Confira curiosidades sobre a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima

A Raposa Serra do Sol está localizada entre os municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã e a fronteira com a Venezuela.

Raposa Serra do Sol. Foto: Lohana Chaves/Funai

Em 15 de abril de 2005, o Brasil assistiu a um marco histórico na luta pelos direitos dos povos originários: a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Após 26 anos de reivindicações e mobilizações, cerca de 15 mil indígenas, pertencentes aos povos Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Patamona e Taurepang, viram finalmente reconhecido seu direito a um território tradicional de 1.747.464 hectares — uma área pouco menor que o estado de Sergipe.

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Apesar da vitória simbólica e legal, a homologação não encerrou os conflitos que cercam a região. A demarcação contínua da terra desagradou agricultores de arroz, pecuaristas e garimpeiros que ocupavam partes do território. Com a decisão, os não indígenas foram obrigados a deixar a área, gerando embates que se estendem até os dias atuais. A resistência à demarcação também encontrou eco em setores do governo estadual, que alegam que a grande extensão de terras indígenas dificulta o desenvolvimento econômico de Roraima.

A Raposa Serra do Sol está localizada entre os municípios de Normandia, Pacaraima e Uiramutã, entre os rios Surumu, Tacutu, Contigo, Maú e a fronteira com a Venezuela. É considerada uma das maiores terras indígenas contínuas do mundo e abriga mais de 26 mil pessoas, segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA).

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Por so Sol na Raposa Serra do Sol. Antonio Cruz/ABr

Tradições vivas

A vida na Raposa Serra do Sol é marcada por uma relação íntima com a natureza e a preservação das tradições culturais. Os povos indígenas da região caçam, pescam, cultivam roças e criam animais de forma sustentável. Durante o verão seco, aproveitam para construir e reparar suas casas com barro, madeira e folhas de palmeira.

Os Macuxi, povo mais numeroso da região, compartilham uma rica cosmologia. Segundo suas crenças, são descendentes dos filhos do Sol, que lhes deram o fogo e, junto com ele, os desafios da natureza. Mitologias como a de Macunaíma — personagem mítico forjador do mundo atual — ainda são contadas nas aldeias, mesmo com a presença do cristianismo.

Locais como o Lago Caracaranã, a Cachoeira da Raposa e o Lago Maikan Ku’pî são considerados sagrados. Neles, os povos enterram seus antepassados e mantêm rituais ancestrais, resistindo ao apagamento cultural promovido por séculos de colonização e violência.

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Lago Caracaranã fica na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Foto: Gildo Júnior/Bora de Trip

Cerâmica

Outra tradição importante da cultura material da etnia Macuxi, habitantes majoritários da comunidade Raposa I, é o trabalho em cerâmica. As famosas e belas panelas de barro feitas pelas mulheres Macuxi encantam turistas do mundo todo.

A parixara é a representação da alegria em forma de dança. Para a festa, pintam-se com a energia do urucum, vestem-se, cantam e dançam. Hoje, muitas comunidades apresentam a parixara para dar boas-vindas aos visitantes.

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Etnoturismo

Diante dos desafios, as comunidades têm apostado no etnoturismo como estratégia de desenvolvimento sustentável e geração de renda. Visitantes de diferentes partes do Brasil e do mundo são recebidos com hospitalidade e têm a oportunidade de conhecer tradições, culinária, danças e saberes ancestrais. As mulheres Macuxi, por exemplo, são reconhecidas por sua habilidade em confeccionar panelas de barro, um dos atrativos da região.

A iniciativa tem fortalecido a autonomia indígena, ampliando a visibilidade de sua cultura e gerando novas possibilidades econômicas, sem abrir mão da preservação ambiental e dos modos de vida tradicionais.

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Crianças brincam na Raposa Serra do Sol. Foto: divulgação

Culinária típica

A base alimentar dos povos indígenas no Brasil é a farinha de mandioca e o beiju e para produzi-los são necessários diferentes saberes. É preciso conhecer o cultivo da mandioca, qual a melhor época para plantar, qual o melhor local e como plantar.

As bebidas típicas, também consideradas como alimento, são o caxiri e o pajuaru. Com diferentes modos de preparo, as bebidas levam ingredientes diversos como a folha de bananeira e da maniva, assim como a combinação da batata roxa com a mandioca.

O símbolo da culinária Macuxi é a damurida. O prato é um ensopado de peixe (que também pode ser feito com carne de caça ou galinha) bastante condimentado. O segredo do prato está no caldo, que contém um molho de tucupi bem apurado e bastante pimenta.

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Um território em disputa

A homologação da Raposa Serra do Sol colocou o Brasil diante de um dilema: o direito constitucional dos povos indígenas ao território versus interesses econômicos de produtores e mineradores. A disputa se intensificou com a presença de cerca de 4 mil garimpeiros, que invadiram a terra com apoio velado de autoridades locais e federais. A pressão sobre os indígenas aumentou com a cooptação de lideranças e ameaças à integridade física das comunidades.

Ainda hoje, a região vive sob tensão, com relatos de intimidações, destruição ambiental e tentativas de flexibilizar a proteção legal do território. Para os povos da Raposa Serra do Sol, no entanto, a terra representa mais que um pedaço de chão — é a base de sua identidade, espiritualidade e modo de vida.

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Uma luta que segue

A Terra Indígena Raposa Serra do Sol segue como símbolo da resistência e da luta dos povos originários no Brasil. Embora a homologação tenha representado uma conquista histórica, o reconhecimento pleno dos direitos indígenas ainda está longe de ser uma realidade consolidada.

A defesa desse território é, acima de tudo, a defesa de um Brasil plural, ancestral e vivo — onde a diversidade é fonte de riqueza, e não de conflito.

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