Montanhas ancestrais: uma viagem pelo café da Serra Nevada de Santa Marta, na Colômbia

Ao chegar à região em meados do século XVIII, o café encontrou seu lar nas mãos dos agricultores e das comunidades indígenas Arhuaco, Kogui, Wiwa e Kankuamo.

Foto: Reprodução/Governo da Colômbia

Não é qualquer café que se cultiva na Serra Nevada de Santa Marta. Ali, nas encostas da montanha mais alta da Colômbia, acima de 1.700 metros do nível do mar, cultiva-se parte da história colombiana: ele cresce, arada por guias ancestrais entre arbustos de mandioca, algodão e feijão, abrigado por bananeiras, guinéus e malangas. 

Ao chegar à região, em meados do século XVIII, o café encontrou seu lar nas mãos dos agricultores e das comunidades indígenas Arhuaco, Kogui, Wiwa e Kankuamo. O seu aroma impregnava os ramos das árvores envolventes e acolhedoras, enquanto a brisa salgada saudava as primeiras cerejas que brotavam das folhas.

Um gesto ancestral: a bênção da terra por um café mais suave 

Foto: Reprodução/Governo da Colômbia

O café na Sierra Nevada é colhido principalmente pelo povo indígena Arhuaco (70% dos cafeicultores da região pertencem a esta comunidade). Isto não é uma mera curiosidade, mas sim de grande significado: o café é um considerado presente da terra destinado ao deleite das pessoas, bem como uma promessa que se faz de estar em paz com a natureza. O povo Arhuaco não cultiva café por razões práticas, mas sim porque, com ele, a vida é honrada.

Segundo a sabedoria ancestral desta comunidade, transmitida pelos mamos, cada planta carrega uma energia própria, uma forma particular de compreender o mundo. “Na comunhão com eles, plantá-los cria um diálogo: nos entendemos como parte de um sistema natural maior, repleto de vida, do qual somos apenas mais um ser. Não somos donos de nada, simplesmente compartilhamos um lugar no meio da criação”, explicam.

O café, para os Arhuacos, é uma promessa de vida, um gesto para agradar a terra e devolver-lhe o calor. Eles cuidam disso: semeiam vida em planaltos e planícies, em montanhas e vales. Eles devolvem a ela uma parte de tudo o que ela deu a eles – e a nós. Por trás do café está a história do eterno diálogo entre o ser humano e a vida natural, por isso é fundamental respeitar certos rituais.

Foto: Reprodução/Governo da Colômbia

Como acontece com qualquer exchange, existem certas normas e princípios que devem ser respeitados. A primeira consiste em fazer um pagamento, ou seja, uma forma de pedir ao mamo que faça a mediação com a natureza. Somente a natureza pode autorizar a utilizar seus recursos, sua energia para a colheita e a semeadura. Ou seja, não existe café sem o consentimento da natureza.

O segundo gesto tem a ver com a disposição quando se fala com a natureza. No momento de colher as cerejas, todos aqueles que o fazem devem sentir alegria e gratidão com a terra e as suas oferendas. Não há espaço para tristeza ou apatia diante do milagre da vida, deve-se sorrir. Sorrir é agradecer a bênção que o solo concede. Estes são apenas dois ritos ou práticas que fazem parte do conhecimento ancestral da comunidade. 

O conhecimento das montanhas: respeitando a diversidade 

O Café da Serra não cresce sozinho, mas junto com outros arbustos e árvores nativas. Isto tem duas explicações: primeiro, a luminosidade solar é bastante elevada nesta região, demais para os cafeeiros. Isso faz do cultivo à sombra uma das especialidades dos cafeicultores. 

Em segundo lugar, há a necessidade de evitar minar o espaço de outros seres vivos e plantas. A sabedoria ancestral concebe que o café é apenas uma vida entre inúmeras outras – dialoga e convive com elas. 

Foto: Reprodução/Governo da Colômbia

Atualmente, pelo menos 93% das culturas são cultivadas à sombra. Entre as variedades mais plantadas estão a Típica, ou “Criolla” como é apelidada na região, Caturra, Castillo, Cenicafé-1, Tabi e Colômbia. 

Graças à sua tradição e qualidades únicas, o café da Serra Nevada é certificado por uma denominação de origem. Esta certificação é concedida a produtos que, pela sua especialidade e distinção, proporcionam uma experiência única.

“Um sabor como este só pode ser alcançado graças à natureza; ouvindo-o e agradando-o durante gerações, enchendo de vegetação a terra perto do céu, ouvindo o mar e deixando a sua brisa acariciar as colheitas. Um café que encontrou a sua casa na montanha à beira-mar mais alta do mundo, cuidadosamente cultivado através de crenças ancestrais, não pode deixar de ser especial, e é por isso que o nosso café Sierra Nevada é uma delícia que você simplesmente não pode deixar passar”, afirma o Governo da Colômbia. 

Por trás da sua magia está o dom dos mamos e a sua sabedoria ancestral, além da riqueza natural que só uma montanha embalada pela brisa do mar pode proporcionar.


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