Foto: Reprodução/Passaro.org
Nos céus da Amazônia, todos os dias é possível observar um verdadeiro e exuberante desfile de cores. Os pássaros da região, com colorações únicas, despertam encantos e curiosidades quanto a sua formação, principalmente nos diferentes tons. Mas como acontece essa distribuição de cores em suas penas?
De acordo com o Jornal da USP, cientistas acreditam que a coloração de algumas aves está associada a uma dieta rica em carotenoides – pigmentos naturais que desempenham um papel importante na dieta humana e em outros organismos. Um grupo de pesquisadores confirmou não só de onde vem a cor, mas por onde passam essas substâncias dentro do organismo dos pássaros, até chegarem às penas.
De acordo com o ornitólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Mário Cohn-Haft, as cores são pigmentos que o organismo produz na hora que está formando a pena e as penas desenvolvem as cores que têm por meio de pigmentos internos.
Os pigmentos são sintetizados pelo organismo e a dieta da ave afeta a síntese dos mesmos. Além de uma alteração externa denominada de tapiragem.

E o que é tapiragem?
Consiste geralmente no arrancar das penas e em esfregar no local certas substâncias (secreções vegetais como o urucum; ou animais, como o sangue; ou ainda secreções da epiderme de anfíbios como sapos, rãs e pererecas) ou ainda gorduras (de peixes ou de mamíferos aquáticos, como a gordura de tartaruga, e com a qual também alimentam as aves), como explica Mário Cohn-Haft:
“É uma prática de dar uma certa dieta para um papagaio em cativeiro, por exemplo, que faz com que as penas mudem de cor. Quer dizer, a próxima geração de penas, quando o bicho vai trocando as penas aos poucos, vão mudando de cor e tem gente que tem papagaios que são todo amarelo, por exemplo, e eles dizem que é ‘ah é porque eu dei banha de pirarucu pro bicho misturado na comida e nisso mudou de cor’”.

O ornitólogo explica ainda que todo o processo não é tão simples. Segundo ele, uma pena pode ter muitas cores, um desenho, inclusive cada região da pena pode ter uma coloração diferente. As penas crescem, desgastam, caem e são substituídas todo ano. Então, em geral, uma pena que você vê num pássaro tem no máximo um ano de idade.
E as penas azuis?
Segundo o Laboratório de Química do Estado Sólido da UNICAMP, a cor azul não pode ter origem no regime alimentar das aves. Os pigmentos azuis, muitas vezes contidos nas bagas (termo botânico que se refere a um fruto simples, carnudo, com sementes e polpa), são imediatamente destruídos assim que o pássaro digere o alimento.
Mário Cohn-Haft relata que apenas uma pequena porção das espécies de aves no mundo tem penas azuis. Algumas penas no corpo têm cores iridescentes, que é diferente de pigmento. É uma cor criada pela maneira que a luz reflete na estrutura da pena. Ou seja, a cor azul nas penas dos pássaros é causada pela dispersão da luz na estrutura da pena, que é composta por queratina e ar. A interação da luz com a estrutura da pena gera diferentes tons de azul.
Outro exemplo de espécie dada pelo especialista são os beija-flores, que são iridescentes (cujas cores são as do arco-íris ou que reflete essas cores), o resultado disso é que a coloração do bicho varia conforme o ângulo e o tipo de luz do dia.
“Outra espécie familiar para pessoas que moram na região amazônica é a ave pipira. A pipira fêmea é vermelha e isso não é iridescente nela, é a cor que é. Mas o macho é um tom de vermelho que, dependendo da luz, ele pode parecer todo preto”, exemplificou o especialista.
*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar