A descoberta foi publicada online na revista científica Forest Ecology and Management por pesquisadores da Unemat, da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Universidade de Leeds, do Reino Unido. A edição impressa circula no próximo dia 15 de março. O artigo intitulado “Collapse of ecosystem carbon stocks due to forest conversion to soybean plantations at the Amazon-Cerrado transition“, em português “Colapso dos estoques ecossistêmicos de carbono devido à conversão de florestas em monoculturas na transição Amazônia-Cerrado”, aponta o quão séria é a situação.
Os autores do artigo revelaram perdas totais de carbono para o cultivo de soja na Amazônia acima de 130 toneladas por hectare, além de um contínuo decréscimo no carbono do solo por mais de 30 anos. “O problema é que quase todo este carbono é lançado na atmosfera após o desmate, aumentando o efeito estufa e as mudanças climáticas”, alerta o professor da Unemat e doutor em Ecologia, Ben Hur Marimon Junior. Ele é autor-correspondente do estudo e orientador da autora principal, a doutoranda em Ecologia e Conservação pela Unemat, Isabelle Bonini.
Os pesquisadores explicam que o carbono é o principal componente dos seres vivos e essencial para a fotossíntese, mas que o excesso na atmosfera se torna desastroso para o equilíbrio climático. “Grande parte do estoque de carbono está nas árvores, mas o solo pode conter até cinco vezes mais do que isso e sua liberação da forma com que registramos representa um verdadeiro colapso”, revela Ben Hur.
Isabelle Bonini, que investiga os efeitos das mudanças de uso da terra sobre a pluviometria, o estoque de carbono e ciclagem de nutrientes em diferentes compartimentos de sistemas florestais e agroecossistemas na transição Amazônia-Cerrado, sugere o cultivo de seringueiras como alternativa para o colapso iminente. “A conversão de floresta em seringais seria uma opção menos impactante que a soja, já que apresenta perdas três vezes menores, com 48,5 toneladas por hectare, com a previsão de recuperação de 84% dos estoques de carbono após 30 anos de cultivo”, explica Bonini.
Os pesquisadores destacam ainda que os aumentos nas emissões de dióxido de carbono (CO2) do solo após o desmate podem chegar, até 2050, a cinco gigatoneladas em toda a Amazônia, valor equivalente ao dobro das emissões anuais globais de carbono por desmatamento e 1,5 vezes mais do que todas as emissões anuais do Brasil.
No intuito de reverter a situação, os pesquisadores apontam estratégias. O professor Fabiano Petter, da UFMT, câmpus Sinop, que também assina o artigo, defende as boas práticas agrícolas como alternativas mais eficazes ao desmatamento na Amazônia, especialmente a integração lavoura-pecuária (ILP). E o professor Ben Hur reitera: “Temos a convicção de que é possível mais do que dobrar a produção agropecuária da fronteira agrícola brasileira sem derrubar uma única árvore, apenas integrando parte dos mais de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas da região Centro-Oeste ao sistema ILP”.