Do folclore à culinária, a herança nordestina está presente nos mais diversos pontos do cotidiano nortista
Um dos maiores orgulhos do povo brasileiro é a região Nordeste, que assim como o Norte, é culturalmente diversa. Nestas regiões, a cultura do colonizador se misturou aos povos tradicionais e aos povos afrobrasileiros num verdadeiro sincretismo de tradições. Mas o Norte e o Nordeste têm mais em comum do que parece.
A presença nordestina é marcante na região amazônica. Por onde quer que se olhe, as referências aos ‘vizinhos’ estão lá. O sociólogo e presidente da Associação Recreativa dos Nordestinos no Amazonas (Arnam), Francisco Canindé Marinho, explica que a migração de nordestinos para a região cresceu muito durante o apogeu da borracha, no fim do século XIX.
“Nesta data, aproximadamente 60 mil migrantes nordestinos vieram rumo à Amazônia, estabilizando-se principalmente nos estados do Acre e no Amazonas, atraídos pelo sonho de uma vida melhor”, lembra.
O sociólogo estima, por exemplo, que cerca de 75% da população do Amazonas é formada por nordestinos ou descendentes de nordestinos. “Mas, segundo estudos mais recentes, tem diminuído o número de nordestinos legítimos, por conta da miscigenação”, ressalta.
O mestre em Sociedade e Fronteiras Francisco Mendes Nogueira avalia que a herança nordestina está presente nos mais diversos pontos do cotidiano nortista. “[A presença nordestina] está nos hábitos alimentares, nas devoções e festividades, no linguajar, nos usos e costumes, sendo que muitos nordestinos dizem se sentir em casa na Amazônia”, comemora.
Do folclore à culinária, o Portal Amazônia listou algumas heranças nordestinas presentes no cotidiano do amazônida. Confira:
Boi-bumbá
Canindé conta que uma das maiores expressões do Amazonas, o boi-bumbá, também tem forte influência nordestina “Com saudade dos seus ancestrais, eles [migrantges] defumavam a borracha e ela formava uma belota [espécie de bola]. Depois se formava um couro, e, a partir disso, um tambor, um instrumento rudimentar. Eles batiam no tambor fazendo um som semelhante ao ‘bum-bá’, enquanto um ficava mexendo com o boi”, relata.
Vocabulário sertanejo
Além de todas as heranças culturais, o vocabulário da Amazônia traz fortes influências do jeito de falar nordestino. Expressões como “Valha”, “Zarolho”, “Vixe”, “Que nem”, “Jabá”, “Invocado”, “Fuxico”, “Fuleiro”, entre outras que usamos cotidianamente também fazem parte do linguajar sertanejo.
Literatura de cordel
O mestre em Sociedade e Fronteiras Francisco Mendes Nogueira lembra que a literatura de cordel, tradicional na região Nordeste, também é muito popular em Roraima. Um dos principais nomes do cordel no estado é o maranhense Otaniel Mendes de Souza, que vive há quase 50 anos na região Norte.
Nos dois primeiros conjuntos de versos do livreto “Roraima, terra querida”, o poeta inicia se referindo ao Brasil e ao Norte:
“No norte do Brasil / Encontramos coisas sem fins / Saindo Rio Branco, Acre / Chegando a Tocantins / Passando pelo Pará / Encontramos o Boi Bumbá / Nas terras de Parintins”
Otaniel Mendes Souza
Vatapá
De origem africana, o vatapá se consolidou na Bahia onde serve como um acompanhamento do acarajé. Posteriormente chegou à Amazônia e se popularizou por aqui, principalmente nos estados do Amapá. Amazonas, Maranhão e Pará. A receita pode sofrer algumas variações dependendo do estado.
Festas juninas
Os folguedos juninos são mais uma tradição nordestina que fez sucesso na Amazônia. A manifestação religiosa em comemoração a Santo Antônio, São João e São Pedro também conta com apresentações de grupos culturais e as famosas “quadrilhas juninas”. A cidade de Boa Vista, por exemplo, abriga a maior festa de São João da Amazônia.