o crescimento vegetal — e, ainda assim, a floresta já emite mais carbono do que absorve.

“Regiões de Mato Grosso, Pará, Rondônia e Acre estão com mais de 50% desmatados, então essas áreas precisam ser recompostas. Com a restauração florestal “aumenta a evapotranspiração, então ajuda a recuperar as chuvas e a diminuir a temperatura. Vai dar mais condição da floresta sobreviver, e aí conseguimos impedir o ponto de não retorno”,

observa a pesquisadora.

Roberizan e Vilmar Tusset, coletores do grupo de Nova Xavantina, da Rede de Sementes do Xingu. O casal vive em uma chácara de 12 hectares, na zona rural do município, onde plantam espécies do Cerrado e buscam sementes em matrizes próximas. Foto: Kevin Damasio

Em Nova Xavantina, 52 mil hectares de formações savânicas e florestais deram lugar à agropecuária, com perda de 20% da vegetação. Os 180 mil hectares de pastagens degradadas (74% do total) têm sido substituídos por monoculturas de soja, cuja área triplicou desde 2000.

“Aqui bem em volta da rua a gente pegava muitas matrizes – acabou tudo”, conta Vilmar Tusset, de 64 anos, pequeno produtor e coletor da Rede de Sementes do Xingu desde 2012. 

“Agora tem que plantar pra coletar, senão não vamos dar conta mais. A soja tá vindo forte, e vai acabando o meio ambiente”,

diz.

Há quatro anos, Tusset vive com a esposa, Roberizan, em uma chácara de 12 hectares que passa por uma transição. Ele já parou a produção de porcos e galinhas e deve terminar a de gado neste ano. Quer se dedicar apenas à coleta de sementes, à restauração e ao plantio de espécies nativas do Cerrado.

Ameaças externas também rondam as terras das coletoras de Rondônia. A TI Sete de Setembro, por exemplo, sofre com a ação de “garimpeiros, madeireiros, grileiros e latifundiários”, diz Rubithem Suruí. A floresta ocupa 96,7% dos 248 mil hectares, mas houve perda de 2.718 hectares de 2018 a 2022, conforme o Inpe. Para chegar a algumas matrizes de coleta, é preciso atravessar pastagens de invasores.

As mulheres Suruí aguardam a concretização da primeira encomenda da Reseba para ir a campo. “A gente já andou nas matrizes, para ver quantas árvores tinham sementes para dar, e vamos coletar o que pedirem”, diz Rubithem.

As sementes coletadas contribuirão para evitar o colapso da Floresta Amazônica, mas Rubithem considera efeitos locais importantes: geração de renda e autonomia para as mulheres, redução das pressões e a matéria-prima para restaurar os próprios territórios. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Kevin Damasio

Resinas e óleos amazônicos recebem certificação internacional

Selo do Conselho de Manejo Florestal reconhece origem sustentável da produção feita por organizações sociais em parceria com o Idesam, no Amazonas.

Do Uatumã para o mundo: resinas e óleos amazônicos, além do Plano de Manejo Florestal Sustentável Comunitário para utilização de madeira legal, geridos pela Associação Agroextrativista das Comunidades da RDS do Uatumã (AACRDSU), passaram a ter um novo alcance a partir da aprovação da certificação florestal Forest Stewardship Council® (FSC®– Conselho de Manejo Florestal, em tradução livre – que completa um ano em 2023.

Com a conquista da certificação florestal, a associação alcançou novas oportunidades comerciais, o que potencializou o preço da madeira e da resina de breu em relação ao ano anterior, antes da certificação. Esta passou de R$ 4 para R$ 8, um aumento de 100%.

Em seu primeiro ano de funcionamento, a média do valor do metro cúbico da madeira comercializada pelo Plano de Manejo Sustentável Comunitário era de R$ 707,55. Em 2023, esse valor passou para R$ 1.246,37 por m³, ganho de 76%..

Foto: Nicolas Ribas/Idesam

O modelo de produção de produtos oriundos da floresta realizado por organizações sociais em parceria com o Idesam tem demonstrado a sustentabilidade desse tipo de economia a partir do fortalecimento de governança territorial e de procedimentos técnicos aliados ao conhecimento tradicional dos ribeirinhos e extrativistas.


A área certificada referente aos produtos madeireiros soma 2.041,43 hectares. Já a de produtos não madeireiros, que inclui a produção de óleos e resinas vegetais, é de 39.987,99 hectares, totalizando 42.029,42 hectares certificados. 

A conquista deste verificador é um atestado de manejo e boas práticas e da rastreabilidade de tudo o que se produz na floresta: pode ser comprovada sua origem sustentável. 

O uso do sistema FSC permite ainda que as associações monitorem suas atividades não apenas considerando a qualidade da exploração, mas a partir de critérios como: avaliação e mitigação de impactos ambientais e sociais; aspectos de segurança e saúde do trabalhador; entre outros.

A certificação abre portas para novos mercados por conta da segurança acerca da origem do produto. Para além do valor econômico, que beneficia em sua totalidade as associações, os critérios e indicadores do padrão de certificação funcionam como uma ferramenta que permite melhorar a gestão das atividades produtivas.

Para obter a certificação, o Idesam realizou diferentes cursos para capacitar os manejadores, tanto em aspectos técnicos, como de segurança e de gestão. O trabalho desenvolvido desde 2018 na RDS do Uatumã é o único no Brasil com manejo florestal comunitário de uso múltiplo, madeireiro e não-madeireiro que possui certificação florestal FSC.

“O Idesam compartilha dos mesmos valores do FSC: acredita no manejo como ferramenta de conservação. Trabalhamos o plano de manejo florestal comunitário que funciona como uma estratégia que permite coibir questões ilícitas. Somente uma mudança no paradigma econômico vai conservar a floresta”,

afirma o diretor técnico do Idesam, André Vianna.

A certificação foi conquistada em janeiro de 2022 e tem vigência até janeiro de 2027. Entre os procedimentos observados – e que devem ser mantidos pela organização – estão indicadores de questões ambientais, econômicas, segurança do trabalho, gestão e manejo. 

Todo o processo é auditado pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), um dos únicos autorizados pelo FSC a fazer a conferência dos procedimentos na região.

A estruturação do processo de certificação foi apoiada pelo Projeto Cidades Florestais, do Idesam, financiado pelo Fundo Amazônia / BNDES e também apoiada pela CLUA (Climate and Land Use Allince). 

“O Idesam tem nos ajudado muito com plano de manejo, usina de óleos, SAFs e pequenos projetos dentro da comunidade como a casa do artesão e agora temos esse selo que simboliza não apenas uma marca ou algo que agregue valor só pra venda, mas ele simboliza a vitória de um povo que lutou e que ainda acredita que os dias vão melhorar, ainda mais. Isso tem um significa muito importante pra gente”,

explica Elizângela Cavalcante, ribeirinha, líder do Grupo de Trabalho do Plano de Manejo da associação da RDS do Uatumã e gestora da movelaria localizada na RDS.

Sobre a RDS Uatumã 

A RDS é uma Unidade de Conservação localizada na região nordeste do Estado do Amazonas, entre os municípios de São Sebastião Uatumã e Itapiranga, com área total de 424.430 hectares e compreende 20 comunidades ribeirinhas instaladas nas margens do Rio Uatumã e seus afluentes. Hoje, existem 22 comunidades e 360 famílias, fica a 300 km de Manaus. 

600 anos? Saiba quais são as árvores remanescentes encontradas no Bosque da Ciência em Manaus

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Essas espécies sobreviveram principalmente por conta de sua dureza, que tornava a extração complexa na época em que o fragmento floresta foi explorado..

No coração da área urbana de Manaus (AM), o Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) abriga uma diversidade de espécies da fauna e da flora Amazônica. Tendo em vista essa flora diversa, destacamos três espécies de árvores remanescentes da mata primária do fragmento florestal de aproximadamente 13 hectares: Tanimbuca, Uxi Amarelo e Visgueiro. 

Inaugurado em 1995 pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, o Bosque tem quase três décadas de funcionamento como um espaço dedicado ao lazer, à educação, à popularização da ciência, à cultura e ao turismo. 

No entanto, a área carrega um passado diferente do que se vê hoje. Antes do Inpa transferir sua sede do Centro para o Aleixo no início dos anos de 1970, onde permanece atualmente, a mata originária da área do Bosque foi desmatada e usada para produção de carvão e espécies de valor comercial para a venda da madeira.

Tanimbuca. Foto: Divulgação/Inpa

De acordo com o botânico pesquisador no Inpa, Juan Revilla, algumas árvores escaparam ao corte manual graças aos troncos mais resistentes e grossos. Na época não era comum o uso de motosserra. 

Revilla foi um dos idealizadores do Bosque, que originalmente foi planejado como Jardim Botânico do Inpa, mas já foi inaugurado com o nome de ‘Bosque da Ciência’. 

“As árvores remanescentes da mata primária não foram derrubadas porque naquele tempo se usava machado e como a madeira dura dava muito trabalho não era aproveitada. Então são poucas as espécies que ficaram remanescentes da mata nativa. Felizmente, essas árvores remanescentes permitiram que a prole de suas espécies ajudasse a recolonizar a vegetação do Bosque como hoje estamos vendo aqui”,

destaca Revilla.

O botânico, junto a outros pesquisadores e técnicos, trouxe das expedições muitas sementes de espécies amazônicas para serem plantadas no novo campus do Inpa à época, que já tinha grande parte de sua área verde preservada.

Árvores Remanescentes

A Tanimbuca (Buchenavia huberi Ducke) é uma árvore de grande porte e a mais antiga do Bosque, com idade estimada em mais de 600 anos, antes da chegada dos europeus ao Brasil. Em sua homenagem, o Inpa criou a ‘Ilha da Tanimbuca’, um espaço com várias espécies de plantas e rodeado por um espelho d’água com peixes e tartarugas-da-Amazônia.

Além de seu papel simbólico como remanescente e de trazer reflexões sobre a importância da biodiversidade e a preservação do meio ambiente, a Tanimbuca desempenha um importante papel ecológico: o seu tronco oco serve de abrigo para diversas espécies de animais, como cotias e aves.

Vista aérea do Bosque da Ciência. Foto: Divulgação/Inpa

Outra espécie remanescente da floresta original é o Uxi amarelo (Endopleura uchi), um dos exemplares mais antigos fica localizado na trilha do Bosque ao lado da Casa da Ciência. A planta é usada na medicina tradicional no tratamento de doenças como miomas e ovários policísticos. Estudos científicos comprovaram o seu alto valor terapêutico pela presença de compostos antioxidantes e capacidade anti-inflamatória. A árvore produz frutos de cor verde-amarelado, de sabor levemente adocicado, que são consumidos in natura ou na forma de sucos e sorvetes.

Localizada no meio da trilha suspensa, encontra-se outra árvore remanescente, o Visgueiro (Parkia nitida Miq), também conhecido como faveira-benguê ou faveira branca. De tronco resistente, a faveira ajudou na germinação de novas árvores da espécie no Bosque da Ciência. A planta produz flores em forma de cachos pendentes, de coloração esbranquiçada, e em junho último embelezaram o entorno da passarela suspensa, dando um toque especial ao atrativo.


Essas árvores são apenas três das várias espécies presentes no Bosque, que constituem um museu vivo em que os visitantes podem sentir um pedacinho da floresta amazônica, sua temperatura amena e se conectar à natureza, em plena área urbana de Manaus. 

“Outra função importante das áreas florestadas urbanas é o seu papel relevante na mitigação de efeitos ligados à urbanização, como ilhas de calor urbano, contribuindo para a diminuição da temperatura do ar nas cidades”, explicou o meteorologista Luiz Antônio Cândido.

“Pesquisas que fizemos utilizando sensores em plataforma móvel mostram que no Bosque da Ciência a temperatura do ar pode ser até 10°C menor que na área urbana próxima. Por isso é tão comum a sensação agradável quando se está no Bosque”,

completou o pesquisador.

Sobre o Bosque 

O Bosque fica anexo à sede do Inpa, uma das mais importantes instituições do mundo sobre a produção do conhecimento científico da Amazônia, localizado na Rua Bem-te-vi, s/nº, no bairro Petrópolis.

Funcionamento: terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h. A portaria fecha 30 minutos do término de cada turno. O acesso é gratuito, mas precisa ser agendado AQUI.

Expofeira do Amapá oferece minicursos sobre manejo florestal

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São ofertadas 50 vagas em dois minicursos da Embrapa Amapá. Inscrições poderão ser feitas 30 minutos antes de cada atividade.

Técnicas e manejo florestal comunitário e cultivo de capim-elefante estão entre as atividades ofertadas pela Embrapa Amapá na programação da 52ª edição da Expofeira Agropecuária do Amapá, que começa na sexta-feira (29), no Parque de Exposições da Fazendinha, na Zona Sul de Macapá.

Cada um dos minicursos terá a oferta gratuita de 25 vagas. A Embrapa informou que as inscrições serão realizadas 30 minutos antes das atividades.

Marcelino Guedes, pesquisador da Embrapa Amapá. Foto: Rafael Aleixo/Arquivo GEA

A instituição é uma das expositoras do evento, que reúne empreendimentos e serviços voltados para o desenvolvimento econômico.

O minicurso ‘Manejo Florestal comunitário da Floresta Nacional do Amapá (Flona)’ será realizado no dia 2 de outubro, das 15h às 19h, no estande da Embrapa, ministrado pelo pesquisador engenheiro florestal Marcelino Carneiro Guedes

Já o minicurso ‘Cultivo de capim-elefante: BRS Capiaçu e BRS Kurumi’ será realizado no dia 7 de outubro, das 8h às 12h, no estande da Embrapa. Ele será ministrado pelo analista zootecnista Daniel Montagner, da Embrapa Amapá, e pelo zootecnista Saulo Lima do Rosário, do Instituto Estadual de Extensão, Assistência e Desenvolvimento Rural (Rurap). 

Minicurso “Manejo Florestal comunitário da Floresta Nacional do Amapá (Flona)”
Data: 2/10 (segunda-feira)
Horário: 15h às 19h
Local: estande da Embrapa, no Parque de Exposições da Fazendinha
Nº de vagas: 25 

Minicurso “Cultivo de capim-elefante: BRS Capiaçu e BRS Kurumi”
Data: 7 de outubro (sábado)
Horário: 8h às 12h
Local: estande da Embrapa, no Parque de Exposições da Fazendinha

Nº de vagas: 25 

Expofeira 2023 

Central Expofeira 2023. Foto: Jorge Júnior/GEA

A 52ª edição da Expofeira marca o retorno do evento, que teve a última edição realizada em 2015. A área total do espaço possui cerca de 33 mil metros quadrados e conta com exposição e comercialização de animais, além do compartilhamento de técnicas de manejo.

Em junho, o governo havia anunciado que a área receberia durante o evento cerca de 820 estandes de exposição para a apresentação de produtos da iniciativa privada.

Também foi anunciado que o local vai abrigar 5 praças de alimentação com mais de 500 espaços para o setor de alimentação, restaurantes, lanchonetes e sorveterias.