Foto de capa: Soldados da borracha na década de 1940. Foto: Reprodução/Wolney Oliveira
Grande parte do desenvolvimento econômico, social e industrial da Amazônia no século XX se deu pela exploração da borracha. A Amazônia ficou mundialmente conhecida devido à presença da seringueira (Hevea brasiliensis), a árvore que produz o látex, matéria prima da borracha natural.
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Mas você sabia que mais de 60 mil pessoas, em sua maioria homens vindos do nordeste do país, foram enviados para a Amazônia em meio à Segunda Guerra Mundial?
Confira no Portal Amazônia a história e importância dos Soldados da Borracha, hoje homenageados oficialmente como heróis da pátria.
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Contexto histórico
Durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de 60 mil brasileiros foram recrutados pelo governo federal para trabalhar na extração de látex na floresta amazônica.

O produto se tornou essencial para abastecer a indústria bélica dos Estados Unidos, que enfrentava um bloqueio ao acesso ao látex asiático.
Por isso, o Brasil, aliado dos Estados Unidos, firmou o Acordo de Washington em 1942. Entre outros aspectos, o país se comprometeu a ampliar a produção de borracha na Amazônia.
Para isso, foi criado o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (SEMTA), responsável por recrutar trabalhadores rurais, em sua maioria nordestinos.
Os soldados da borracha
A maioria dos chamados “soldados da borracha” saiu de estados como Ceará, Piauí e Pernambuco, atraída por promessas de salário, comida, assistência médica e retorno garantido após o fim da guerra. Muitos foram levados de navio até Belém e, depois, em comboios fluviais para áreas isoladas no Acre, Amazonas, Rondônia e Pará.

Contudo, as condições encontradas na região norte foram diferentes do esperado. De acordo com o livro “Soldados da Borracha: o Exército Esquecido que salvou a Segunda Guerra Mundial”, de Rose Neeleman, os soldados viviam em barracões improvisados, enfrentavam doenças como malária, leishmaniose e hepatite, e passavam meses sozinhos na floresta, trabalhando em regime de subsistência.
De acordo com registros, estima-se que metade dos 60 mil trabalhadores nunca voltou. Muitos morreram ou permaneceram na região, sem recursos para retornar.
Importância

Apesar de não terem batalhado de fato na guerra, os soldados da borracha foram essenciais para a fabricação de diversos instrumentos, como: pneus de jipes, solas de botas, mangueiras de combustível, isolantes de cabos elétricos e até material cirúrgico.
Reconhecimento
Em 1988, com a nova Constituição Federal, os soldados da Borracha passaram a ter direito à pensão vitalícia. Contudo, a pensão era menor que o salário mínimo. Em 2008, uma nova lei aumentou o valor da pensão e instituiu um pagamento extra anual
A reparação simbólica mais significativa veio em 2019. Por meio da Lei nº 13.831, os soldados da borracha foram inscritos no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O livro reúne nomes de figuras históricas que contribuíram para a formação do Brasil.
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Curiosidades
O termo “soldado da borracha” foi criado pelo próprio governo de Getúlio Vargas, como estratégia de propaganda para valorizar a campanha. Apesar disso, eles não tinham treinamento militar nem vínculo com as Forças Armadas.
Em alguns casos, os trabalhadores eram deixados nas margens dos rios e recebiam orientação para seguir sozinhos até o seringal designado. Não havia infraestrutura, estradas ou assistência. Eles dependiam da ajuda de outros seringueiros para sobreviver.
Por fim, como muitos desses trabalhadores eram analfabetos ou morreram sem deixar registros, grande parte do conhecimento foi preservada por meio de relatos orais, histórias contadas de geração a geração.