Com avanço do desmatamento, áreas da floresta já dão sinais de que ultrapassaram o chamado ponto de não retorno, com consequências para o clima global.
A teoria que indica o processo de savanização leva em conta que o desmatamento da floresta pode levar a uma maior exposição dos solos às chuvas da região, fazendo com que ele seja “lavado” com mais intensidade pelo escoamento superficial das águas, um processo chamado de lixiviação. Com isso, diminui-se a disponibilidade de matéria orgânica, causando o empobrecimento do solo e também o maior acúmulo de sedimentos nos rios, assoreando-os.
Com os rios assoreados, os solos menos férteis e, consequentemente, uma fauna menos abundante, a quantidade de árvores diminui e a floresta perde a sua capacidade de recuperação, sendo substituída por uma vegetação mais espaça e semelhante àquela de parte do cerrado brasileiro. Essas árvores de pequeno porte conservam-se em razão do fato de serem mais adaptadas ao clima seco, que passará a fazer parte do ambiente local, pois era a própria Amazônia a principal emissora de umidade no ar através da evapotranspiração.
Outro fator que estaria contribuindo para a savanização da Amazônia seria o Aquecimento Global, pois a relativa redução das florestas e o aumento médio das temperaturas do planeta poderiam reduzir a umidade do ar em áreas do Pacífico, ocasionando também a intensificação de anomalias climáticas tais como o El Niño, que é responsável por eventos como as secas no Nordeste e a diminuição das chuvas amazônicas, o que contribuiria ainda mais para a savanização da floresta amazônica.
Savanização da Amazônia não é consenso entre os pesquisadores
Apesar de muitos pesquisadores e especialistas na área ambiental acreditarem que a savanização não só seja possível, mas que estaria ocorrendo e que seria mais bem percebida em pouco tempo, não existe um consenso a respeito disso no meio científico.
Pesquisadores de um centro de pesquisa do Reino Unido afirmam que os modelos teóricos que apregoam o risco de savanização das áreas naturais amazônicas erram por subestimar a capacidade da Floresta Amazônica de resistir aos eventuais efeitos do Aquecimento Global, com a perda de umidade e aumento das temperaturas. Para eles, a floresta tropical poderia transformar-se em uma floresta sazonal (com estações secas e úmidas alternadas) que não se transformaria em savana, mas que estaria, no mínimo, mais vulnerável a incêndios.
Não obstante, existe também uma série de questionamentos aos dados divulgados em 2007 pelo IPCC sobre a possibilidade de savanização. Alguns cientistas alegam que o relatório foi produzido com base em afirmações não comprovadas por parte de grupos e instituições ambientais, que erraram ao desconsiderar inúmeras variáveis sobre as condições geográficas locais.
O renomado geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber, certa vez, chegou a afirmar que a teoria da savanização da Amazônia, sobretudo como fruto do Aquecimento Global, era uma “besteira”, em uma entrevista para o jornal O Estado de São Paulo. Para Ab’Saber, ao contrário, estaria em curso um fenômeno natural de “retropicalização” da vegetação no continente sul-americano, em razão das variações geologicamente antigas de alterações nos climas.
No entanto, mesmo os pesquisadores mais céticos em relação à existência da savanização na Amazônia temem pelos sucessivos processos de desmatamento, que poderiam dar um fim mais rápido à floresta tropical do que qualquer evento bioclimático resultante da ação humana. Por isso, além de conservar a floresta, é preciso combater politicamente os grupos responsáveis pela sua exploração ilegal.
(*) Com informações do Brasil Escola.