Foto: Clarissa Bacellar/Portal Amazônia
A inteligência artificial (IA), uma das tecnologias mais disruptivas da atualidade, vem ganhando espaço como aliada no enfrentamento da crise climática. Do monitoramento ambiental em tempo real à criação de soluções para reduzir emissões de carbono, a IA promete transformar a forma como o mundo lida com um dos maiores desafios do século. Mas o avanço tecnológico também traz riscos e exige uma reflexão profunda sobre regulamentação, consumo energético e impactos sociais.
No Amazon On, evento que reúne especialistas de instituições nacionais e internacionais em Manaus (AM) nos dias 20 e 21 de agosto, um dos debates girou em torno de um ponto crucial: como utilizar a IA para mitigar as consequências das mudanças climáticas sem ignorar seus próprios impactos ambientais.
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O debate foi realizado no painel 2, ‘Impacto da Inteligência Artificial nas mudanças climáticas’, e contou com a participação de: Alexandre Reis Siqueira Freire, conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); Julián Najles, especialista sênior em Transformação Digital no Banco Mundial; Jacqueline Lopes, diretora de relações Institucionais para a América do Sul na Ericsson Telecomunicações LTDA; Fabro Steibel, diretor executivo, do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio); e Marcelo Ikegami Motta, diretor de Cibersergurança e Soluções na Huawei do Brasil Telecomunicações LTDA.
O potencial transformador da Inteligência Artificial
Nos últimos anos, sistemas baseados em inteligência artificial têm permitido avanços significativos em diferentes áreas. Modelos preditivos mais precisos ajudam a antecipar desastres naturais, como enchentes, secas e incêndios florestais, salvando vidas e reduzindo prejuízos.
Redes inteligentes otimizam o consumo de energia ao integrar fontes renováveis, como solar e eólica, evitando desperdícios. Algoritmos de monitoramento ambiental detectam desmatamento ilegal e mudanças nos biomas, reforçando a preservação da biodiversidade. Na agricultura, análises detalhadas orientam o uso racional de água e fertilizantes, aumentando a produtividade com menor impacto ambiental.
“Um exemplo são as previsões de grandes chuvas, tufões e até o caminho que eles vão percorrer, além de aplicações para monitoramento de florestas, com identificação de sons associados ao corte de madeira ou a incêndios. Até mesmo na análise de dejetos e esgoto, já é possível realizar um monitoramento eficiente por meio dessas tecnologias”, afirmou Marcelo Ikegami Motta, diretor de Cibersegurança e Soluções da Huawei.
Existe um custo?
Apesar das vantagens, especialistas alertam para o custo ambiental da IA. O treinamento de modelos avançados exige grandes quantidades de energia elétrica e sistemas de resfriamento para data centers, resultando em emissões significativas. Um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) mostrou que treinar um único modelo de linguagem pode gerar até 284 toneladas de CO₂, equivalente ao consumo anual de energia de 30 residências nos EUA.
Segundo Fabro Steibel, diretor executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), é necessário atacar o problema em três frentes:
- usar a inteligência artificial para reduzir emissões na indústria, na logística e na produção;
- aplicar a tecnologia no mapeamento de gases nocivos, como o metano, e no monitoramento dos biomas;
- e tornar a própria IA mais sustentável, por meio de data centers que consumam menos energia e água, além de promover maior reciclagem do lixo eletrônico.
“Se seguirmos esses três eixos, poderemos aproveitar o potencial da tecnologia sem cair na ilusão de que ela resolve tudo sozinha”, destacou Steibel.
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Setores em movimento
A indústria de telecomunicações aposta na combinação entre IA, 5G e computação em nuvem para reduzir emissões. “O 5G pode cortar até 15% das emissões até 2030, aumentando a eficiência energética. Com a IA, conseguimos otimizar transportes, mapear emissões e melhorar a logística, reduzindo significativamente a pegada de carbono”, explicou Jacqueline Lopes, diretora de Relações Institucionais da Ericsson para a América do Sul.
Grandes empresas como Google e Microsoft já anunciaram planos para operar com energia 100% limpa até 2030, enquanto pesquisadores desenvolvem algoritmos mais eficientes, que demandam menos recursos computacionais.
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Visões globais
Para Julián Najles, especialista sênior do Banco Mundial, a IA deve ser acompanhada de investimentos em conectividade, gestão de dados, capacitação digital e infraestrutura verde: “Projetos que unem transformação digital e eficiência energética, como os que apoiamos em Sergipe, serão cada vez mais comuns. Precisamos preparar os países para usar a IA com ética, reduzindo desigualdades e impactos ambientais”.
Já Alexandre Freire, conselheiro da Anatel e moderador do painel, reforçou que a IA também pode ajudar no controle do próprio consumo energético dos data centers, além de monitorar agressões ambientais e melhorar políticas públicas.
Entre riscos e oportunidades, o saldo pode ser positivo
A mensagem comum entre os especialistas é clara: a IA pode ser uma aliada poderosa na luta contra a crise climática, desde que seu desenvolvimento seja guiado por planejamento, regulamentação e compromisso ambiental.
Do combate ao desmatamento à previsão de tufões, passando por soluções para transporte, agricultura e indústria, a tecnologia já mostra resultados concretos. O desafio agora é garantir que ela evolua de maneira sustentável, se transformando não apenas em ferramenta de inovação, mas também em instrumento real de preservação do planeta.
