O estudo entrevistou estudantes das redes pública e privada da capital amazonense, o principal centro de consumo no Estado, e servirá de base para campanha de combate ao tráfico de animais silvestres.
Uma pesquisa liderada pela WCS Brasil (do inglês, Wildlife Conservation Society) aponta que os adolescentes de Manaus, no Amazonas, têm baixo conhecimento sobre os quelônios da Amazônia e ameaças à conservação desta espécie, que é explorada de maneira predatória para alimentação.
O estudo entrevistou estudantes das redes pública e privada da capital amazonense, o principal centro de consumo no Estado, e servirá de base para campanha de combate ao tráfico de animais silvestres.
O levantamento faz parte da primeira etapa do projeto ‘Juntos pelos Quelônios’ e mediu os conhecimentos de adolescentes com idade entre 12 a 17 anos a respeito dos quelônios e a relação que eles têm com as espécies. Entre os mais de 350 jovens entrevistados, mais de 50% acreditam que as principais ameaças aos quelônios são a poluição e a perda de habitat.
“O consumo, tanto dos ovos como da carne, é o que mais preocupa hoje. Há uma pesquisa que indica que 1,7 milhão de quelônios são consumidos por ano no Amazonas, sendo 900 mil animais abatidos somente em Manaus. Esses números mostram que são 90 quelônios mortos por hora, consolidando a capital como o maior centro consumidor no estado. A maior parte do consumo é ilegal, proveniente do tráfico de animais silvestres. Precisamos conscientizar as pessoas a não contribuírem com este delito”,
ressalta.
Historicamente explorados para consumo, os pratos da culinária amazônica feitos com ovos e carne de tartaruga agora estão mais distantes da geração Z, como mostra a pesquisa. Apenas 13% dos entrevistados afirmaram já ter comido quelônio contra 62% que disseram que nunca comeram. No entanto, 12% dos jovens afirmam que gostariam de experimentar.
Os adolescentes relataram ainda que cerca de 35% das famílias dos entrevistados já consumiram ou consomem quelônio. O levantamento da WCS Brasil mostrou que 48% dos jovens nunca viram um quelônio no ambiente natural.
Dentre as 21 espécies de quelônios, os entrevistados conheciam somente oito, sendo as mais citadas as tartarugas-da-Amazônia, tracajás e os jabutis. A pesquisa revela ainda que 53% das pessoas tiveram ou têm um quelônio como animal de estimação, sendo o jabuti como a espécie mais comum nas casas.
Próximos passos
Segundo Ferrara, a pesquisa ajudou a entender o perfil da população, o conhecimento e a relação que as pessoas têm com as espécies de quelônios da Amazônia. A partir de agora, os resultados obtidos irão basear campanhas de conscientização e educação ambiental.
“Esses dados vão nos ajudar a desenhar melhor a campanha de conservação. Vamos entender a relação das pessoas com a natureza e ter um conhecimento melhor de como abordar essa população no futuro, de quais atividades podemos oferecer a elas dentro da campanha. Nosso objetivo é promover mudança de comportamento e ajudar a manter vivos estes animais tão fascinantes”, afirma a pesquisadora.
Espécies e o ecossistema
O grupo dos quelônios – representado pelas tartarugas, cágados e jabutis – é o segundo grupo de vertebrados mais ameaçado do mundo. Na Amazônia existem 21 espécies de quelônios, sendo duas terrestres e 19 aquáticas.
Todos esses animais são importantes para o ecossistema e possuem várias funções ecológicas. “Os quelônios dispersam sementes, fazem parte de cadeias alimentares, consomem plantas aquáticas, então se retirarem esses animais da natureza nós vamos ter uma quebra nessa cadeia alimentar, fazendo com que outras espécies também desapareçam ao mesmo tempo que outras espécies vão se proliferar”, explica a bióloga Sabrina Barroso, do Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (CEQUA/Inpa), parceiro da WCS na iniciativa.