Foto: Bruno Moraes/Sete
Gamelas, colheres, copos, pratos, artigos de decoração e outros objetos fazem parte do tesouro produzido pelo acreano Antônio Geraldo Sobrinho, que há mais de 20 anos utiliza madeira de manejo para criar suas peças. A narrativa de sua história marca o Dia Mundial do Artesão, celebrado em 19 de março.
Aos 60 anos, Antônio possui um ateliê no quintal de sua casa, em Rio Branco, no Acre, de onde sai toda sua produção.
“O artesanato é uma das melhores terapias. Eu gosto muito. O artesanato representa tudo para mim. Às vezes até esqueço de comer, porque estou entretido no trabalho. Ele é um controle psicológico, deixa a gente tranquilo”, destaca.
Sua arte é também sua fonte de ganho: “É a minha única renda. Há momentos em que conseguimos algo melhor, em outros é mais difícil. Já tive encomendas para outros estados, e também há peças minhas em outros países, que não foram encomendadas diretamente comigo, mas são minhas. No Brasil, já enviei peças para São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina”.
“Para mim, tudo é arte”
Antônio conta que, antes de se dedicar profissionalmente ao artesanato, já tinha noção de como era a produção. “A partir de 2000, comecei a produzir as primeiras peças, que não eram tão boas, mas, conforme fui aperfeiçoando, criei outras. Nós produzimos as peças, mas sempre pensando em criar novas”, relata.
Ressalta ainda que toda a madeira usada vem de manejo, de forma legalizada.
“Eu não vou desbravar e derrubar a floresta. Entro em contato com as pessoas que fazem manejo e pego. Tudo é legalizado, e a gente ajuda o meio ambiente a se alegrar com a gente, por manter e cultivar as árvores. Por isso, aproveito qualquer pedaço de madeira, seja tora ou pedaço pequeno. Para mim, tudo é arte”, avalia.
E o artesão gosta de desafios. “Quando me mostram algo que não faço, digo ‘não pergunte se eu faço, pergunte quanto custa’. As pessoas acham engraçado, mas eu digo que a arte já está dentro de mim. Eu nasci para o artesanato, é o meu trabalho”, explica, com risadas.
Produzindo diversas categorias de peças, Antônio cita algumas das madeiras com as quais trabalha: “Uso cumaru-ferro, cerejeira, cedro, aroeira e teca. Na minha casa, plantei cerejeira, mas é para ajudar a manter a floresta e o meio ambiente. Esse trabalho, para mim, é tudo. Mesmo que eu tivesse outro emprego, ainda assim dedicaria algumas horas ao artesanato”.
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Antônio também cuida da renovação do seu portfólio: “Graças a Deus, a cada ano, tenho uma peça diferente. A peça que eu produzia antes, faço menos, e invisto na próxima. Não trabalho por esporte, trabalho com artesanato porque gosto”.
Em Rio Branco, o artesão tem peças expostas para comercialização na Casa do Artesanato Acreano (atualmente com funcionamento suspenso devido à cheia do Rio Acre), na Rua Eduardo Assmar, em frente ao Calçadão da Gameleira, mas também recebe encomendas por WhatsApp pelos números (68) 984165232 e (68) 992056468 ou Instagram @antoniogeraldoac.




Arte, economia, turismo e patrimônio
O titular da Secretaria de Estado de Turismo e Empreendedorismo (Sete), Marcelo Messias, destaca a atuação dos artesãos locais, que contam a história e preservam a identidade da população do Acre.
“Neste dia, ressaltamos a importância de cada mão talentosa que transforma matérias-primas em verdadeiras obras de arte, que leva o nome do nosso estado para o Brasil e o mundo. O artesanato não é só arte, é economia, turismo e patrimônio. Na Sete, valorizamos esse trabalho com incentivo, capacitação e oportunidade de negócios. A cada peça produzida, temos um pouco da nossa história sendo contada e nossa essência preservada”, ressalta.
Para promover cada vez mais o artesanato, o governo do Acre, por meio da Sete, realiza capacitações, caravanas de cadastramento nos municípios e oportunidade de negócios com participações nas feiras nacionais e internacionais, que levam o nome e a riqueza deste trabalho manual que representa o Acre para diversos lugares do mundo.
Além disso, a Casa do Artesanato Acreano, reúne peças de artesãos dos mais variados segmentos como biojoias, cerâmicas, palha e produtos feitos por indígenas.
A coordenadora do Artesanato Acreano na Sete, Risoleta Queiroz, afirma que o objetivo da data é valorizar os profissionais do setor, destacar o trabalho na sociedade e promover a autonomia e a economia local.
“O artesanato brasileiro é diverso, com características diferenciadas de norte a sul. A produção artesanal é influenciada pelas comunidades locais e pela matéria-prima disponível na região. O trabalho artesanal é uma fonte de renda para muitas famílias e os conhecimentos para a produção artesanal são passados de geração em geração”, diz.
Risoleta lembra ainda que o artesanato acompanha a história da espécie humana ao longo dos anos: “Sofreu mudanças, novos olhares e hoje é uma ferramenta artística que conserva culturas e muito significado, para além da produção de um objeto decorativo ou de um adereço para o corpo. O papel do artesão na sociedade não é somente de mão de obra, mas de produção artística importante para o mundo”.
*Com informações da Agência Acre