Pássaro que pode ser encontrado na Amazônia inspirou melhor desempenho de trem-bala japonês

O engenheiro Eiji Nakatsu teve a inspiração quando observava comportamento do pássaro martim-pescador, que possui cinco espécies na Amazônia. 

A natureza sempre serviu como uma das principais fontes de inspiração para os seres humanos. Seja nos gestos mais simples como observar a chuva, o meio ambiente inspira e exala criatividade. Esse ecossistema capaz de gerar ideias, sentimentos e sensações inspirou diversas criações que transformaram a humanidade.

Um exemplos é a origem do velcro, item comum em bolsas e bermudas por exemplo. O velcro foi idealizado pelo engenheiro suíço Georges de Mestral, durante uma caçada com seu cachorro. Depois da caminhada, o cientista observou inúmeros carrapichos grudados na sua roupa e, ao analisar as plantas com um microscópio, percebeu que eles possuíam pequenos ganchos que prendiam e se uniam com o tecido das roupas. 

Leia também: Portal Amazônia responde: por que o carrapicho “gruda”?

Mas pequenos animais, como os pássaros, também podem inspirar grandes feitos, como aconteceu com a invenção do primeiro modelo do trem-bala (1964), idealizado pela Japan Railway West (JR West), empresa responsável por esse sistema de transporte que alcançava os 270 km/h. Apesar de ter sido algo revolucionário, os primeiros modelos do trem produziam um barulho capaz de ser ouvido a 400 metros de distância, incomodando os usuários desse transporte.

Na empresa JR West trabalhava um engenheiro chamado Eiji Nakatsu que possuía o hábito de observar pássaros (birdwatching). Ao observar o pássaro martim-pescador, o engenheiro solucionou os problemas de ruído e melhorou o desempenho do trem. 

E o pássaro que inspirou a solução também pode ser encontrado na Amazônia. Para saber sobre o ‘martim’, o Portal Amazônia conversou com o biólogo no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Reynier Omena, especialista em fauna silvestre e turismo ornitológico.

Ao observar o martim-pescador, Nakatsu chegou a solução do problema que o trem-bala enfrentava: ainda no ar, o pássaro atingia uma alta velocidade, pousava no rio para pescar e ao mesmo tempo não espirrava nenhuma água.

“Às vezes a ave literalmente mergulha abaixo da superfície da água para capturar um peixe, noutras vezes, captura o peixe pouco abaixo dela, sem a necessidade de mergulhar. Entretanto, isso depende muito das condições de visibilidade, ou seja, quando a água não está turva ou com sedimentos que dificulta visualizar as presas”,

esclareceu o biólogo Reynier Omena.

O motivo que explica esse comportamento do pássaro martim-pescador é o formato aerodinâmico do seu bico, que chega a atingir 8 centímetros. Sendo assim, Nakatsu desenvolveu a parte dianteira do trem inspirado no formato do bico do pássaro. Durante os testes em laboratório, foi confirmado que o trem-bala fazia menos barulho e atingia uma velocidade maior.

Com a melhora no desempenho o trem-bala Shinkansen 500, idealizado por Nakatsu, foi inaugurado em 1997 e conseguia alcançar uma velocidade de 320 km/h, sendo referência em inovação inspirada na natureza. 

Foto: Reprodução/Memórias do Instituto Florestal-SP

Espécies encontradas na Amazônia 

O pássaro que inspirou o trem pertence à ordem dos Coraciiformes, que possuem espécies e subespécies. Na Amazônia existem cinco espécies de martins-pescadores: o Martim-pescador-grande (Megaceryle torquata), Martim-pescador-verde (Chloroceryle amazona), Martim-pescador-da-mata (Chloroceryle inda), Martim-pescador-pequeno (Chloroceryle americana) e o Martinho (Chloroceryle aenea).

As espécies encontradas na região medem entre 13 e 42 centímetros e sobrevivem próximo a beira de rios, lagos, igarapés, onde se alimentam de peixes, crustáceos, pequenos répteis e batráquios.

“Todos têm ampla distribuição na Amazônia, ocorrendo quase exclusivamente nos mesmos ambientes, com raras exceções. Do ponto de vista alimentar, as cinco espécies se alimentam de peixes, porém outros componentes fazem parte da dieta, podendo incluir pequenos crustáceos e anfíbios. A forma de caçar entre eles é similar, pousam num galho ou ponta de tronco, ao avistar um peixe logo abaixo da superfície da água dão um voo rasante na direção dele e com uma bicada o prendem com o bico, retornando ao poleiro com o mesmo. No poleiro, com movimentos enérgicos, bate a cabeça do peixe contra o tronco para estonteá-lo e assim conseguindo erguer o bico para a frente e vai engolindo o peixe”, explicou o biólogo.

Martim-pescador-verde fêmea em Rio Cuiabá, Estado de Mato Grosso. Foto: Hector Bottai – Obra do próprio, CC BY-SA 3.0

As suas características físicas variam conforme as espécies, variando a coloração e seu tamanho, mas algo em comum em todas é o seu bico. Na Amazônia, em geral, os martins-pescadores começam a se reproduzir nos meses em que começa a subir as águas em função das chuvas de inverno na região.

“O martim-pescador grande e os menores, constroem o ninho na parede de barrancos que circunda os rios e até mesmo nas paredes de barranco em terra. O ninho consiste num buraco pouco maior que o diâmetro do corpo da ave, e que pode chegar a até cinco metros de comprimento. A ave vem voando e entra direto no buraco, sem antes fazer uma parada fora, para entrar. Nos meses de maio e junho, nas barrancas, as margens dos rios Negro e Solimões, é possível ver grandes colônias de Martins-pescadores próximos destes buracos-ninhos, onde vocalizam muito e se movimentam muito também”, concluiu o especialista.

Leia também: Você sabe quais aves representam os Estados da Amazônia Legal?

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