Ponte Jornalista Phelippe Daou é um dos exemplos de pontes na Amazônia. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
A Amazônia é marcada por rios de grande vazão e por planícies alagáveis cuja largura varia em dezenas de quilômetros ao longo do ano. Esses pulsos sazonais alteram profundamente níveis e margens, e a construção de pontes na região, que facilitariam a mobilidade por terra, se torna sujeita a variações drásticas e desafiadoras.
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Além da variação de níveis, grande parte do solo na região amazônica é composto por sedimentos finos e pouco consolidados, o que impõe dificuldades geotécnicas na fundação de pilares e estruturas pesadas.
É o que aponta um estudo intitulado ‘Desafios na Construção de Rodovias no Ambiente Amazônico: Identificação de Problemas de Engenharia‘ publicado em novembro de 2023. No artigo, os autores identificaram que a presença de bancos de areia móveis e de material orgânico instável exige técnicas e estudos específicos para fundações profundas na construção de pontes.
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A logística é outro fator central. Diversas pesquisas, entre elas a da ONG Águas Amazônicas, identificaram que muitas regiões permanecem isoladas por ausência de rodovias continuadas, transporte terrestre difícil e longas distâncias entre centros urbanos. Em vários trechos a navegação fluvial continua sendo a principal via de escoamento e circulação de pessoas, reduzindo, em termos práticos, a demanda econômica imediata por travessias fixas.
Obstáculos naturais e de engenharia
O estudo da ONG Águas Amazônicas identificou também que os grandes rios amazônicos apresentam flutuações anuais de nível que, em trechos, podem variar entre cerca de 4 e 15 metros em uma mesma estação do ano; em áreas de várzea, a largura inundada pode atingir dezenas de quilômetros. Essas características exigem projetos que acomodem grandes variações de tirante e minimizem o risco de assoreamento e erosão nas fundações.
Do ponto de vista geotécnico, solos de planície aluvial requerem técnicas de fundação como estacas profundas, sopros de injeção e estruturas que tolerem recalques diferenciais. Estudos sobre obras viárias na região apontam para a necessidade de diagnósticos rigorosos e soluções adaptativas no dimensionamento de pontes e acessos.
A combinação desses fatores — hidrologia, solos e logística — explica por que travessias por balsas e barcas ainda predominam em muitos trechos ao invés de pontes, mesmo quando existe grande extensão de água a ser vencida.
Pontes na Amazônia brasileira
Ponte Jornalista Phelippe Daou (Ponte Rio Negro) — Manaus (AM) / Iranduba (AM): concluída em 2011, a Ponte Rio Negro tem extensão de aproximadamente 3,6 km e é frequentemente citada como a maior ponte estaiada do país sobre um rio amazônico. A obra liga Manaus à margem oposta do Rio Negro, pouco antes da confluência deste com o Amazonas, e é considerada um marco da engenharia brasileira em área de alta complexidade ambiental e logística.

Ponte sobre o Rio Madeira (trecho de Abunã) — Rondônia: a ponte em Abunã, sobre o rio Madeira, inaugurada em 2021, eliminou em grande parte a dependência de balsas em um trecho estratégico entre Rondônia e rotas que levam ao Acre, facilitando deslocamentos e o escoamento regional.
Ponte Mista de Marabá — Marabá (PA): Com 2.340 metros, a Ponte Mista de Marabá ou Ponte rodoferroviária atravessa o Rio Tocantins, em Marabá. A princípio a ponte era somente ferroviária, mas foi adaptada e passou também a ser usada no transporte rodoviário.
Pontes internacionais
Ponte da Integração Brasil–Peru (Assis Brasil/AC e Iñapari): a Ponte da Integração atravessa o rio Acre na fronteira entre Brasil e Peru e faz parte da rodovia BR-317 (trecho da Interoceânica). Inaugurada em meados dos anos 2000, a estrutura conecta a cidade peruana Iñapari ao município brasileiro de Assis Brasil (Acre), sendo um exemplo de obra transnacional na bacia amazônica.

Ponte Binacional Franco-Brasileira (BR-156): Sobre o Rio Oiapoque, liga Oiapoque (AP) a São Jorge do Oiapoque (Guiana Francesa).
Ponte sobre o Rio Mamoré (BR-425): Liga Guajará-Mirim (RO) a Guayaramerin (Bolívia).
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Em termos práticos, a distribuição atual de pontes na bacia evidencia concentração em trechos urbanos e em rotas de integração já estabelecidas, enquanto grandes extensões ainda permanecem dependentes de travessias aquaviárias.
