Pesquisadores paraenses identificam marcadores moleculares que podem ajudar na recuperação de florestas

O estudo, que teve início em 2016 e se divide em três vertentes, também pode potencializar a captura de carbono da atmosfera. 

Pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém, identificaram marcadores moleculares capazes de quantificar genes e proteínas que favorecem práticas de manejo e aumentam o estoque de carbono no solo. A pesquisa inédita pode ajudar na recuperação de florestas e potencializar a captura de carbono da atmosfera.

O estudo ‘Genes e proteínas relacionados a ciclagem de nutrientes, fixação de carbono e saúde do solo’ teve início em 2016 e se divide em três vertentes: mapeamento dos solos naturais, acompanhamento da recuperação de áreas degradadas e avaliação da qualidade do solo em projetos de reflorestamento e sistemas agroflorestais. Nesta última etapa, o levantamento está associado à meta de recuperar mais 500 mil hectares de florestas no Brasil até 2030.

No laboratório, os pesquisadores selecionam amostras do solo e mapeiam o DNA  e as proteínas existentes. A Floresta Amazônica foi o primeiro espaço a ser estudado, onde foi analisado o solo na Serra de Cadajás, área de atuação da Vale, principalmente nos campos rupestres ferruginosos e na Floresta Nacional de Carajás. 

Os pesquisadores recolhem amostras do solo e, no laboratório, conseguem mapear o DNA e as proteínas existentes. Segundo o coordenador do estudo, Rafael Valadares, já foram feitas pesquisas em solos naturais, sistemas agroflorestais e impactados pela mineração. O estudo teve início na Floresta Amazônica, com análise do solo na Serra de Carajás, área de atuação da Vale, principalmente nos campos rupestres ferruginosos e na Floresta Nacional de Carajás.

“Fizemos uma grande biblioteca de genes e proteínas dessas áreas naturais. Em um segundo momento, conhecendo o que existe de biodiversidade microbiana, rotas bioquímicas de funções nos sistemas naturais, avançamos para áreas de projetos de recuperação de áreas degradadas. Também na Floresta Amazônica, nas áreas recuperadas pela Vale, onde conseguimos demonstrar o avanço da recuperação do ponto de vista bioquímico do solo – que é o coração da floresta”,

explicou. 

Foto: Marizilda Cruppe/RAS

Valadares conta ainda que na terceira fase foram analisados diferentes sistemas produtivos, em um projeto piloto em Linhares, no Espírito Santo, na Reserva Natural Vale. 

“É avaliada a capacidade de agrossistemas florestais, que são sistemas mais conservativos que usam do plantio de frutíferas, associados com espécies arbóreas. Avaliamos em Linhares a capacidade de sistemas agroflorestais de estocar mais carbono e se o sistema agroflorestal é um solo mais saudável ou não. O objetivo é ver qual sistema está contribuindo para um solo mais saudável”,

disse. 

Com a finalidade de fazê-los compreender o solo em que trabalham, o estudo é voltado para os produtores rurais. “De posse das informações do que está funcionando bem ou mal no solo, o produtor pode direcionar as técnicas de manejo para corrigir o que está indo errado. Da mesma maneira, podemos comparar diferentes sistemas de cultivo, diferentes plantios e indicar qual sistema está contribuindo para melhoria geral do solo e qual está degradando”, argumentou o coordenador do estudo. 

Solos

Dados do Painel Intergovernamental para Mudanças do Clima das Nações Unidas (IPCC) apontam que o solo corresponde a 70% do carbono estocado na terra na forma de matéria orgânica, correspondendo a quase três vezes mais do que o armazenado na vegetação e cerca do dobro em comparação com a atmosfera. 

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 33% dos solos do mundo e 52% dos solos agrícolas estão danificados, causados pela erosão, compactação e contaminação. De acordo com Igor Assis, especialista em Solos e Microbiologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o solo é essencial para a vida na Terra. 

“O solo tem várias funções, como produção de alimentos, fibras e combustíveis. Mas ainda como sequestro de carbono, purificação de água – a água que sai da nascente geralmente é limpa porque o solo faz essa purificação; degradação de contaminantes – muitos que acabam sendo aportados no solo, a própria microbiota degrada esses contaminantes”, explicou.

Igor Assis ainda acrescentou a importância do solo na regulação de enchentes: “Quando o solo é bem manejado, estruturado, ele armazena uma quantidade gigantesca de água das chuvas. Quando o solo está degradado, fica compactado e não consegue armazenar essa água de chuva, que acaba indo toda para os rios e aí acontecem as grandes enchentes que a gente vê atualmente. O solo tem a função de ser fonte de recursos genéticos e farmacêuticos, que tem uso direto pela população no nosso dia a dia”.

Segundo ele, a educação a respeito do solo é fundamental para a sobrevivência da espécie humana. 

“Temos um crescimento exponencial da população mundial e vem aumentando muito a quantidade de solos degradados. Então, estamos indo para uma conta que não fecha: a população crescendo, precisamos produzir mais alimentos que os solos nos fornecem e eles estão sendo degradados e num futuro não muito distante, muitos desses serviços vão ser reduzidos drasticamente e isso afeta diretamente a nossa vida”, 

afirmou o especialista.

Baixo carbono

Outro assunto a ser destacado e que tem ganhado cada vez mais espaço pelo mundo é a recente discussão sobre economia de baixo carbono, destinada a conter as emissões de gases de efeito estufa. 

Segundo Igor Assis, solos bem manuseados são uma forma eficaz de conservar carbono na forma orgânica, diminuindo a emissão de gases de efeito estufa e contribuindo para o mercado de crédito de carbono. 

“A questão de mudanças climáticas, que está relacionada com a economia de baixo carbono tinha inicialmente a ideia de diminuir a emissão de CO2 para atmosfera e hoje a gente trabalha com duas áreas relacionadas a isso: que é diminuir a emissão, como sequestrar, drenar o carbono que está na atmosfera. E o único componente que a gente consegue manejar para fazer isso de forma mais fácil é o solo”,

destacou. 

Para precificar o mercado, países têm criado o chamado mercado de carbono, um mecanismo que permite a venda de créditos por nações que limitam as emissões desses gases para nações com maiores dificuldades de cumprir as metas de redução.

No Brasil, o tema tem sido discutido na Câmara dos Deputados com o PL 528/2021, que institui o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE). A proposta quer assegurar a diminuição da emissão de gases do efeito estufa, freando o aquecimento global.

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