Captura científica de botos-vermelhos busca compreender ecologia e saúde da espécie na Amazônia Central

Monitoramento dos botos se tornou contínuo após evento climático extremo de 2023.

Foto: Miguel Monteiro

Somando aos esforços de monitoramento da população de botos-vermelhos (Inia geoffrensis), o Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá realizou uma captura científica de indivíduos dessa espécie no Lago Amanã, Reserva Amanã, no Amazonas.

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Entre os dias 20 de setembro e 2 de outubro, colaboradores do Instituto Mamirauá, em parceria com pesquisadores da Associação R3 Animal, National Marine Mammal Foundation, Universidad de Las Palmas de Gran Canaria e Wildlife Conservation Trust realizaram a captura de 17 botos, sendo a maioria machos adultos e uma fêmea grávida.

Além das instituições, participaram da captura também moradores de comunidades locais e pescadores que, a partir de seu conhecimento tradicional, possibilitaram o manejo dos animais.

Leia também: Entenda a diferença de comportamento entre os botos da Amazônia e se eles são mesmo “implicantes”

equipe monitora boto vermelho
Assistentes de campo realizam contenção física do boto-vermelho para captura científica no Lago Amanã. Foto: Miguel Monteiro

A captura científica é essencial para estudar o panorama de saúde dessa espécie, possibilitando análises hematológicas completas a partir de amostras de sangue e detecção de agentes infecciosos, contaminantes ou biotoxinas nos indivíduos de vida livre a partir de amostras de secreções de mucosas.

Além disso, também foram instalados 12 transmissores satelitais que coletam informações sobre a localização do animal associadas a profundidade e temperatura. Esses dados são cruciais para acompanhar a movimentação dos botos em seu habitat natural e compreender melhor seus padrões de deslocamento.

Investigação da saúde dos botos após seca histórica

Após a mortandade de botos sem precedentes que ocorreu no Amazonas durante as secas de 2023 e 2024, onde mais de 200 animais foram encontrados mortos, investigar a saúde e o uso do habitat dessa espécie traz informações valiosas para entender melhor as principais ameaças à espécie, e como prevenir novas mortandades.

“Capturar esses animais é de extrema importância para compreendermos o panorama de saúde dessa população de botos de forma abrangente, definindo parâmetros de saúde como uma preparação para o que pode acontecer em anos futuros”, comenta Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá.

“Neste ano, felizmente, a seca não tem sido tão intensa como nos dois últimos anos, portanto não esperamos que haja uma mortandade de botos. Contudo, devido aos impactos das mudanças climáticas, tudo indica que eventos extremos se tornarão mais comuns, e precisamos estar preparados”, complementa.

Boto-vermelho dentro de cerco com malhadeiras no Lago Amanã, logo antes de captura científica. Fotos: Miguel Monteiro

Em 2023, quando ocorreu a maior parte das mortes de botos-vermelhos e tucuxis (Sotalia fluviatilis), estima-se que houve uma diminuição de até 15% da população desses animais no Lago Tefé, epicentro da mortandade. Sendo mamíferos de grande porte, com um ciclo reprodutivo lento, e sofrendo outras ameaças como colisões com embarcações e conflitos com pescadores, a população local de botos se torna bastante vulnerável. Os dados coletados na captura científica permitirão avaliar a resiliência dos indivíduos a um novo impacto climático e reagir de forma mais rápida caso uma mortandade volte a ocorrer.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Mamirauá, escrito por Miguel Monteiro

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