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Sexta, 26 Abril 2024

Portal Amazônia entrevista Marco Antônio Mendonça, candidato à reitoria da Ufam

O professor Marco Antônio Mendonça concorre ao cargo de reitor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) pela chapa 21, Ufam+. Conhecido por Marcão, ele concedeu entrevista ao Portal Amazônia, onde fala sobre suas propostas para a gestão da universidade. O professor Sylvio Puga também concedeu entrevista, que será publicada no dia 5 de março. A entrevista com a professora Andrea Waichman foi publicada quarta-feira (3).

Doutor em Agronomia Tropical, Marco Antônio é diretor da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA) e concorre à reitoria ao lado do também professor Raimundo Passos. Já atuou nas unidades acadêmicas da Ufam em Benjamin Constant e Parintins, foi diretor da fazenda experimental da universidade e prefeito do campus, em Manaus.
Foto: Reprodução/YouTube

Portal Amazônia: Em um cenário de fragilidade do ensino público, o que o levou a disputar esse processo de consulta à comunidade?

Marco Antônio Mendonça: Nossa candidatura surge de uma iniciativa coletiva que ecoa anseios, sonhos e projetos de docentes, técnicos administrativos e estudantes que desejam mudanças. Temos que buscar soluções inovadoras para que possamos, com segurança e respeito à vida, dar seguimento à missão da Ufam durante e após a pandemia. Temos uma comunidade acadêmica comprometida e competente, precisamos portanto, de uma gestão proativa, eficiente e que não tenha receio ou demore na tomada de decisões. A Ufam não pode parar!

PA: Como docente da Ufam, como você avalia as ações da universidade frente à pandemia da Covid-19?

MAM: Após as manifestações de diversas direções de unidades acadêmicas sobre a necessidade urgente de suspender as atividades presenciais para salvar vidas, a administração superior acatou o pedido, de forma correta. No entanto, após a suspensão passamos meses sem reunir os conselhos superiores de forma remota para tomar decisões e implementar ações para preparar a instituição para essa nova realidade da pandemia. Outras universidades com os mesmos desafios amazônicos, como as federais do Pará e de Rondônia e as estaduais como Ifam e UEA, não perderam tempo e capacitaram professores, buscaram o uso de tecnologias e deram segmento as atividades de ensino para não impactar tanto os estudantes. 

Na Ufam, só começamos a tratar disso no segundo semestre de 2020 e uma proposta de calendário acadêmico só chegou ao Conselho de Ensino e Pesquisa (Consep) para ser aprovado em março deste ano. Enquanto os estudantes da UFPA, Unir, Ifam e UEA estão terminando o semestre 2020/2, nós sequer começamos o 2020/1, um atraso de dois semestres para os estudantes. Portanto, para nós faltou agilidade, competência e proatividade na condução das medidas necessárias para a continuidade das atividades da Universidade durante a pandemia.

PA: O que a sua gestão propõe para amenizar os efeitos da pandemia num retorno às aulas presenciais?

MAM: Temos propostas concretas e exequíveis para isso, pois os estudantes estão angustiados após um ano de suspensão de aulas. Vamos promover a capacitação dos docentes para o uso de tecnologias e metodologias inovadoras e inclusivas para permitir aos estudantes terminar com qualidade seus cursos dentro do tempo previsto. Também buscaremos junto ao Ministério da Educação recursos para dar aos estudantes com dificuldades de acesso à internet possibilidade de participar do ensino remoto e híbrido. 

Promoveremos a flexibilização da oferta de disciplinas nas modalidades remota (enquanto não houver segurança para atividades presenciais) e híbrida, aumentando as possibilidades de periodização dos estudantes. Essas medidas já foram tomadas ainda antes do final do primeiro semestre de 2020 em outras universidades e tiveram bons resultados.

PA: Como fortalecer as Unidades Acadêmicas da Universidade no interior do estado?

MAM: Na construção do nosso Plano de Gestão, em 2020, visitamos os campi e conversamos remotamente com as direções das unidades, docentes, técnicos e estudantes. O sentimento das pessoas no interior é de abandono, de isolamento. Vamos propor a criação da Pró-reitoria de Interiorização, para implementar uma política de fortalecimento das unidades fora da sede. Propomos ainda viabilizar a transformação das Unidades Acadêmicas fora da Sede em Unidades Gestoras, ou seja, elas mesmas poderão realizar as licitações, emitir os empenhos e fazer os pagamentos das compras e serviços necessários com orçamento próprio.

Queremos que estas unidades tenham a autonomia que hoje não possuem. Os processos que puderem ser desenvolvidos na própria unidade acadêmica, assim o serão, o que propiciará agilidade nos mesmos, controle de atividades e verificação de resultados. Vamos também estimular e estabelecer as condições para a criação e oferta de programas de pós-graduação stricto sensu, de mestrado e, especialmente, de doutorado, nos campi fora da sede com o intuito de ampliar o número de mestres e doutores no Amazonas.

A criação de programas nas modalidades de Doutorados e Mestrados Interinstitucionais (Dinter e Minter) será incentivada e dadas as condições para sua implementação. Isto permitirá não só o desenvolvimento das Unidades Acadêmicas, mas a fixação de pessoal altamente capacitado e do próprio local, mas permitirá também o desenvolvimento da comunidade local, gerando melhor qualificação do corpo docente e técnico-administrativo para levarem conhecimento para fora do ambiente universitário. Também promoveremos a presença constante da Prefeitura do Campus nos Campi do interior para verificação da necessidade de manutenção e correção preventiva da infraestrutura instalada, além de manter o diálogo constante com as Unidades do interior.

PA: Você é favorável ao projeto que transforma as unidades da Ufam no interior em duas novas universidades federais?

MAM: Entendemos que esse processo é natural e desejável para o fortalecimento do ensino superior público e de qualidade no interior do Amazonas. No Pará, surgiram outras universidades a partir do desmembramento da UFPA quando seus campi no interior se fortaleceram e ela continua sendo uma universidade interiorizada. Logo, a medida que investirmos em nossas unidades no interior e elas se fortalecerem, será um caminho natural se a comunidade acadêmica deles decidir pelo desmembramento e criação de uma nova universidade. A sociedade ganha duplamente, pois surge uma nova universidade em uma região do interior do Estado e a Ufam pode começar a atuar em outra que até então não temos campi. Portanto, não somos contrários e desde que haja amplo debate na comunidade, apoiaremos a decisão dela.

PA: Quais medidas a universidade pode adotar para incentivar a pesquisa científica?

MAM: Precisamos resgatar na Ufam o estímulo e o apoio efetivo à pesquisa e a inovação, promovendo a formação de recursos humanos e valorizando a diversidade regional e a biodiversidade amazônica com ênfase na geração de emprego e renda na região. Também vamos disseminar a cultura do empreendedorismo e da inovação, com apoio à criação de incubadoras de empresas e de empresas juniores, o que permitirá a inovação e o desenvolvimento do conhecimento adquirido.

Vamos incentivar a participação de docentes, discentes e TAE´s em ações de formação e qualificação. Incentivaremos a captação de recursos e promoveremos os meios de sua implementação para o desenvolvimento da pesquisa, através de projetos, convênios, prestação de serviços, agências de fomento e outras. A desburocratização será mola mestra em nossa estrutura de governança. Defenderemos o financiamento à pesquisa nas áreas de Humanidades, Ciências Sociais Aplicadas, Letras e Artes, assim como nas demais grandes áreas de conhecimento.

Propomos ainda o estabelecimento de uma rede de relacionamento com setores público e privado, comunidades ou arranjos/grupos sociais e culturais, com vistas ao intercâmbio de experiências e ao estabelecimento de ações formativas e de colaboração e inovação.

PA: O Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) foi uma das unidades de saúde mais afetadas pelo colapso que iniciou em janeiro. Qual será a relação da universidade com o hospital em uma eventual gestão sua?

MAM: O HUGV é um hospital escola da Ufam, sendo campo de estágio curricular obrigatório para estudantes na área de saúde, mas com enorme potencial para receber também outras áreas de conhecimento. Atende nas modalidades de média e alta complexidades, sendo esta última de referência para o Sistema Único de Saúde. Desde 2013, é gerido pela empresa Ebserh. No entanto, o HUGV é Ufam e a Ufam é HUGV. Por isso, vamos permitir que a comunidade do HUGV realize a escolha de sua superintendência. Esta tem sido uma exigência antiga e que até então não foi atendida.

Estabeleceremos um canal de comunicação direta entre HUGV com a administração superior da Ufam, a fim de participar de forma mais ativa das questões que envolve essa relação. Também promoveremos articulação efetiva entre os cursos, programas, unidades acadêmicas e unidades de saúde da Ufam com o HUGV.
Promoveremos a integração entre ensino, pesquisa e extensão da Ufam com o HUGV e ampliaremos e fortaleceremos a inserção acadêmica de nossos discentes e docentes por meio de ações que favoreçam a interprofissionalidade e a inclusão de temas de diversidade na formação em saúde.

PA: Com tantos desafios pela frente, como driblar cortes no orçamento das universidades públicas?

MAM: O atual governo não tem colocado o ensino superior público como uma de suas prioridades, e isso vem impactando nos orçamentos das universidades federais. Acreditamos que a Ufam deve, prioritariamente, ser mantida com recursos públicos e oferecer ensino público e de qualidade. Buscaremos aproximação com nossa bancada no congresso nacional afim de conseguir emendas parlamentares impositivas individuais e de bancada, buscaremos recursos junto a agências de fomento e trabalharemos em algumas iniciativas com a parceria do setor privado e do terceiro setor. Com essas medidas, buscaremos o fortalecimento do orçamento da nossa universidade.

PA: Em 2020, a Ufam recebeu recorde de denúncias por fraudes no sistema de cotas raciais. O que pode ser feito para coibir essas práticas?

MAM: É sempre necessário afirmar que as políticas de ações afirmativas, mas conhecidas como cotas, são necessárias e exitosas em um país com tantas desigualdades. Somos favoráveis a essa política. Os casos de fraudes são muito pequenos frente a quantidade total de pessoas que por meio dessas políticas tem oportunidade de mudar de vida com o acesso ao conhecimento. A Ufam criou recentemente uma comissão, com participação da comunidade, que irá atuar para impedir que pessoas mal intencionadas tirem a vaga daquelas que realmente precisam. Nossa gestão será atuante no combate a essas fraudes.

Por outro lado, a diversidade étnica, cultural, biológica, de gênero e de origem é característica essencial da Ufam. Valorizar e promover essa diversidade requer o respeito a todas as pessoas, o combate a todas as formas de discriminação e de violência. Para isso, propomos fortalecer e ampliar programas de apoio institucional a discentes indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Promoveremos a formação para a convivência com a diversidade e o respeito aos direitos humanos e incentivaremos a criação, em cada unidade, de uma coordenação local de diversidade e inclusão social.

Combateremos o assédio, o machismo, o racismo, a discriminação e a LGTBfobia.

PA: Quais as propostas da sua candidatura para a valorização dos servidores da Ufam?

MAM: Os servidores da Ufam são apaixonados por ela e tem muita competência. Precisamos valorizar essas pessoas, que apesar de todas as dificuldades vestem a camisa da instituição todos os dias e dão o seu melhor. Propomos ampliar a oferta de cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado para os servidores na própria instituição ou mediante parcerias com outras instituições.

Ampliaremos a oferta de cursos, seminários e palestras, para que sejam constantes e estejam sempre à mão como meio de formação e qualificação. Combateremos de forma efetiva toda forma de assédio e discriminação na Ufam. Promoveremos editais internos para remoções baseados em Plano de Gestão de Pessoas que priorize as competências dos servidores e as necessidades das unidades acadêmicas e administrativas.

Vamos propor cursos de formação em línguas estrangeiras para TAE´s no âmbito da Ufam e garantir a infraestrutura física e tecnológica adequadas para que os servidores possam desempenhar suas atividades com eficiência e motivação. Implementaremos política de incentivo e reconhecimento dos servidores que se destacam, procurando sempre o desenvolvimento de novas habilidades e implantaremos a política de qualidade de vida no trabalho, visando o desenvolvimento pessoal e a melhoria das condições laborais dos servidores.

Promoveremos a Semana do Servidor em todas as Unidades, da Capital e Interior para homenagear, integrar e resgatar a autoestima dos nossos servidores ativos e aposentados. Vamos primar pelo acolhimento dos novos servidores por meio de cursos, palestras, manuais e outras estratégias para orientá-los, sem deixar de lado aqueles que já estão em nosso quadro. Buscaremos uma gestão administrativa desburocratizada, eficiente e voltada para resultados.

Buscaremos recursos para melhorar a área de TI, com apoio estrutural, técnico e de pessoal, levando assim à qualidade e estabilidade da internet e da funcionalidade do sistema SEI. Promoveremos treinamento específico em processo administrativo para todos os servidores que exercem cargos de direção, função de confiança, conselheiros dos colegiados superiores e outros.

Realizaremos dimensionamento da força de trabalho e fomentaremos a distribuição/lotação por competências e promoveremos política de incentivo a avaliações periódicas de saúde do servidor e seus familiares. Além de elaborar plano de readequação para espaços mais humanizados com chuveiros, espaços de descanso, espaços de convivência e outros.

Também pretendemos elaborar plano de promoção de qualidade de vida para os aposentados e servidores ativos (esporte, lazer, cultura) e realizar estudo para viabilizar a implantação de creches, contribuindo na viabilização da permanência das(os) nossas(os) servidoras(es) que tenham filhos menores de cinco anos.

PA: Em ao menos 19 instituições federais de ensino o presidente Jair Bolsonaro nomeou para a reitoria um nome diferente do primeiro colocado na consulta à comunidade. Como você avalia a possibilidade de isso se repetir na Ufam?

MAM: A defesa da autonomia da Ufam está acima de qualquer disputa eleitoral. Acima de tudo defendemos que o Reitor(a) eleito(a) seja o Reitor(a) empossado(a). Não abrimos mão disso. Por isso, fomos a primeira chapa a se comprometer publicamente em reunião do Conselho Universitário, em 22 de janeiro de 2021, a renunciar a nossa posição na lista tríplice caso não sejamos os mais votados pela comunidade. Na mesma reunião, o atual reitor também assumiu o mesmo compromisso e recentemente uma terceira chapa inscrita também fez o mesmo.

Logo, se todos e todas cumprirem os compromissos, se apresentarão ao Consuni para concorrer na formação da lista tríplice que será enviada ao presidente apenas os nomes da chapa vencedora na consulta independente realizada pelas entidades representativas dos professores, estudantes e técnicos administrativos. Com isso, o presidente terá que escolher entre três nomes que representam o projeto de universidade vencedor nas urnas e qualquer um(a) dos três terá a legitimidade para ser Reitor(a) e colocará em prática as propostas avalizadas pela comunidade. 

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