Tecnologia social: conheça a plataforma com sete Dicionários para Línguas Indígenas

Dicionários Multimídia para Línguas Indígenas é uma iniciativa voltada à valorização, preservação e difusão das línguas originárias.

Plataforma com Dicionários Multimídias para Línguas Indígenas. Foto: Divulgação/MPEG

O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) desenvolveu a plataforma digital Dicionários Multimídia para Línguas Indígenas, uma iniciativa voltada à valorização, preservação e difusão das línguas originárias. O projeto reúne conteúdo interativo com áudios, vídeos, imagens e textos que documentam e apresentam a riqueza linguística e cultural de diferentes povos indígenas do Brasil.

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Os dicionários multimídia são uma tecnologia social que contribui para o fortalecimento e revitalização das línguas indígenas. No Museu Goeldi, os estudos são direcionados especialmente para a Amazônia brasileira, lugar de grande diversidade linguística, mas que também sofre com a crescente redução do número de falantes das línguas.

A instituição científica sediada na Amazônia Paraense está tornando disponíveis sete dicionários bilíngues: Kanoé-Português, Oro Win-Português, Puruborá-Português, Sakurabiat-Português, Salamãi-Português, Wanyam-Português e o dicionário de Lugares Sagrados do Povo Medzeniakonai. E a equipe da Linguística do Museu Goeldi, sob a liderança de Ana Vilacy, já trabalha no desenvolvimento de mais três dicionários multimídia.

Na plataforma, é possível acessar os dicionários de modo online, mas também como aplicativos para Android, em HTML ou em arquivos no formato PDF. Estas opções possibilitam o uso da tecnologia mesmo quando não houver conexão com a internet. Cada dicionário possui particularidades de acordo com a língua em questão, apesar da metodologia aplicada ser a mesma para todos. Os dicionários são compostos por uma introdução sobre a língua, categorias de palavras, um campo de busca, a palavra em sua forma escrita, a transcrição fonética da palavra, um player em que é possível ouvir a pronúncia correta de cada palavra e uma imagem ilustrativa.

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Dicionários Multimídia de Lugares sagrados do povo Medzeniakonai. Foto: Divulgação/MPEG

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A pesquisadora do MPEG Ana Vilacy destaca o valor educacional dos dicionários para a sociedade em geral, e para os povos indígenas, em particular. “É uma forma de você trazer informações sobre as línguas, um pouco de conhecimento de forma lúdica também, para facilitar o acesso de uma forma geral e despertar a consciência para a variedade de línguas faladas no país”.

A produção dos dicionários multimídia ressalta a importância histórica do Museu Goeldi na pesquisa e documentação das línguas indígenas, na formação de novos pesquisadores na área da Linguística, na inovação tecnológica que viabilizou a elaboração dos dicionários e suas constantes melhorias, além do valor educacional, da conservação das línguas como principal meio de expressão dos povos indígenas e da riqueza multiétnica do Brasil.

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Demanda dos Povos Indígenas

Enquanto tecnologia social, o projeto teve início em 2019, a partir de uma demanda vinda diretamente de José Augusto Kanoé, cacique da comunidade Kanoé, da Terra Indígena Rio Guaporé, no estado de Rondônia, para a equipe do Museu Goeldi. O pai do cacique foi um dos últimos falantes da língua Kanoé, e para incentivar e fortalecer o uso da língua pelos mais novos, a cooperação de mais de quatro décadas com o Museu Goeldi foi fundamental. A partir do trabalho de documentação feito por pesquisadores da instituição nos anos 1980 e 2000, foi possível elaborar o primeiro dicionário multimídia Kanoé-Português.

“Aqui a gente tá usando conforme vai falando com as crianças. E quando a gente não tem certeza que é aquela palavra, a gente vai e abre o dicionário. Quase todas as coisas eu sei falar, agora os meninos ainda precisam do dicionário. Mas todos eles têm o aplicativo do dicionário, nós daqui de casa temos e é muito bom. Está facilitando muito”, explica o cacique José Augusto Kanoé.

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Metodologia

Os Dicionários Multimídia para Línguas Indígenas foram desenvolvidos utilizando softwares de códigos abertos (open source), de fácil acesso e que podem ser reaplicados para qualquer língua. O pesquisador e bolsista de capacitação institucional Saulo Brito é o responsável por desenvolver os protocolos de como utilizar a tecnologia social.

“A ideia é justamente essa, que seja uma opção de software livre, para qualquer pessoa que queira fazer um dicionário, não só na área de linguística. Então a gente tem um script em Python e aí a pessoa baixa esse script, também está disponível em uma versão em excel, caso a pessoa não saiba mexer com Python, para facilitar. E aí o que a pessoa precisa fazer é só abrir uma planilha, adicionar os dados da cada entrada lexical, de cada entrada do documento que ela está querendo produzir e organizar as mídias em pastas”, explica Saulo Brito. Ideia boa contagia e logo se espalha. Saulo, fala com vibração que outras instituições já estão reaplicando os protocolos desenvolvidos no Museu Goeldi para a produção de novos dicionários.

O pesquisador Matheus Soares, integrante da equipe, aplicou os protocolos para a elaboração do dicionário multimídia da língua Puruborá, como projeto de iniciação científica no Museu Goeldi e como Trabalho de Conclusão do Curso de Letras, na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Matheus destaca a importância do projeto para a sua formação enquanto pesquisador em Linguística. “Quando a gente trabalha com dicionário, principalmente no dicionário de uma língua que não é a nossa, a gente mexe com muitos aspectos diferentes, então a gente tem que estar constantemente fazendo esse processo de formação. E trabalhando aqui [no Goeldi], desde a iniciação científica, a gente consegue ter esse contato maior e ampliar esses horizontes”, avalia Matheus.

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Matheus Soares e Saulo Brito, bolsistas do projeto Dicionários Multimidia para Línguas Indígenas. Foto: Divulgação/MPEG

A principal fonte de informação para a produção do dicionário Puruborá-Português foram os registros coletados com os anciãos do povo Puruborá, originário de Rondônia e que aguarda demarcação de seus territórios. Ana Vilacy explica que o processo iniciou com a contribuição de idosos já falecidos. “Muitas dessas pessoas já não estão mais aqui, já ancestralizaram, mas temos alguns registros que gravamos, documentamos. Então, a partir da oralidade dos anciãos, foi possível gravar algumas coisas e produzir esse material multimídia que traz a palavra escrita, o som, informações sobre categorias gramaticais e transcrição”, pontua a pesquisadora.

O professor Mário Puruborá, do Povo Puruborá, enfatiza como o uso do dicionário tem contribuído para o fortalecimento e revitalização da língua Puruborá entre as novas gerações. “Falo sempre assim, aquele material é muito bom para aprender. Se na minha época que eu comecei a aprender, se eu tivesse um material daquele porte, eu tinha desenvolvido mais rápido o aprendizado. Ele é muito completo, tem todas as informações ali”.

Com o uso dos dicionários, novas gerações de jovens indígenas estão podendo aprender a língua falada pelos seus ancestrais.

A programação completa do Abril Indígena é um diálogo com protagonistas indígenas do campo audiovisual (Pat-i Bepbere Kayapó), do conhecimento da flora amazônica, das práticas de saúde (Pedro Paulo Kayapó, Banhire Kayapó) com especialistas do Museu Goeldi (Pedro Glécio e Vilacy Galúcio) e da Universidade Federal do Pará, como o historiador Márcio Couto Henrique, editor associado do centenário Boletim de Ciências Humanas do Museu Goeldi e professor do Programa de Diversidade Sociocultural do MPEG. Veja abaixo a programação completa.

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