A história do café adaptado à Amazônia

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café. Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Rondônia são os principais produtores do grão.

Florada de café Robusta Amazônico. Foto: Enrique Alves

Devido ao trabalho pioneiro com cultivo de cafés clonais, Rondônia é considerado o berço dos Robustas Amazônicos. Estudos mostram que esses cafés resultam da mistura entre cafés conilon, trazidos para a região na década de 1970, por produtores mineiros, paranaenses e capixabas, e materiais genéticos 100% robusta, trazidos do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), pela Embrapa Rondônia, em 1990.

Leia também: Café Robusta Amazônico é declarado patrimônio cultural e imaterial de Rondônia

De acordo o pesquisador Marcelo Curitiba, da Embrapa Café, responsável por estudos com cafés clonais na Amazônia, esses materiais seminais se adaptaram bem ao clima e solos da região e se disseminaram entre agricultores da Amazônia. A denominação Robustas Amazônicos contempla todo material genético de café desenvolvido na região, por meio de cruzamento entre cafés conilon e robusta, sejam clones selecionados de forma empírica, pelos agricultores, ou desenvolvidos pela pesquisa.

“Esses cafeeiros híbridos reúnem características predominantes do café robusta e tiveram origem em processos de cruzamento natural, realizados por agricultores de diferentes localidades da Amazônia, que aprenderam a técnica de clonagem e passaram a selecionar plantas com elevado potencial de produção, nas lavouras comerciais. As plantas obtidas foram utilizadas como matrizes na produção de mudas para formação de novos plantios e serviram como base genética para renovação do parque cafeeiro da região, nos últimos dez anos”, explica o pesquisador.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café. Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Rondônia são os principais produtores do grão.

Mudas de café clonal Robusta Amazônico. Foto: Aliny Melo

Contribuições da pesquisa para a cafeicultura amazônica

O interesse crescente por cafés clonais Robustas Amazônicos e a ausência de informações sobre suas características genéticas gerou a necessidade de estudar esses materiais. Os estudos para melhoramento genético desses cafés, realizados pela Embrapa Rondônia, desde 2003, contam com a parceria da Embrapa Acre, produtores rurais e instituições de ensino. Como resultado desse esforço coletivo já foram recomendadas, pela Embrapa, 10 cultivares de café clonal para a Amazônia.

“Esse material genético foi muito bem caracterizado em relação à produtividade, rendimento no beneficiamento, resistência a doenças, vigor vegetativo, espaçamento necessário, ciclo de maturação, tamanho do grão e qualidade da bebida, entre outros aspectos agronômicos”, conta Curitiba.

Segundo ele, conhecer bem as características de cada clone permite ao agricultor escolher o arranjo mais adequado aos seus objetivos de produção. “Também é importante que o plantio seja realizado com outros materiais clonais, para diversificar o cultivo”, complementa o pesquisador.

A pesquisa científica também gerou informações técnicas essenciais para a implantação e manejo das lavouras, adubação, controle de pragas e doenças e monitoramento do estresse hídrico, além de práticas que ajudam a garantir eficiência na colheita, pós-colheita e beneficiamento dos grãos. Esse vasto conhecimento, compartilhado entre cafeicultores e profissionais da extensão rural, tem contribuído para consolidar a cafeicultura amazônica como uma atividade sustentável no bioma.

De acordo com o pesquisador Enrique Alves, entre os clones desenvolvidos e recomendados pela Embrapa, há materiais que proporcionam um café de alta qualidade, com foco na participação em concursos e acesso a mercados diferenciados.

“As colheitas cuidadosas, com alto índice de frutos maduros, a secagem lenta e o uso de técnicas de processamento em via úmida e de fermentação autoinduzida possibilitam uma bebida exótica, genuína, com aroma agradável, doçura, corpo aveludado e sabor marcante. Essas características, aliadas à origem amazônica e produção sustentável, favorecem o uso desses cafés como componente principal de bebidas finas no Brasil e em mercados internacionais”, ressalta o especialista.

Expansão da cafeicultura para além da Amazônia

O último censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 19,9 famílias rurais praticam o cultivo comercial de café clonal na Amazônia, número ainda pequeno frente à existência de mais de um milhão de agricultores existentes na região. Para ampliar o cultivo de cafés Robustas Amazônicos, a Embrapa, em parceria com produtores familiares, universidades, empresas privadas e outras instituições, investe na transferência dessas tecnologias para propriedades rurais de diferentes estados.

Produção de café Robusta Amazônica no Sitio Rio Limão, em Cacoal, Rondônia. Foto: Renata Silva

“Além dos 10 clones desenvolvidos pela pesquisa, outros 50 clones de café estão em avaliação em Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Mato Grosso. O objetivo é conhecer aspectos do cultivo desses materiais genéticos e identificar os melhores clones para cada estado, mas a disseminação dos cafés Robustas Amazônicos não se restringe à Amazônia. Enviamos esses clones também para outras localidades como Ceará, Piauí, Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais”, enfatiza Curitiba.

Outro fator decisivo para a expansão e fortalecimento da cafeicultura na Amazônia é a produção de mudas clonais com qualidade genética e fitossanitária, em larga escala.  Para viabilizar a atividade, a Embrapa atuou fortemente no apoio à formação de uma rede de viveiristas. Atualmente, centenas de empresas estão credenciadas pelo Mapa e órgãos responsáveis pelo processo de Certificação Fitossanitária de Origem para o processo de multiplicação de clones de cafés Robustas Amazônicos nos diversos estados da região. 

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa

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