Carta denuncia descaso de autoridades com o Povo Munduruku no Pará

Garimpos ilegais, doenças e desmatamento acabaram com a aldeia indígena Posto de Vigilância, no município paraense de Jacareacanga. O anúncio foi feito pelo povo munduruku, em um comunicado às autoridades ambientais, Ministério Público Federal e Funai.

A carta relata que o garimpo espalhou doenças, matou florestas e roças, além de levar prostituição, álcool e drogas. Ainda segundo o relato dos indígenas, a Funai, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e o MPF foram alertados, mas nada fizeram a respeito.

No entanto, o procurador federal Paulo de Tarso, do MPF em Santarém, afirma que a procuradoria acompanha a situação há um tempo.

“Desde 2014 a procuradora que me antecedeu já vem tratando do assunto e no final do ano passado a questão se intensificou. Nós recebemos algumas representações com detalhes, sobre a intensificação do garimpo na região do rio das tropas. Nós estamos fazendo esse acompanhamento justamente para exigir dos órgãos de fiscalização do estado que exerçam seu papel constitucional e compareçam na região preservando o direito das populações afetadas”.

Foto: Divulgação / Agência Brasil

Paulo de Tarso confirmou a situação de alto consumo de álcool e drogas, além da prostituição, reportada pelos indígenas. Segundo ele, a aldeia teria se tornado um ponto de apoio aos garimpeiros. O procurador destacou ainda a necessidade de fiscalização ambiental in loco e não apenas via satélite. Na última sexta-feira, o MPF ingressou com uma ação civil pública na justiça federal cobrando atuação dos órgãos ambientais na região.Até o fechamento desta reportagem, não conseguimos o posicionamento da Funai. A Assessoria do ICMBio ainda aguarda informações da área técnica para responder aos questionamentos.

Leia a carta na íntegra
Nós movimento Munduruku Iperegayu comunicamos, com muita dor e vergonha, que a aldeia PV na Terra Indígena Munduruku não existe mais. O garimpo invadiu tudo corrompeu com doenças nossos parentes e matou a floresta e as roças, trazendo doenças, prostituição, uso de álcool entre os homens e mulheres e drogas entre os mais jovens.

O Garimpo é controlado pelos pariwat  (não indígenas) que pagam parentes para vigiar suas máquinas. A aldeia PV é hoje o principal ponto de doenças e invasões do nosso território, lá tudo é controlado pelos pariwat, a pista de pouso que existia para que o atendimento a saúde pudesse chegar até os moradores, foi mudada de lugar, porque atrapalhava o garimpo.Os pariwat estão armados e deram armas para os parentes defenderem eles.

Muitas vezes o ICMBio, a Funai, o MPF e muitas autoridades foram alertadas sobre esses problemas, mas preferiram ficar nos escritórios ou fazendo reunião. Nada foi feito.

A assembleia do povo munduruku de 2017 decidiu que todos os garimpos deveriam ser fechados. Os caciques do rio das Tropas já não sabem a quem pedir para tirar os garimpeiros.

Nada foi feito e agora os pariwat junto com indígenas gananciosos e doentes querem invadir o rio Kadiridi para abrir novo garimpo.

Por causa desse desespero do nosso povo, nós guerreiros e guerreiras do Movimentos Iperegayu, decidimos:

– Fazer uma fiscalização contra garimpos e outros invasores no rio Kadiridi, rio das Tropas indo do waretodi até o rio Tapajós

– Prender e Expulsar todo pariwat da nossa terra
– Destruir todas as máquinas do garimpo no PV
– Denunciar os órgãos responsáveis pela proteção das nossas terras por não fazerem nada.
Jacareacanga, 17 de Janeiro de 2018
Movimento Ipereg ayu
Sawe!!!
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